Discurso durante a 201ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre a matéria publicada no jornal Valor Econômico, intitulada "Para Pastore, crise força ajuste maior nas contas externas".

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. :
  • Comentário sobre a matéria publicada no jornal Valor Econômico, intitulada "Para Pastore, crise força ajuste maior nas contas externas".
Publicação
Publicação no DSF de 30/10/2008 - Página 42079
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, EXCESSO, DIVIDA, CIDADÃO, ESPECIFICAÇÃO, APOSENTADO, INJUSTIÇA, DEFASAGEM, BENEFICIO PREVIDENCIARIO.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, HISTORIA, DIVIDA PUBLICA, ESTADOS, MUNICIPIOS, EMPRESTIMO, RECURSOS, ANTECIPAÇÃO, RECEITA, ORÇAMENTO, AGRAVAÇÃO, CRISE, OCORRENCIA, FALTA, CONTROLE, GASTOS PUBLICOS.
  • COMPARAÇÃO, CONDUTA, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PERIODO, HISTORIA, QUEBRA, BOLSA DE VALORES, INCENTIVO, EMPREGO, VALORIZAÇÃO, POLITICA AGRICOLA, CRITICA, GOVERNO BRASILEIRO, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL.
  • COMENTARIO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, ENTREVISTA, EX PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), CRITICA, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, GOVERNO FEDERAL, SUPERIORIDADE, NUMERO, CARGO EM COMISSÃO, DEFESA, REDUÇÃO, DESPESA PUBLICA, IMPEDIMENTO, COMPROMETIMENTO, INVESTIMENTO, VIABILIDADE, INFERIORIDADE, JUROS, PROTEÇÃO, CAMBIO, BENEFICIO, CIDADÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Garibaldi, Presidente da Casa, Parlamentares presentes, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, aprendi no meu Piauí, Senador Efraim, que é bom aprendermos com o povo. Nunca vi a sabedoria popular errar. Aliás, há até na Bíblia os provérbios do povo. Então, aprendi que é mais fácil tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade. A verdade sempre vem.

O nosso Presidente da República desconhecia isto: a simples sabedoria do povo. Quis esconder a verdade. A verdade é que o nosso País não é essa ilha de tranqüilidade e de felicidade. Essa é a verdade.

A globalização existe e é velha. Quando saímos da época medieval, foi porque nasceu o Renascimento com as grandes invenções - a bússola, a pólvora, a imprensa - e concretizou-se essa globalização. Ela existe e aprendemos, desde muito cedo, estudando política, Efraim.

Eu já li uns 50 livros de Abraham Lincoln, e ele ensinou uma verdade: não baseie sua prosperidade em dinheiro emprestado. Essa é a grande verdade.

Daqui saiu há pouco o Paim, o maior defensor das liberdades das minorias. Mas eu quero crer e dizer ao Paim que aquele problema dos negros o próprio Abraham Lincoln resolveu lá nos Estados Unidos, o Rui Barbosa fez a lei, jogaram flores no Senado e a Princesa Isabel resolveu aqui. Não. A escravatura já era. Mas existe a escravatura da vida moderna. Ô Jayme Campos, a escravatura da vida moderna é a dívida. Esse negócio da cor preta já era.

Darcy Ribeiro, talvez o mais sábio dos Senadores que por aqui passaram, disse: graças a essa mistura de raças, ao negro, que nos trouxe alegria; ao índio, que nos trouxe o amor à natureza; e ao branco, a formação cristã e a burocracia da administração que aqui chegou com D. João VI, em 1808. E ele disse, quando já moribundo, com câncer, quando fez suas melhores obras escritas, sendo uma delas O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Ele disse que tinha fracassado, porque ele sonhou acabar com os analfabetos. Ele também sonhou com a melhoria da educação, dando um ensino nos períodos contínuos para todos os brasileiros, com uma boa universidade, e tinha fracassado. E tinha certeza de que este seria um grande País. Mas isso só acontecerá se enfrentarmos os problemas. E a gente aprende!

Efraim Morais, Fernando Henrique Cardoso deu esse grande ensinamento. Eu era Governador do Piauí, quando houve um tal de apagão. Geraldo Mesquita, o apagão. Fomos chamados aqui e fomos obrigados, lá no Piauí, onde o gasto de energia industrialmente era pequeno, a apagar as luzes de nossas avenidas, das praias e tudo. Criou-se uma Câmara de Gestão para resolver aquele problema. Ele buscou um homem muito capaz, um engenheiro, Pedro Parente. Todos os Ministros ficavam submissos a essa orientação. Foi chato, foi duro, mas o apagão terminou.

Também enfrentei outro problema. Ô Alvaro Dias, este País era uma zorra. Zorra! Ninguém sabia o que se devia. Inácio Arruda, ninguém sabia o que se devia. Nós devemos esta estabilidade à visão de futuro de Fernando Henrique Cardoso e a um homem, um dos mais honrados - acho que do jeito de Rui Barbosa que está ali no busto -, Pedro Malan.

