Pronunciamento de Mão Santa em 23/10/2008
Discurso durante a 197ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
O exemplo de austeridade do ex-Presidente da República, Getúlio Vargas. Registro de comparecimento de S.Exa. a evento na Ordem dos Parlamentares do Brasil.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA NACIONAL.
LEGISLATIVO.:
- O exemplo de austeridade do ex-Presidente da República, Getúlio Vargas. Registro de comparecimento de S.Exa. a evento na Ordem dos Parlamentares do Brasil.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/10/2008 - Página 41309
- Assunto
- Outros > POLITICA NACIONAL. LEGISLATIVO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, HISTORIA, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, POLITICA, AMBITO NACIONAL, CRIAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, VOTO SECRETO, TOTAL, POPULAÇÃO, REGISTRO, ENCONTRO, ORADOR, PERSONAGEM ILUSTRE.
- REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REUNIÃO, ENTIDADE, CONGRESSISTA, CRIAÇÃO, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO, IMPORTANCIA, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, DEFESA, MANUTENÇÃO, ORGANIZAÇÃO, COMENTARIO, REALIZAÇÃO, HOMENAGEM, POLITICO, DISCURSO, ENCERRAMENTO, SOLENIDADE.
- REGISTRO, IMPORTANCIA, POPULAÇÃO, TRABALHO, SENADO, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, SOCIEDADE, DECISÃO, POLITICA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mário Couto, que preside esta sessão, Parlamentares presentes aqui e na Casa, brasileiros e brasileiras presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, pela TV Senado, os que nos ouvem por meio da rádio AM e FM e os que vão ler o fabuloso Jornal do Senado. Esta tribuna e este Senado atualizaram-se, Mário Couto, mesmo naquele tempo difícil. Como esta Casa é forte! Um Parlamento que lembra a sua oratória. Não sei se V. Exª, Mário Couto, um dos tribunos melhores que eu já ouvi e que gosto de ouvir, assim como o País todo e o Piauí... Só quero fazer um pedido: não transfira o seu título para o Piauí, não, porque jamais vou ganhar uma eleição, já que V. Exª conquistou aquele Estado.
Então, Antonio Carlos Magalhães, com sua experiência e sua luta... Aliás, tive o prazer de fazer uma reflexão. Li o livro que o filho dele, Antonio Carlos Júnior. Uma beleza de livro. Uma beleza de luta. Uma beleza pelo amor à Bahia e ao País - Antonio Carlos Magalhães!
Aqui desta tribuna, temos de entender a história, mesmo quando não se dispunha desse sistema de comunicação fabuloso, que coloca este Senado como um dos mais fortes da história democrática do mundo. São 183 anos de pessoas que, a mando da democracia, fizeram a grandeza desta Casa.
Getúlio, grande estadista - todos nós sabemos: “o homem é o homem e as suas circunstâncias” -, entrou pelas falcatruas das eleições da República Velha. Mas, para entrar, teve de fazer uma guerra. Os paulistas quiseram derrubá-lo três anos depois - em 1932. Em seguida, houve a guerra mundial dos regimes totalitários com os democráticos; e ele ficou com a democracia, liderada por Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt, Stalin, da Rússia, que fizeram enterrar os regimes totalitários de Mussolini, na Itália; de Hitler, na Alemanha; e dos japoneses.
Mas atentai bem para esta grandeza: Getúlio voltou nos braços do povo, reconhecido pelo estadista que foi, apesar do seu período ditatorial. A ele devemos todas as conquistas dos trabalhadores, até o voto secreto, o voto das mulheres, as leis trabalhistas, a Previdência, o Dasp, que fez essa beleza de organograma funcional.
Então, por que Getúlio saiu de cena? Atentai bem! Getúlio, no fim da sua vida, um homem bom, muito bom, e muito honrado, e muito honesto! Mário Couto, eu citaria só um exemplo da honestidade, e isso é muito atual e essa gente tem que aprender. Quinze anos depois, ele, que tinha lutado com o País pela redemocratização do mundo, passou o Governo ao Supremo Tribunal Federal; fizeram as eleições e Dutra foi eleito. Ele recolheu-se à sua fazenda. Só isso bastaria para ensinar a esses aloprados e esses corruptos que aí estão. Ele, chegando lá, não havia energia na fazenda dele. Hoje, a primeira coisa que fazem é um projeto para levar a energia elétrica para sua fazenda. E ele, passando em São Paulo, um amigo lhe ofereceu uma geladeira a querosene. Não sei se vocês se lembram. Eu me lembro, porque o meu avô era empresário, era industrial e, na mesma época, só quero citar, ele tinha três. Estou citando história para entender lá no Piauí. E ele sempre gritava: “Menino!”. Era uma geladeira, não sei se os mais antigos se lembram, branca, a querosene, tinha os pés altos, onde a gente mergulhava a cabeça, porque lá havia uma chama, já que era a querosene. E, quando a chama fumaçava, Sr. Presidente Mário Couto, não gelava. Não sei a química do processo de transformação do calor em frio.
