Discurso durante a 206ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise de fatos ocorridos nas eleições municipais no Rio de Janeiro, com críticas ao jornal O Globo e ao instituto de pesquisas Datafolha, e apelo ao Tribunal Regional Eleitoral.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Análise de fatos ocorridos nas eleições municipais no Rio de Janeiro, com críticas ao jornal O Globo e ao instituto de pesquisas Datafolha, e apelo ao Tribunal Regional Eleitoral.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2008 - Página 44257
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • DENUNCIA, CONDUTA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ELEITOR, PREJUIZO, ORADOR, CANDIDATO, PREFEITURA, CAPITAL DE ESTADO, DIVULGAÇÃO, ERRO, INFORMAÇÕES, ESPECIFICAÇÃO, CONEXÃO, MEMBROS, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO REPUBLICANO BRASILEIRO (PRB), TRAFICANTE, FAVELA, MILICIA, PROVOCAÇÃO, EXCESSO, ABSTENÇÃO, POPULAÇÃO, PRIMEIRO TURNO, SEGUNDO TURNO.
  • DENUNCIA, DESCUMPRIMENTO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DECISÃO JUDICIAL, RETRATAÇÃO, DESMENTIDO, ACUSAÇÃO, ORADOR, DEMONSTRAÇÃO, INTERESSE, PREJUIZO, CAMPANHA ELEITORAL, MANIPULAÇÃO, RESULTADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, PARTICIPAÇÃO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, RECONHECIMENTO, AMBITO NACIONAL, PROMOÇÃO, ADVERSARIO.
  • DEFESA, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, ERRO, INFORMAÇÕES, PREJUIZO, CAMPANHA ELEITORAL, ORADOR, PREFEITURA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GARANTIA, LEGALIDADE, DEMOCRACIA, LIBERDADE, VOTO, CRITICA, OMISSÃO, JUDICIARIO.
  • AGRADECIMENTO, ELEITOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, senhoras e senhores que nos honram com suas presenças neste plenário, hoje, passado o tumulto das paixões e superada a luta movida pelos interesses eleitorais, venho trazer meu depoimento pessoal e denunciar, Sr. Presidente, as trágicas ocorrências verificadas na eleição para Prefeito da cidade do Rio de Janeiro.

Nunca se viu, nem se podia imaginar que um dia ocorresse um ataque tão brutal, tão vil, como o de que foi vítima meu Partido. Foi a mais impiedosa campanha já movida contra uma candidatura pelo jornal O Globo, que, desrespeitando a lei e desacatando decisões do Tribunal Eleitoral, promoveu, Deus sabe com que intenções, escandalosa manipulação da opinião pública, contribuindo decisivamente para que as eleições terminassem num melancólico crepúsculo, com oitocentos mil eleitores - algo inédito - abstendo-se de ir às urnas no primeiro turno e com quase um milhão de eleitores abstendo-se no segundo turno. Certamente, grande parte desses eleitores ficou desalentada por constatar, estarrecida, tamanha interferência ilegal e imoral de um jornal no processo eleitoral.

Não quero ser fastidioso e nominar, uma a uma, as notícias que, diariamente, ao longo de três meses de campanha, procuraram denegrir minha imagem, deturpar minhas palavras, desconstruir nossa aliança partidária, minar os apoios e, sobretudo e principalmente, conduzir a opinião pública a uma posição de rejeição automática, robotizada e neurótica às nossas propostas.

Limitar-me-ei a assinalar, Sr. Presidente, a título de exemplo, apenas uma dessas notícias. O jornal O Globo noticiou, durante a campanha, em matéria de capa e em diversas edições, que os candidatos a Vereador Claudinho da Merendiba, Claudinho da Academia e Deco, de Partidos da nossa coligação, além de serem ligados a bandos criminosos, possuíam extensa ficha criminal. Era falso. Hoje, mais uma vez, venho a público para desmascarar esse gesto de mediocridade moral e intelectual que repugna a consciência democrática carioca e que se constituiu numa trama mentirosa e cerebrina, cavilosamente urdida e destinada a apontar ao povo minha suposta ligação com milícias e com traficantes. Isso já havia sido tentado por ocasião do trágico incidente envolvendo um oficial do Exército e três jovens que culminou no bárbaro e lamentável crime que estarreceu a todos no Morro da Providência.

É assim, Sr. Presidente, que eles se monstrificam, instituem o jornalismo onipotente para agredir e aviltar, sem saber harmonizar os impulsos da liberdade com os imperativos da ordem, da decência e da lei: a garantia constitucional de liberdade de informação jornalística com outra que a antecede e que a ela se sobrepõe, que é a garantia à dignidade humana, fundamento moral da democracia e atributo sagrado do mundo civilizado.

Os candidatos escandalosamente caluniados pelo O Globo, na sanha desvairada para denegrir minha candidatura, não respondiam nem respondem a qualquer processo, não eram indiciados, jamais foram processados e muito menos condenados.

