Discurso durante a 193ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre o segundo turno das eleições municipais.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Reflexão sobre o segundo turno das eleições municipais.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2008 - Página 40737
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • EXPECTATIVA, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, CAPITAL DE ESTADO, IMPORTANCIA, POPULAÇÃO, REVISÃO, CONDUTA, CANDIDATO, REFORÇO, DEMOCRACIA, QUESTIONAMENTO, CANDIDATURA, APROVEITAMENTO, INDICE, ACEITAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, GESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, CONDUTA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREFEITURA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), UTILIZAÇÃO, GREVE, POLICIA CIVIL, CONFLITO, POLICIA MILITAR, FAVORECIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, OFENSA, PREFEITO, ADVERSARIO, ELEIÇÕES, DISCRIMINAÇÃO, CIDADÃO, ORIGEM, REGIÃO NORDESTE.
  • ELOGIO, CONDUTA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EFICACIA, CONTROLE, GRAVIDADE, CONFLITO, POLICIA CIVIL, POLICIA MILITAR, AUSENCIA, COMPROMETIMENTO, RESULTADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, RESPEITO, DEMOCRACIA, COMENTARIO, DADOS, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, SUPERIORIDADE, APROVAÇÃO, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, CANDIDATO, ELEIÇÕES, DEMONSTRAÇÃO, QUALIDADE, GESTÃO.
  • COMENTARIO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, ACEITAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO VERDE (PV), CRITICA, CAMPANHA ELEITORAL, ADVERSARIO, DIFAMAÇÃO, CARATER PESSOAL.
  • REPUDIO, SIMILARIDADE, CONDUTA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PERIODO, ELEIÇÕES, UTILIZAÇÃO, INEXATIDÃO, ALEGAÇÕES, TENTATIVA, DIFAMAÇÃO, ADVERSARIO, PREJUIZO, DEMOCRACIA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - V. Exª tem todo o direito de me apresentar, caso venha a ser eleito, o Dr. Quintão, assim como eu tive a honra de apresentá-lo ao povo de Minas quando aqui assumiu como suplente daquele Estado. De forma que são elas por elas, balas trocadas não atingem ninguém. Ficarei muito feliz em ser apresentado por V. Exª, que começa a conhecer o Estado de Minas Gerais...

O SR. PRESIDENTE (Wellington Salgado de Oliveira. PMDB - MG) - Se V. Exª fizer um almoço daquele, para o qual me convidou - me senti honrado -, com comidas características do Piauí, será uma honra levar o nosso candidato...

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Acho que ficaria melhor essa apresentação ser feita em um ambiente de trabalho, já que, depois da eleição, caso seja eleito, evidentemente ele terá compromissos com Minas Gerais e com Belo Horizonte.

O SR. PRESIDENTE (Wellington Salgado de Oliveira. PMDB - MG) - Não, estou falando no período de outubro a dezembro.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - De outubro a dezembro, S. Exª estaria, se eleito, fazendo seu plano de governo. Não deveríamos atrapalhá-lo com almoços e jantares. Acho até que mais do que os outros, porque não está preparado para governar uma cidade, já que sua eleição, se concretizada, será produto de um fenômeno eleitoral que somente o regime democrático pode propiciar a um cidadão que tem o arrojo e a coragem de disputar uma eleição sem nenhuma condição lógica de eleição - sem, inclusive, o apoio da maioria dos companheiros do seu próprio partido -, mas que consegue reverter um quadro eleitoral.

O SR. PRESIDENTE (Wellington Salgado de Oliveira. PMDB - MG) - Por isso vou apresentá-lo a V. Exª, porque não são corretas as informações que V. Exª tem. O Quintão é supercompetente. Houve realmente esse fenômeno que V. Exª colocou. O nosso Governador Aécio, por quem tenho carinho, realmente fez muito por nosso Estado. V. Exª o conhece muito bem, é da minha geração. Agora, essas coisas que acontecem...

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quantas inserções V. Exª fez para a televisão ajudando o Quintão em Belo Horizonte?

