Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a crise econômica mundial, com críticas à atuação do Governo em seu enfrentamento. Cronologia das falas do Presidente Lula, desde o início da crise.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre a crise econômica mundial, com críticas à atuação do Governo em seu enfrentamento. Cronologia das falas do Presidente Lula, desde o início da crise.
Aparteantes
Alvaro Dias, Eduardo Suplicy, Sergio Guerra, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2008 - Página 39560
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, ORADOR, REALIZAÇÃO, COMICIO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).
  • CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INSUFICIENCIA, ATENÇÃO, GRAVIDADE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ENUMERAÇÃO, DIVERSIDADE, DECLARAÇÃO, NEGAÇÃO, POSSIBILIDADE, EFEITO, ECONOMIA NACIONAL, TENTATIVA, MANUTENÇÃO, APROVAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, GOVERNO.
  • COMENTARIO, ERRO, GOVERNO, FALTA, ANTECIPAÇÃO, MEDIDA PREVENTIVA, IMPEDIMENTO, EFEITO, CRISE, AMBITO NACIONAL, PROPOSIÇÃO, ESTATIZAÇÃO, BANCOS, AUSENCIA, VALORIZAÇÃO, PRODUTO IN NATURA, EXPORTAÇÃO, ADVERTENCIA, NECESSIDADE, REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, CRISE, ECONOMIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IMPORTANCIA, PROVIDENCIA, FINANCIAMENTO, LIQUIDEZ, BANCOS, SIMILARIDADE, CONDUTA, GOVERNO ESTRANGEIRO, EUROPA, CRIAÇÃO, FUNDO DE RECUPERAÇÃO ECONOMICA, COMPARAÇÃO, ANTERIORIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPOSIÇÃO, PROPOSIÇÃO.
  • AVALIAÇÃO, MELHORIA, SITUAÇÃO, CONFIANÇA, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL, EFEITO, PROVIDENCIA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REDUÇÃO, COMPROMETIMENTO, BRASIL, ADVERTENCIA, PREVISÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, ARRECADAÇÃO, RECEITA FEDERAL, EXERCICIO FINANCEIRO SEGUINTE, AMPLIAÇÃO, CUSTO, CREDITOS.
  • REGISTRO, DIVULGAÇÃO, BOLETIM, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ANUNCIO, AUMENTO, INDICE, INFLAÇÃO, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, SERGIO GUERRA, SENADOR, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OMISSÃO, RESPONSABILIDADE, GOVERNO, CRISE, ECONOMIA, FALTA, CONVOCAÇÃO, LIDER, BANCADA, OPOSIÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, REUNIÃO, DEBATE, SITUAÇÃO, ECONOMIA INTERNACIONAL.
  • REPUDIO, CONDUTA, CANDIDATO, PREFEITURA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, OFENSA, PREFEITO, APREENSÃO, POSSIBILIDADE, PERDA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, CRITICA, ANTERIORIDADE, COMPORTAMENTO, MEMBROS, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, ILEGALIDADE, TENTATIVA, VANTAGENS, ELEIÇÕES.
  • EXPECTATIVA, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, ANUNCIO, QUALIDADE, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PREPARAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, Senador Sérgio Guerra, Presidente do PSDB, aproveito para fazer aqui um agradecimento, do fundo do coração, ao Presidente da República, Lula da Silva, pelas palavras lisonjeiras que me dedicou no comício de Natal, aquele em prol da candidata derrotada Fátima Bezerra, na eleição que resultou na vitória em primeiro turno da candidata do Partido Verde, apoiada pelo Senador José Agripino, que foi quem me relatou a forma atenciosa com que o Presidente da República se dirigiu a mim - aliás, coerente com a forma simpática com que ele me trata toda vez que me encontra - e certamente dando o que ele tinha de melhor no seu coração, expressando aquilo que ele tem de mais puro na sua alma.

Fiquei muito feliz e agradeço ao Presidente - sei que ele está tomando conhecimento do meu agradecimento -, porque eu não poderia deixar o elogio passar em branco.

Mas, muito bem, Sr. Presidente, por outro lado, tenho que fazer aqui algumas críticas. Sua Excelência não tinha nada que estar pedindo voto para a candidata Marta Suplicy ou para quem quer que fosse em eleição, porque um estadista estaria preocupado com a crise e com mais nada neste momento.

Agora começamos essa história com o Presidente dizendo que o País estava invulnerável, que o abalo sísmico de fora para dentro veio à revelia do Brasil e o alívio, que infelizmente é momentâneo, aconteceu à revelia do Brasil outra vez.

Foi uma bela lição de como funciona a economia dos mercados globalizados. Eu apreciei sobremaneira a fala do Senador Aloizio Mercadante, lamentando apenas que por falta de tempo S. Exª não tenha se reportado ao que aconteceu antes dos últimos cinco anos: as reformas estruturais - que elas, sim, contribuíram para melhorar o perfil da economia brasileira - o Proer, aqui muito bem lembrado pelo Tasso Jereissati, que é citado pelo Presidente Lula, num outro rasgo de enorme generosidade, como exemplo de know-how brasileiro anticrise bancária oferecendo ao seu colega Presidente Bush.

Mas, muito bem, eu tenho algumas considerações a fazer. Antes de mais nada, percebemos um Governo contemplativo. O Governo simplesmente contemplou a crise no começo. Em segundo lugar, ele mistura a realidade da Europa com a do Brasil, ao falar, a meu ver equivocadamente, em estatização de bancos neste País. Em terceiro lugar, é bom nos precavermos, Senador Tasso Jereissati, para o momento de retorno da crise. Nós não teremos mais commodities com os preços tão valorizados de antes e temos que nos preparar para o fato de que aquilo que denunciamos por tanto tempo, a gastança do Governo, arma uma crise fiscal que, a meu ver, está mais do que próxima. Estamos diante de uma maxidesvalorização, de uma crise de crédito, de corte de financiamento às exportações e com a especulação a favor do real no papel derivativo de exportações que está sendo um problema brasileiro - este não é importado -, a ser resolvido por nós com criatividade e, a depender de mim, com união nacional.

