Discurso durante a 206ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Regozijo pela vitória de Barack Obama para o cargo de Presidente dos EUA. Comemoração, hoje, do aniversário de 159 anos de Rui Barbosa.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.:
  • Regozijo pela vitória de Barack Obama para o cargo de Presidente dos EUA. Comemoração, hoje, do aniversário de 159 anos de Rui Barbosa.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2008 - Página 44202
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, GRADUAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, CIENCIAS POLITICAS, DIREITO, EXPERIENCIA, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, RECEBIMENTO, APOIO, DIVERSIDADE, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESPECIFICAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, COMPARAÇÃO, EXPECTATIVA, CANDIDATO, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), SUPERIORIDADE, CARGO ELETIVO, PREFEITO, LEGISLATIVO, AMBITO NACIONAL, ESTADOS, MUNICIPIOS, IMPEDIMENTO, MEMBROS, PARTICIPAÇÃO, DISPUTA, ANALISE PREVIA, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, ORADOR, CRITICA, ACORDO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, GOVERNO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, RUI BARBOSA, EX SENADOR, SUPERIORIDADE, IMPORTANCIA, HISTORIA, BRASIL, ATUAÇÃO, DEFESA, EXTINÇÃO, ESCRAVATURA, PROMOÇÃO, ETICA, JUSTIÇA, SOLICITAÇÃO, ORADOR, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, PRESIDENTE, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, DISCURSO, VULTO HISTORICO, JUVENTUDE.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo, dez é a nota que quero dar a V. Exª, dirigindo os trabalhos desta Casa.

Ontem tive a oportunidade, na calada da madrugada, ao aguardar o pronunciamento de Barack Obama, de assistir à reprise da TV Senado e ver que V. Exª dá grande contribuição à democracia ética e corajosa.

Srs. Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem aqui ou pela televisão, é muito oportuno começar com V. Exª. Daí a minha insistência em usar a palavra, porque esta Casa não podia se calar, justamente agora, no ressurgir da democracia.

Ontem, depois de ouvi-lo na reprise, percebi que V. Exª se transformou em um grande orador deste País - firme, sereno, tranqüilo. Como Che Guevara dizia: “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura”. Você não perde a ternura, mas tem sido muito firme. V. Exª é um grande valor do PSDB, não só do seu Estado - que é o único que ainda não conheço, e quero ir para dizer àquele povo do Amapá, de Macapá, o significado da sua presença aqui no Senado. V. Exª engrandece a Casa. Sei que lá há grandes e extraordinários Senadores, inclusive o ex-Presidente Sarney, que é um estadista, mas, mesmo diante das grandes representações do Amapá, V. Exª tem um brilho extraordinário nesta Casa.

Eu não poderia deixar de usar da palavra hoje. Ouvi, na calada da madrugada, a voz daquele líder dessa nova geração, Barack Obama, e quis Deus hoje ser consagrado também aqui, com aplausos do povo brasileiro, o Paim. Aliás, não sou da CAS, mas fui hoje para apoiar a luta do Paulo Paim, na Comissão dirigida pela Senadora Patrícia Saboya, para onde levou praticamente mil aposentados. Foi um quadro muito significativo para resgatarmos aqui uma coisa muito bonita.

Todos nós acompanhamos a política dos Estados Unidos. Está na hora, Paim, de aprendermos. Aprendermos mesmo. Não é feio, não! Eles nos antecederam na sua Constituição; eles nos antecederam na liberdade dos negros; eles nos antecederam na formação democrática. E ontem nós ouvimos o líder negro de lá. Que beleza de inteligência! Mas nós temos de aprender aqui, Senador Paulo Paim - eu no meu Partido, V. Exª no seu; todos os dois estão a dever ao Brasil e à democracia. O PMDB deve acabar com essa vaidade de que fez o maior número de Vereadores, o maior número de Prefeitos, Deputados, Senadores; e o PT, o Partido dos Trabalhadores, também. Ambos os Partidos, que representamos com grandeza, devem seguir o que disse Barack Obama: “change”, mudança. Está aí o Senador Mário Couto. Mudança! Olhe como nós escolhemos os nossos candidatos. Que vergonha! Senador Paulo Paim, que vergonha!

O nosso Luiz Inácio diz:: “Vai ser a Dilma”. Isso não é assim... Está aí o Paim. É uma luta! É igual ao Luiz Inácio. Aliás, acho que o Luiz Inácio tem uma inveja do Paim, porque o Paim tornou-se grande. É preciso saber a origem. E eu sei. Sabe como? Vai ter a vigília aqui, que V. Exª vai fazer. Só não quero no Natal. O Natal é da família, e eu já tinha me comprometido com a minha Adalgisa, meus quatro filhos e sete netos. É uma festa de família. Mas, hoje, ele ensaiou que está disposto a fazer uma vigília aqui, no Natal, pelos aposentados.

E por que o Paim e o Luiz Inácio se parecem? E por que o Luiz Inácio está errado? E por que o PMDB está errado?

