Discurso durante a 200ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação de requerimento de voto de aplauso e congratulação pelos 50 anos de atividade inovadora e transformadora do Teatro Oficina.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Apresentação de requerimento de voto de aplauso e congratulação pelos 50 anos de atividade inovadora e transformadora do Teatro Oficina.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/2008 - Página 41980
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, TEATRO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, BRASIL, APRESENTAÇÃO, HISTORIA, VALORIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, POVO, MODERNIZAÇÃO, CRITICA, DETALHAMENTO, OBRA ARTISTICA.
  • CONCLAMAÇÃO, EMPRESARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), APOIO, CONCLUSÃO, PROJETO, ARQUITETURA, COMPLEMENTAÇÃO, AMPLIAÇÃO, INSTALAÇÕES, TEATRO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srs. Senadores, venho apresentar um requerimento, nos termos do art. 222, para inserção em Ata de voto de aplauso e congratulação pelos 50 anos de atividade inovadora e transformadora do Teatro Oficina, que muito contribuiu e contribui para o desenvolvimento da cultura em São Paulo.e no Brasil, graças ao trabalho de seu Diretor, José Celso Martinez Corrêa e de todos os seus atores e colaboradores.

           Na Rua Jaceguay, 520, no Bexiga, em São Paulo, hoje à noite, ocorrerá a comemoração dos cinqüenta anos de atividades do Teatro Oficina. Será um encontro dos atores, diretores, amigos e admiradores do trabalho do Oficina.

           O Teatro Oficina é um patrimônio cultural brasileiro, por sua capacidade de autotransformação, criação e de atitudes inovadoras, que têm contribuído para o avanço do processo de democratização e realização de justiça em nosso País.

           O Grupo Oficina organizou-se, em 1958, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo, para começar a trilhar um caminho de fomento às artes de uma forma geral, pois em sua trajetória até os dias atuais possui em seu vasto currículo trabalhos de teatro, cinema, televisão, música, cursos, seminários, debates, festas, comerciais, jornais, livros, comícios e passeatas.

           O Oficina sempre assumiu uma postura crítica diante dos fatos da realidade. Um de seus mais importantes fundadores foi José Celso Martinez Corrêa, nascido em 1937, que na comemoração de 50 anos do Oficina ainda trabalha como um teatro crítico e investigativo. A estréia do grupo foi em sua nova sede, no Bairro do Bexiga, em São Paulo, num prédio que anteriormente era utilizado por um grupo de teatro espírita, na rua Jaceguay, local do Teatro Novos Comediantes.

           Em 1961, o grupo Oficina se profissionalizou, transformando-se numa companhia teatral de renome nacional e internacional. Atualmente, o espaço da oficina tem sido administrado pelo grupo Uzyna Uzona, pois recebeu do Governo estadual a permissão de uso indeterminado.

           Uma de suas resistências foi se manter ativo após ter seu prédio destruído em um incêndio em 1966. E a outra foi continuar trabalhando após a promulgação do Ato Institucional nº 05 (AI-5), que devastou a vida econômica e cultural do País. Ao retomar as atividades após o incêndio, a razão social do grupo passa a ser Sociedade Civil Cultural Teatro Oficina, tendo como associados Fernando Peixoto, José Celso, Renato Borghi, Etty Fraser e Ítala Nandi.

           Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, estréia em 1963, e no ano seguinte, quando do golpe militar, o Oficina está em cartaz com essa montagem realista de impacto, cujo ponto alto são as interpretações, nascidas a partir das técnicas de Stanislavski, transmitidas ao grupo pelas aulas de Eugênio Kusnet. Voltando-se posteriormente para o pensamento de Bertolt Brecht, o grupo monta Andorra, de Max Frisch, em 1964, e Os Inimigos, de Máximo Gorki, em 1966, ambas direções de José Celso, que radicaliza a sua pesquisa artística. Em 1966, a sala é destruída por um incêndio. São feitas remontagens de antigos sucessos, para levantamento de fundos e reconstrução do teatro. Entre os intérpretes desse período sobressaem-se Célia Helena, Eugênio Kusnet, Miriam Mehler, Beatriz Segall, Betty Faria, Raul Cortez, Abraão Farc e Linneu Dias.