Os algozes do jornal, cegos pelo ódio e afoitos na orgia histérica, na precipitação ensandecida, na motivação de mais uma investida insensata para detratar a honra alheia, não apuraram corretamente as informações e acusaram pessoas homônimas, imputando a inocentes a pecha de criminosos, com a desfaçatez dos irresponsáveis, valendo-se de matérias jornalísticas descabidas e oprobriosas.

Srªs e Srs. Senadores, esse é apenas um exemplo. O caso foi levado de pronto ao Tribunal Eleitoral, que condenou o jornal a publicar a mesma foto, na mesma página, no mesmo dia da semana, para desmentir a notícia infamante. Ainda assim, o jornal não cumpriu a ordem judicial.

Ora, se provado estava que a notícia era falsa e se a missão de um jornal deve ser, em respeito aos leitores e à Constituição, o de total compromisso com a verdade que as circunstâncias possibilitem apurar naquele momento, por que, pergunto, não cumpriram a sentença e resgataram a verdade? Eu mesmo respondo: porque, senhoras e senhores, o interesse não era o de informar, mas o de manipular o resultado das urnas.

Assim foram todos os dias do período eleitoral: um acender incessante de fogueiras. Citei apenas uma notícia, uma entre tantas outras, já que todas as letras de cada palavra, todas as palavras de cada frase e todas frases de cada artigo a meu respeito vinham, invariavelmente, escorrendo a baba envenenada do ódio. É justo indagar: onde está a origem desse estranho rancor, desse ódio imbatível, dessa incansável e implacável determinação de me perseguir a qualquer preço, mesmo que isso cubra, mais uma vez, com a lama da desonra pública, com a vergonha da mentira por fim desmascarada, esse jornal faccioso e inimigo jurado do meu mandato, diante de uma atônita e constrangida opinião pública?

Novamente, a verdade dos fatos infringe derrota a esses indignos que denigrem o padrão intelectual, a honra e a tradição da imprensa da nossa terra. Agindo dessa forma, não apenas atentam contra mim, mas praticam também o esbulho acintoso e ultrajante do direito do povo de participar de um processo eleitoral escoimado do entulho de mentiras e de decidir seu destino por intermédio do sufrágio universal, direto e secreto.

E vou além, sinto-me no dever de dirigir uma palavra aos algozes, que atendem pelo nome de Rodolfo, editor-chefe, de Ancelmo Góes, de Ana Paula e de Mariana Freitas, das editorias, desinibidos detratores da dignidade alheia, para informá-los de que prosseguirei sob a inspiração dos meus ideais na luta pela redenção do nosso povo, sobretudo os mais pobres.

Subo e continuarei subindo os morros rumo às comunidades carentes do Rio, como exercício da minha cidadania e direito inalienável da minha liberdade, sem ter de pedir permissão ao tráfico ou à milícia, que não reconheço, não respeito e não temo. Faço isso por dever imposto pela minha vocação de servir, que se traduz no idealismo e na renúncia que me levaram a me dedicar à Pátria por oito anos como soldado e ao meu próximo, por quase dez anos, nas terras longínquas do vasto território africano. E, com a mesma devoção e empenho, há seis anos, estou no exercício do mandato parlamentar. A mente depravada na impiedade, no egoísmo, na mentira e na injustiça pode não compreender, mas, a serviço do povo, a própria vida é o que menos conta.

Como se tudo isso não bastasse, verificando o jornal que todos os institutos de pesquisa confirmavam nosso nome no segundo turno das eleições, aqueles personagens corvinos resolveram alugar um instituto de pesquisa, até então conhecido como sério, para o conluio do golpe derradeiro. O Instituto Datafolha, às vésperas da eleição, divulga resultado de pesquisa com abissal discrepância dos demais institutos, muito acima da margem de erro admitida, promovendo meu adversário a uma situação de empate técnico, numa descabelada operação para manipulação do resultado das urnas.

Aquele instituto que se achava sério e que tinha o respeito dos eleitores e dos candidatos muda descaradamente, a gosto de seu marioneteiro, e infla maliciosamente os percentuais de eleitores com nível superior de educação e renda familiar, com o simples intuito de prejudicar nossa candidatura. Era a fagulha para coagular a rejeição urdida nos meses de noticiário infamante. A falsa pesquisa teve seu resultado divulgado de modo inédito, com estrondoso alarde, na capa dos jornais, nos noticiários das rádios e nos programas de maior audiência da tevê, todos órgãos do sistema Globo, tudo isso com o fragoroso estrondo de uma trombeta apocalíptica.