Lavoisier já dizia: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Eu sei que, quando fumaçava, não gelava, e o meu avô gritava: “Menino!” e eu metia a cabeça embaixo. Tinha um espelho que era metálico, para ver o diabo da chama. Mas ele tinha uma na fábrica dele, no comércio; uma na residência dele e tinha uma na casa de praia. Meu avô tinha três. Getúlio Vargas não tinha uma geladeira, mesmo depois de quinze anos como Presidente. Em São Paulo - ele estava indo para o Rio Grande do Sul -, e ficou meio constrangido de receber esse presente. Não quis. Chegou um amigo e disse: “Aceita, ele não está dando?”. Ele aceitou o presente e o levou para São Borja.
Atentai bem. Depois, o mesmo amigo foi perguntar, e ele disse: “Rapaz, é bom. Eu tomo um sorvete de chocolate à noite e é bom”. Quer dizer, esse era o prazer do homem que governou quinze anos - austeridade, exemplo!
Mas eu queria dizer, Mário Couto, que ele saiu de cena. Por quê?
Mário Couto, foi essa tribuna. Antonio Carlos Magalhães fez uns livros e um CD com os melhores discursos deste plenário. Eu vou dizer para o Garibaldi para reeditar e colocar o do Mário Couto no meio. Esse de hoje pode sim. É melhor do que o livro de Dante Alighieri sobre o inferno, embora seja a violência, embora o inferno esteja nessa barbárie como eu há muito havia denunciado. Outro dia foram falar, eu disse que eu nunca tinha falado com deboche, com desrespeito ao Presidente e a sua família. Nunca! Uma vez citei a D. Marisa para compará-la a Martha Rocha, que é um encanto de mulher, física e espiritualmente. Eu a conheci quando Governador e ela já era avó. Então, na comparação, não houve desrespeito.
Disse isso para que Luiz Inácio fizesse como eu, que pego a minha Adalgisa e saio andando e namorando pelo mundo afora, em Buenos Aires, que é mais perto, de manhã, de madrugada, a qualquer hora. Mário Couto, lá há um delta, o Tigre, que não é de mar aberto, é um rio. Eu vinha de madrugada, quando entrou um casal de velhinhos, a uma e meia da manhã. Praticamente, havia eu, Adalgisa e esses velhinhos. Eu fiquei olhando se, no Brasil, encontraria esses velhinhos às duas horas de madrugada. Imagine! De mãos dadas e descendo!
Então, eu adverti sobre essa barbárie no Rio de Janeiro, onde estudei e morei no Aterro do Flamengo, na Barão do Rio Branco. Não havia barbárie nem violência; havia malandro. E era bacana o malandro carioca nos anos 60, agradável.
Então, agora, eu digo: “Luiz Inácio, pegue a sua encantadora Marisa, de mãos dadas, e vá dar uma volta na Cinelândia, vá dar uma volta no Aterro, vá dar uma volta na Rua do Ouvidor!” Isso não é mais no Rio de Janeiro, pois o Senador Mário Couto trouxe o Pará, igual a Dante Alighieri. Senador Mário Couto, V. Exª está longe disso!
E Getúlio, no fim - um homem bom, um homem bom. Sei o que é o poder, ô Luiz Inácio. O Getúlio sofreu pelos aloprados dele. Getúlio, um homem bondoso. Tem o diário dele, dois volumes, que eu li todinho. São dois volumes o diário dele. Aí aqueles puxa-sacos, aqueles aloprados, que não são de agora, na história tem - estou até advertindo o Luiz Inácio. Voltaire já disse: “Deus me livre dos meus amigos, porque sei me livrar dos meus inimigos”. Então, aqueles puxa-sacos ficavam atrás do Getúlio: “Tem esse jornalista aí, esse Lacerda, está falando demais”. No rádio, na Rádio Globo, com Raul Brunini. E não sei quê, tem que calar, dá uma surra, e não sei quê.