Mas, muito bem, Sr. Presidente, não sustentaremos o equilíbrio da economia brasileira se prosseguirmos com os gastos correntes crescendo à base de 5%, 6%, 7%, 8%, 9% reais a cada ano acima do crescimento do Produto Interno Bruto. Não podemos sustentar equilíbrio fiscal à base de expectativa de aumento de receita tributária, porque um dia a casa literalmente cai.

Sr. Presidente, aqui faço mais algumas outras considerações e retomo esta tribuna até meio desacostumado dela depois de tanta luta eleitoral no meu Estado - e não tem nada mais nobre do que disputar eleição nos Estados de cada um e, no meu caso, como Líder do meu Partido, no que posso, ajudando meus companheiros Brasil afora.

A atual crise - e disse muito bem o Senador Mercadante - é, desde a de 29 - e não sei se não é mais séria do que a de 29 -, a mais séria crise do capitalismo mundial. A grande diferença entre capitalismo e socialismo é que o socialismo não existe mais e o capitalismo sobrevive ciclicamente às crises cíclicas que lhe formam a característica básica. Mas, há vários meses, estamos vendo as grandes economias tentando contornar os efeitos catastróficos que uma crise dessa dimensão poderia trazer para o sistema financeiro global.

O governo americano se movimentou e apresentou ao Congresso pacote de US$700 bilhões para salvar as instituições financeiras. Inicialmente rejeitado pelo Senado, o Congresso terminou aprovando o projeto, isso depois que os mercados desabaram, aí inclusive injetando à proposta original mais US$150 bilhões.

Mais de uma dezena de governos da Europa anunciam a criação de fundos nacionais de recapitalização e de garantia do sistema financeiro nos mesmos moldes do plano anunciado pelo Reino Unido há alguns dias. Mesmo os Estados Unidos estão reconsiderando sua proposta inicial para seguir a linha adotada pelo 1º Ministro inglês, Gordon Brown.

O governo britânico já confirmou a injeção de aproximadamente US$63 bilhões no Royal Bank of Scotland, o RBS, e na instituição que resultará da fusão entre o Lloyds TSB e o HBOS Halifax. E o Federal Reserve, o FED, o Banco Central norte-americano, anunciou que proverá o necessário de recursos em dólar por meio de sua linha de swap com os três principais bancos europeus.

Enfim, Sr. Presidente, o Presidente Lula e seu Ministro da Fazenda, Dr. Guido Mantega, não perceberam ou não sabiam que a crise do mercado hipotecário nos Estados Unidos - que, por sua vez, é uma decorrência da crise imobiliária pela qual passava o país - levaria o mundo ao atual estado de coisas. É lamentável essa tendência à fuga da realidade, à venda de ilusões, à negação da verdade, da própria realidade.

O Presidente parece, às vezes, mais preocupado com os danos à sua imagem do que com o País, dando muita importância às palavras e pouca importância aos fatos. Essa é minha visão.

A revista Época, nessa última edição de 13 de outubro, faz breve cronologia com declarações do Presidente Lula desde o início da crise. Em 18 de março, assim ele reagiu diante da quebra do banco Bear Stearns, e a crise começava a se manifestar - aspas para o Presidente Lula -: “Em 1998, teve uma crise na Malásia, e o Brasil quase quebra. Agora, não aconteceu nada com o nosso querido Brasil”.

Entre os dias 13 e 16 de setembro, os bancos Lehman Brothers e Merry Lynch desabaram e a AIG, maior seguradora americana, foi estatizada por US$85 bilhões. O que declara o nosso Presidente: “Que crise? Vá perguntar ao Bush!”.

Em 21 de setembro, os últimos bancos de investimentos Goldman Sachs e Morgan Stanley viram bancos comerciais. Qual foi o comentário presidencial? Lembremo-nos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: “Até agora, com a graça de Deus, a crise não chegou perto de nós”.

Ouçam, Srªs e Srs. Senadores, outras duas declarações, para encurtar a história, estas duas bem recentes, de responsabilidade também do nosso Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já com os mercados desabando e com os ministros das finanças das maiores economias do Planeta tentando um acordo econômico. Vamos lá: “Lá é um tsunami, e aqui vai chegar uma marolinha”; “Muitos acham que é prepotência minha dizer que essa crise não chega ao Brasil”.

Pois bem, quais foram as medidas iniciais tomadas pelo Governo para evitar uma crise no País? O Planalto proibiu a palavra “maxidesvalorização”, e sabemos que estamos diante, Presidente Marco Maciel, de um grave momento de maxidesvalorização, sim. Proibiu também a palavra “pacote”. O Presidente chegou a garantir que em seu Governo não haveria pacote econômico: “No meu Governo não terá pacote econômico, porque todos que foram feitos ao longo da história não deram certo”.

No entanto, o mesmo estadista se tem vangloriado de dizer que temos o Proer, oferecendo o seu know-how para salvar bancos ao ainda Presidente norte-americano George Walker Bush.

Mas pergunto ao Partido dos Trabalhadores: o Proer não era apenas, segundo o PT oposicionista, um programa para salvar banqueiros? Não era medida mera para beneficiar banqueiros e bancos?

É bom, Sr. Presidente, vermos a juvenilidade de alguns e, de algum modo, dando vez às primeiras cãs políticas. Repito: que bom. É melhor andar para frente a persistir no erro e no desconhecimento da realidade econômica do mundo que a todos nos envolve.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Peço algum tempo para concluir, Sr. Presidente, porque já havíamos combinado antes que assim seria.

