Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A responsabilidade do Congresso Nacional pela busca de soluções para o enfrentamento da crise financeira internacional.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • A responsabilidade do Congresso Nacional pela busca de soluções para o enfrentamento da crise financeira internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2008 - Página 39611
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, HISTORIADOR, ANALISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, GRAVIDADE, CRISE, COMPROVAÇÃO, INSUCESSO, TEORIA, LIBERALISMO, PREVISÃO, ALTERAÇÃO, CAPITALISMO, INCLUSÃO, DIRETRIZ, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, OPINIÃO, ORADOR, RESPONSABILIDADE, CONGRESSO NACIONAL, PLANEJAMENTO, FUTURO, BRASIL, IMPORTANCIA, REPRESENTAÇÃO, CIDADANIA, OBJETIVO, CRESCIMENTO ECONOMICO, AUMENTO, EMPREGO, RENDA, DISTRIBUIÇÃO.
  • COMPROMISSO, DEBATE, SENADO, REFORMA TRIBUTARIA, FUNDO DE INVESTIMENTO, REFORÇO, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, CONCLAMAÇÃO, UNIÃO, AUSENCIA, CRITERIOS, POLITICA PARTIDARIA, REITERAÇÃO, APOIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, ANALISE, FUNÇÃO, OPOSIÇÃO, FISCALIZAÇÃO, AVALIAÇÃO, POLITICA, BENEFICIO, DEMOCRACIA.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, queria, mais uma vez, agradecer a gentileza de V. Exª.

Eric Hobsbawm é considerado, Sr. Presidente, um dos maiores historiadores vivos da humanidade. Há poucos dias, numa entrevista reproduzida pelo jornal da Juventude do PMDB, o conceituado estudioso analisou o momento econômico mundial.

Para ele, a crise pode se transformar em uma grande depressão econômica nos Estados Unidos e significa o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado.

O estudioso, Sr. Presidente, Srs. Senadores, confirma as previsões de que o capitalismo seria substituído por um sistema administrado ou planejado socialmente, ainda que certamente se tenha subestimado os elementos de mercado que sobreviveriam em algum sistema pós-capitalista.

Fiz, Sr. Presidente, essa introdução porque considero que a crise atual tem de ser analisada sob uma perspectiva histórica. São as decisões que tomarmos agora que irão definir o futuro do Brasil.

E este futuro, Sr. Presidente, sob muitos aspectos, depende das responsabilidades do Parlamento e de nossas instituições, inclusive as partidárias.

O Congresso Nacional, que molda a cada dia a democracia brasileira, será mais uma vez o palco dessas decisões.

Não, Sr. Presidente... Mesmo em um sistema presidencialista, não é apenas do Executivo a inteira responsabilidade pelos rumos da Nação, como V. Exª bem sabe. É também nossa, de Senadores, de Deputados e de toda a sociedade, essa responsabilidade.

Aliás, em outros cantos do Planeta, é a sociedade que clama, não é de agora, por medidas que melhorem a transparência e a supervisão do sistema financeiro.

Não tenham dúvida, Srªs e Srs. Senadores, o Senado Federal vai fazer a sua parte. Estamos prontos para analisar as matérias que tenham implicação direta nas questões econômicas do País. O Parlamento pode ser crucial para amenizar os efeitos da crise no médio prazo.

Tudo o que o brasileiro quer, Sr. Presidente, é ver a economia crescendo, o nível de emprego e renda aumentando e a pobreza diminuindo.

Vamos debater, exaustivamente, projetos como o da reforma tributária e o que cria o Fundo Soberano Nacional. Além disso, Sr. Presidente Garibaldi, vamos, sim, aprovar a série de medidas para blindar a economia brasileira, além de propor mudanças e outras contribuições.

Nosso esforço diário poderá, de alguma forma, fortalecer o sistema financeiro nacional, que não pode trincar - e, se depender do Senado Federal, não vai trincar.

Para isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temos de buscar o entendimento em torno de matérias com os Partidos de oposição.

Nosso trabalho independe das decisões norte-americanas, do Banco Central Europeu, de instituições financeiras internacionais. O Brasil, Srs. Senadores, torce para crescer mais e precisa, para isso, de melhorias de ordem econômica.

Não se deve politizar a crise, uma vez que essa é uma questão de interesse nacional. Se houver demora, ou uma resposta inadequada, quem pagará o preço maior é o povo brasileiro. Tudo, Sr. Presidente, poderá traduzir-se em inflação, desemprego e redução do crescimento e isso - tenho certeza - ninguém quer.

Caberá ao PMDB uma função estratégica nesta cruzada. É, em boa parte, de nossa responsabilidade a manutenção da capacidade de ação do Governo naquilo que é crítico, que é vital para o encaminhamento das soluções demandadas, neste momento.

Não é cabível, Sr. Presidente, que a crise nos tire a capacidade de responder, a tempo e a hora, às questões das quais depende, em última instância, o desenvolvimento econômico do País e as iniciativas destinadas à promoção do nosso desenvolvimento social.

A despeito do rugir de uma crise de grandes dimensões - e ela, de fato, apresenta dimensões consideráveis - os fundamentos da economia estão sólidos. Precisamos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mantê-los assim.