Aí aquele Gregório, que o Getúlio tinha trazido, há trinta anos, um meninote, lá do seu São Borja, pegou aquilo, depois de ter passado, desde 1930 a 54, com um pai espiritual, e os puxa-sacos - os aloprados, que Luiz Inácio defende hoje -, iam lá e diziam. Ficavam na ante-sala, e Getúlio não sabia, instigando: “Mas não pode! Lacerda meteu o pau na Globo, às 21 horas, quinta-feira. Lacerda, na Câmara. Tem que acabar, não respeita. Aí o Gregório fez o que fez. Getúlio nunca imaginou aquilo.
E conheci esse Gregório. Em 1950, eu vi o Getúlio. O Renan, o grande Renan, talvez ainda não havia nascido. Você nasceu em 1950, já havia nascido?
O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Em 1955.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, posso ensinar pela história da experiência. Mas V. Exª é um iluminado, é uma inteligência privilegiada.
Mas eu o vi. Em 1950, ele fez um comício na praça Nossa Senhora da Graça.Meu tio era prefeito, e ele, todo de branco, charuto, deitou-se numa rede na casa do meu tio. E eu vi esse Gregório. Então, o Gregório foi aquele instigado pelos aloprados - que já existiam - e ficava na ante-sala dizendo: “Olha, o Lacerda meteu o pau no nosso Presidente. Não podia! Na Globo... Raul Brunini, na Câmara e tal. Ele devia era dar uma surra nele”. Aí ele tinha trazido aquele rapazote, em 1930, vinte e quatro ali... e deu no que deu. Mas por que, Renan, deu nisso?
Antonio Carlos Magalhães, seu amigo, nosso amigo. Eu me debrucei quando quiseram fazer aquela injustiça com ele: cassá-lo. V. Exª se lembra da altivez e da firmeza. Mas seu amigo. Ele teria sido o grande cirineu para V. Exª no calvário que V. Exª carregou. Mas Antonio Carlos Magalhães editou os melhores pronunciamentos daqui, em CD e em livro. Eu já o ouvi. E quero que inclua hoje o discurso de Mário Couto. Vou sugerir isso quando estiver nessa mesa. Foi belo e sobre a violência. Ele falou e descreveu como Dante Alighieri descrevia o inferno.
Mas por que Getúlio? Renan, olha o que é política. Depois da Rua Tonelero, da morte do Major Vaz, um homem o convidou, homem firme - V. Exª não sofreu mais do que JK, está aqui no livro JK: triunfo e exílio, que depois eu vou lhe dar -, um homem desses que a política nos oferece. Vejam o que era Juscelino! Como você, Renan, firme, amigo dos amigos, leal e corajoso. Naquela crise, ele convidou o Getúlio para homenageá-lo. Inventou uma inauguração de uma siderúrgica só para reunir 30 mil pessoas e o aplaudirem depois. Getúlio passou a noite lá, nas Minas. Isso, pouco antes de 24 de agosto. Mas, nesse ínterim, desta tribuna, Afonso Arinos falava que nem V. Exª. Está lá nos discursos. Afonso Arinos dizia - há o DIP, de propaganda; não é o Duda Mendonça, o Goebbels, quem inventa isso -: “Será mentira a viúva? Será mentira o órfão? Será mentira o mar de lama?” O discurso foi tão violento, tão violento que, em suas memórias, ele mesmo disse que achava que não o faria de novo. Então, sabemos que tem repercussão esta Casa; tem porque tem história! Está vendo como o discurso de V. Exª sobre a violência tem repercussão? E vimos que, na época, deu no que deu.
Esta Casa tem um valor muito grande. O nosso Marco Maciel hoje passou ali - eu estava presidindo -, enaltecendo o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Instituto, instituição como o Senado, que ruma há dois séculos.