O PT, inclusive, ingressou no Supremo Tribunal Federal, em novembro de 1995, com uma Adin, com um pedido de liminar suspendendo a vigência e a eficácia da medida provisória que criava o Proer.

Como se não bastasse, houve também a criação de uma CPI na Câmara dos Deputados, em 2001, destinada a investigar quais foram os critérios e como foram aplicados os recursos do Proer.

Mas como fica, então, o pacote de socorro aos bancos baixado pelo Presidente da República? Com a Medida Provisória nº 442, cria-se um programa parecido com o Proer, disfarçado, envergonhado, para enfrentar a crise financeira.

É certo que a economia brasileira vive um momento mais favorável, e o Senador Aloizio Mercadante haverá de concordar comigo que não por causa dos últimos cinco anos, mas porque o Brasil já vive 15 anos de estabilidade econômica plena e vive 10 anos de tentativas, algumas bem-sucedidas, de reformas estruturais.

Mas muito bem. A economia está mais sólida em seus fundamentos. É certo que, por outro lado, o Brasil vai sobreviver, embora afetado em algum grau - espero que saibamos fazer com que esse grau seja o menor possível -, afetado em algum grau pela grave crise, pelo grave crash econômico mundial.

O crescimento em 2009 será brutalmente afetado, e em 2010 também será bem menor - isso na melhor das hipóteses. É bom que se anote o dia de hoje para conferirmos quem pisa o chão duro da realidade e quem pisa o chão etéreo da fantasia.

Há problemas reais. A alta do dólar já alimentou o reajuste de preço dos alimentos. Os frigoríficos, por exemplo, já aproveitam a valorização do dólar para se voltarem para o mercado externo, elevando o preço da carne no mercado interno, ou seja, dentro das fronteiras brasileiras.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Especialistas apontam que os rearranjos nos mercados europeu e norte-americano, infelizmente, comprometerão as economias emergentes, pelo simples fato de que essas disputam, no mercado global, fundos para financiar seus planos de investimentos.

Ora, a liquidez global já está curta e, quando voltar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores - não nos enganemos -, ela, a liquidez, voltará menor e voltará mais cara.

Pelo boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, os economistas consultados pela instituição apontam que a inflação medida pelo IPCA deverá atingir 6,20% este ano - primeira previsão de alta desde o agravamento do estresse financeiro mundial.

Outro ponto: até aqui, o equilíbrio fiscal tem-se baseado sempre no aumento da receita tributária, e esta, com a redução do crescimento da economia, vai começar a decrescer também. E se a receita cair mais rapidamente do que se pensava, o Governo terá que cortar gastos ou cortar fundos nos juros e no superávit primário.

Aí, de novo, pisando o chão duro da realidade, Senador Sérgio Guerra, eu digo que, se o Brasil opta por essa última possibilidade, temo que as incertezas avultem de maneira lamentável.

Para encerrar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temos que saber que o fôlego conseguido nos últimos dias não significará, infelizmente, que a crise terá passado. O pacote europeu de socorro aos bancos tem animado as bolsas, mas, de jeito algum, é solução definitiva. É bom que saibamos isso com toda a clareza, com toda a certeza, com toda a honradez intelectual.

Concluo citando o Presidente do PSDB, meu prezado Senador Sérgio Guerra, em artigo publicado na Folha de S.Paulo de hoje:

O talento do Presidente Lula para se esquivar de responsabilidades é conhecido, mas o País depende agora de duas habilidades que o seu Governo ainda não mostrou: firmeza e competência para tomar decisões difíceis e capacidade de negociação transparente baseada no interesse nacional”.

Sr. Presidente, é, de certa forma, uma coincidência muito feliz, Senador Tasso Jereissati, que o Presidente do FED seja precisamente o maior especialista mundial na crise, no crash de 29. É muito feliz isso, extremamente feliz! Na prática, vamos ver o que resultará daí, porque percebo, do ponto de vista da atuação do Governo norte-americano, algo parecido com o desastre, assim como tenho visto no Brasil, decisões lentas e muita contemplação de uma crise que se revela avassaladora.

Mas, de qualquer jeito, Sr. Presidente, vejo ainda e vejo lamentando uma certa estreiteza. O Presidente se reúne com os Senadores e Deputados de sua base quando deveria fazer uma convocação nacional, convocando os líderes dos partidos oposicionistas, convocando os presidentes dos partidos oposicionistas, convocando os Presidentes das Comissões de Assuntos Econômicos das duas Casas do Congresso Nacional.

Este seria o modo sensato de atuar diante da crise, até porque não está em jogo aqui, Sr. Presidente, sinceramente, a eleição de Marta Suplicy contra Kassab. Está em jogo se o Brasil sofrerá mais ou menos com a crise. Tenho certeza, aliás, de que o Prefeito Kassab preferiria não ser obrigado a derrotar também o Presidente Lula na eleição. Mas o Presidente insiste em se expor a mais esse desafio inglório.