O SR. PRESIDENTE (Wellington Salgado de Oliveira. PMDB - MG) - Não, a minha responsabilidade é o Triângulo Mineiro.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não, mas é o partido. V. Exª é uma expressão do partido do Sr. Quintão. Quantas aparições na televisão, Senador Cristovam Buarque, o Senador Wellington Salgado fez para defendê-lo? Evidentemente que traria um nicho de votos adicionais e melhoraria a situação do Sr. Quintão nas pesquisas.

O SR. PRESIDENTE (Wellington Salgado de Oliveira. PMDB - MG) - Não, mas ele já está muito bem. Não podemos é criar um fato.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Evidentemente, irá fazê-lo no segundo turno na propaganda eleitoral.

O SR. PRESIDENTE (Wellington Salgado de Oliveira. PMDB - MG) - Se ele me convidar, terei o maior prazer.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Pronto. Então...

Agradeço a introdução de V. Exª, porque o assunto que me traz aqui realmente é eleição e é segundo turno.

Senador Wellington Salgado, a democracia propicia fenômenos como esse que V. Exª traz aqui com relação à eleição de Belo Horizonte. O embate eleitoral é salutar. Ele permite, muitas vezes, que um cidadão comum, através de um voto novo, demonstre a sua posição com o estado de coisas que acompanha. Isso vale para a esfera municipal, para a esfera estadual e para a esfera nacional.

O segundo turno, como o próprio nome diz, é a segunda oportunidade que se dá ao eleitor para uma melhor reflexão. Daí por que é preciso que nesse segundo turno, que é tido por muitos como uma nova eleição, uma eleição completamente diferente, seja dada a todos a oportunidade, às vezes, da confirmação de um voto, às vezes, da revisão dele.

Temos tido fenômenos eleitorais que, por sinal, envolvem as maiores capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e, como V. Exª citou, Belo Horizonte. Em São Paulo, temos a candidatura Kassab, que, de repente, transforma-se num fenômeno eleitoral. Essa candidatura cresceu baseada exatamente no pressuposto do desenvolvimento, do crescimento e da eficiência administrativa.

O Sr. Gilberto Kassab assumiu substituindo o eficiente homem público e administrador brasileiro que é José Serra. Nos dois anos administrando São Paulo, teve a coragem de tomar medidas duras - em alguns momentos, pagou o preço pela coragem de adotá-las -, mas o resultado das urnas do primeiro turno mostraram que o Brasil, hoje, valoriza o administrador audacioso, corajoso e, acima de tudo, aquele que governa para a sua cidade.

As tentativas de nacionalização - e o exemplo que V. Exª citou é um - mostraram o fracasso. As alianças feitas com a tentativa de criar impacto nacional não refletiram nas questões municipais.

Senador Wellington Salgado, há cerca de dois ou três meses - não quero ser impreciso -, tive uma conversa com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e ele me chamou a atenção para um fato: todos os candidatos que atrelaram a sua candidatura exclusivamente ao prestígio do Presidente Lula estariam caminhando para o fracasso. E realmente aconteceu, porque o que as pesquisas mostravam é que, no crescimento daqueles candidatos, já estava embutida a popularidade do Presidente da República. E pensar que aquilo traria novos dividendos foi um grande erro que levou muitos a um grande fracasso.

Temos algumas exceções. No caso do Rio de Janeiro, o Dr. Eduardo Paes, o nosso ex-colega aqui na Casa - inclusive colega de partido - não tinha o apoio do Presidente Lula. Pelo contrário, tinha uma convivência incômoda com o Presidente por questões que todo o País conhece, mas, mesmo assim, a adesão do Presidente da República não trouxe, até agora, nenhum crescimento à sua candidatura. Ao contrário do fenômeno Gabeira, que, à medida que o carioca começou a ouvi-lo, a ver suas propostas na propaganda eleitoral - e aí ela funciona muito bem -, começou a marchar com a sua candidatura. O Fernando Gabeira fala a linguagem do Rio de Janeiro, e talvez tenha sido exatamente essa empatia que fez com que Deputado saísse de poucos dígitos no início da campanha à posição de líder nessa corrida no segundo turno.