E eu ontem estive numa festa. Eu não ia nem falar nisso, mas eu dou valor. Existe a OPB - Ordem dos Parlamentares do Brasil -, que tem 32 anos. O homem é o homem e suas circunstâncias. É lógico que, quando Ulysses Guimarães a criou, Mário Couto, as circunstâncias eram outras. Ele não tinha aquela tribuna que teve o Afonso Arinos e que o Mário Couto hoje teve, com liberdade. Estávamos na ditadura. Então Ulysses arregimentou todas as Câmaras e Assembléias e fez essa OPB - Ordem dos Parlamentares do Brasil. Ele a criou. Era o que ele tinha; eram suas armas. Foi criada em 1976 - Ulysses foi o anticandidato em 1974, para fazer nascer o ideal da redemocratização. Mas eu fui convidado ontem. Eles são de raízes paulistas. Eu já tinha sido convidado e tinha ganhado a Medalha Ulysses. Aquela instituição continua e deve ser preservada. Eles resolveram fazer a primeira reunião em Brasília, e foram homenageados políticos, empresários, professores, médicos. E eu fui convidado a encerrar. Achei aquilo muito bonito.
Mas, quando vi hoje o Marco Maciel relembrar o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, pensei: “essas instituições têm que ser preservadas”. Lógico que não têm mais aquela finalidade. Estamos vivendo numa democracia. Estamos aqui usando uma tribuna livre do símbolo da democracia, que é o Senado.
Renan, o nosso amigo Luiz Inácio, o nosso Presidente - eu votei nele em 94 e acho que V. Exª não votou nele nenhuma vez.
O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Votei na reeleição.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ah, V. Exª votou na reeleição. Pois somos o inverso. Está um a um.
Mas quero lhe dizer que tem que se entender a coisa. V. Exª já teve a curiosidade de somar os votos aqui? Sabemos que o nosso Presidente Luiz Inácio teve 60 milhões de votos, e o Petrônio me ensinou não agredir os fatos. Ele repetia isto: “não agredir os fatos”. Eu ficava sem entender o que ele queria dizer. Eu não entendia. O fato é esse. Renan, outro fato: some os votos aqui; dá mais que os dele. É; some os teus, os meus; todos. Então somos filhos do voto e da democracia. Nós somos o povo, Luiz Inácio. Este aqui é o povo. E mais: o ensinamento de Ulysses, que aqui passando, disse: “Ouça a voz rouca das ruas”; é o povo! E nós podemos falar aqui! Eu posso, eu falo! Cícero dizia: “O Senado e o povo de Roma”. Eu posso dizer; todos podemos dizer: “o Senado e o povo do Brasil”. Nós é que sustentamos esse equilíbrio.
Então, fui a essa OPB. Eles estão certos. Eu vi a atualização. Eles homenageiam alguns políticos, condecoram. E fui convidado para encerrar. Mas tem empresários, tem médicos, tem pesquisadores, tem professores, e vi naquilo uma atualização. Eu disse: “árvore boa dá bons frutos”. Essa é uma instituição que é fruto de Ulysses Guimarães. E não ia cansá-los, mas tirei três pensamentos, que estão na minha mente, daquele nosso Líder que está encantado no fundo do mar. Ulysses dizia e ensinou: “Ouça a voz rouca das ruas, ao povo”; “A corrupção é o cupim que corrói a democracia” - muito atual; “Faltando a coragem, faltam todas as outras virtudes” - muito oportuno para aquela gente, cujo presidente hoje é um paulista - o pai dele já foi, João Serrano, e agora o filho continua o trabalho -, que está identificado com essa coragem.
Eu queria fazer uma mudança. E podemos. Sei que Montesquieu contribuiu muito. O povo, insatisfeito com os governantes, que eram os reis; o animal político, que é o homem, que era bom para o rei, que morava no palácio, via na parede do rei: “Liberdade, igualdade e fraternidade”. O rei era o deus na Terra. L'État c'est moi significava tudo. “O Estado sou eu”. Então, dividiu esses Poderes. Essa foi a grandeza e alternância no poder. Mas ensinou-se que esses Poderes, Renan, têm que ser eqüipolentes e harmônicos. V. Exª deu essa contribuição e mostrou altivez e harmonia.
Temos, também o ensinamento de Miterrand, Mário Couto, que, durante 14 anos, governou a França, onde nasceu a democracia - antes, sofrido, perdeu várias vezes, como o nosso Presidente Luiz Inácio. Moribundo, vítima de câncer, ele escreveu o livro Mensagem aos Governantes, em que ele manda fortalecer os contrapoderes. Entendido, Renan?