Os norte-americanos ensinaram ontem. Atentai bem! Não sei quem, uma mulher, Dilma candidata. Que mérito! Essa mulher já foi ao menos Vereadora, já foi Deputada, já foi Prefeita? Rapaz, não é assim, não. Tem que ser como nos Estados Unidos. O Barack Obama passou 22 meses em campanha. Ô Mário Couto, obstinado. Ô Luiz Inácio, ali é exemplo para todos nós. Ele foi buscar sabedoria no estudo. Duas formaturas: Ciências Políticas e Sociais, tipo Fernando Henrique; e Direito, tipo Rui Barbosa. E aquela inteligência... Ô Mário Couto, V. Exª é um grande orador, mas o Barack Obama ontem ganhou de V. Exª. Eu o ouvi de madrugada. Aquilo é uma inteligência, e não é ao acaso. Paim, ele, obstinado, dedicou-se ao saber, ao estudo. Primeira formatura em Ciências Política e Sociais, tipo Fernando Henrique; a segunda, Direito, tipo Rui Barbosa, em Harvard; Senador da República. E por que não temos coragem de nos lançarmos candidatos à Presidência, Paim? Por que esse PMDB não me dá o direito de fazer as primárias e eu disputar? Por quê? Os donozinhos de partidos... Foi a maior vergonha que vi na história do PMDB, este que está se vangloriando. Este PMDB cresceu, e eles não sabem nem como. Garotinho e Rigotto aproximaram-se do povo, foram para as prévias, as primárias dos Estados Unidos. Lá no Piauí, para termos isso, tivemos que enfrentar polícia. Impede-se o povo de ouvir os seus candidatos. Houve um imbróglio louco. Garotinho venceu, não teve o maior número no País, mas fizeram as regras. Depois, acha que recebeu os ataques da imprensa, greve de fome e tal. Atentai bem, a vergonha, ô Papaléo. Papaléo saiu do PMDB, e eu fui. Depois daquele imbróglio, surgiu e foi aclamado no recinto fechado do PMDB, que está a dever à democracia. Acabou. Quem contribuiu foi lá a geração de Ulysses, que está encantado no fundo do mar; do Teotônio Vilela, moribundo, com câncer aqui, “resistir falando e falar resistindo”; Tancredo, que se imolou; Juscelino, cassado; mas esta atual... Atentai bem! Então foi aclamado. Ô Paim, naquele imbróglio, Rigotto, Garotinho, PMDB e as lideranças do País todo aclamaram Pedro Simon para ser candidato. Fechado: Pedro Simon. Olha aí o que estão a nos dever. Aclamado ali no Auditório Petrônio Portella, e Pedro Simon agradece, aceita e diz: “Eu aceito e quero meu vice o Mão Santa”. Cirurgião, eu disse: “Pedro, Pedro, Platão disse ‘seja ousado cada vez mais, mas não em demasia’. Já está um rolo aqui. Garotinho recuou, foi nobre, foi grande, foi um estadista. Mas, Pedro, a gente tem que colocar o Garotinho seu vice, porque já está...” Não é, Mário Couto? Seja ousado. Eu me inspirei em Platão. Não é que eu estava fugindo; seria a maior honra e a maior glória ser vice de Pedro Simon. Não era? Já estava feita a minha biografia, entendeu, Paim? Fomos para a Executiva. Que vergonha! Pedro Simon perdeu ou não o deixaram ser candidato. Pedro Simon foi impedido. E botaram um para, com palavras ofensivas, inibir Pedro Simon, humilhar Pedro Simon. É o meu Partido.

E o seu, Paim? Por que não lhe dão o direito de ser lembrado? V. Exª que enfrentou o Luiz Inácio em São Paulo, na CUT. Luiz Inácio Presidente e V. Exª disse: “Se o Rio Grande do Sul não participar, não tiver um membro, nós nos retiraremos”. E se retirou. Aí o Luiz Inácio foi atrás do Paim, e o Paim foi Secretário da ONU.

Por que o Partido dos Trabalhadores não procede melhor do que o meu PMDB? Chame, no seu Rio Grande do Sul, Paim ou a mulher. Paim, um trabalhador; Paim, o que luta; Paim, o que defende os aposentados, o salário mínimo, os idosos; Paim que é Senador da República como Barack Obama.

E o seu também? Por que Mário Couto, que traz o melhor do Pará na oratória, na firmeza, na coragem e na luta, não é chamado para participar das primárias, das prévias? E Arthur Virgílio, do seu Partido, Papaléo? É isso.

Ô Paim, vamos modificar essa história! E nós já vamos começar aqui. Aqui!

Hoje é aniversário de Rui Barbosa. Por isso a minha vinda e a minha insistência, porque esta Casa não poderia deixar - hoje ele completaria 159 anos - passar em branco.

Cento e oitenta e três anos tem este Senado da República. É o melhor da história do Brasil. Aqui o povo jogou flores quando Rui Barbosa e outros fizeram a lei para a mulher Isabel sancionar libertando os Barack Obamas, libertando os Pains, os Mandelas, que enriquecem a democracia. Então, foi Rui Barbosa. O meu motivo é esse.

