Discurso durante a 192ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o preço da carne e a crise financeira global.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Preocupação com o preço da carne e a crise financeira global.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2008 - Página 39944
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • APREENSÃO, AUMENTO, PREÇO, CARNE, MERCADO INTERNO, APRESENTAÇÃO, DADOS, DEFESA, PROVIDENCIA, COMBATE, ESPECULAÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, PROTEÇÃO, CONSUMIDOR, CESTA DE ALIMENTOS BASICOS, QUESTIONAMENTO, ALEGAÇÕES, VALORIZAÇÃO, DOLAR, ATUAÇÃO, FRIGORIFICO, PRIORIDADE, VENDA, EXPORTAÇÃO, PREJUIZO, BRASILEIROS.
  • ANALISE, EFEITO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, INJUSTIÇA, CARGA, CONTRIBUINTE, SIMULTANEIDADE, RESTRIÇÃO, CONSUMO, CREDITOS.
  • AVALIAÇÃO, CRITICA, ATUAÇÃO, BANCO OFICIAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RESPONSABILIDADE, CRISE, ECONOMIA, MOTIVO, INCENTIVO, ESPECULAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, CONSUMO, QUESTIONAMENTO, ORADOR, MODELO, CAPITALISMO, PROTESTO, DISTRIBUIÇÃO, PREJUIZO, IMPORTANCIA, DEBATE, PUNIÇÃO, CAPITAL ESPECULATIVO, ESPECIFICAÇÃO, TENTATIVA, REPASSE, PERDA, PREÇO, CESTA DE ALIMENTOS BASICOS, REITERAÇÃO, NECESSIDADE, PROTEÇÃO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa, V. Exª é sempre cordial e amigo.

            Sr. Presidente, falarei sobre o preço da carne e a crise financeira global, assuntos que têm sido a grande preocupação das Srªs Senadoras e dos Srs. Senadores, principalmente durante os últimos dias, depois do recrudescimento da crise financeira que se abateu sobre o mundo e que tem reflexos em todos os países desenvolvidos e em todos os países subdesenvolvidos ou em fase de desenvolvimento, como é a questão do nosso País.

            O preço da carne para o consumidor brasileiro, como nós sabemos, acaba de disparar. Em poucos dias, o reajuste médio no preço da carne nos supermercados já gira em torno dos 21%. Em outubro, o quilo da alcatra estava a R$12,90, mas já alcançou os R$14,90; o quilo do acém estava R$8,90, neste momento já anda pela casa dos R$9,90. Temos, portanto, aumentos de 15% a 11%, respectivamente. O contrafilé pulou 54%, saindo dos R$12,90 para R$19,90. Cito esses números para que nos situemos diante da realidade do Brasil.

            É evidente que temos que tomar medidas contra essa tendência. No entanto, o primeiro argumento que estamos escutando é que esse aumento da carne, aliás todo aumento passou a ser culpa da crise. No meu modesto entendimento, em primeiro lugar, temos que ter todo cuidado com esse tipo de argumento. Ele me parece meio fatalista e estimula a especulação econômica, justamente aquilo que é preciso combater, o uso e abuso da crise para atender a ambições financeiras e econômicas. Em segundo lugar, temos que ter toda a preocupação em proteger o bolso do consumidor comum e da cesta básica, garantir o consumo da carne, do feijão, do arroz para todos.

            Estamos ouvindo o argumento de que o aumento do preço da carne tem tudo a ver com a subida do dólar, em 40% nos últimos meses. Penso que temos que enxergar os dois lados do problema. Por exemplo: para produzir boi não precisamos gastar dólares. Então, de onde vem o aumento da carne de boi? Há quem diga que vem da especulação. Ou seja, o aumento advém do fato de os frigoríficos preferirem vender a carne para o exterior e faturar mais com a alta do dólar. Ora, o resultado dessa política, ainda mais se considerarmos que estamos no período de entressafra na produção de carne, está sendo o óbvio: a maior parte da produção termina sendo exportada, e a pior carne é a que fica para nós, aquela carne que o consumidor do exterior não aceita comprar e que nos chega mais cara. A outra conseqüência desse processo está chegando: comer fora de casa ficará ainda mais caro. Com isso, piora o consumo, piora a inflação, pioram as condições dos milhões de brasileiros que já vivem no limite.