Mas temos o caso de São Paulo, Senador Cristovam Buarque. É preciso que a Nação brasileira examine com muito cuidado o que vem ocorrendo ali, principalmente nos últimos dias. O Presidente Lula deu uma declaração, mostrando a segurança de Chefe da Nação, na Índia - salvo engano -, mandando que todos anotassem em suas cadernetas que a candidata Marta ganharia em São Paulo. Tratando-se de um Chefe de Estado, foi uma declaração de quem sabe das coisas, porque vocação para profeta Sua Excelência não tem, haja vista o erro de cálculo com relação à crise econômica quando disse que ela era grave nos Estados Unidos, mas, no Brasil, não passaria de um pequeno resfriado. Não é bem assim.

Agora, a coincidência das afirmações de Sua Excelência e o reagrupamento dos aloprados é que começa a deixar a todos preocupados. O deslocamento do seu Chefe de Gabinete, Sr. Gilberto Carvalho, das funções que exerce no Palácio para São Paulo e a recomposição com o Paulinho, da Força Sindical, não poderia dar em coisa boa.

Vimos ontem, o Brasil todo assistiu, Senador Cristovam Buarque, às lamentáveis cenas envolvendo a Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Militar. Uma greve que teve início há um mês, que não começou ontem e que teve um confronto armado adredemente, levado para as cercanias do Palácio, numa tentativa, inclusive, de se chegar àquele prédio público, contrariando a lei paulista. Por que a manifestação não se deu em frente à Secretaria de Estado responsável pelos órgãos em conflito, já que se tratava de uma tentativa de negociação? Por que ela se deu exatamente no momento em que já se havia combinado que uma comissão se deslocaria para o Palácio dos Bandeirantes, para, de maneira pacífica, discutir com o Governo os destinos daquele impasse?

E, aí, vê-se a participação direta do Líder do PT na Assembléia Legislativa e a participação do Paulo, da Força Sindical, envolvido recentemente em escândalos, respondendo a processo, inclusive no Conselho de Ética da Câmara, onde há um pedido de cassação de mandato, que terá que ser julgado pelo plenário ainda este ano.

Será que foi um acerto feito para depois o Sr. Paulo receber a misericórdia e o apoio dos companheiros em troca do esforço criminoso cometido ontem? São questões que precisam passar pela reflexão de todos os brasileiros e, de maneira muito especial, daqueles que habitam em São Paulo.

Sabemos que uma das coisas que o Partido dos Trabalhadores mais inveja no Governador José Serra é sua autoridade em administrar. Serra tem senso de espírito público, sabe o que é gestão, sabe o que é Lei de Responsabilidade Fiscal e tem, acima de tudo, um espírito público que poucas pessoas neste País possuem. Não se nega a colocar a cara, muitas vezes enfrentando a incompreensão e a antipatia popular, para defender o bem público. Todos sabem, por sua história de luta começada nos movimentos estudantis, que não é de bom grado que S. Exª discute um aumento dessa natureza. Todos sabem também que vivemos um momento de interrogação, tendo em vista a crise internacional que envolve a economia do planeta. Assim, conceder de maneira graciosa e eleitoreira benesses em um momento como esse é caminhar para a irresponsabilidade. Mas o Sr. Serra, em nenhum momento, tem-se negado a discutir com as partes essa questão, só quer que tudo seja feito dentro da disciplina e sem a quebra de hierarquia.

Pois bem, o que vimos ontem foi, mais uma vez, o Partido dos Trabalhadores mostrar que, na tentativa de reverter processos eleitorais, vale qualquer coisa. Vale tudo! Vamos nos lembrar que, no final do primeiro turno da eleição presidencial, quando Serra estava disparado nas pesquisas em São Paulo, construíram aquele dossiê incriminando o então candidato a Presidente da República Geraldo Alckmin e o então candidato a Governador de São Paulo José Serra, nas vésperas de uma eleição. Naquela época, era uma tentativa de se desconstruírem candidaturas e de se tentar reverter a situação em São Paulo, levando a decisão para a segundo turno, e, no Brasil, querendo finalizá-la já na primeira etapa do processo eleitoral.

