Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a crise financeira internacional.

Autor
Efraim Morais (DEM - Democratas/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com a crise financeira internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2008 - Página 39643
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, EFEITO, BRASIL, COMPROMISSO, PARTIDO POLITICO, DEMOCRATAS (DEM), APOIO, PROVIDENCIA, DEFESA, ECONOMIA NACIONAL, CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ALEGAÇÕES, INFERIORIDADE, PROBLEMA, INCENTIVO, CONSUMO.
  • ANALISE, FUNDAMENTAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), SEMELHANÇA, ATUALIDADE, PROVIDENCIA, UNIÃO EUROPEIA, PRESERVAÇÃO, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, AVALIAÇÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, BRASIL, OPORTUNIDADE, CRISE.

O SR. EFRAIM MORAIS (DEM - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com preocupação que me associo às sucessivas manifestações já feitas desta tribuna por praticamente todos os que a ocuparam desde que veio à tona a mega-crise financeira norte-americana - crise que, diga-se, já não é apenas daquele país.

É de todos, na medida em que a economia globalizada faz com que seus efeitos se espalhem quase instantaneamente por todo o mundo.

Quero, antes de mais nada, dizer que, neste momento, não há oposição ou governo. Há o interesse nacional - e, de minha parte, estou determinado a apoiar todas as iniciativas que meu partido julgar necessárias à defesa da economia e do povo brasileiro.

Digo sempre - e hoje repito - que fazemos oposição ao Governo, não ao País. O DEM tem plena consciência da gravidade deste momento e não fará nada para o agravar. Muito pelo contrário.

Dito isso, quero comentar o comportamento do Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, diante da crise. Não creio que tentar minimizá-la com palavras seja o melhor caminho.

Não tenho dúvida de que é preciso evitar o pânico e o alarmismo, mas igualmente é preciso manter a sociedade alerta e bem-informada. Somente assim, ela poderá dar a sua indispensável contribuição, agindo em consonância com o momento. Não é, porém, o que temos visto.

Ao afirmar que a crise “é uma marola” e que não chegará aqui - declarações iniciais de sua Excelência -, prestou um desserviço à causa.

A crise não é uma marola - e já chegou aqui, haja vista as medidas tomadas pelo Banco Central, de injetar dinheiro no mercado para salvar os pequenos bancos e garantir liquidez aos grandes.

Felizmente, a economia brasileira apresenta fundamentos sólidos, fruto da continuidade dada ao Plano Real. Hoje, vemos que o tão criticado Proer, que mereceu do PT os ataques mais selvagens, ao tempo do governo Fernando Henrique, foi medida sábia, que hoje o governo Lula, com bom senso, resolveu reeditar, na mesma linha em que hoje agem os governos norte-americano e dos países da União Européia.

Não se trata de estatizar ou salvar bancos, como alguns apregoam levianamente, mas de garantir os correntistas e poupadores.

Não se trata também de abrir mão dos fundamentos do sistema capitalista. O Estado (e é para isso que ele existe entrou em cena, lá como cá, para cumprir a função de regular o mercado, cujo desequilíbrio deve-se não ao sistema, mas ao mau uso - péssimo uso, diga-se - que dele fizeram.

Uma coisa é o sistema capitalista, o regime de livre mercado. Outra é a fraude, a trapaça, que corroem qualquer tipo de modelo que se conceba.

E a crise que aí está decorre do mau uso que se fez da economia de mercado - e da demora do Estado norte-americano de tomar providências.

Voltemos ao Brasil. Ao declarar que o brasileiro terá um (aspas) “natal extraordinário” e incentivar o público a consumir, como se nada tivesse mudado, o presidente Lula trata a crise com a retórica dos palanques. E isso é uma temeridade.

Crise requer sobriedade, austeridade e, sobretudo, compromisso com a verdade. Não se sai da crise com a tática do avestruz, que, diante do perigo, enterra a cabeça na areia.

Precisamos encará-la com serenidade, mas com determinação, sem deixar de tomar as medidas necessárias.