Ninguém sabia quanto se devia, não. Eu fui prefeitinho e governei o Estado do Piauí. Isso era uma zorra. Tinha uma tal de ARO. Senador Alvaro Dias, ARO - Antecipação de Receita Orçamentária. Vou dar o exemplo: agora acabamos de receber um Prefeito, o do Rio de Janeiro, mas são 5,564 mil prefeitos.

Drª Roseana Sarney, naquele instante, todos os prefeitos que perdiam iam aos bancos. Os banqueiros são esses que conhecemos. Eles iam e tiravam a ARO. Lá no seu Ceará, da Iracema dos lábios de mel, de José de Alencar, que primeiro libertou os escravos, tinha um tal de BIC (Banco Industrial e Comercial), e ele fazia era convidar... Então, tudo que era prefeitinho derrotado ia lá e tirava um dinheirão: ARO - Antecipação de Receita Orçamentária. Era carta chegando, porque eu fui prefeito.

Ô Garibaldi, eu tirei a última ARO e disse para o Fernando Henrique: “Foi para fazer uma ponte, a Wall Ferraz, e a fiz em 87 dias”. Aí, ele disse: “Mas, Mão Santa, você ainda vem me dizer...” - e eu tomando uísque lá no Palácio. E ele anunciou para acabar. Então, fui lá no tal BIC: US$ 5 milhões. Aí eu disse - balancei o copo de uísque: “Fernando Henrique, não sei se você crê em Deus, mas eu creio, e no filho Dele, Jesus. Você sabe por que seguimos Jesus?” Aí ele ficou atento - ele é um gentleman, é educado: “Não, Mão Santa”. Eu disse: “Olha, não foi por conversa e por discurso, não. Ele discursa bem: ‘Bem-aventurado aquele que tem fome e sede...’”. O Pai-Nosso é um discurso bonito. Mas não foi por isso, não. Foi porque ele fez obras. Porque esse Jesus fez cego ver, aleijado andar, mudo falar, surdo ouvir, tirou o demônio dos endemoniados, limpou os leprosos, multiplicou pão, peixe, vinho. Ele fez obra. E se eu não fizer obra, ninguém vai acreditar em mim no Piauí. Então, estou aqui, vim avisá-lo”. Porque, quando ele decretou lá, fui ao Ceará e tirei. E fiz aquela ponte Wall Ferraz em 87 dias, com um engenheiro do Piauí Lourival Parente, construtora do Piauí, operários do Piauí, e dinheiro esse. Chamei o Fernando Henrique para ir lá inaugurar e colocar o nome Wall Ferraz, que era do PSDB e havia morrido. Então, eu fiz isso. Mas imaginem que há 5,562 mil tirando a ARO.

Ninguém sabia quanto devia, não. Foi duro. O Garibaldi está ali. Mas foi duro. Nós vimos Divaldo Suruagy, o mais preparado, mais votado e mais experimentado, naufragar nessas dívidas. Estou contando a história. Isso acabou-se, mas eles enfrentaram. Então, Inácio Arruda, isso tem que ser enfrentado com clareza no Brasil.

Aprendi com Franklin Delano Roosevelt! Quatro vezes Presidente dos Estados Unidos, enfrentou uma recessão, recessão depois de guerra, em 1919, e depois ele enfrentou a Grande Guerra Mundial. Eu nasci no meio dela, pois sou de 42 e você é mais novo. O conselho que Franklin Delano Roosevelt disse eu dou ao Presidente Luiz Inácio: tem que ter humildade. O Garibaldi não foi lá dizer para acabar com essa medicina provisória? Rapaz, foi bonito! Todo mundo gostou! Eu não posso ir lá, porque ele não convidou, digo daqui. Esta é a tribuna e é para isso.

Foi assim que ouvimos Teotônio Vilela. Ó Demóstenes! Moribundo de câncer! É necessário resistir falando e falar resistindo. E aqui eu digo: Franklin Delano Roosevelt disse: “Toda pessoa que vejo é superior a mim em determinado assunto e procuro aprender”. Fui prefeitinho, Luiz Inácio não foi; fui Governador, ele não foi. Que ele tem esse montão de votos, ele tem; mas, Inácio Arruda, some os votos daqui. Já somei. Então, somos filho do voto e da democracia, como Luiz Inácio. Somos o povo! Esse é o equilíbrio. Franklin Delano Roosevelt disse numa recessão: “Americano, trabalhe. Se der certo, continue; se não der certo, procure outro. Vou colocar um pique de luz em cada fazenda e que tenha uma galinha numa panela, e este Estado será rico”. Disse mais: “As cidades podem ser destruídas, elas ressurgirão do campo, mas, se o campo for destruído, as cidades perecerão”. E ensinou ao povo trabalho e produção. Está aí rico, queiramos ou não.

           Está aqui o Pastore, e é superior a mim, que tenho estudado muito. Senador Garibaldi, sei economia, fiquei seis anos na CAE. É um curso de Medicina. Tenho aprendido muito aqui. Raupp, esse Pastore para mim é o leitor do artigo dele. Conheço-o superficialmente, mas o artigo... É aquilo, quando vejo alguém superior a mim, procuro aprender. Senador Garibaldi, olhe o que ele diz: “Dólar ficará mais caro e demanda mais fraca”, diz o ex-Presidente do Banco Central que defende pausa... Para Pastore, crise força ajuste maior nas contas externas.”