           Os frutos desses novos rumos se materializam em 1971, com Gracias,, Señor, obra de criação coletiva que faz emergir o Oficina Uzyna Uzona. A radicalização de linguagem proposta nesse novo trabalho possui contornos vivenciais, aprofundados na encenação seguinte, uma recriação autobiográfica de As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, 1972. Dessa nova formação, constam nomes como Esther Góes, Henrique Nurmberger, Luís Antônio Martinez Corrêa, Joel Cardoso, Cidinha Milan, Analu Prestes. Em 1974, José Celso é detido e exilado, trabalhando precariamente em Portugal, onde elabora e dirige o filme Vinte e Cinco, 1976. Após seu retorno ao Brasil, em 1979, concentra esforços em projetos que incluem novas linguagens. A década de 80 registra limitada ação do grupo, que apenas ministra oficinas, organiza leituras e eventos de curta duração.

           O Teatro Oficina contribui até os dias atuais para o panorama cultural brasileiro, pois foi nessa intenção que sua história se fez marcada por estudos, uso de técnicas, remontagens e releituras de Constantin Stanislavski, Bertold Brecht, Jerzy Grotowsky e Antonin Artoud, entre outros teóricos e autores de diferentes épocas e nacionalidades, incluindo os brasileiros.

           Quando o Tropicalismo, movimento de vanguarda brasileiro da década de 60, começa a influenciar diferentes grupos e artistas, o Oficina, com Zé Celso à frente, persegue uma cultura de resistência, combatendo a indústria da massificação, do comportamento pelo show business e da padronização do gosto.

           A representação do “Tropicalismo” se deu no Teatro Oficina com a estréia de O Rei da Vela, em 1967, atuada por outro fundador, Renato Borghi.

           O Manifesto Antropofágico, de 1928, de Oswald de Andrade, autor de O Rei da Vela, foi o que serviu de suporte para a estética tropicalista. Outros grupos de teatro seguiam paralelo à trajetória do Oficina com propostas parecidas em todo o Brasil, como: o Teatro de Arena em São Paulo, o Grupo Opinião no Rio de Janeiro, o Teatro Popular do Nordeste, em Recife, o Teatro de Equipe em Porto Alegre, o Centro Popular de Cultura da UNE e seus coligados em todo o País, entre outros.

           Em 1982, após muitos conflitos judiciais e ameaças de despejo, o prédio do Oficina, cuja arquitetura é da italiana, radicada no Brasil, Lina Bo Bardi, a mesma arquiteta do MASP-SP, foi tombado pelo Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico.

           Em 1991, José Celso retoma à cena em As Boas, de Jean Genet, em que atua ao lado de Raul Cortez e Marcelo Drummond, seu novo parceiro de trabalho, que o acompanha nas décadas seguintes, dividindo a gestão da nova fase do grupo. Volta a chamar a atenção com Hamlet, de Shakespeare, em 1993, a montagem reinaugura o Teatro Oficina. Fechado desde 1974, o Oficina é transformado numa “rua cultural”, pelo projeto de Lina Bo Bardi.

           A partir desses redimensionamentos, o grupo envolve-se com a produção de espetáculos, vídeos, filmes, músicas e DVDs. Nessa fase, a autoria das realizações é basicamente coletiva, embora a presença de José Celso continue galvanizando e centralizando os projetos. Além de Marcelo Drummond, alguns dos integrantes mais assíduos do grupo são Catherine Hirsh, Leona Cavalli, Pachoal da Conceição, Denise Assunção, Bete Coelho. As encenações de As Bacantes, adaptação coletiva do texto de Eurípedes, em 1996, e Cacilda, do próprio José Celso, em 1998, seguem a proposta de releitura e desestruturação os textos originais, em benefício da incorporação de material autobiográfico, seja dos integrantes ou do próprio Oficina, num aparentemente infindável movimento autofágico de ir e voltar às próprias origens. Em 2001, o grupo estréia a primeira parte de Os Sertões - A Terra, sonho antigo do diretor José Celso Martinez Corrêa de montar na íntegra o famoso poema de Euclydes da Cunha.