            Ora, quero chamar a atenção para o seguinte: é bem provável que estejamos diante da maneira errada de lidar com a alta do dólar. E, se for assim, esse é um erro que nós não podemos continuar cometendo, até porque ele atinge, em primeiro lugar, os mais pobres.

            Se nós falávamos, até há pouco, que o País estava blindado contra a crise externa, que o Brasil tinha cacife para descolamento da crise norte-americana e que temos um colchão de dólares que é o maior da nossa história, então torna-se necessário lidar com a crise financeira de outra forma. Vou continuar batendo nesta tecla: o consumo de carne do mercado interno brasileiro não pode pagar a conta da crise financeira, a qual, evidentemente, vai chegar e está chegando na economia real (montadoras estão dando férias aos seus operários, por exemplo).

            Pensemos juntos a respeito da seguinte questão: se o contribuinte dos países ricos, dos países que mais lucraram no cassino global, no cassino financeiro, aceita pagar a conta (por meio da estatização dos bancos, das injeções de centenas e centenas de bilhões de dólares no mercado financeiro, como nos Estados Unidos e na Europa), se esse consumidor dos países desenvolvidos aceita que seus governos assumam as operações dos grandes bancos, não vou entrar nesse mérito, mas aqui, no Brasil, a realidade é outra. Aqui o contribuinte tem menos gordura. Aqui a dívida social não foi paga durante a bonança, coisa que o próprio Governo reconhece, tanto que procura garantir recursos para programas sociais do tipo Bolsa-Família.

            A crise global está impactando aqui e na nossa macroeconomia, que vem de uma fase de equilíbrio; o câmbio - ou o choque cambial - está ameaçando tornar-se o pior dos problemas, com o dólar se valorizando e o real perdendo parcialmente nas últimas semanas. As Bolsas de Valores, nestes últimos dois dias, estão acusando uma baixa incrível, demonstrando o nervosismo do mercado internacional e do mercado nacional diante da crise. E, em um cenário desse tipo, é óbvio que tudo que seja importado vai ficar mais caro. Isso é fácil de entender, assim como é fácil de entender que a crise iria atingir o Brasil e iria atingir na economia real, como está começando a ocorrer, infelizmente.

            Todo mundo está sabendo, por exemplo, do encolhimento do crédito. Aliás, esse foi o primeiro a ser atingido pela crise, com juros subindo e ofertas de linha de crédito diminuindo, e vem sendo restringido cada vez mais, desde carros e eletrodomésticos, passando pelo próprio crédito consignado.

            Quero chamar a atenção para a natureza desta crise, até para trazer o foco para aqueles setores que deveriam, eles, sim, serem chamados para pagar a conta da crise.

            Todos nós sabemos que a missão declarada do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, certamente, é a de prevenir a catástrofe, promover o crescimento, segurar a inflação; ou seja, impedir catástrofes financeiras por seus instrumentos, sobretudo, do controle do dólar e dos juros. Ora, o FED vem fazendo exatamente o contrário nas últimas décadas, estimulando bolhas de crédito fácil e irresponsável e promovendo a especulação desenfreada no mercado de derivativos e mercado futuro.