           E quero lhe dizer, Inácio Arruda, aqui eu disse. Reiventando o governo, com Ted Gaebler e David Osborne. Bill Clinton, aquele bonitão, gostosão dos Estados Unidos, foi quatro vezes governador do Arkansas. Quatro vezes, Luiz Inácio! Ele viu que não era mole. Não é mole, Luiz Inácio! Quatro vezes governador do Arkansas...

           Ô Romero, com humildade, ele buscou os maiores técnicos. Então, Ted Gaebler e David Osborne escreveram um livro: Reinventando o Governo. Sintetizando, eles disseram que o governo não pode ser grande demais porque, assim como o Titanic, afunda. Este governo foi grande demais, e eu adverti aqui. Olha, quem entrou pela porta larga da vadiagem, da malandragem e sem concurso: quase cinco mil pessoas. Alguns deles, Inácio Arruda, ganham R$10.148,00; é o DAS-6. Ô Garibaldi, nós só assinamos DAS-4, Governador de Estado. Mas aqui tem DAS-6, R$10.148,00! Só com uma assinaturazinha entraram pela porta larga. Ministros: todos os outros grandes extraordinários presidentes e estadistas governaram este País com 16; hoje temos quase 40. Eu não sei o nome de 10. Essa é a verdade. Passamos a gastar muito! Muito! E aqui, o que diz o Pastore? Não sou eu não, Inácio! Eu tenho aprendido muito com V. Exª: essa coragem e aquele comunista que enterrou aquela filosofia do passado. Olha o que diz o Pastore! Só isso o que eu queria lembrar, Luiz Inácio. Para ele, a melhor resposta seria o corte das despesas do Governo. Tem que cortar! Estamos endividados, essa dívida é velha!

           Quando D. João VI chegou, com medo do Napoleão, ele veio para cá e pediu aos ingleses. Foram os ingleses que trouxeram, que deram proteção, que montaram esta máquina em 200 anos. Aí, quando o filho... “Independência ou morte.” Está certo, mas só se pagar os ingleses. Transferiu a dívida para os ingleses. Então ela é velha, nós devemos. É muito. Veio a II Guerra Mundial, e a Europa caiu, tombou, sofreu! Os ingleses passaram a dívida para os americanos, e nós estamos devendo. E essa... Se pagamos a dívida externa, teve outra mais grave que é a dívida interna. Era o Paim chorando aqui, o Paim, que é do Governo, o Paim, que é do PT, o Paim, que é puro, o Paim, que pode ser o nosso Obama! A dívida com os velhinhos aposentados. Isso é dívida, isso é imoralidade, isso é indecência. Nós fizemos um contrato, nós! A Pátria somos nós. Trabalharam 30, 35 anos, para ganhar dez salários mínimos, estão ganhando cinco; trabalharam 30, 35 anos, para ganhar cinco salários mínimos, estão ganhando dois.

           Luiz Inácio, eu digo, eu sei que foi lá nos Camões: “mares nunca dantes navegados”. E o nosso Presidente repete. É bonito isso, mostra amor a nossas origens, amor à literatura. Mas eu digo, nunca dantes tantos velhinhos se suicidaram neste País. Mas é muito, estou fazendo uma pesquisa porque os velhinhos são honrados, honestos e planejaram sua vida. Planejaram com aposentadoria de cinco a dez salários e estão vivendo com dois. O que disse o nosso Pastore? V. Exª teve mais coragem porque V. Exª, Garibaldi, foi lá e disse na casa do homem. Eu estou dizendo na nossa Casa, na Casa do povo. Para ele a melhor resposta seria o corte de despesas do Governo. “Se você cortar o gasto público, ajusta a absorção, o que faz cair menos o investimento, subir menos os juros e depreciar menos o câmbio”, diz Pastore, enfatizando porém não acreditar que o Governo seguirá esta trilha. “Com isso, o ajuste terá de recair sobre o consumo das famílias e os investimentos”, acredita ele. Senador Garibaldi, peço que esse texto seja transcrito e que as Lideranças do PT, a Líder do Governo, Roseana Sarney, o Líder do PMDB, o sábio Romero Jucá, peguem o artigo que, por coincidência, o bravo Líder das oposições Arthur Virgílio, no início desta sessão, tinha analisado. Inácio Arruda, V. Exª, que representa a firmeza, que tem sabedoria e coragem para mudar o que se pode mudar, serenidade para aceitar o que não se pode mudar e sabedoria para diferir uma coisa da outra, leve este trabalho do Pastore. É uma entrevista bem feita. Darei a minha revista porque nela estão assinaladas as partes mais fortes.

           Este é o presente que quero dar ao Presidente da República para que, como no passado o apagão, como no passado a inflação, possamos dizer que isso passou, e que o povo do Brasil caminhe para a felicidade, para a prosperidade.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MÃO SANTA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Para Pastore, crise força ajuste maior nas contas externas.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/10/2008 - Página 42079