Pronunciamento de Osmar Dias em 30/10/2008
Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
As conseqüências da crise financeira na agricultura. (como Líder)
- Autor
- Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
- Nome completo: Osmar Fernandes Dias
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA AGRICOLA.
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
- As conseqüências da crise financeira na agricultura. (como Líder)
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/10/2008 - Página 42317
- Assunto
- Outros > POLITICA AGRICOLA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, INICIATIVA, ORADOR, ADVERTENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, SENADO, FALTA, CREDITOS, AGRICULTURA, DEMORA, REPASSE, RECURSOS, COMBATE, EFEITO, CRISE, MERCADO INTERNACIONAL, ATIVIDADE AGRICOLA, REGISTRO, RECEBIMENTO, INFORMAÇÃO, COOPERATIVA AGRICOLA, ESTADO DO PARANA (PR), DIFICULDADE, COLHEITA, TRIGO, IMPORTANCIA, PROVIDENCIA, GOVERNO, REDUÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, SAFRA.
- REGISTRO, FALTA, FISCALIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, UTILIZAÇÃO, DINHEIRO, LIBERAÇÃO, EMPRESTIMO COMPULSORIO, BANCOS, AUSENCIA, FINANCIAMENTO, PRODUÇÃO, EXPORTAÇÃO, CRIAÇÃO, EMPREGO, PROTESTO, AQUISIÇÃO, TITULO, GOVERNO, EXPECTATIVA, AUMENTO, JUROS, OBJETIVO, LUCRO.
- DEFESA, NECESSIDADE, AGILIZAÇÃO, VOTAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), EFICACIA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, EFEITO, CRISE, MERCADO INTERNACIONAL, ECONOMIA NACIONAL.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou começar por onde V. Exª concluiu. O Ministro Mantega mostrou, hoje, humildade, porque quando ele falou que estava tudo resolvido na agricultura, estava tudo resolvido para os exportadores, estava tudo resolvido para todo mundo e que a crise estava sendo combatida com medidas eficazes, rápidas, eu, na minha intervenção de quatro minutos, disse a ele: “Não é verdade.”
O meu telefone tocou o tempo todo, porque a TV Senado estava transmitindo ao vivo. Dirigentes de cooperativas, Senador Pedro Simon, do meu Estado, o Paraná, que é um Estado que depende muito da agricultura, me ligavam dizendo: “Olha, não tem IGF, e V. Exª foi Ministro e sabe da importância do IGF.” “O trigo está a R$26,00 a saca.” O Estado de V. Exª não está conseguindo colher o trigo por causa da chuva e vai faltar trigo, ali na frente, porque a Argentina está com problemas.
A safra de trigo argentina pode ser reduzida em 15%. O Rio Grande do Sul, que é um Estado importante na produção de trigo, vai ter problemas de produção na colheita agora, Senador Gerson Camata.
Eu disse a ele: “Importante é dar IGF. Para quê? Para o produtor, a cooperativa segurar esse trigo e vender quando o preço estiver melhor, porque, agora, não está pagando o custo de produção.” O Ministro ficou atônito, porque as informações que chegavam a ele é que estava tudo certo: o IGF sendo liberado, o custeio... A safra está sendo plantada, do Rio Grande do Sul até o norte do País, com um crédito muito aquém daquilo que o Governo está anunciando. O Governo anunciou R$72 bilhões: pois não foram liberados nem R$30 bilhões, e ele disse que antecipou o crédito.
Alertei o Ministro e disse: “Não é possível. O crédito não está chegando à cooperativa que o repassa para o produtor, na trading que financia o produtor em troca de produto, e não está chegando ao banco para financiar o produtor.”. Ele, humildemente, agradeceu a intervenção. Eu achei que ele ia ficar bravo, porque eu praticamente disse: “Olha, não é verdade o que o senhor está falando.” No entanto, ele agradeceu, dizendo: “Olha, a gente precisa de informação, porque as informações que estão chegando...”
É aquela história, Senador Pedro Simon, do subalterno, do assessor, muitas vezes, querer agradar e não falar a verdade: “Não, está tudo certo, o crédito está chegando, o IGF está sendo liberado, os bancos estão operando.” Não é verdade. Veja um dado: o Brasil deveria estar, nesta safra, utilizando de 26 a 30 milhões de toneladas de adubo - não chegou a 20. Sabe por quê? Porque não há quem consiga pagar quase R$2 mil a tonelada de adubo para colocar na terra. Estão reduzindo a quantidade e tem muita gente que está plantando sem adubo.
