Discurso durante a 206ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato das intervenções feitas por S.Exa. durante o debate realizado na última quinta-feira, na Comissão de Assuntos Econômicos, com a presença de autoridades da área econômica, acerca das repercussões da atual crise do sistema financeiro internacional.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA AGRICOLA.:
  • Relato das intervenções feitas por S.Exa. durante o debate realizado na última quinta-feira, na Comissão de Assuntos Econômicos, com a presença de autoridades da área econômica, acerca das repercussões da atual crise do sistema financeiro internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2008 - Página 44224
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, REUNIÃO, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, PRESENÇA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), DEBATE, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, BUSCA, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, NECESSIDADE, CORREÇÃO, ERRO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), COMENTARIO, RELEVANCIA, MERCADO, CONFIANÇA, AUTORIDADE, SETOR.
  • DEFESA, AUMENTO, ATENÇÃO, AGRICULTURA, PECUARIA, POSSIBILIDADE, SOLUÇÃO, COMBATE, EFEITO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, ESCLARECIMENTOS, DADOS, SAFRA, DIVERSIDADE, PRODUTO, SUPERIORIDADE, EXPORTAÇÃO, BRASIL, ADVERTENCIA, EXCESSO, INFLAÇÃO, FERTILIZANTE, COMPROMETIMENTO, SETOR, REDUÇÃO, PRODUTIVIDADE, COMENTARIO, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, SUBSIDIOS, RETIRADA, ONUS, PRODUÇÃO AGRICOLA, VALORIZAÇÃO, MERCADO INTERNO.
  • QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, DEFLAÇÃO, COMBUSTIVEL, BRASIL, CIRCUNSTANCIAS, REDUÇÃO, VALOR, PETROLEO, MERCADO INTERNACIONAL, CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), JUSTIFICAÇÃO, OMISSÃO, GOVERNO, FALTA, REAJUSTE, PREÇO, PRODUTO, ADVERTENCIA, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, AGRICULTURA.

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O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na quinta-feira passada, compareceram ao Senado o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O encontro deu-se na Comissão de Assuntos Econômicos, onde foi travado amplo debate acerca das repercussões dessa crise que vem nocauteando todo o sistema financeiro internacional.

O que buscávamos ali era uma análise das repercussões a que todos nós estamos sujeitos e dos remédios adotados para proteger a economia brasileira.

Na ocasião, foram analisadas as principais estratégias do Governo e questionados alguns pontos da MP 443. Alguns defeitos desse diploma foram reconhecidos, e o Ministro Guido Mantega chegou a admitir reparos que o Senado Federal deve promover.

No balanço dessa memorável reunião, restou claro que franqueza em tais discussões não é necessariamente fonte de instabilidade, como muitos em tais circunstâncias chegam a cogitar. Ao contrário. A segurança com que essas autoridades sustentaram as medidas de proteção à economia e ao mercado financeiro interno só fez bem. Tanto é verdade que, enquanto fluíam as discussões na CAE, a bolsa de valores se recuperava.

Na intervenção que fiz, Sr. Presidente, abordei dois aspectos que considero essenciais. O primeiro deles diz respeito à saúde das nossas reservas internacionais, das reservas monetárias do País. Preocupo-me com elas como qualquer brasileiro consciente. Afinal, são US$230 bilhões que foram aplicados no mercado norte-americano. Pouco menos de US$30 bilhões já foram devorados pelas medidas de socorro que as autoridades monetárias adotaram para enfrentar os primeiros sinais da crise. Mas algo em torno de US$200 bilhões remanescem nos cofres de Wall Street. Para países desenvolvidos, risco de tamanha magnitude pode até ser suportável. Para o Brasil, não! A integridade dessa dinheirama é uma questão de vida ou morte para países do nosso porte e do estágio de desenvolvimento por que estamos passando.

À minha indagação o Presidente Henrique Meirelles garantiu que essas reservas foram investidas em títulos conservadores e seguros. Se, de fato, essas reservas não correm riscos, não estão expostas à erosão, é preciso cumprimentar, congratular pelo comedimento e a diligência do Presidente e toda a equipe do Banco Central.

O outro questionamento que fiz relacionava-se ao papel que poderia ser reservado à agricultura e à pecuária neste momento de tamanha crise. Estou convencido, Sr. Presidente, de que no agronegócio está o melhor remédio para mitigar os efeitos tão deletérios da crise. Basta olhar os números da safra 2008/2009. A produção de arroz, soja, milho, algodão e de todos os demais grãos está projetada em 145 milhões de toneladas aproximadamente. Os números são da Conab - Companhia Nacional de Abastecimento. Todavia, Sr. Presidente, a Confederação Nacional da Agricultura adverte para a possibilidade de uma queda pronunciada nesta safra. Seria uma redução de algo em torno de 7,2 milhões de toneladas.

