Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre os reflexos da crise financeira mundial no Brasil.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre os reflexos da crise financeira mundial no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2008 - Página 42318
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, ELOGIO, COMPETENCIA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), INCENTIVO, ECONOMIA NACIONAL.
  • ELOGIO, COMPORTAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANUTENÇÃO, ESTABILIDADE, SITUAÇÃO, BRASIL, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, REDUÇÃO, EFEITO, CRISE, MERCADO INTERNACIONAL.
  • COMENTARIO, ESTABILIDADE, SITUAÇÃO, BRASIL, ATUALIDADE, COMPARAÇÃO, ANTERIORIDADE, PERIODO, CRISE, MERCADO INTERNACIONAL, CONTINENTE, ASIA, REGISTRO, DISPONIBILIDADE FINANCEIRA, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMPROVAÇÃO, CONFIANÇA, ECONOMIA NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, APOIO, SENADO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, RETORNO, CONFIANÇA, ATRAÇÃO, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, REGISTRO, ENCONTRO, ASSISTENTE, SECRETARIO DE ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DECLARAÇÃO, VIABILIDADE, BRASIL, SAIDA, CRISE, AUMENTO, INCENTIVO, CONSUMO, MERCADO INTERNO, CONSTRUÇÃO CIVIL, CRIAÇÃO, EMPREGO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste momento - ainda na Comissão de Assuntos Econômicos, em que V. Exª, Sr. Presidente Osmar Dias, estava presente, há pouco, aliás, com uma inquirição muito interessante, um aviso, uma admoestação sobre a insuficiência de créditos diante da próxima safra agrícola que se aproxima, e do custeio da safra, que, em alguns lugares do País, está sendo plantada e, em outros, já está sendo colhida -, eu queria me reportar a essa audiência pública.

Primeiro, acho que é necessário que reconheçamos a absoluta competência dos Ministros que dirigem hoje a economia do Brasil. Vou começar falando sobre essa competência em relação ao Ministro Meirelles, Presidente do Banco Central. Ele era Deputado, eleito com expressiva votação - talvez o mais votado do Estado de Goiás. Tinha vindo de Nova York, onde havia sido presidente de um dos maiores bancos do mundo, um banco multinacional. Veio e renunciou ao mandato de Deputado para ser Presidente do Banco Central de um governo em cuja administração econômica, vou jurar, eu não acreditava, o primeiro governo do Lula.

Pois bem, ele teve essa coragem, essa ousadia. Imagino que conversas, que garantias ele deve ter tido do Presidente da República para renunciar ao mandato de Deputado Federal e assumir a Presidência do Banco Central de um governo que não se conhecia! Pois bem, ele assumiu e se portou como um maestro da economia do Brasil, junto com um grande Ministro da Fazenda também, o ex-Deputado e atual Deputado, para quem se tem que tirar o chapéu pelo trabalho maravilhoso que fez.

Esses dois homens tiveram a coragem, primeiro, de desafiar a esquerda do PT. É necessário que se reconheça isso. Eu me lembro que, quando eles assumiram, aqueles petistas, economistas heterodoxos, diziam: “Nada desse ‘malanismo’ sem Malan! Vamos acabar com essa política econômica! Vamos implantar uma política econômica heterodoxa! Vamos deixar um pouquinho de inflação; inflação não faz mal a ninguém!”.

Eles sabem que inflação faz muito mal a todo mundo, principalmente aos trabalhadores. Graças a Deus, tanto o Palocci quanto o Meirelles resistiram a essa tentação de fazer uma política econômica demagógica, falsa, mentirosa, que não está dando certo na Bolívia, não está dando certo na Argentina; na Venezuela está dando certo, erradamente, porque há enormes saldos do petróleo. E eles continuaram com aquela política econômica, que é normal, da mesma maneira que administramos a casa da gente.

Fui Governador - Pedro Simon foi Governador - e administrei o Estado como a casa da gente. Quando se começa a gastar mais do que se ganha, aparece um cobrador na porta. Com o Governo é a mesma coisa: ele só pode gastar aquilo que ganha; e, se puder, ainda deve poupar um pouco, como o Brasil fez.

Então, é necessário que se diga que o Brasil vinha se preparando para essa crise mundial há muito anos, desde o terceiro ano do último governo do Fernando Henrique, com as medidas do Proer, com a recuperação do sistema bancário, com o aumento do poder de fiscalização do Banco Central; depois, com Palocci; depois, com Mantega; e, depois, com Meirelles, que continua. O Governo vem se preparando, acumulando dólares, acertando a situação, fazendo um superávit primário de primeira qualidade - que o Brasil nunca teve tão grande. Com todas essas iniciativas, eles, na verdade, estavam preparando o Brasil para um momento difícil da economia internacional como este.

