Discurso durante a 200ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre a crise ecológica que afeta as cidades e questionamento sobre a ausência de debates durante as últimas eleições, acerca do meio ambiente, desigualdade social, trânsito etc. Expectativa com relação às próximas eleições.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Manifestação sobre a crise ecológica que afeta as cidades e questionamento sobre a ausência de debates durante as últimas eleições, acerca do meio ambiente, desigualdade social, trânsito etc. Expectativa com relação às próximas eleições.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/2008 - Página 41435
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CONCLUSÃO, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, ANALISE, VANTAGENS, PROXIMIDADE, ELEIÇÃO, FAVORECIMENTO, DESENVOLVIMENTO POLITICO, ELEITOR, REGISTRO, INICIO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • AVALIAÇÃO, CAMPANHA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, CARENCIA, PROPOSTA, DEBATE, FALTA, INSERÇÃO, PROJETO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, AUSENCIA, IDENTIDADE, PARTIDO POLITICO.
  • CRITICA, CAMPANHA ELEITORAL, AUSENCIA, DEBATE, RISCOS, MEIO AMBIENTE, EXCESSO, AUTOMOVEL, CIDADE, POLITICA INDUSTRIAL, SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, ATOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), LOBBY, LUTA, DEFESA, REGIÃO AMAZONICA.
  • QUESTIONAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, OMISSÃO, DEBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, EXPECTATIVA, MELHORIA, DISCUSSÃO, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, SENADOR, DEPUTADOS, GOVERNADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, EXAME, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, MODELO ECONOMICO, ORIENTAÇÃO, PRODUÇÃO, INTERESSE PUBLICO.
  • DEFESA, PRIORIDADE, DEBATE, EDUCAÇÃO, ANALFABETISMO, IGUALDADE, QUALIDADE, ENSINO, CONCLAMAÇÃO, CANDIDATO, PATRIOTISMO, EXAME, PROBLEMAS BRASILEIROS, ALTERNATIVA, SOLUÇÃO, CONTINUAÇÃO, EVOLUÇÃO, GOVERNO, ORIENTAÇÃO, FUTURO, PAIS.

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O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, agradeço ao Senador Raimundo Colombo, que me cedeu sua vez, para que eu seja o primeiro Senador a falar desta tribuna depois das eleições de 2008.

Quero falar que, no domingo, terminamos uma eleição e que hoje começamos outra. Alguns criticam: o fato de no Brasil haver eleição a cada dois anos é negativo. Eu considero isso, Senador Adelmir, positivo para a educação cívica e política de todos os eleitores brasileiros. Ontem terminamos uma eleição e hoje começamos outra. Ontem terminamos a de 2008; começamos agora a de 2010, Senador Camata.

Só que vale a pena tirar algumas experiências desta eleição. Raramente, creio, tivemos uma eleição tão sem idéias, tão sem propostas que vão além dos limites da cidade. Lembro-me do tempo, e não é tão longo, em que cada Prefeito se enquadrava em um projeto nacional, e a disputa para saber quem seria Prefeito era uma disputa para saber qual lado venceria de um projeto alternativo para o País. Não vimos isso.

Eu me lembro de um tempo em que os candidatos pertenciam a um partido. Lamentavelmente - participei de muitas eleições este ano -, hoje pertencemos a um número. E os números se misturam de tal maneira, que não dá para dizer que nenhum deles significa, de fato, um conjunto de posições que caracterizariam o que se chama de partido. Nós fizemos uma eleição de clubes eleitorais, e não de partidos, e isso é preocupante, porque nunca antes, talvez, tenha sido tão necessário trazer para o debate municipal os grandes eixos do futuro do Brasil e do mundo inteiro. Quando, lá nos anos 50, 60, 70, discutia-se democracia ou não - porque isso se discutia na eleição para Prefeito, se o candidato a Vereador se enquadrava do lado da democracia ou do regime militar -; quando antes se decidia se se enquadrava o candidato no lado da reforma de base ou não, do socialismo ou do capitalismo, dizia-se que havia necessidade desse debate. E, hoje, mais do que nunca, Senador Gerson Camata.