Senador Sérgio Guerra.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador Arthur Virgílio, a constatação e a lucidez de sua palavra são coincidentes com a linha que temos com o nosso partido. Nós não torcemos pelo “quanto pior melhor”. Não temos antagonismos insuperáveis. Nada disso! Somos democráticos. Estranhamos que o Governo, o Presidente e o Governo geral não tenham desenvolvido no tempo uma capacidade de conversar com os partidos, negociar com eles. A prática sempre foi outra, de conversar com as pessoas e com elas fazer acertos nem sempre republicanos. Discussões mesmo, de mérito, com os diversos partidos da Oposição ou do Governo - eu falo, pelo menos, com conhecimento de causa do lado da Oposição - todos nós sabemos que não se dão. O Presidente demorou a falar sério. Até agora não falou; viajou. O Governo toma medidas que, em parte, são corretas em um ambiente no qual, seguramente, os brasileiros são dependentes de uma grande crise e atuam de forma muito discreta para equacioná-la ou enfrentá-la. Há uma grande preocupação com o conteúdo democrático disso tudo, agravada por fatos dos últimos dias. Tempos atrás, no tempo dos aloprados, das montanhas de dinheiro que ninguém sabe até hoje de onde vieram, fomos surpreendidos, em uma campanha para Presidente da República, com um crime. Foi a campanha do Presidente Lula que introduziu o crime na última campanha eleitoral. Agora, não mais que de repente, diante de um quadro adverso de pesquisas, o PT incorre em uma ação absolutamente, totalmente, frontalmente antidemocrática, desrespeitosa, autoritária, precária,...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - ...primitiva, desrespeitosa, reacionária, e, na falta de argumentos, vem com acusações pessoais, levianas, contra homens públicos brasileiros que disputam legitimamente, de forma tranqüila, uma eleição de Prefeito de São Paulo. Não dá para ouvir aquilo calado. Não podemos permitir que a campanha Marta Suplicy possa atuar dessa maneira numa capital do tamanho de São Paulo ou em qualquer capital brasileira. Não podemos admitir esse baixo nível. Essa é uma ação preconceituosa, desrespeitosa. Por que não enfrentam as urnas com a arrogância que têm e o dinheiro que manipulam? Por que se surpreendem com 17% ou 20% já na frente do adversário para uma candidatura que ela sustentava na esperança de ser vencedora? É uma desmoralização para a democracia brasileira. O PT precisa explicar os fatos, a denúncia, a comprometedora e deplorável propaganda política do Partido dos Trabalhadores na campanha eleitoral de São Paulo. Coragem nenhuma! Partido que tem coragem não usa esses instrumentos! Nenhuma coragem! Coragem ao tentar agredir, de tentar desmoralizar, de diminuir?! Coragem coisa nenhuma! Essa é a arma dos covardes. Não insistam nessa política porque é o prenúncio de uma outra que podemos ter que enfrentar de agora para frente, todos nós. Diante da flagrante ameaça de que vão perder as eleições para Presidente, porque não ganharam essas, estão fora das grandes eleições brasileiras, fora no Rio de Janeiro, fora em São Paulo, fora em Belo Horizonte - e vão perder em Porto Alegre -, esse Partido usa esses instrumentos aviltantes contra uma candidatura decente de um aliado nosso. Não aceitamos isso. Eu gostaria de saber quem vai defender isso aqui no Senado; se há alguém para defender aquela falta de respeito e aquela indignidade aqui no Senado. O Líder do PT poderia, por exemplo, explicar o que fez em São Paulo agora. Por que não explica? Vivem nos cobrando tudo e não nos dão nada. Só desrespeito, só agressão. Com que autoridade pedem a nossa solidariedade, o nosso respeito, aqui, se não nos respeitam no plural? Se vão ao Rio Grande do Norte para agredir homens públicos, como foi o caso do Senador José Agripino e o seu, e perder depois. Se vão a São Paulo e lançam uma campanha dessa, desmoralizante, desmoralizadora, para a candidata Marta Suplicy, que não tem mais idade para fazer o que está fazendo e, se o tivesse, também não o poderia ter feito. Ela tem experiência demais para não incorrer nesses gestos. Democrática? Coisa nenhuma. Democrata não faz isso. Eu nunca fiz isso. Nenhum de nós aqui da Oposição fez isso. Nunca atacamos ninguém pessoalmente aqui. Sempre respeitamos o Presidente da República e aqueles que compõem seu Governo. Tratamo-los com isenção. Fomos até acusados muitas vezes de não termos sido suficientemente duros. Mas isso, não. Isso não dá para aceitar. Isso é uma sem-vergonhice que tem que ser denunciado aqui, hoje.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem, Sr. Presidente. Peço a V. Exª tempo para concluir, e V. Exª até já generosamente o concedeu.

Em primeiro lugar, de fato, Senador Tasso Jereissati, eu me disponho - e sei que meu Partido aprovará isso - a, se convocado pelo Presidente da República, comparecer ao seu local de trabalho, junto com o Presidente Sérgio Guerra, junto com o Presidente e os demais Partidos de Oposição, com os Líderes dos Partidos de Oposição, para discutirmos a postura que o Brasil deve adotar e as medidas que caibam diante da crise. Esse é um ponto. E não digo isso seduzido pelos comoventes elogios que o Presidente dirigiu a mim no comício de Natal. Não vou lá por isso nem apesar disso. Vou porque o Brasil me convoca, mais do que qualquer outro fator.

Em relação a esse episódio, Senador Sérgio Guerra, a que V. Exª se reporta, eu, sinceramente, fico sem entender que demonstração de estultice política teria sido essa. Primeiro porque já ouvi dizer que seria uma insinuação em relação à vida pessoal do Prefeito. Não ser casado seria sinônimo - vou ser bem franco - de homossexualidade?

A ex-Prefeita Marta, que está muito longe nas pesquisas... E quero também dizer ao Presidente que estou agradecido pelo carinho que ele demonstrou pelo meu Estado, se empenhando pessoalmente na eleição de Parintins. Infelizmente tive que derrotá-lo em Parintins. Lamento. Mas, pelo menos, vi ali estampado o amor dele pelo meu Estado, senão ele não se dedicaria ao trabalho de gravar comercial de televisão e programa de televisão para um Estado tão humilde como é o Amazonas. Fico honrado e agradecido mais uma vez. Tanto pelo que disse em Natal quanto pela sua participação na campanha de Parintins. Lamento que nesta última tenha sido obrigado a derrotá-lo. Preferiria que não tivesse sido assim.