Outra coisa que é necessário que se diga é sobre o comportamento do Presidente Lula diante da crise. Quem leu Marshall McLuhan, o grande teórico das comunicações, sabe que ele diz, no seu livro O Meio é a Mensagem, que, hoje em dia, com essa explosão das comunicações - no tempo dele, não havia Internet ainda -, de televisão, rádio, jornal, um governante, às vezes, com um gesto, governa mais do que com uma lei, do que com um decreto. Na verdade, se a gente observar a grande popularidade do Lula, a que o Pedro Simon se referiu - 82% -, o Presidente Lula é mais popular, é mais querido pelos gestos dele do que pelas leis que ele manda, que ele faz. São os gestos do governante que o fazem ser odiado ou querido.

O Mcluhan dizia que, às vezes, um gesto do governante é muito mais importante do que um decreto que o governante assina. Imaginem se, lá atrás, há um mês, há um mês e meio, quando começou a crise, Presidente, o nosso querido Presidente Lula tivesse dito: “A crise é imensa, o Brasil acabou, vai todo mundo ficar desempregado, não invistam mais dinheiro, porque a crise vai abafar o Brasil. Ah! Eu vou embora, não vou nem governar mais, porque a crise é enorme!”. Se ele tivesse dito isso, hoje a crise seria enorme. É claro que o Presidente Lula sabia a dimensão da crise, mas, como governante, ele tinha que dizer: “É uma crisesinha, vamos superá-la”. E, à proporção que a crise se aproximava, ele foi tomando aquela posição necessária para não se deixar submergir pela onda da crise e não levar ao País o pessimismo. A função principal do governante é dar vontade de viver e dar boa expectativa sobre o futuro de cada País. Grande gesto também o do Presidente da República!

Eu queria dizer que essas medidas tomadas - e que foram tomadas meio até a conta-gotas, vamos falar a verdade: elas foram incisivas assim num ponto e em outro, no mercado, no mercado do dólar, no mercado futuro, na carry trade, para segurar os dólares aqui, no Brasil, na proporção possível - foram interessantes, porque elas foram acalmando o Brasil.

No momento da crise asiática - V. Exª era também Senador aqui -, V. Exª se lembra que os países subdesenvolvidos, os países em crescimento, como o Brasil, a Rússia, o México - depois de haver entrado em crise também -, ficaram isolados, tomando uma providência aqui, outra ali, abafados. Agora, como essa crise atingiu os Estados Unidos e a Europa, eles também estão interessados em ajudar a resolver a crise e botar todo mundo no bolo, para que todos se levantem e saiam da crise em que estamos vivendo.

O Federal Reserve americano colocou US$30 bilhões à disposição do Brasil, trocados por real. Um ótimo negócio, porque isso já demonstra perante o mundo e perante os investidores a confiança que o Federal Reserve tem com relação ao Brasil.

Então, todos esses dados e fatos são importantes. É necessário - é claro, propondo as mudanças que forem necessárias - que se aja com muita humildade. O próprio Ministro reconheceu a necessidade de ir lá ver por que o crédito que está entrando aqui na ponta não está chegando no fim da mangueira, lá na propriedade rural, lá na cooperativa, lá na trading que financia a produção agrícola.

Então, da mesma maneira, podemos colocar aqui - e o Ministro reconheceu - que não é perfeita a medida provisória: “Algumas foram feitas até no calor da refrega, no calor da luta, no calor dos fatos, que foram acontecendo muito rapidamente. Se V. Exªs puderem melhorá-las aqui, no Senado, no Congresso, é ótimo para o Brasil”. O Ministro reconheceu isso com muita humildade.

O que não nos pode faltar, nem à oposição, nem ao Governo, é apoio integral às medidas que forem tomadas por meio do consenso, para que, havendo confiança dos investidores brasileiros, volte a confiança dos investidores internacionais.

Estive, ontem, numa conversa de três horas, graças ao Embaixador dos Estados Unidos, com Mister Daniel Sullivan, que é Secretário Assistente para a Economia e Energia do Departamento de Estado dos Estados Unidos, da Condoleezza Rice. Pois bem, ele acha que o Brasil - como nossos Ministros acham e como estou achando também - é o País que mais fácil vai sair dessa crise. Por quê? As exportações para nós representam - V. Exª viu lá, Senador Osmar Dias - 16% de tudo o que arrecadamos do Produto Interno Bruto e de tudo o que produzimos. A China, por exemplo, 39%. Se houver um problema nos Estados Unidos, a China entra numa crise muito difícil, bem como a Índia. Mas, no Brasil, como as exportações não representam um volume tão grande dentro do PIB brasileiro, se incrementarmos - e o Governo brasileiro já vem fazendo isso -, melhorarmos um pouquinho o mercado interno para esse absorver o que vamos perder talvez em exportação - uns 5% -, o mercado interno brasileiro absorverá, tranqüilamente, com algumas medidas de incentivos, como incentivo à construção civil, incentivo a novos empregos, incentivo à indústria automobilística. Se conseguirmos isso, o Brasil supera a crise, tranqüilamente, com as medidas que foram adotadas até agora.

Faço esta intervenção, Sr. Presidente, novamente, para cumprimentar tanto o Ministro Mantega quanto o Ministro Palocci pela lucidez com que estão conduzindo a economia brasileira neste momento.

Muito obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2008 - Página 42318