A principal demonstração de força de nossas instituições será tratar essa crise com todos os instrumentos que nos fornecem a Constituição e as leis, sem prejudicar, com isso, a agenda nacional de desenvolvimento, seja em seus aspectos econômicos, seja em seus aspectos sociais.

O PMDB, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encara tal postura como uma demonstração, clara e firme, dos seus compromissos com o povo brasileiro. Aliás, a Base Aliada está - toda ela - muito consciente da gravidade do momento em que vivemos, da necessidade de dar à sociedade as respostas que forem necessárias, de fazer cumprir à plenitude o papel que cabe ao Parlamento em nosso sistema político.

Penso ainda, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ser do mais legítimo interesse da Nação que o Governo possa governar, que as ações que desembaraçam os nós ainda colocados ante a perspectiva de desenvolvimento sejam desatados e que os temas que toquem diretamente o bem-estar dos brasileiros tenham espaço na agenda política nacional.

Partidos como o PMDB são a melhor alternativa de manutenção de uma maioria estável e, dentro do possível, saudável, sadia.

O PMDB, Sr. Presidente, é uma legenda com as maiores Bancadas, com o maior número de prefeitos, vereadores e governadores e com lideranças nacionais fortes. Ainda que o PMDB seja uma federação - e V. Exª sabe muito bem disso -, é preciso reconhecer que nós desenvolvemos uma boa fórmula interna de administração de nossas diferenças e de convivência pacífica também, uma salutar convivência entre os diferentes setores do Partido.

À Oposição, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, caberá uma das funções mais nobres da democracia: a contestação. A contestação é natural. Ela é legítima, Sr. Presidente. Na verdade, como significa a origem do nome em latim, cabe ao Governo pôr e à Oposição se contrapor.

Em síntese, este é o papel da Oposição: fiscalização e controle do poder e de oferecer também visões alternativas às do Governo - e isso vale para o dia-a-dia na avaliação crítica da condução das políticas públicas.

Como disse o Ministro Celso Lafer, em nosso País, dada a natureza da fragmentação partidária no Congresso Nacional, não existe uma oposição, mas oposições. E é perfeitamente possível fazer oposição ao governo sem fazer oposição ao País.

O Presidente Lula, Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves Filho, é algo novo, mesmo para o Brasil, acostumado a mudanças. Ele assinala a consolidação de uma democracia de inclusão social. Exprime, nesse contexto, a idéia-força de que, em uma efetiva democracia constitucional, os contendores não são inimigos, mas apenas adversários. Estes reconhecem o direito de quem ganhou a eleição de ser governo, e cabe à Situação respeitar e entender o papel das outras forças.

Mas, em uma democracia moderna, o exercício da Oposição não se dá apenas no Congresso. Ela ocorre, de maneira nem sempre saudável, em outras instâncias. É exercida, por exemplo, pela mídia, que, no mundo contemporâneo, estrutura a comunicação política e organiza a agenda da opinião pública.

O Congresso Nacional, Sr. Presidente, está no coração da história brasileira recente, direta ou indiretamente. Jamais deixou de influenciá-la e construí-la, mesmo quando fechado pela ditadura. Nem seu silêncio calou a ausência de liberdade. Berrava a arbitrariedade para o País e para o mundo, desgastava o regime, prejudicava o governo militar...

É, Sr. Presidente, Srs. Senadores, principalmente pelo Parlamento que a democracia respira. O Parlamento é o povo. Em tempos de liberdade, de democracia, ele reflete a sociedade. Tem a cara do Brasil. A boa e a ruim.

O Parlamento, Sr. Presidente, Srs. Senadores, esteve todo o tempo no coração da história recente, no olho do furação do processo de mudança da sociedade. Como herói na eleição de Tancredo Neves. Como vilão na derrota das Diretas-Já, desejo do povo brasileiro. E como vítima na ditadura militar...

Hoje, Sr. Presidente, Srs. Senadores, o Parlamento exerce na plenitude o papel que lhe cabe no presidencialismo democrático: legisla, fiscaliza, equaciona, concerta normas, decisões e soluções.

E V. Exª - eu não posso fazer segredo disso, e aqui no Senado Federal ninguém o faz - tem sido um pilar importante para que tudo isso ocorra no Senado Federal e no Congresso Nacional. Mais do nunca, Sr. Presidente, é também um lugar privilegiado de reflexão, debate e análise das questões nacionais.

A sociedade terá papel de destaque na gestão dessa crise de proporções mundiais. Ela precisa se educar ainda mais para a vida democrática e o exercício da cidadania.

É preciso que a população conheça, e conheça verdadeiramente, o papel do Legislativo e a importância da democracia para sua vida. O prédio do Congresso Nacional é visto hoje como símbolo de crise, e não de solução.

Vamos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, provar exatamente o contrário, como já fizemos tantas vezes na história do nosso País.

Agradeço a paciência de V. Exª. Mais uma vez, agradeço o seu gesto de gentileza e agradeço também o Senado Federal pela paciência, já que tomo mais uma vez seu tempo.

Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2008 - Página 39611