Mas muito bem. Essa história do Prefeito Kassab, aquela coisa cavernosa - “quem é este homem? Este homem não casou.” O Senador Suplicy já quer dar um aparte, e eu faço questão de conceder-lhe o aparte. Primeiro, sinceramente, aqui serei eu o preconceituoso. Não sou preconceituoso em relação a homossexual, não sou preconceituoso em relação a religião, não sou preconceituoso em relação a coisa alguma, mas talvez eu seja um pouco em relação ao futebol: é melhor ser solteiro do que ter que torcer pela Argentina no jogo Brasil x Argentina. É bem melhor. É melhor ser solteiro do que torcer pela Argentina. É lamentável. Porque se funcionar machismo na Casa, acaba tendo que torcer pela Argentina, enfim. Mas muito bem. Eu custo a crer que ela tenha caído nessa baixeza, porque a ex-prefeita Marta Suplicy já tirou mais retrato em passeata gay no Dia do Orgulho Gay do que qualquer drag queen. Ela era figura fácil, desfilava em todas, externando o que parecia uma visão progressista da questão comportamental. Então, eu não quero acreditar que tenha sido isso. Eu quero achar que foi burrice mesmo. Quero achar que foi uma coisa opaca. Ou seja, estupidez do seu marqueteiro e estultice dela própria, que parece que não toma conhecimento do que se passa na campanha dela e por isso vai tão mal nas pesquisas de opinião. E certamente haverá de ir tão mal na hora em que o povo for se manifestar.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - V. Exª permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço o aparte do Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, esse assunto levantado pelo Senador Sérgio Guerra, esse deplorável acontecimento na campanha de São Paulo, aparentemente, não tem nada a ver com o brilhante discurso que V. Exª está fazendo sobre a crise financeira internacional e brasileira. Mas tem tudo a ver porque, no final, quando V. Exª faz toda uma avaliação da crise, mostra a gravidade da crise, mostra-se também aberto, disposto a colaborar e dialogar com o Governo, por piores que sejam as relações entre Governo e Oposição, no intuito de acharmos uma saída que seja boa para o País...

O SR. ARTHUR VIRGILIO (PSDB - AM) - Apesar de eu estar encantado com as últimas atitudes do Presidente em relação a mim. Estou encantado!

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB-CE) - Apesar de tudo isto, V. Exª mostra como nós fazemos oposição, o tamanho da nossa oposição e a nossa responsabilidade ao fazermos oposição. Por outro lado, a atitude da campanha Marta, em São Paulo, mostra exatamente o oposto: até onde o Partido dos Trabalhadores - na candidatura da Prefeita Marta Suplicy - é capaz de ir quando o poder está em jogo; até que limite - se é que existem limites - pode o PT ir numa campanha eleitoral ou quando o seu poder está em jogo. Eu nunca esperei, eu nunca pensei - confesso que erradamente - que se pudesse chegar a esse ponto a que se chegou em São Paulo. Confesso que erradamente, porque vimos, já durante estas eleições, o uso da máquina pública de uma maneira absolutamente despudorada - absolutamente despudorada! - principalmente nos pequenos Municípios, com o uso do Banco do Nordeste na nossa região de uma maneira despudorada. É uma pena o que se está fazendo com o Banco do Nordeste... Esse episódio agora de São Paulo é simbólico, quando se entra numa baixaria, num nível abaixo de zero, em nome de uma luta por um poder municipal. É lamentável o que está acontecendo, mas mostra muito bem que, se o PT, numa campanha para ganhar o poder municipal, é capaz disso, imagina o que é capaz de fazer, no poder, usando o poder, para não perder o poder central. Apesar de querer aparteá-lo na tese central de seu discurso, eu não poderia deixar de fazer essa correlação e de deixar claro o protesto por essa baixaria inominável que está sendo feita na campanha de São Paulo, mostrando a falta de limite desse partido quando o poder está em jogo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Tasso.

Peço, Sr. Presidente, tempo para conceder apartes aos Senadores Suplicy e Alvaro Dias. Aí, então, vou encerrar meu discurso, para começarmos a Ordem do Dia.

Antes, Senador Tasso, digo a V. Exª que o fato de eu ter começado a falar de economia e de ter resvalado para comentar o que dizem ter sido essa baixaria - que eu chamo de estultice política da ex-Prefeita Marta Suplicy, uma atitude desesperada diante de uma derrota que se avizinha - mostra que o Governo não está focado de maneira séria nem inteira na crise, tanto que está preocupado a esse ponto, ao ponto da baixaria, com o resultado das eleições.