            O FED americano vem injetando bilhões e bilhões de dólares em empréstimos para hipotecas, empréstimos para consumo, e o Tesouro norte-americano, além dos bilhões gastos com armas, vem oferecendo montanhas de papéis ao mercado financeiro. Nesse processo, sobretudo com a finalidade de aquecer a economia real, o resultado todos nós sabemos qual foi: um aquecimento artificial. Os Estados Unidos foram transformados no país que mais consome no mundo, no maior mercado interno de alto consumo do mundo, com um pequeno detalhe: consumindo mais, muito mais do que suas possibilidades de renda real permitem; portanto, vêm consumindo crédito, vêm consumindo sua renda futura.

            Na era Clinton, chegaram a aprovar uma lei que apagava a distinção entre bancos comerciais, bancos de investimento e corretoras: abriam-se completamente as portas para o cassino global. É como se os Estados Unidos e o mercado de papéis dos países ricos tivessem virado um imenso paraíso fiscal ou uma economia movida a crédito fácil.

            Esse processo já vinha de antes, desde a era Reagan, da era Greenspan, mas veio a crescer muito mais depois do estouro da bolha da Internet há poucos anos. Dinheiro em excesso, especulação a mil por hora, cotações das empresas nas nuvens, o valor das ações na Bolsa completamente inflado, a economia financeira desalinhada, descolada da economia real. E, ao mesmo tempo, uma inflação crescente, mal disfarçada pela inundação de produtos baratos vindos da China.

            O resultado tem sido excesso de dólares circulando, o tal excesso de liquidez. Dólares buscando lucros fáceis, lucros de qualquer forma. Em outras palavras, graças àquela política, o resultado global foi muito mais crescimento da quantidade de dinheiro em circulação do que o próprio crescimento da economia real, produtora de bens, um crescimento artificial, engendrado pela economia norte-americana para beneficiar as suas empresas e os seus negócios. E nisso houve muita fraude.

            Está claro que essa era da farra do dólar tinha que se chocar, cedo ou tarde, com a economia real, a mesma que estava ficando para trás ano após ano. Bancos, corretoras, agências de risco, os donos da economia-cassino e a ideologia fundamentalista dos que acreditam que o mercado financeiro tudo pode, que o mercado se auto-regula, todos eles têm aqui a sua parcela de culpa em deixar o mercado à deriva, fazendo o que quisesse sem qualquer regulamentação, sem qualquer controle, sem qualquer freio.

            Quem não tem nada a ver com essa crise é aquela massa da população que vive do próprio trabalho, da sua renda como assalariado, que vive longe da farra dos investidores e dos papéis podres.

            Portanto, existem culpados, sim. Não dá para ficar apontando apenas para a bolha imobiliária - aquela crise do subprime nos Estados Unidos - como a vilã, ou mirando no crédulo comprador de sua casa própria, aquele que pensava que uma casa de US$100 mil, nos Estados Unidos, cabia na sua renda e caiu no canto sedutor das corretoras ávidas de qualquer hipoteca, para alavancá-la não sei quantas vezes no mercado de papéis.

            Sr. Presidente, não posso aceitar que os mandatários do mercado financeiro foram colhidos de surpresa, desde os analistas, as agências de risco, com toda sua matemática financeira, até às autoridades. Todo mundo foi pego de surpresa? Prefiro acreditar que o mundo capitalista rico adotou um modelo errado de desenvolvimento - na verdade um modelo de não-desenvolvimento - já que, em vez de basear-se na economia real, na economia produtiva, aquela da produção industrial e agrícola, baseava-se na economia do subprime, do papel podre, dos mercados futuros, dos ganhos fictícios e apostas especulativas com dinheiro dos fundos de pensão, desviando recursos colossais...

(Interrupção do som.)

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) ...os quais, em vez de serem carreados para a produção, foram todos jogados na roleta do cassino global.

            Agora estamos em outra fase: acabou a farra. É tempo de tirar lições. Não basta aceitar passivamente governos salvando e estatizando bancos, isto é, socializando prejuízos privados sem grandes preocupações com o contribuinte, convidado, ele, sim, a arcar com a crise. É tempo de agir para que a conta seja enviada para quem estava dentro do cassino, especulando. No caso do Brasil, isso me parece absolutamente importante e me parece que não devemos evitar esse debate que, modestamente, trago para a pauta desta Casa.