O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Entendido.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI ) - V. Exª já foi Presidente deste Poder, com muita grandeza, e já exerceu também o Poder Executivo, exerceu o cargo de Ministro de Justiça. É difícil fazer justiça, mas V. Exª teve muita felicidade e as bênçãos de Deus. Eu o comparo a Petrônio Portela, um dos melhores Ministros da Justiça deste País, pela altivez.
Renan, eu nunca me esqueço de quando Petrônio chegou ao Piauí. Na nossa cidade, foram buscá-lo, com muitos carros, e o carro era de um amigo, um carro de luxo, ditador da moda, estava ele, meu irmão e Lauro Correia, Presidente da Fiepi, e eu ao lado dele. Havia muitos carros a esperar o Ministro piauiense. Mas, de repente, ele gritou: “Pára, pára, pára!” Eu fiquei assim... Era natural haver muita gente recebendo o Ministro piauiense. Sabe o que ele disse, Renan? “Mão Santa, tire esses batedores; a autoridade é moral. Se eu andar no meu Piauí com isso...” Tive o prazer de conviver com ele, além desse encontro, no Rio de Janeiro andando nas praias de Copacabana. Com V. Exª, ocorreu o mesmo. Foi até mais ousado, porque, sem segurança nenhuma, V. Exª adentrou o interior do Piauí, Picos, e V. Exª foi ao litoral, sozinho, enfrentando... E aprendi que a autoridade é moral.
Mas, eu queria dizer que nessa festa eu vi o engrandecimento e o esforço de se preservar a Ordem dos Parlamentares do Brasil, que nunca tinha reunido aqui - reúne-se em São Paulo. E eu, Renan, meditando, disse no meu pronunciamento: “Vocês estão certos, porque Montesquieu levou-nos ao orgulho” - permita-me essa reflexão. Montesquieu meteu na cabeça que nós somos o Poder: o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário. Eu acho que não; eu acho que poder é o povo que trabalha, é o povo que paga a conta da democracia. Poderes são os senhores todos aqui; nós somos instrumentos da democracia.
Então, essas são as nossas palavras de agradecimento pelos aplausos e homenagens. Isso é gratificante no momento em que se joga tanta pedra em políticos. Olha, Renan, ontem eu fui buscado para tirar muito retrato com as classes mais variadas, entre elas a dos empresários.
E quero dizer que o político não é o que estão dizendo aí, não, Renan. Vou dar aqui o testemunho do que eu vivi, da grandeza. Todos nós vimos falecer Ramez Tebet. Eu vi o povo chorar. Eu fui, depois, à cidade dele, convidado pela filha dele, Simone, depois eu fui lá, onde fui homenageado, porque era amigo de Ramez Tebet. Éramos do mesmo partido. Ele foi Ministro, como Renan, e nos prestigiou e nos ajudou quando era Governador do Estado. Olha, eu vi o povo chorar pelo Senador, que Deus levou. Depois, eu vi o enterro do Jonas. Fomos lá. Até o céu chorava. No meio da chuva, era o povo e nós carregando o caixão. O povo chorava. Morreu Antonio Carlos Magalhães, e o povo chorava.
Então nós somos isso, nós somos povo. Tem que entender isso. Nós somos filhos do voto e da democracia. Esta Casa nunca decepcionou e não vai decepcionar o Brasil.
Isso é normal.
O próprio poeta lá do Nordeste disse:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
A vida é isso, essa luta. Outro dia vimos o Renan lutando no calvário. Hoje sinto como sentimos e vimos Juscelino aqui, humilhado - isso faz parte da vida política -, exilado, e depois o mundo reconheceu... Isso faz parte da política. Nós somos o povo, temos nossos sofrimentos, mas nós temos essa grandeza.
Senador Mário Couto, V. Exª, com seu pronunciamento, enriquece esta Casa. Estou feliz não por causa da violência lá; eu estou feliz porque que eu falei tanto disso, da violência, repetia, citava Norberto Bobbio, que dizia que o mínimo que o povo tem de exigir é a segurança à vida, à liberdade e à propriedade. V. Exª trouxe hoje o quadro mostrando que a violência se alastrou.
Este Senado é para isso, é para denunciar.
Sei que V. Exª é amigo do filho de Teotônio Vilela. E, para encerrar, faço minhas as palavras dele: “A grandeza é falar resistindo e resistir falando”. Isso é o que temos feito, com o exemplo de homens como Teotônio Vilela.
Era o que tinha a dizer.
Muito agradecido.
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