Por exemplo, estamos diante do risco de uma hecatombe ecológica, e não se debateu o meio ambiente nessas eleições. Não vi o debate sobre o meio ambiente naquelas cidades que acompanhei. E é preciso lembrar que essa crise ecológica começa nas cidades. São as cidades que provocam o dióxido de carbono. É das cidades que saem aqueles componentes que geram a poluição. É nas cidades, também, que consumimos os móveis que vêm das árvores da Amazônia. Então, no fundo, as cidades que serão geridas por Prefeitos eleitos ontem, antes de ontem, não debateram com seus eleitores o que pensam sobre aquecimento global.

Faço um parêntese, para dizer que estamos recebendo, neste momento, a visita, aqui, de dois grandes artistas: Christiane Torloni e Victor Fasano. Eles vêm, para querer incorporar o Congresso na luta deles pela defesa da Amazônia. Nós não vimos esse debate feito pelos Prefeitos.

E a desigualdade social? Será que houve algum tempo em que fosse necessário discutir a desigualdade social com mais profundidade e rigor do que este ano? Nunca antes! E não discutimos. Onde está a maior desigualdade? Dentro das cidades. Houve um tempo em que a grande desigualdade era entre o campo e a cidade. Hoje não é mais entre o campo e a cidade. Hoje é dentro da cidade que existe essa desigualdade tão grande, que alguns seres humanos que vivem na mesma cidade já permitem levantarmos a dúvida sobre se são ou não semelhantes. Eu não vi esse debate entre os candidatos a Prefeito, Senador. Não vi um debate sobre desigualdade social. Não vi um debate sobre o meio ambiente. Mesmo um tema como trânsito - vamos tomar um tema como tráfico, ou trânsito, não de drogas, de veículos - foi discutido numa visão primária, a de construir mais ou menos estradas, mais ou menos viadutos, quando o problema hoje, do engarrafamento de trânsito, já não é mais uma questão de mais estradas e viadutos, é uma questão de mais ou menos automóveis como meio de transporte. Mas não houve esse debate.

Não debateram os senhores candidatos a Prefeituras quais os projetos de desenvolvimento nacional nas indústrias que vão viabilizar ou inviabilizar o tráfico, o trânsito nas grandes cidades. Nós não vimos isso. Não houve um debate sobre nada que seja profundo. Um debate entre propostas vazias foi o que a gente viu para Prefeituras e Vereadores, como se as cidades fossem independentes, isoladas do País e do mundo. Elas são partes integrantes do País e do mundo e são geradoras dos problemas dos países e do mundo e são também o lugar onde a gente pode começar a construir alternativas.

Mas esses primeiros cinco minutos falei - exatamente cinco minutos - sobre a eleição que passou, que terminou antes de ontem, e quero falar da eleição que vem aí, que começa hoje.

Será que a gente vai ter, na hora de eleger Presidente, Governadores, Deputados Estaduais, Deputados Federais e Senadores, o mesmo discurso vazio que tivemos no debate desses últimos meses, para eleger Prefeitos e Vereadores?

Pelo que a gente vê, está-se acenando que o debate vai ser, mais uma vez, vazio.

O debate será se salvaremos ou não os bancos, e não se somos capazes de construir um modelo econômico em que os bancos sejam sólidos, porque a fragilidade dos bancos não é conseqüência apenas dos bancos, mas de um modelo industrial que exige vender muito, portanto exige muito crédito e obriga bancos irresponsáveis, porque bancos responsáveis não emprestam muito.

Não pode existir empréstimo para venda de carro a 100 meses de uma maneira responsável, porque, em 100 meses, o automóvel já não vale mais aquilo que serviu como garantia do empréstimo.

