Discurso durante a 200ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de aplauso à população de Manaus pelo transcurso do trigenstésimo trigésimo nono aniversário da criação da cidade. Análise da crise financeira mundial. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Voto de aplauso à população de Manaus pelo transcurso do trigenstésimo trigésimo nono aniversário da criação da cidade. Análise da crise financeira mundial. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/2008 - Página 41989
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), SAUDAÇÃO, POVO, CUMPRIMENTO, PREFEITO, VEREADOR, ESPECIFICAÇÃO, SECRETARIO, GOVERNO, ORGANIZAÇÃO, FESTA, COMEMORAÇÃO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, IRMÃ, ASSESSOR, ORADOR, MANIFESTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA.
  • ANALISE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, PREVISÃO, ALTERAÇÃO, INDICE, ECONOMIA NACIONAL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, OCULTAÇÃO, GRAVIDADE, PROBLEMA, ESPECIFICAÇÃO, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), APRESENTAÇÃO, DADOS, PREJUIZO, MERCADO FINANCEIRO.
  • APREENSÃO, PROBLEMA, BALANÇA COMERCIAL, REDUÇÃO, EXPORTAÇÃO, INSUFICIENCIA, VALOR, RESERVAS CAMBIAIS, PROMOÇÃO, ESTABILIDADE, NIVEL, CONFIANÇA, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, CRITICA, ANTECIPAÇÃO, DEBATE, FUNDO DE INVESTIMENTO.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso. ) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, eu requeiro voto de aplauso ao povo de Manaus pelo transcurso do 339º aniversário da criação da minha cidade. E peço que esse voto seja levado ao conhecimento do Prefeito de Manaus, Sr. Serafim Fernandes Corrêa, por seu intermédio, à Câmara de Vereadores e ao povo do Município. Mas peço a inclusão - e a minha Assessoria não colocou este nome - do Secretário de Governo, Professor Marcos Luiz de Souza Barros, Professor Marcos Barros, que deve também ele receber esta comunicação oficial do Senado pela belíssima festa que fez pelo aniversário de Manaus, num evento chamado Boi Manaus. Mais de 700 mil pessoas, Senador Mozarildo Cavalcanti, passavam por lá, todos os dias. E nunca menos de 150 mil pessoas, permanentemente, no evento. Nenhum incidente grave, uma festa belíssima, comovente, que me sensibilizou quando os fogos anunciavam que Manaus completava 339 anos de idade.

Do mesmo modo, Sr. Presidente, - e aí já com muita tristeza - voto de pesar pelo falecimento, em 18 de outubro último, de uma querida amiga, Srª Maria Adelaide Pereira de Souza Pietracci, que é irmã do meu prezado assessor, João Albino de Souza. Ela faleceu em Monza, na Itália. Ela é irmã do meu assessor de gabinete, Sr. João Albino Pereira de Souza, advogado, figura muito querida e conceituada no Estado do Amazonas.

Peço que esse voto de pesar seja, através do seu irmão João Albino e do Senado Federal, levado ao conhecimento de todos os familiares da Srª Maria Adelaide, minha prezada amiga falecida.

Sr. Presidente, aproveito o tempo que me resta para falar um pouco da crise econômica. Estava-me lembrando, Sr. Presidente, do tempo em que o Brasil recebeu o seu segundo investment grade e aí fiquei vendo algumas mudanças muito visíveis que se projetam para 2009, com dados, Senador Flávio Arns, que ainda são positivos, mas que precisam ser analisados com muita clareza, porque as previsões são mais sombrias, se olharmos com clareza o quadro que se desenha à nossa frente.