O tiro saiu pela culatra. Os aloprados foram flagrados com várias somas de dinheiro em um hotel nas cercanias do Aeroporto de Congonhas. Até hoje, não se apuraram devidamente a quem pertenceu aquela quantia, nem tampouco o destino que seria dado a ela.

Agora, esse fato se repete, com os mesmos métodos e a mesma tentativa de fugir, de sair de um pleito disputado na troca de idéias para adentrar um submundo que, infelizmente, outros partidos não conhecem, e, aí, vão para uma tremenda desvantagem.

Não se viu sequer a pisada de bola inaceitável da candidata Marta Suplicy, querendo enfrentar, sem argumentos convincentes, o seu adversário em São Paulo, tentando atingi-lo na sua vida pessoal, na sua vida privada. É lamentável! Lamentável e inaceitável!

Mas nem esse exemplo, nem esse fato serviu para que recolhessem os mecanismos pouco usuais em campanhas eleitorais. Veja, Senador Cristovam Buarque, o caso do Rio de Janeiro. No primeiro turno, campanha dura, não tivemos a registrar nenhuma mácula envolvendo a candidatura do Sr. Eduardo Paes. No segundo turno, com a adesão de alguns aloprados, o que se tem visto lá é o início de um festival de baixarias. Kombi do candidato a prefeito apoiado pelo Governo é vista transportando panfletos apócrifos atacando a honra e pessoalmente o candidato Fernando Gabeira. É inaceitável que esses fatos ainda aconteçam no Brasil de hoje.

Senador Cristovam, com o maior prazer, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Heráclito, seu discurso é muito amplo, traz muitas posições claras, mas vou me ater a um só aspecto, que é o caso do Gabeira. Creio que o povo do Rio fez esse crescimento do Gabeira porque ele, de fato, representa o novo. Ele representa o novo no meio ambiente; ele representa o novo na postura diante dos problemas da corrupção; ele representa o novo na visão que tem do Rio de Janeiro. O povo do Rio de Janeiro, a meu ver, com esse crescimento da candidatura do Gabeira, está apenas dizendo: “Nós queremos o novo, a novidade”. Eu tenho a impressão de que essa novidade vai também prevalecer nas próximas eleições. Eu creio que, nas próximas eleições, haverá uma busca do que representa o futuro, e não o passado, diante de tudo isto que tem acontecido no mundo: o aquecimento global; a Queda do Muro de Berlim; a formação da Comunidade Econômica Européia; a ascensão forte da China; a ascensão não tão forte de países como Índia, Brasil, África do Sul; a eleição provável de um negro para a Presidência dos Estados Unidos; a falência do setor financeiro mundial. Tudo isso está exigindo algo novo, e tenho a impressão de que o Gabeira representa o novo. Por isso, o povo do Rio de Janeiro está acenando com a possibilidade de tê-lo como prefeito daquela bela cidade.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - V. Exª tem toda razão. E o eleitor carioca dribla qualquer pesquisa. Esses episódios de fenômenos eleitorais de reta final não nasceram agora.

Recentemente, li uma declaração do então candidato, depois eleito Governador, Negrão de Lima, que disputava com o Sr. Flexa Ribeiro, homônimo do nosso colega, ex-Secretário de Educação do Governador Carlos Lacerda, que desfrutava de um prestígio popular no Rio naquela época, e mostrou que não se transfere voto quando o candidato não empolga as massas. Ele dizia uma coisa muito interessante. Ao ser perguntado sobre o que teria acontecido, já que todas as pesquisas indicavam a vitória do Sr. Flexa Ribeiro e o veredicto final tinha sido a seu favor, ele disse ao jornalista, que era, salvo engano, Sebastião Nery: “A grande diferença é que o Rio é diferente da minha Minas Gerais e da sua Bahia. Lá, o eleitor começa e termina a campanha decidindo em quem vai votar. Aqui, acompanha-se uma onda, e o eleitor define-se na reta final, e essa decisão tem vários fatores, até o sol colabora. A minha sorte é que, na reta final, a onda esteve a meu favor, por isso eu ganhei a eleição”.