            Vejam o exemplo da própria carne de boi: os frigoríficos, assim como outras grandes empresas, do porte da Aracruz Celulose, vinham aplicando dinheiro em apostas no câmbio, isto é, vinham captando recursos no exterior e aplicando-os em juros no Brasil, aproveitando a farra dos juros, apostando na alta do real frente ao dólar e nos ganhos financeiros que tiveram dessa aposta. Está claro que essa aposta especulativa deu errado. A crise chegou, o preço da moeda americana disparou, e a resposta dos frigoríficos não se fez esperar: intensificaram as exportações de carne nos últimos dias para recuperar parte dos prejuízos das suas apostas em mercados de câmbio. Quer dizer, agora, a carne do Brasil aumentou, porque eles descobriram que estavam perdendo com a especulação e, para compensar, resolveram exportar carne. Esse problema me preocupa.

(Interrupção do som.)

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Mais dois minutos, Sr. Presidente. A crise nas praças financeiras me preocupa. No entanto, se já vínhamos sofrendo, ano após ano, com juros altos, com juros que continuaram altos em toda a fase de bonança, fase de grandes ganhos nas commodities, por que agora temos que pagar não apenas mais juros altos, como, ao mesmo tempo, sofrer no consumo do básico, como carne e pão? Não podemos fugir dessa questão.

            Temos que ter claro que a economia mundial está desacelerando e marcha para uma recessão, que não será pequena, embora ainda não dê para calcular o tamanho da devastação. E, se o mundo entrou em desaceleração, não é preciso ser especialista para prever que as exportações brasileiras, base da bonança dos últimos anos, assim como o colchão de US$200 bilhões, vão, ambos, encolher. O financiamento externo ficará mais restrito por conta dessa crise.

            Se estamos falando em crédito menor, encolhido, estamos falando ao mesmo tempo em menor demanda, menor expectativa de investimentos, como mostra o comportamento de certas montadoras que acabo de citar. E está evidente, por outro lado, que o Banco Central não tem planos de reduzir a taxa de juros no Brasil e ele trata de justificar isso, desde já, em nome do combate à inflação. Esse o argumento da equipe econômica, a mesma que argumenta que a contaminação do Brasil, pela inflação gerada pela crise mundial, com o dólar aquecido, exige juros mais altos. Os mesmos economistas que pretendem que a taxa básica de juros, a Selic, que hoje está em torno de 13,75%, termine o ano, quem sabe, em torno de 14,75%, portanto lá nas nuvens.

            Não há espaço, Sr. Presidente, finalmente, para entrar nesse debate...

(Interrupção do som.)

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - ...mas quero insistir na minha tese: é preciso reagir, desde já, contra um pacote para proteger o consumidor. É preciso proteger a economia da grande massa da população, ela que é a parte fraca e indefesa desse processo - se há um pacote a ser baixado, que se baixe, mas que ele seja em defesa dos mais pobres -, aquela mesma faixa da população que já estava perdendo - ou deixando de ganhar - quando a economia dos papéis podres estava crescendo, até porque essa população, sem renda, vivendo no limite, vivendo privações, não fazia e nunca fez parte do cassino.

            Sr. Presidente, não sou economista, mas, nos últimos dias, tenho me dedicado a esse tema, tenho estudado esse tema, porque estou muito preocupado...

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Antonio Carlos!

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - ...que essa crise venha a atingir não apenas aqueles que especularam e que já foram atingidos, empresas como, por exemplo, a Sadia.

            Nesta semana, vimos pela televisão frangos morrendo de fome e até em ações de canibalismo - uns comendo os outros. Produtores entregavam de graça à população o frango produzido com o suor do seu trabalho. Por quê? Porque a Sadia especulou no mercado financeiro e, agora, não tem condições de comprar milho para cumprir os seus contratos.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Antonio Carlos Valadares!