Mas, talvez, até porque não se omite das questões cívicas nunca, talvez, respondendo a V. Exª e a mim, seja capaz de esclarecer essa questão ninguém melhor do que o Senador Eduardo Suplicy, a quem concedo o aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Arthur Virgílio, o Senador Sérgio Guerra, como Presidente do PSDB, em aparte a V. Exª, perguntou se alguém do Partido dos Trabalhadores iria defender o que aconteceu. Eu quero reiterar o que disse já no início da sessão de hoje, quando o Senador Papaléo Paes levantou esse assunto. Eu próprio recomendei à Marta Suplicy que não venha mais a se utilizar disso. No dia hoje...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Mas o que ela quis dizer, Senador? V. Exª que a conhece tão bem, o que ela quis dizer com aquele comercial cavernoso? O que ela quis dizer com aquilo? É o que nós estamos pensando?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Teria sido uma iniciativa dos responsáveis pela campanha. Não sei os detalhes de qual foi a...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Mas o que ela queria? Vamos esquecer a Drª Marta. O que queria aquele comercial cavernoso? Queria dizer o quê? É bom a gente esclarecer com nitidez, sem meias palavras. O que queria o comercial expressar? Insinuar o quê? Afirmar o quê? Eu estou aqui tentando defender a Drª Marta Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Arthur Virgílio, tenho a convicção de que a Srª Marta Suplicy, em tendo sido já uma boa prefeita, tem condição de se tornar ainda melhor prefeita a partir da experiência que teve na primeira gestão, de tudo o que aprendeu em seu tempo como Ministra do Turismo. Então, recomendo fortemente aos responsáveis pela campanha e a ela própria que, tendo esse conhecimento e com idéias tão claras sobre o que fazer seja na área da educação, da saúde, dos programas sociais, do transporte público e assim por diante, então...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não, mas sobre o comercial, Senador! Sobre o comercial, por favor! V. Exª é um líder do PT, é uma figura expressiva, que não precisa nem de ser líder. Eu ainda sou um pobre coitado que precisa de ser líder para aparecer um pouco. V. Exª aparece porque é um grande personagem da vida brasileira.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Vou dizer com um exemplo!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Por que aquilo? Aquilo quis dizer o quê? Porque, quando digo assim “fulano de tal que se opõe a mim é corrupto, estou dizendo ele mexe em dinheiro público”. O que quis aquele comercial expressar? O que ela faz em educação, o que ela faz em economia o povo está julgando, e parece que não julga que ela faça melhor do que o Prefeito Kassab, tanto que ele está vinte e tantos pontos à frente dela, pelo que ouço.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Se eu ilustrar com exemplo, acredito que estarei respondendo bem a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sim. Significa que, se ela for prefeita, ela vai reprimir a Parada Gay? É isso?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª permite que eu diga?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Permito.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Tivessem os adversários da então candidata, em 1988, perguntado se a Luiza Erundina de Sousa, hoje Deputada Federal, que foi então eleita prefeita, companheira nossa então do Partido dos Trabalhadores, se ela fosse casada, teria ela filhos, tenho a convicção de que a Marta Suplicy teria feito um protesto sério, semelhante àquele que os Parlamentares do PSDB e muitos dos jornalistas que hoje escrevem nas diversas colunas estão formulando. Então, digo isso para a reflexão da Marta. São muitos os companheiros de grande peso do Partido dos Trabalhadores que estão afirmando: “um erro foi cometido”. Quando se comete um erro, procura-se refletir a respeito. Ela própria, em algumas situações, já procurou...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador, mas que erro foi esse? Eu não entendi ainda. O que ela quis dizer? Qual é o erro?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O erro está nas conseqüências do que foi apresentado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Mas conseqüências de quê? O que ela quis dizer com isso? Eu não entendi. Eu lhe digo que não entendi. Eu sou obtuso, às vezes.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Como V. Exª sabe muito bem o que quer dizer e não precisa...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não, não sei. Se alguém pergunta: “Arthur, você é casado?”. Eu digo: “Não lhe interessa”. Eu posso ser casado hoje, não ser amanhã. V. Exª foi casado e hoje não é. Hoje tem uma namorada, que, aliás, é uma figura adorável, incapaz de fazer maldade com quem quer que seja. V. Exª já me apresentou sua namorada, uma pessoa bem comportada, séria, que não faz maldade com ninguém.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O que os seus responsáveis pela campanha quiseram fazer os eleitores refletir é que...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O quê?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Deveriam refletir sobre, digamos, todo o passado, digamos, na expressão deles, o DNA do candidato, que precisava saber quais foram as suas alianças políticas, quais foram as passos que deram...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Aí, sim. Mas aí pergunta: “é casado?” Isso aí está na Internet. Se é casado ou não, está na Internet.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quais foram as pessoas com quem... De tal maneira que foi essa a intenção deles, segundo o que me afirmaram. Todavia, eu não...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM ) - Ela não deveria pagar esse pessoal. Ela deveria despedir esse pessoal , porque esse pessoal é incompetente, se é que não é mal-intencionado. Porque basta ir na Internet que dá para saber se o Prefeito Kassab é casado ou não. Na Internet, está lá. O que interessa a alguém se ele é casado ou não. Não fico perguntando a quem quer que seja se é casado ou não. Não me interessa. Olho a qualidade das pessoas.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Estou de acordo com V. Exª de que uma pessoa pode ser solteira e não ter filhos...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ele pode ser casado com alguém que fique pendurado na máquina pública, sugando a máquina pública.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...e ter um procedimento profissional ou político ao longo de sua vida de extraordinária relevância...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Como pode casar com um sanguessuga também. Não pode casar com um sanguessuga, uma pessoa que fique sugando a máquina pública? Pode. Aí, nesse caso, é melhor ser solteiro do que casar com sanguessuga.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Então, essa não foi a melhor maneira de se referir ao adversário. Haverá outras, e as recomendações que faço, e avalio que ela tem toda condição de fazê-lo muito bem, é de centrar todo o debate na maneira como ela própria, o Partido dos Trabalhadores, o Aldo Rebelo, o PCdoB e todos os partidos poderão realizar uma administração, que, sobretudo, venha trazer para o Município de São Paulo a realização de um maior senso de justiça social, de solidariedade, por meio das políticas nas áreas de educação, da saúde, das políticas sociais; das políticas sociais e que venham fazer todas as pessoas em São Paulo, em sua grande maioria, afirmar no voto, nela própria, de como isso será melhor para a cidade de São Paulo. E ela tem as condições para fazer isso. Nós estamos hoje no dia 14. Temos, portanto, até o dia 26 a condição de comprovar que isso pode ser feito melhor do que o candidato que o PSDB e o DEM apresentam, Gilberto Kassab, com todo respeito pelo Prefeito Gilberto Kassab. É essa ponderação que eu aqui formulo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador.