Ô Mário Couto, sabe o que ele nos ensinou? Um homem que não luta pelos seus direitos não merece viver. Então, vamos começar logo aqui, no Senado. O Senado é grande porque sempre o foi. O Senado foi uma inspiração divina. O Poder Judiciário acha que é inspiração divina porque Moisés recebeu as leis e Jesus disse “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Nós somos divinos porque, quando o líder maior de Deus quis desistir, Augusto Botelho, ouviu a voz: “Busque os mais velhos e eles o ajudarão, Moisés, a carregar o fardo do povo”. Essa era idéia divina, os mais velhos.

Aí nasceu na Grécia, melhorou. E na Itália do Renascimento, bradava Cícero, que falava assim: “Pelo Senado e o povo de Roma”. Eu falo, eu posso, nós podemos dizer “o Senado e o povo do Brasil”; nós que salvaguardamos essa democracia. Assim sempre foi. Para nascer a República, para libertar os negros, enfrentar a ditadura. Eu vi, um homem do Piauí; quando os canhões adentraram aqui, eu estava ao lado de Petrônio Portella. Houve uma reforma do Judiciário, e os canhões fecharam aqui. A imprensa, Papaléo, foi a Petrônio, entrevistaram-no e ele disse só uma frase: “É o dia mais triste da minha vida”.

Nós somos o povo. Ulysses disse: “Ouça a voz rouca das ruas”. É o povo. Nós somos o povo. Somem os votos aqui. Se somarmos - e eu já fiz essa operação -, veremos que dá mais do que os votos do Presidente da República Luiz Inácio. Nós somos o povo. Então, Rui Barbosa nos ensinou isso. Quando nasceu o governo do povo, pelo povo, para o povo, com cem anos de demora, nasceu aqui, e quiseram os militares continuar. E esse aí - lá no Piauí, no Nordeste, a gente chama de “pai-d’égua” um cabra macho - se virou para os militares, para o Deodoro, para o Floriano e para o Hermes da Fonseca e disse: “tô fora”. Aí, deram a ele de novo, Augusto Botelho, o Ministério da Fazenda. Agora, estão-se vendendo por qualquer porcaria, por qualquer DAS. Mas ele disse: “Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério”. Isso nós temos de aprender do PMDB. Nosso Rui Barbosa nos ensinou, e eu venho lhes trazer.

E acho, e entendo que o meu amigo Professor Cristovam Buarque deve reeditar e dar a todo brasileiro, a todos, ao jovem, à mocidade... Rui Barbosa, ô Mário Couto, no fim de sua vida, ele, por 32 anos no Senado, quase todo o tempo na oposição. Governo é coisa velha, antiga. Até os homens da caverna já tinham. A oposição é da modernidade. Por isso é que nós estamos aqui. Foi na Oposição, nesta tribuna, que Afonso Arinos, para mostrar a força do Senado, disse... Getúlio, estadista bom, mas envolvido naquele crime que Gregório Fortunato planejou. E aqui estava Afonso Arinos, esse que fez a Constituinte, que foi o ícone que comemoramos - a propaganda e a publicidade diziam que tudo estava bem. Para ver o que vale o Senado daqui, disse Afonso Arinos: “Será mentira a viúva? Será mentira o órfão? Será mentira o mar de lama?” E Getúlio, o bondoso estadista, teve de fazer aquela carta de despedida.

E este é o Senado de Rui Barbosa. E queria aqui que o Cristovam Buarque, que dirige tão bem a Comissão de Educação e Cultura, de que faço parte, entregasse a todos os brasileiros e brasileiras o último discurso de Rui Barbosa. Ele, homenageado e convidado para paraninfo, já em idade avançada, não pode comparecer e pediu a um colega que lesse “Oração aos Moços”. Então, é esse o erro, Paim. E caminhava... Tião, Tião, você já leu “Oração aos Moços”?

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Senador Mão Santa, permita-me: vou conceder a V. Exª um minuto para que conclua o seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em um minuto, Jesus fez o Pai Nosso e nos leva ao céu. E quero levar o Brasil a melhores caminhos.

Atentai bem, e ele ensina o estudo e o trabalho. É aquilo que o Barack Obama dizia: “Nós podemos”. Mas nós podemos com os passos e as pernas no estudo e no trabalho, e não distribuindo esmola e deixando um povo à toa, sem esperança.

Para terminar essa homenagem a Rui Barbosa, eu apenas usaria suas palavras, muito atuais para o dia de hoje:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Parece que ele escreveu ontem. O dia de hoje está aqui enquadrado. Mas, inspirado no grande líder que surgiu ontem, das Américas e do mundo da democracia, ele dizia: “Nós podemos”.

Papaléo, nós podemos! Eu sei. Eu sei que passou Rui Barbosa, mas que fiquem em nossa mente os ensinamentos. E, com as bênçãos de Deus, possamos rezar. Nós podemos, por meio de exemplos como Rui Barbosa, fazer esta Pátria crescer e florescer por intermédio do estudo e do trabalho, para riqueza e prosperidade de todos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2008 - Página 44202