Eu suponho que certos indicadores serão rebaixados pelas análises concretas e conscientes que serão feitas ao longo dos próximos momentos. E vamos lá: eu devo dizer que os dados relacionados ao mercado financeiro já demonstram, evidenciam deterioração muito clara. Abro um parêntese para dizer que a fala de ontem, se não me engano de ontem - eu estou ainda um pouco atordoado por tanta eleição, tanta caminhada, tanta carreata, tanto corpo-a-corpo -, mas, se não me engano, foi ontem a fala do Ministro Guido Mantega, figura que eu prezo, figura doce. Porém, a fala beirou a irresponsabilidade, quando S. Exª diz que essa crise só tem efeito psicológico. Eu acho que está ultrapassada a hora de quem quer que seja no Governo brincar com a crise. O Presidente Lula não pode mais dizer que é uma marolinha, porque é um tsunami; o Ministro não pode mais dizer que é psicológico.

         Quando anunciada a medida provisória, supostamente sugerindo que os bancos poderiam ser estatizados - Senador Nery, não discuto a sua visão, nem a do meu colega e querido amigo Inácio Arruda; estou discutindo apenas que não há quebradeira de bancos no Brasil; na Inglaterra, estava havendo quebradeira de bancos -, qual foi o resultado? O impacto seguinte foi: pânico nas bolsas, dois circuit breakers, ou seja, duas interrupções que só acontecem em casos extremos, com prejuízos que vou tentar aqui relatar e que são palpáveis por todos nós. Vamos lá. Bolsa: queda de mais de 58%, desde a máxima do dia 20/05, quando o Índice Bovespa atingiu 73.500 pontos. Juros futuros: alta de 22,8%; contrato de janeiro de 2010, o mais negociado, que projetava taxa de 13,07% em 30/05 de 2008, já está em 16,04% hoje. O risco país estava em 178 pontos no dia 30/05, ou seja, registramos aí uma alta de 216%, quando comparamos com os dados de hoje: alguma coisa em torno de 563 pontos, basis points, sendo que, na sexta-feira, o índice ultrapassava 650 pontos.

Muito bem. Temos, agora, os dados recentes, saídos do forno, da balança comercial. No crescimento do ano, a balança registra um superávit de US$20,4 bilhões, de janeiro a outubro, o que é quase 50% menor do que o total do ano passado, que foi de US$40 bilhões. Então, o superávit poderá atingir algo em torno de US$23 bilhões, US$24 bilhões, US$25 bilhões neste ano, o que é muito aquém do ano passado. Se juntarmos a isso o fato de que há um déficit pesado em transações correntes, com a expectativa de que possa ser, na pior das hipóteses - torço para que não seja isso -, superávit zero de balança comercial no ano que vem, estaremos diante de um quadro complicado, ainda mais agravado pela crise fiscal. Venho aborrecendo os meus colegas há anos aqui, dizendo que o excesso de gastos correntes, o excesso de gastos com custeio plantam a semente - e, agora, está quase na hora de se fazer essa colheita tormentosa - de uma crise fiscal que só vem agravar o cenário brasileiro.

O Governo costuma dizer: “Temos reserva de duzentos bilhões”. Está na hora de informarem melhor o Presidente Lula. Isso é responsabilidade da área econômica. Aí o Presidente Lula repete, como se ter reserva de US$200 bilhões resolvesse todos os problemas do mundo: está com dor de cabeça, então tem reserva; está sentindo uma cólica, tem reserva; fulano de tal está com câncer, tem reserva. Não é panacéia. E nem foi mérito do Governo brasileiro, porque, pelas condições de bonança do mundo, Sr. Presidente, praticamente todos os países emergentes - posso ilustrar aqui com China e com Rússia - cuidaram de fortalecer suas reservas porque precisam fazer isso mais fortemente do que os países ditos desenvolvidos.

Então, não foi uma criação brasileira. Não é uma jabuticaba, uma coisa que só existe no Brasil. Foi assim no mundo inteiro.

Digo ainda, Sr. Presidente, que os impactos da crise já começam a ser sentidos. Se o Brasil crescer o que o mercado prevê - 3% no próximo ano -, 2% será pela inércia e 1% pelo dinamismo da economia. Ou seja, 1% é nada, não há dinamismo nenhum, e 2% são pela inércia, porque, se, neste ano, o País cresce um pouco mais do que 5%, deixa uma inércia de 2%. Aí a economia se movimenta, faz mais 1% e talvez bata em 3% - se bater - no próximo ano. Vamos esperar os próximos momentos, e eu torço para que bata pelo menos em 3%.