Senador, vou ouvir o Senador Alvaro Dias, mas não antes deixando, Senador Jereissati, de fazer algumas observações, meu querido Senador Jarbas Vasconcelos.

            Imagine a cena de um debate na TV Globo, na TV Bandeirantes, onde quer que seja. Em vez de perguntar: “Prefeito Kassab, qual projeto o senhor teria para eventuais quatro anos mais de governo na área de saneamento básico?” Faz a seguinte pergunta: “O senhor é casado?” Se eu sou o Kassab e ela fosse solteira - que ela não é uma pessoa solteira e é uma pessoa respeitável, que nós sabemos - eu diria: “Puxa, se é uma pessoa solteira e eu solteiro, ela quer me namorar”. Só pode ser, essa pergunta não tem cabimento, essa pergunta é descabida, completamente descabida. Não tem cabimento perguntar a uma pessoa se ela é casada ou não. Não me interessa, quando uma jornalista me entrevista, eu não digo assim:

- De que jornal é a senhora?

- Folha de São Paulo.

- A senhora é casada?

- E a senhora?

- Estado de São Paulo.

- A senhora é solteira?”.

Qual é o critério? Se for solteira, eu não dou entrevista? Ou será que só dou se for solteira? Afinal de contas, eu sou um Senador ou um curioso. Eu sou um fofoqueiro ou eu seria alguém malicioso que estaria embasado no preconceito para, quem sabe se não há coisas pérfidas a respeito do Prefeito Kassab.

Agora digo: qual é vantagem de se ganhar uma eleição desse jeito? E pior: por que arrostar o castigo de perder uma eleição desse jeito? Perde como preconceituosa. Pelo que estou vendo, eu sou o único que não estou achando que é por aí que se deve tirar a ilação. Ela estava mais forte um pouquinho entre o eleitorado gay. Acho que perdeu, vai perder lá também. O pessoal agora está achando que, se ela for prefeita, vai reprimir aquele dia do Gay Pride, lá, na Avenida Paulista, porque parece que esses anos todos batendo perna lá não significaram respeito à diversidade quando alguém resolve fazer a sua livre opção sexual.

O Senador Suplicy é uma figura generosa, figura humana, e eu só tenho que parabenizar a Srª Mônica Dallari por ter como companheiro um homem desse calibre, homem bom, homem realmente bom e generoso e que vai até o fim nos seus afetos e nos seus compromissos.

Senador Alvaro Dias.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, vou colaborar com o Presidente Garibaldi sendo bastante sucinto, mas eu gostaria apenas de fazer a constatação. Quando o fantasma da derrota ameaça, muda-se o comportamento de forma incrível, surpreendente, inusitada, o nível da campanha cai, e nós ficamos, dessa forma, muito distanciados do eleitor. O eleitor evoluiu, o eleitor amadureceu politicamente.

(Interrupção do som.)

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - É o que se verificou nesta campanha eleitoral: o amadurecimento político, maior conscientização, maior independência do eleitor; o eleitor oferecendo lições às lideranças políticas em todo o País, derrotando populistas, renovando Câmara de Vereadores onde se instalavam propineiros. Enfim, um avanço considerável. Agora, esse comportamento de São Paulo, que baixa o nível, que muda comportamento, que desrespeita o cidadão, é um comportamento que coloca os políticos, no processo eleitoral, muito distanciados do eleitor que avançou. Essa é a constatação. De outro lado, em relação ao Governo do Presidente Lula, é lastimável que este Governo não reconheça a importância da Oposição quando, responsavelmente, deseja contribuir em momentos cruciais para o País como este que vivemos, no enfrentamento desta crise - que é uma verdadeira hecatombe no sistema financeiro internacional - que vai trazer conseqüências imprevisíveis para o nosso País. Nós temos de fazer a autocrítica. No momento de agredirmos, no momento de sermos contundentes, veementes, de cobrarmos providências do Governo nem sempre estamos à altura do papel de opositores. Mas, no momento de colaborar com o Governo, nós estamos à altura da responsabilidade que assumimos diante da sociedade brasileira. Eu digo isso porque, em determinados momentos, a Oposição tem sido generosa com o Governo Lula - com o Presidente Lula, em especial. Mas, neste momento, quando se trata... Se nós reconhecermos, fizermos a autocrítica de nossa fragilidade em determinadas circunstâncias, nessa hora nós devemos cobrar do Presidente da República o reconhecimento em razão do comportamento responsável das Lideranças do nosso Partido, o PSDB, desde V. Exª, que é nosso Líder no Senado Federal, Líder que se notabilizou no País por sua contundência, por sua competência, pela capacidade de refletir aqui os anseios da nossa população, passando pelo Senador Sérgio Guerra, que hoje publica na Folha de S.Paulo um artigo memorável; pelo Senador Tasso Jereissati, que há poucos dias, dessa tribuna, fez um pronunciamento longo, permitindo apartes, e que fez um diagnóstico da realidade econômica que estamos vivendo no Brasil. O Presidente da República deveria ter olhos para ver uma Oposição com tal responsabilidade pública.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem, Sr. Presidente, encerro, agradecendo os ilustres aparteantes e deixando aqui, numa tentativa de síntese, a proposta ao Presidente da República, ou seja, esse fato eleitoral passou, isso tudo é tolice. Estou aberto e meu partido está aberto para ir ao Presidente discutir a sério e não de maneira subalterna as saídas para a crise do ponto de vista da economia brasileira. Isso é que importa.