A gente vai discutir apenas se salva banco, ou se constrói um sistema financeiro sólido? E, se for isso, qual é o modelo econômico que a gente quer para este País? Não falo de mudar aquilo que vai durar muitas décadas: a abertura comercial, a necessidade de o setor privado ser predominante... Não discuto absolutamente o papel do mercado. Não; o que discuto é: qual a orientação que a gente vai dar, para produzir o quê? Vamos continuar tendo uma dinâmica econômica baseada apenas no produto privado ou no produto público? Não na produção. A produção vai ser privada, mas a gente pode produzir privadamente bancas para uma sala de aula. O produto vai servir ao público, não vai gerar pressão para os bancos.

A gente pode investir nas construções em água e esgoto, com empresas privadas, sim, que são mais eficientes, mas o beneficiário é o público, e as conseqüências para o sistema financeiro não são as trágicas que a gente viu nesses últimos anos.

Nós podemos discutir ou não o meio ambiente, de uma forma conseqüente; mas sabendo que a discussão do meio ambiente não vai dar o número de votos que a discussão vazia traz.

Nós vamos discutir apenas colocar mais ou menos escolas, ou erradicar o analfabetismo? Ou garantir que todas as crianças vão ter escola igual neste País?

Quando é que a gente vai aprofundar o debate para saber se o próximo Presidente vai ser apenas mais um gerente, ou vai ser o líder que trará uma condução alternativa para o futuro do nosso País?

Se a eleição que começa hoje tiver as mesmas características da eleição que terminou ontem, pobre da Amazônia, pobre do meio ambiente, pobre dos pobres, pobre das crianças, pobre do Brasil!

Estamos iniciando uma nova eleição. É preciso que aqueles que se animam, por patriotismo até, a disputar a eleição presidencial, eles saiam, dos discursos vazios dessas últimas eleições e tragam, sim, propostas novas, alternativas, construtivas para um futuro diferente.

Nós já tivemos 16 anos de dois governos iguaizinhos - as caras diferentes, o resto igual. O próximo não pode perder nada do que esses dois fizeram, porque eles foram avanços para o País. E eu faço questão de dizer os dois. Houve avanço sim.

Grande parte da solidez que hoje se mantém, de certa forma, o sistema financeiro brasileiro em relação aos outros, se deve ao Proer, feito pelo Ministro Pedro Malan e o Presidente Fernando Henrique Cardoso; não podemos esquecer disso. Mas também se deve à responsabilidade do Presidente Lula, que não cometeu nenhuma leviandade na condução desse processo. A crise veio de fora. E a estamos enfrentando razoavelmente, mas ela não pode ser enfrentada pensando apenas no curto prazo.

Como eu disse recentemente aqui, uma maneira é enfrentar a crise com a pá, colocando dinheiro nos bancos, tapando buracos; a outra é com a bússola, procurando um rumo novo para o País. Nós vamos ter candidatos da pá ou candidatos da bússola? Esse é o desafio em que gostaria de ver esta Casa envolvida. Até porque daqui podem sair candidatos à Presidência da República. Na verdade, cada um daqui deveria se sentir como candidato. Nos Estados Unidos, os dois candidatos e mais outros, a Senadora Hillary Clinton e mais pelo menos um candidato a vice-presidente, são do Senado. Eu gostaria de ver esta Casa querendo ajudar o País a ter um debate com base em bússola e não com base apenas em pá, querendo reorientar o futuro do País e não apenas querendo tampar com arremedos o buraco que surgiu no sistema financeiro.

Era isso, Sr. Presidente, o que eu tinha a dizer hoje, primeiro dia de uma próxima eleição, o dia seguinte a uma eleição que passou, uma eleição vazia que terminou. Espero que a gente tenha uma eleição plena de idéias, de propostas, de debates nos próximos dois anos.

Muito obrigado, Sr. Presidente, e obrigado mais uma vez ao Senador Colombo, que me permitiu falar no lugar dele.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/2008 - Página 41435