Acho que o Gabeira teve a habilidade e a sensibilidade marcadas por gestos humildes e comuns de cada cidadão. E, aí, eu creio que seja esse o grande segredo do Gabeira, é o que faz dele o preferido, pelo menos até hoje, dos eleitores do Rio de Janeiro.

Mas, Sr. Presidente, esse incidente de São Paulo ontem foi muito grave. Por besteira e irresponsabilidade, jogaram um carro contra a Polícia Militar. E a imprensa acusa militantes da CUT. Aquilo poderia ter se transformado numa mortandade, numa carnificina. Felizmente, Deus, como brasileiro, ajudou e esses fatos não tiveram gravidade na proporção que poderiam ter. Mas quero fazer este discurso, registrando esses episódios e mostrando as coincidências entre o fato de ontem e fatos recentes, sempre promovidos por áreas mais radicais do Partido dos Trabalhadores.

É lamentável! No episódio das ofensas a Fernando Gabeira, vários setores do Partido dos Trabalhadores saíram discordando do método adotado. E, aí, vem a discussão de que a candidata Marta Suplicy tem sido vítima de preconceitos. Até quero crer que sim, não discuto, mas vamos chegar à conclusão, vamos ser justos: a candidata Marta também é preconceituosa. É tão preconceituosa que chegou ao ponto, num dos momentos mais graves da situação do transporte aéreo brasileiro, quando pessoas viravam noites e noites em filas de aeroportos, de soltar aquela frase que ainda ecoa no ouvido dos que têm boa memória: “Meu filho, numa situação como essa, eu só lhe aconselho uma coisa: relaxe e goze”. Quem não se lembra disso?

Porém, a campanha ética do Kassab não usou esse episódio preconceituoso, como preconceituosa foi a sua afirmativa, agredindo nosso candidato ACM Neto, na Bahia, chamando-lhe de “papagaiozinho baiano”. O seu preconceito contra o Nordeste - e ninguém pode negar que a Drª Marta Suplicy tem esse preconceito antinordestino - é que faz com que os piauienses, os cearenses, os maranhenses e os baianos que moram em São Paulo vejam sua volta à prefeitura com o pé atrás.

Acho, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que a volta desses aloprados não faz bem ao Brasil. Esse episódio de ontem mostra, Senador Cristovam, que a coragem de alguns para atingir objetivos não tem limite. E isso pode se tornar um costume muito caro e perigoso para a nossa democracia.

Portanto, aproveito para registrar aqui a maneira segura com que o Governador Serra enfrentou a questão de ontem: sem arrogância, sem prepotência, mas também sem poder se afastar um passo da lei. Não se governa desrespeitando a lei, principalmente numa questão como a de ontem; nem tampouco se admite que se tire partido de questões administrativas, de questões dessa natureza para proveitos eleitorais.

Faço este registro na certeza de que em São Paulo, maior cidade deste País, capital de um Estado que é responsável maior pelo desenvolvimento que nós alcançamos e que no momento vive uma crise, uma vez que, por ser o maior centro de indústria do Brasil, esse conjunto importante para a nossa atividade, encontra-se, de uma maneira ou de outra, atingido pela repercussão da crise econômica internacional, não faltará ao cidadão e eleitor o equilíbrio para ver, analisar e julgar o fato de ontem, as suas prováveis conseqüências e os seus resultados.

Espero que haja, por parte dos meus companheiros de partido, acima de tudo por parte dos que têm fé e crêem na candidatura do Gilberto Kassab, muito equilíbrio e bom senso nesta hora.

Sr. Presidente, quero agradecer a V. Exª - e vou cobrar depois - a promessa feita no início do meu pronunciamento. Eu sou daqueles que defendem o que diz o Eclesiastes: “O homem é dono da palavra guardada e é escravo da palavra anunciada”. Daí por que agradeço a sua tolerância e a do Senador Cristovam e faço votos para que o bom senso continue iluminando os cidadãos paulistanos e o nosso querido Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2008 - Página 40737