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Concedo um aparte, para terminar meu pronunciamento, ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Antonio Carlos Valadares, para onde vamos, levamos nossa formação profissional. A de V. Exª é igual à de Rui Barbosa, jurista, mas também ele foi Ministro da Fazenda. V. Exª é como Abraham Lincoln, que disse: “Caridade para todos, malícia para nenhum e firmeza no direito”. Mas foi ele que ensinou economia. Abraham Lincoln, jurista como V. Exª, disse: “Não baseie sua prosperidade no dinheiro emprestado”. Então, V. Exª, hoje, é economista igual ao jurista Rui Barbosa. Sou médico-cirurgião, mas a esta Pátria ninguém serviu melhor do que um médico-cirurgião como eu: Juscelino Kubitschek. Abraham Lincoln foi claro: “Não baseie sua prosperidade no dinheiro emprestado”. Atentai bem: aconteceu lá e, aqui, no Brasil, foi pior. O nosso Presidente e o Partido não tiveram ainda coragem de assumir. Denunciamos isso. Quero lhe dizer que esta Casa é uma universidade. Eu, por exemplo, o destino me permitiu estar seis anos na CAE, onde se discute Economia. Eu me debrucei sobre os assuntos econômicos como me debruçara no passado no estudo de Anatomia, para aprender operar. Eu previa isso. Denunciei que este País tinha imposto demais. A carga...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Mão Santa (PMBD - PI) - ... ela cresceu irresponsavelmente, de 16 Ministros para 40, 50 mil nomeações pela porta larga, sem concurso. A maioria deles ganha R$10.148,00, e o povo está exaurido, Antonio, não pode pagar mais! Demonstramos que, no caso do povo brasileiro, em um ano de trabalho, cinco meses vão para imposto e um para o banco. Então, o povo está exaurido. Aqui, foi pior. Atentai bem: se o norte-americano, favorecendo os banqueiros, facilitaram a compra de casas de US$200 mil, aqui, fomos mais irresponsáveis, enganamos os velhinhos, criamos empréstimos consignados. A diferença é que os banqueiros foram mais audaciosos: eles já descontam as aposentadorias dos velhinhos, e muitos deles não conseguem equilibrar suas despesas e estão sendo levados ao suicídio. A vergonha aqui é muito pior, pois se incentiva, irresponsavelmente, a compra de um carro em dez anos. Isso é uma palhaçada! Com R$200,00 a parcela, a pessoa sai com um carro novo - não é com aquele fusquinha seu, que está lá no apartamento, não! Quero dizer que Abraham Lincoln, jurista como V. Exª, livrou-nos da escravatura do negro, assim como a Princesa Isabel. A escravatura da vida moderna é a dívida, e nós nos atolamos na dívida. Só há um caminho: que o nosso Presidente Luiz Inácio tome coragem e siga o exemplo de Fernando Henrique Cardoso, que enfrentou o apagão, criando uma câmara de gestão. Ele chamou o Pedro Parente, a quem todos ficaram submissos, para enfrentar o apagão. Então, temos de enfrentar, de frente, essas reais dificuldades que V. Exª traz. O custo de vida aumentou na mesa de todos nós, dos trabalhadores do País: aumentou o pão, o feijão, a carne. Não adianta ficarmos aqui, como Shakespeare disse em Hamlet: “Palavras, palavras, palavras”. Eu digo: mentiras, mentiras, mentiras. O fato é que o Brasil está atolado nesse drama da globalização mundial.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - E o Presidente foi afirmativo, foi enfático ao dizer que os recursos que estão sendo tirados das nossas economias serão destinados, exclusivamente, a aumentar a liquidez, ou seja, para que os bancos concedam financiamentos e não para resolver os seus problemas de caixa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2008 - Página 39944