           De 2001 a 2007, o Teatro Oficina apresentou cinco capítulos de Os Sertões, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, e em muitas cidades brasileiras, assim como em Berlim, com extraordinário sucesso. Em especial, José Celso, com apoio da Petrobras, resolveu apresentar Os Sertões, em cinco dias e capítulos, cada um com mais de cinco horas, nas cidades de Quixeramobim, onde nasceu Antonio Conselheiro, e Canudos, onde se desenvolveu toda a sua saga. Tive oportunidade de assistir ao quarto capítulo ali, em Canudos, onde testemunhei o enorme interesse da platéia de aproximadamente mil pessoas, numa cidade de catorze mil habitantes, em grande parte estudantes, mas também os sertanejos, pessoas de todas as idades que vibraram com o espetáculo. Ali puderam perceber o interesse da história de sua cidade e de toda a saga de Antonio Conselheiro, contada por Euclydes da Cunha, em Os Sertões. Uma das características relevantes do elenco de Os Sertões foi o grupo de jovens adolescentes do bairro do Bexiga de São Paulo, que, com o Teatro Oficina, aprenderam a fazer teatro. Em cada lugar onde ia se apresentar o Teatro Oficina, como em Canudos e em Quixeramobim, ali eles interagiram com os jovens, pois José Celso convidou os jovens do lugar para participarem do elenco e aprenderam, então, a também fazer teatro. Estão de parabéns todos aqueles que participaram da bonita história do Teatro Oficina.

           Quero aqui concluir, Sr. Presidente, com uma conclamação ao empresário Sílvio Santos para que chegue a um bom entendimento com José Celso e com o Teatro Oficina com respeito a concordar que se possa completar o projeto da arquiteta Lina Bo Bardi e de se construir, na área tombada do seu entorno um verdadeiro espaço público de cultura, o Teatro Estádio, onde haja uma área verde, uma oficina de florestas, conforme assim denominou Caetano Veloso; que haja uma ágora do Oficina, conforme projeto de Paulo Mendes da Rocha, para ser feito em frente do Teatro Oficina - ali embaixo do viaduto. E fazer um teatro-estádio que tem o nome de Anhangabaú da Feliz Idade, e também que haja ali uma Universidade Popular.

           Eu espero que, no espírito do encontro que aconteceu por minha iniciativa quando Sílvio Santos visitou, pela primeira vez, por dentro, o Teatro Oficina, e ali foi tão bem recebido por todo seu elenco...estava presente Contardo Calligaris, psicanalista e escritor, que também muito estimulou aquele encontro em artigos na Folha de S. Paulo.

           José Celso e o elenco do Teatro Oficina estão convidando o próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que colabore nesse entendimento, no espírito, inclusive de que o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, tinha tanto propugnado. Espero que o próprio Ministro da Cultura que substitui Gilberto Gil possa, também, estimular o Presidente Lula, conforme ele próprio tem-me dito, a fazer isso.

           Sr. Presidente, eu aqui anexo a relação completa de todas as peças apresentadas pelo Oficina, desde 1958, durante todos esses 50 anos. Peça por peça, inclusive...

(Interrupção do som.)

           O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Completando então, Sr. Presidente, na produção extraordinária dos cinco capítulos de Os sertões - A Luta I; A Terra, O Homem 1, O Homem 2, A Luta 1 e A Luta 2 (conclusão). Também aqui registro as últimas peças, inclusive Os Bandidos, de Schiller; Vento Forte para um Papagaio Subir, de Cypriano & Chantalan, que foram apresentadas recentemente.

           Assim, Sr. Presidente, submeto à apreciação de V. Exª o requerimento de congratulações ao Teatro Oficina que, logo mais, às 21 horas, recebe os seus amigos e todos os que participaram. Sinto não poder estar por causa de atribuições que nós Senadores temos aqui.

           Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/2008 - Página 41980