Era o fim, Sr. Presidente, de uma campanha que o PRB e seus aliados empreenderam com altivez e com incansável denodo, superando a falta de recursos, de tempo de televisão e de rádio, de material gráfico e publicitário, mas compensada por uma militância voluntária, devotada e fiel que, superando todos esses obstáculos, percorreu aquele campo minado em que se transformou a campanha eleitoral do Rio com a fibra de um gladiador. Só não contávamos com tamanha falta de responsabilidade, de compromisso com a verdade, de respeito ao povo. Esse caso do Datafolha ultrapassa os limites do bom senso e da lisura e precisa ser investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso Nacional. Detesto o arbítrio e a truculência e estou entre os que mais sofrem com isso, mas é preciso investigar, apurar, quebrar sigilos, legislar e prevenir futuras iniqüidades, para garantir o sacrossanto exercício constitucional do voto, princípio fundamental de uma sociedade moderna e de um Estado Democrático de Direito.

Ao Tribunal Regional Eleitoral apelo por providências. Nada mais desalentador do que o silêncio dos homens da lei diante dessa odiosa e desavergonhada campanha de injúrias, de infâmias, de calúnias e de insultos promovida pelo jornal contra nossa candidatura. Tais fatos estão provados em levantamentos publicados pelo Iuperj e constatados até por adversários políticos, como no ex-blog assinado pelo Prefeito César Maia.

Nada conspira mais contra as esperanças do nobre e generoso povo brasileiro, na sua imensa maioria pobre, humilde e ordeiro, do que uma Justiça que atua com morosidade, um Tribunal agachado, reticente, dócil e hesitante diante dos poderosos. Mercê de Deus, não seja esse jamais o caso do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro!

Por isso, apelo aos nossos magistrados, para que cumpram seu dever. Examinem os autos, meditem, reflitam, julguem à luz das leis e decidam com inabalável e elevada moral, inspirados nos ideais de Rui Barbosa, que nos alertou, com lição imortal, sobre os perigos da violência, da insensatez, do arbítrio e, sobretudo e principalmente, do horror a todas as formas de tirania, que extravasam sempre na intolerância, na opressão, na truculência e na calúnia! Restituam a lisura e a ética ao processo eleitoral, a justiça aos condenados sem culpa, a liberdade aos que querem trabalhar e levar ao povo suas propostas políticas, sem as agressões da prepotência e da intolerância!

Devo dirigir-me também aos cariocas, primeiro para lhes agradecer os mais de 600 mil votos que recebi e que tanto honraram e engrandeceram nossos Partidos; segundo para lamentar ter de lhes expor aos constrangimentos da divulgação desses fatos. Mas, como representante legítimo da minha terra, eleito pela soberana vontade do povo na sentença das urnas, não me posso permitir, diante da afronta dos poderosos, abaixar a cabeça e me intimidar, para que, amanhã, defronte da coação de outros poderes, eu possa estar à altura de defender seus legítimos e justos anseios, pelos quais empenhei minha honra, no juramento sagrado do meu mandato.

Sr. Presidente, ao encerrar essas palavras, ergo os olhos aos horizontes sem fim da esperança, para reafirmar minha fé nos destinos do meu País. Dizia Adenauer que a maior virtude que Deus pode dar a um homem público é conferir-lhe couro de elefante.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Camata...

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Já lhe concederei o aparte.

Quero superar mágoas e esquecer ressentimentos, para me concentrar em me engrandecer servindo o povo.

No segundo turno, apoiei o candidato vitorioso do PMDB, por entender que a causa do Rio não requer intransigência ou radicalismo, mas coragem e humildade para construir o futuro. Sei que se trata de tarefa ingente, que irá requerer a consagração de toda a nossa energia, num devotamento sem restrições, para atender os anseios legítimos e justos do nosso povo e devolver à cidade os encantos que a fizeram conhecida como a Cidade Maravilhosa.

Senador Mão Santa, V. Exª me promove ao me chamar de Camata, mas continuo sendo o Crivella. Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Crivella, V. Exª pode fazer suas as palavras do maior líder cristão, o apóstolo Paulo: “Percorri meu caminho, preguei, guardei minha fé e combati o bom combate”. Nesse negócio de eleições, Cristo ali perdeu para Barrabás, Rui Barbosa perdeu duas vezes e, numa delas, deu o maior ensinamento. Quiseram corrompê-lo, e ele disse: “Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério”. Penso que o maior líder da história do mundo foi Winston Churchill, político, que viveu duas guerras; quando ele venceu a segunda guerra, durante a qual nasci, ele perdeu as eleições na Inglaterra. E V. Exª está como Rui Barbosa e como Winston Churchill: pode ter perdido as eleições, mas não perdeu a dignidade e a vergonha. V. Exª é um dos maiores valores políticos não só do Senado, mas da democracia brasileira.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado. Agradeço a V. Exª, Senador Mão Santa.

Sr. Presidente, muito obrigado pela tolerância com o tempo.

Eram essas as minhas palavras.


Modelo1 9/1/2412:22



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2008 - Página 44257