Lembro-me da crise cambial de 1998, em plena campanha sucessória, que obrigou o presidente Fernando Henrique a tomar medidas amargas, que poderiam ter comprometido sua reeleição.

Ele, porém, não deixou de implementá-las e a sociedade brasileira reconheceu a seriedade de seu procedimento, reelegendo-o.

O povo brasileiro, que acaba de atribuir índices elevados de popularidade ao presidente Lula, não deixará de apoiá-lo, ainda que ao custo de eventuais perdas, se ele se posicionar com firmeza e coragem diante dos desafios que o momento impõe.

É nas horas difíceis que o perfil do estadista se apresenta. O presidente Lula está tendo a oportunidade de mostrá-lo. Entrar para a história como bom governante em momento de euforia econômica mundial é fácil. O difícil é confirmar essa competência nas horas graves - horas como esta, em que o comportamento da economia brasileira terá peso no cenário internacional.

O Brasil é hoje um país que influi, que pode contribuir no equacionamento da crise. Deixou de ser meramente periférico. É o que os economistas chamam de player (pronúncia plêier) no cenário mundial. Terá mais importância ainda no desdobramento da crise, quando sua pujança em matéria de recursos naturais poderá fazer grande diferença.

Crise, como todos estamos cansados de saber, é hora de risco, mas também de oportunidades. E esta nos oferece a chance de mostrar ao mundo os méritos que efetivamente temos, pela seriedade com que temos tratado nossa economia já há alguns governos, incluindo este.

Não se pode tirar o mérito do governo Lula de ter enfrentado a resistência de seu próprio partido e mantido o modelo econômico que tanto combatera no governo anterior.

A própria escolha do presidente do Banco Central, o Dr. Henrique Meirelles, recrutado nas fileiras do PSDB, foi uma demonstração desse bom senso, que se mostrou fundamental para que o país possa agora tratar dos efeitos desta hecatômbica crise financeira mundial sem alarmes e sem fragilidades maiores.

Esse reconhecimento que fazemos ao Presidente Lula precisa, no entanto, ser estendido por ele ao governo anterior, tantas vezes exposto pelo PT como bode expiatório de todas as mazelas do País.

Há um momento em que as fronteiras de governo e oposição desaparecem: é exatamente quando um interesse maior - o interesse do país, sua sobrevivência econômica - está em pauta. Nessa hora, não se pode tratar a realidade com a lógica e coreografia dos palanques.

É a hora da verdade, a reclamar providências práticas e consistentes, que exigem a adesão geral de todos os agentes políticos.

Estamos num momento assim. O País terá que rever procedimentos econômicos, terá que rever sua própria cultura econômica. Os gastos públicos terão que ser revistos e enxugados.

Reformas sempre adiadas - e mais uma vez falamos em reforma tributária e fiscal - terão que ser recolocadas em pauta. E, para que não se perca mais uma oportunidade, esperamos que o governo Lula se disponha a negociá-las com a oposição, sem a pretensão de impô-las por meio de construção fisiológica de maiorias no Congresso.

Neste momento, isso não funcionará. Pode até permitir que o governo aprove o que quiser, mas, com certeza não produzirá a adesão do País - e, portanto, não obterá êxito.

O apelo que faço ao Presidente da República é no sentido de que assuma outro discurso em relação à atual conjuntura. Se o alarmismo é nefasto, tão ou mais nefasta ainda é a euforia descabida, irreal.

O consumismo, neste momento, é predatório. Terá de ser evitado. O crédito já está em retração, o juro e o câmbio em alta, as bolsas em queda.

Para evitar uma recessão, é necessária sobriedade, austeridade. Tenho fé em que o Brasil tem condições de superar o presente desafio. Basta confiar em si mesmo e não insistir em fingir que a crise não é com ele.

Por isso, reitero: nada de palanques, Sr. Presidente. A oposição estará a seu lado em tudo o que disser respeito ao interesse nacional, sem politiquice, sem fanfarronadas, sem demagogia.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2008 - Página 39643