O SR GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, no dia de ontem, terça-feira, o Espírito Santo foi palco de um acontecimento que reforçou meu orgulho de ser capixaba, sentimento que, acredito, foi compartilhado por toda a população do Estado. A primeira coleta de petróleo da camada de pré-sal, no campo de Jubarte, feita pelo presidente Lula, marcou, como disse o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o início de uma nova era para o País e para o Espírito Santo.

Não há exagero na expressão. A dimensão das reservas petrolíferas na costa do Espírito Santo supera em muito as estimativas iniciais. São 4 bilhões de barris de óleo leve, de boa qualidade, que triplicam as reservas calculadas até agora. Além disso, acredita-se que as reservas sob a camada de sal em Jubarte podem conter até 4 vezes mais gás do que a Petrobras acreditava.

Só o poço inaugurado ontem pelo presidente Lula, situado a 70 quilômetros da costa, fez com que a produção de gás no campo crescesse de 400 mil para 1 milhão e 200 mil metros cúbicos por dia. Como não existe infra-estrutura para o aproveitamento, a maior parte será queimada ou reinjetada no poço. Mas essa descoberta abre novas perspectivas, entre as quais a da construção de uma rede de gasodutos unindo os campos de produção situados ao Norte e ao Sul da costa do Estado. O gás seria então direcionado para as 3 unidades de processamento situadas no litoral capixaba, que precisariam ser ampliadas.

Não poderia haver um começo mais promissor para a exploração do pré-sal. O poço 103 em Jubarte é exploratório, vertical, com um diâmetro estreito. Apesar disso, deve atingir uma marca de 18 mil barris de petróleo por dia, uma produção que a Petrobras considera “espetacular”, pois são muito raros os poços verticais de onde se extrai tanto petróleo.

Além disso, nosso pré-sal está cheio de óleo leve, que tem maior valor no mercado, por produzir quantidade maior de gasolina e diesel, enquanto o petróleo pesado produz maior parcela de produtos como óleo combustível, de valor menor. Atualmente, o Brasil exporta petróleo pesado e importa óleo leve, porque não tem capacidade de refino suficiente para processar o produto pesado que retira de seus poços.

A exploração da camada pré-sal no Espírito Santo deve gerar, de acordo com estimativas da Petrobras, uma média de 5 mil empregos diretos por ano, durante os próximos 10 anos, com demanda de engenheiros, geólogos, geofísicos, perfuradores e inúmeros profissionais da área técnica. É uma ótima notícia, mas não devemos deixar passar a oportunidade que a abertura dessa nova fronteira petrolífera oferece em termos de agregação de valor.

Como ressaltou o governador Paulo Hartung em seu discurso durante a solenidade de ontem, a expansão da capacidade tecnológica é fundamental, nos dias de hoje, para a garantia de um desenvolvimento sustentado. Os Estados produtores de petróleo não podem ser apenas fornecedores de matéria-prima, exportadores de óleo cru.

O Espírito Santo, que já é o segundo maior produtor de petróleo do País, e será o maior fornecedor nacional de gás, com uma produção de 20 milhões de metros cúbicos já em 2009, tem credenciais para receber mais investimentos do governo federal. O governador citou, entre os projetos que devem merecer atenção urgente da União, a instalação de uma fábrica de fertilizantes e de uma refinaria, e também de um centro de pesquisas para a exploração do pré-sal.

Na semana passada, o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni disse acreditar que os investimentos necessários para viabilizar a extração do petróleo na camada pré-sal podem elevar o padrão de crescimento da economia do Brasil dos atuais 4 por cento para 6 por cento ao ano, O pré-sal pode elevar a taxa de investimento do País dos atuais 16 por cento para 25 por cento do Produto Interno Bruto em apenas uma década. Isso colocaria o Brasil definitivamente em uma rota de crescimento sustenta

O presidente Lula tem razão, portanto, quando diz que somos um país de muita sorte. Mas será preciso fazer uso dessa riqueza mineral submersa com uma visão de futuro, que assegure ao Brasil um desenvolvimento econômico de longo prazo. Os recursos do petróleo podem, se aplicados com critério, aumentar nossa competitividade em setores estratégicos e, como diz o presidente, eliminar a pobreza. Desde que saibamos utilizá-los, para combater problemas crônicos do País e também para formar uma rede de segurança que permita atravessar crises econômicas sem grandes traumas.

Estamos, sem dúvida, diante de uma oportunidade histórica, que pode transformar este país. O passo inicial foi dado ontem. Daqui para a frente, é preciso manter-se à altura dos desafios e oportunidades oferecidos por essa descoberta.

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