Essa retração seria resultado da crise de crédito e dos preços dos insumos. Agricultores, até mesmo tradicionais, estariam propensos a plantar sem adubo, como forma de contornar estas dificuldades: nos preços dos insumos e de crédito.

A confirmar os riscos apontados pela CNA, o agronegócio teria sério comprometimento de produtividade e de renda futura.

A despeito de dificuldades crônicas, que historicamente enfrenta, a produção do campo vem acrescentando monumentais somas às nossas reservas cambiais. Mesmo com as pressões dos monopólios que controlam os fertilizantes e defensivos e do câmbio, que vem prejudicando as exportações, o setor tem-se mostrado competitivo.

Só em 2007, as commodities agrícolas responderam com US$58 bilhões de dólares das exportações brasileiras. A soja contribuiu com US$11,3 bilhões de dólares no ano passado. Apenas a China importou cerca de US$3,8 bilhões dessa leguminosa.

Por tudo isso, Sr. Presidente, estou convencido de que o agronegócio é uma verdadeira terapia para a crise econômica do ponto de vista do nosso País. Afinal, alimento é prioridade hoje e será prioridade amanhã. Prioridade aqui, prioridade alhures.

Pode reduzir a demanda de aço, de carro, de avião, de calçado, de roupa, de perfume, de passagens e de tantas outras coisas. Já a demanda por comida, esta não tem como estancar.

É verdade que a falta de crédito poderá comprometer as metas de produção de muitos países e repercutir nos preços. Todavia, se o Governo Brasileiro priorizar a aplicação de sua poupança na agropecuária, a resposta poderá ser a mais generosa de todos os setores da economia brasileira.

Logo após o desfecho da crise, o Presidente Lula declarou que daria ênfase ao mercado interno e estimularia a produção agrícola.

A resposta do Ministro Guido Mantega, na memorável reunião da CAE, confirmou essa opção do Governo.

Todavia, o Governo precisa enfrentar alguns gargalos. Os preços dos fertilizantes, por exemplo!

A Cooperativa Industrial de Cascavel, no Paraná, informa que os gastos com fertilizantes e óleo diesel corresponderam a 40% do custo agrícola em 2007, e não parou de crescer e não parou de sofrer reajustes.

Só o adubo teve reajuste de mais de 75% nos últimos 12 meses.

É claro que tamanha escalada de custo vem acompanhada de perigoso potencial de frustração que, a qualquer momento, pode comprometer o belo desempenho do agro-negócio brasileiro.

Quanto ao óleo diesel, cobrei do Ministro da Fazenda a mesma prática do mercado internacional.

Se, lá fora, o petróleo teve uma redução de mais de 50%, não há justificativa para continuar cobrando aqui o mesmo preço que se praticava antes da crise.

A própria Petrobras está vendendo petróleo no exterior abaixo de 50% do que vendia anteriormente.

Não repassar para o consumidor brasileiro essa gritante redução de preço, é atitude muito estranha, a qual o Ministro Guido Mantega não conseguiu me responder convenientemente. A resposta foi tíbia, vacilante, e não assumiu nenhum compromisso de que vá conduzir o preço desse combustível para melhorar as condições da agricultura. É uma atitude estranha e ruinosa para o custo da produção agrícola brasileira de que vá conduzir o preço desse combustível para melhorar as condições da agricultura. É uma atitude estranha e ruinosa para o custo da produção agrícola brasileira.

Neste momento de crise, é chegada a hora de rompermos essa atitude parcimoniosa que orienta a política agrícola brasileira e contemplarmos o agronegócio com os subsídios de que ele precisa para compensar perdas havidas em outros setores.

É hora de fazer algo parecido com o que fazem países da Europa, da Oceania, e os Estados Unidos, para incrementar a produção do setor. Subsidiar a agricultura ou, pelo menos, desonerá-la do seu custo de produção e também da comercialização é um meio seguro para compensar outras áreas que serão duramente afetadas pela crise.

Portanto, Sr. Presidente, na fala do ilustre Ministro Guido Mantega e no compromisso assumido com esta Comissão, é preciso que saiamos do discurso e partamos para a prática. Com isso, nós vamos dar uma grande contribuição para minorar o sofrimento de tantos setores que vão enfrentar dificuldades terríveis neste momento de crise.

Era essa a nossa intervenção.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2008 - Página 44224