O Ministro da Agricultura, ontem, quando fui visitá-lo, disse: “Não vai haver queda de área.”
Vai haver queda de área, sim, porque tem gente que não tem crédito para plantar e tem gente que fez os cálculos e acha que é melhor deixar a terra sem plantar, porque os preços caíram.
Então, este é um momento em que a gente, para ajudar a resolver a crise ou atenuá-la, tem de ser muito sincero.
Do anúncio das medidas até a medida chegar lá na ponta, Senador Camata, demora um tempo danado, principalmente porque tem gente que não está preocupada com a crise. Vi hoje, no debate, que tem gente que está preocupada em discutir quem fez mais, quem fez menos pela economia, e temos de votar, aqui, medidas provisórias que vão ter de ajudar a resolver o problema da crise. A medida provisória que vem aí pode até resolver o problema dos bancos, mas não vai resolver o problema dos empresários e, portanto, não vai resolver o problema dos trabalhadores. Se o empresário não puder continuar exportando e produzindo, vai estourar em quem? No trabalhador, no emprego, e isso é o que está faltando.
O Governo, quando liberou o compulsório, não fiscalizou o que os bancos iam fazer com o dinheiro, e os bancos, ao invés de colocarem o crédito para financiar a produção, a exportação e a geração de empregos, compraram títulos do Governo e estão fazendo com que esses títulos sejam corrigidos pela taxa Selic.
Eles estavam torcendo, ontem, para que o Copom aumentasse os juros. Todo mundo estava torcendo para que os juros diminuíssem, mas eles não. Os donos dos bancos estavam torcendo para que os juros subissem, porque com aquele dinheiro que eles retiveram como compulsório livre, que não precisaram depositar no Banco Central, ao invés de financiarem a moradia, a produção e a exportação, o que eles fizeram? Compraram títulos, aplicaram esses títulos na taxa Selic e ficaram torcendo para o Copom aumentar a taxa de juros. E a gente torcendo para baixar.
Desta vez, ninguém ganhou, porque o Governo não aumentou nem baixou, Senador Pedro Simon, mas, pelo amor de Deus, o Governo tem de entender que se a crise é tão grave quanto se anuncia, e ela é grave, as medidas precisam ser adotadas com rapidez, mas com eficácia. Elas precisam chegar onde têm de chegar e eu não estou vendo isso acontecer, não.
Eu não fui lá para criticar o Ministro, nem o Presidente do Banco Central. Eu fui lá para dizer a eles que se o Governo não tiver informações precisas e deixar de seguir as informações que recebe, muitas vezes, de pessoas que não estão nem aí, ou estão acomodadas diante dessa situação porque estão com o seu garantido, a coisa não vai andar para resolver a safra que está sendo plantada. O calendário agrícola é muito justo, não dá para adiar o plantio, porque, depois, não vai colher também, então, é preciso que essas medidas sejam adotadas. Eu não estou falando só de se adotarem medidas em relação à agricultura, ao agronegócio. Aliás, uma matéria muito importante saiu, nesses dias, falando do agronegócio e da agricultura familiar, para desmistificar, também, aqueles que fazem o discurso que tem de separar o agronegócio da agricultura familiar.
Agricultura familiar tem de ser transformada em agronegócio, em empresa, mas, para isso, é este o momento em que o Governo tem de colocar a sua mão, dinheiro, crédito disponível, e não só crédito, mas garantia de preço, preço de garantia, que não está sendo garantido.
Não é possível um agricultor plantar o trigo a R$42,00 a saca e, quando ele vai colher, vender a R$26,00. Não dá. O custo de produção, hoje, é de R$32,00, R$33,00. Se ele vender a R$26,00, ele estará pagando para plantar uma cultura que está na alimentação de todos os brasileiros, no café da manhã, no almoço, no jantar, enfim, durante todo o dia.
É preciso que o Governo faça com que as medidas anunciadas sejam praticadas com eficácia, Sr. Presidente. É o que eu estou defendendo.
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