Em segundo lugar, uma recomendação muito clara: Presidente, ainda é tempo, afaste-se dos palanques, eles só desgastam a sua imagem. V. Exª começou a eleição achando que tinha uma vara de condão e que onde apontasse alguém esse alguém ganharia. Não foi assim. Então recolha-se à boa humildade e afaste-se dos palanques. Esse será o primeiro sinal para nós da Oposição de que V. Exª fala a sério quando pensa em união do País, para enfrentarmos o vendaval que ainda está a caminho, não se iluda o Presidente, não se iludam os brasileiros.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Em terceiro lugar, Sr. Presidente, nós aqui vimos uma tentativa, dois fatos significativos. O Senador Mercadante fez uma bela análise do momento econômico mundial, mas, quando chega ao Brasil, simplesmente desconheceu as reformas estruturais do período Itamar Franco para cá, desconheceu a abertura econômica do seu aliado Fernando Collor, que iniciou a abertura econômica, desconheceu as reformas estruturais, sobretudo no episódio do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

E ele termina, de certa forma, enfeando o seu discurso porque traz o seu discurso para elogiar o que seja a excelência do manejo da crise por parte do Presidente Lula, e não é essa a minha opinião.

Mas veja, Senador Tasso, a outra observação, e, com essa, concluo o meu pronunciamento, concluo a minha fala, pedindo ao Presidente que prorrogue o meu tempo por mais um minuto, porque estamos a três segundos do final do tempo.

Aqui tentei falar de economia, e acabamos, de maneira acanhada, falando de baixarias eleitorais. Saio sem saber... Primeiro, percebi que não podemos falar de economia, porque não há um Governo focado na saída econômica para a crise. Segundo, porque estamos diante de setores que acham que vale tudo para ganhar uma eleição. Eu já ganhei eleições, a maioria delas, graças a Deus, e já perdi eleições em raras ocasiões e nunca apelei nos momentos em que se avizinhava a minha derrota eleitoral. Em nenhum momento pensei em fazer mal à família de quem quer que fosse, em nenhum momento pensei em forjar provas contra quem quer que fosse, em nenhum momento forjei dossiê aloprado, em nenhum momento forjei nada parecido com o Dossiê Cayman, com quem mais fosse, porque entendo que há dois papéis a serem cumpridos em uma eleição: o vencedor deve ser generoso na vitória, e aquele que está destinado a perder a eleição...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...deve ser corajoso e altivo na derrota.

Não vale o vencedor pisotear a honra e a personalidade dos vencidos. Isso tem acontecido no País. Não vale o perdedor que não é generoso, que não é grande, que não faz o que fez Albert Gore diante de Bush para preservar a credibilidade da Suprema Corte norte-americana no episódio da primeira eleição do presidente norte-americano.

Perder e ganhar são fatos da vida pública que devem ser encarados com naturalidade por quem não queira fazer mal ao dinheiro público. Muita vontade de chegar ao poder me cheira a corrupção antecipada, porque não vale a pena se fazer tudo, vender a alma ao diabo para se chegar a uma vitória eleitoral que depois volta como castigo contra aquele que não soube vencer. E volta como castigo contra todo aquele que não souber perder.

Eu venço ou perco uma eleição de acordo com a vontade do meu povo. Eu me submeto sempre à vontade do povo do Amazonas toda vez que me disponho a disputar uma eleição. E é a partir daí que eu faço e refaço os meus posicionamentos, mas perco com dignidade e ganho com altivez e respeito a quem derrotei.

Se isso não é uma máxima adotada por aqueles que hoje governam o País, é bom que repensem: com tudo nas mãos, fizeram 400 prefeituras; o nosso partido, sem nada nas mãos, fez o dobro. O nosso partido continua com candidatos vigorosos a Presidente da República. O nosso partido não está disposto a profiter, a lucrar com a crise; o nosso partido está disposto a colaborar com o Presidente da República na saída para a crise. Agora, o nosso partido avisa que o tempo da arrogância cessou, que o tempo da tal invencibilidade não é verdadeiro, que não terão nada parecido com o que imaginavam que tinham e que o povo brasileiro, equilibradamente, mostrou que não tinham direito a ter.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu encerro deplorando a atitude dos irresponsáveis - ou responsáveis, sei lá como é que eu chame - pela campanha da Prefeita Marta Suplicy, porque é incrível que na cidade mais politizada do País, na cidade mais populosa do País, na cidade mais rica do País - e talvez esteja aí a agonia -, na cidade com o maior orçamento do País, na cidade que tem orçamento maior do que o da República Argentina, estejam disputando a eleição nesse nível.

Volto a dizer: não me interessa saber se o Senador Cristovam Buarque é ou não é casado - e eu sei que ele é muito bem casado -; não me interessa saber se o Senador Mão Santa é ou não é casado - e sei que ele é muito bem casado. Isso não me interessa. Interessa-me o comportamento público de quem quer que seja. Quando aponto alguém como corrupto desta tribuna não me refiro ao estado civil de quem quer que seja; eu me refiro ao fato de que alguém é corrupto e merece ser estigmatizado perante a opinião pública, até porque a corrupção deve ser punida por todos aqueles de bom senso e boa-fé em relação ao País.

Mas São Paulo vai falar como o Brasil já falou, e o Brasil vai falar de novo em 2010 para que aqueles...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...que vão disputar a Presidência em 2010 saibam adequar-se às regras da democracia e do respeito à Oposição, uma Oposição que, apesar de tudo o que já recebeu, apesar de tantos insultos, está disposta a discutir com o Presidente onde ele queira, desde que em bases sérias, para ver de maneira não subalterna qual é a contribuição que pode dar em âmbito de união nacional verdadeira para o Brasil sofrer o menos possível com a crise avassaladora que assola a economia internacional.

Era o que eu tinha a dizer.

Sr. Presidente, muito obrigado pela tolerância. Muito obrigado, meus Pares.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2008 - Página 39560