Mas, em 2010, nós não sabemos. Há uma interrogação aberta, e o Brasil precisa entender que o preço das commodities caiu e os produtos primários estão valendo menos, porque há menos demanda. Por isso, já temos problema de balança comercial à vista e estamos exportando menos, porque há menos demanda. Por outro lado, veremos que temos uma pauta de exportações que pouco difere da de anos atrás, inclusive quando comparamos os dados com os do governo passado. O volume do que se exporta é praticamente o mesmo. Os preços é que eram diferentes, porque a bonança internacional foi mal-aproveitada pelo Governo, mas foi incontestada. Era algo extraordinariamente importante.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Peço a V. Exª um tempo para concluir. Já estou concluindo.

Sr. Presidente, temo que os efeitos dos impactos da crise ainda sejam sentidos, provavelmente no primeiro trimestre de 2009, de forma mais aguda. E mais: o Governo brasileiro fala tanto, Senador Arns, em reserva de US$208 bilhões.

Pois a Rússia tem US$1 trilhão de reservas e, na última sexta-feira, foi colocada em posição de outlook negativo pela Standard & Poor’s, ou seja, não adiantou, para dar absoluta tranqüilidade à Rússia, essa reserva monumental de US$1 trilhão. A Rússia pode, teoricamente, ser rebaixada de posição em função da crise financeira e - algo que a coloca em posição inferior à brasileira, pois o Brasil é mais diversificado - tem uma dependência extraordinária em relação ao petróleo, o que não nos atinge do mesmo modo.

Então, nós temos dois Investment Grades. O Brasil é duas vezes Investment Graded. Ainda não sei o que vai acontecer com isso. O primeiro foi concedido pela Standard & Poor’s no final de abril, no dia 30 de abril, e eu recorro aqui ao Boletim Focus, do Banco Central, para me lembrar dessas datas, desses fatos. Eu quis retornar ao passado e dizer que até aquela euforia, em que parecia que o mundo ia ficar todo cor-de-rosa, que o Brasil é grau de investimento, era meramente o acompanhamento...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se V. Exª pudesse prorrogar por um pouquinho eu agradeceria, porque eu queria completar meu raciocínio. Esta é uma análise de certa forma significativa para nós começarmos o debate qualificado sobre a crise neste nosso retorno das eleições.

Como eu dizia, não é assim; e da tribuna eu disse: não é assim, é um processo. Foi um grande avanço, mas isso não quer dizer que amanhã, se não consertarmos a parte fiscal, por exemplo, o Brasil não recue.

Então, nós temos o déficit em conta corrente, temos o problema da balança comercial, temos ainda a inflação, que é projetada pelo dólar mais alto, e temos a taxa de juros elevada, que não sei se é fácil o Banco Central resolver. De repente, o Banco baixa brutalmente a taxa de juros, não sei se é isso que ele vai fazer, mas eu manteria como está, por cautela.

Sr. Presidente, encerro, dizendo que pretendo participar ativamente do debate com o Ministro Guido Mantega e com o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Pretendo retomar episódios, como aquilo que parecia uma grande conquista do Governo e que encantava todo mundo, e eu dizia: é absolutamente tolo se pensar em Fundo Soberano com o País com as contas que o Brasil apresenta, e sem ter, inclusive, na mão o petróleo que ele tem lá no pré-sal. Eu digo: é tolo se falar em Fundo Soberano. Agora o Governo já percebe que é tolo se falar em Fundo Soberano. Enfim, não acho bom ter estado certo, eu preferia ter estado errado, para que a euforia e o ufanismo do Governo estivessem hoje levando mais felicidade social para o povo.

         Tempos duros estão vindo, Sr. Presidente; juízo não vai fazer nenhum mal a quem dirige a economia deste País, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/2008 - Página 41989