Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a crise financeira internacional e seus reflexos na economia brasileira.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Reflexão sobre a crise financeira internacional e seus reflexos na economia brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2008 - Página 40976
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, LUTA, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • APREENSÃO, EFEITO, BRASIL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, NECESSIDADE, ATENÇÃO, AUTORIDADE, PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO, COMENTARIO, PREJUIZO, EMPRESA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ANTECIPAÇÃO, ENTRADA, DOLAR, PERDA, ALTERAÇÃO, CAMBIO.
  • COMENTARIO, OCORRENCIA, MUNICIPIO, JOINVILLE (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), REUNIÃO, BANCADA, SENADOR, ENTIDADE, INDUSTRIA, COMERCIO, EMPRESARIO, PREFEITO, REGIÃO, DEBATE, EMENDA, PROJETO DE LEI ORÇAMENTARIA, REGISTRO, VANTAGENS, VALORIZAÇÃO, DOLAR, COMPETIÇÃO INDUSTRIAL, EXPORTAÇÃO, PRODUTO TEXTIL, MOVEIS, CALÇADO, PREVISÃO, POSSIBILIDADE, GOVERNO, PRESERVAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, CRISE.
  • IMPORTANCIA, PROVIDENCIA, GOVERNO, PROTEÇÃO, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, INDUSTRIA NACIONAL, EFEITO, CRISE.
  • COBRANÇA, GOVERNO, FISCALIZAÇÃO, BANCOS, OFERTA, CREDITOS, RECURSOS, ORIGEM, LIBERAÇÃO, DEPOSITO COMPULSORIO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, que novamente preside esta sessão. Todos, não só do Piauí, mas do Brasil, o acompanham com muita atenção.

Serei breve. Mas V. Exª fala do nosso Partido, dos altos e baixos por que naturalmente passamos - quem não passa por isso? Sempre tenho dito isso, inclusive quando Governador, quando enfrentávamos mais greves. E quem não as tem enfrentado? Entre tapas e beijos - às vezes, mais tapas do que beijos -, a vida tem que ser levada. E assim nosso Partido e o Brasil também têm subido e descido. Eu nunca me esqueço das vitórias do nosso Partido, de Ulysses Guimarães, quando Deputado Federal, nos idos de 1983 a 1985. Tive a honra de ser Secretário da Executiva Nacional do Partido. Nessas caminhadas todas - e V. Exª muito frisou que ficamos em primeiro lugar nestas eleições, na competição nacional -, entre altos e baixos, sempre vale a pena a luta. E a luta continua. É um dos slogans do nosso partido.

Mas, Sr. Presidente e nobres colegas, para a reflexão: hoje, nos últimos dias, nas últimas semanas, estamos analisando o assunto que predomina, que é o que vem ocorrendo nos Estados Unidos e que começou com quebradeiras, por assim dizer, não apenas nos Estados Unidos, mas na Europa e no mundo. A situação vem abalando, vem preocupando e alertando as autoridades nacionais. No Brasil, também entrou essa preocupação. Estamos aqui com o País emergente, mas também entrou essa preocupação. E medidas estão sendo tomadas, umas no compulsório, para ir liberando... Outros têm afirmado que não haverá problemas no Brasil, mas eles estão chegando. Muitas empresas estão com um pé atrás e outro à frente. Inclusive várias empresas do meu Estado, Santa Catarina, que haviam programado alguns investimentos, estão parando, porque dizem que estamos viajando em um automóvel numa cerração muito densa, e não há como levantar a luz; temos que andar com luz baixa, pois não há uma visibilidade melhor. Não podemos ver além do horizonte. Essa é uma preocupação dos empreendedores.

E há uma preocupação não apenas de empreendedores, mas de homens públicos também, com os pés no chão, em relação a orçamentos que se elaboram, tanto na questão federal, como estadual ou municipal. E mesmo em orçamentos familiares. Todos pensam em como agir diante dessa expectativa que clareia, dessa cerração que se levanta e some, para termos uma visão maior do que ocorre. Mas, ao lado de tudo isso, para uns é prejuízo. Conheço várias empresas, até do meu Estado, que anteciparam a entrada de dólares, compraram acreditando que o câmbio com relação ao dólar permaneceria em torno de R$1,60, R$1,70, R$1,65, nessa base, mais ou menos, e praticaram aquela espécie de ACC, quer dizer, muitas delas às vezes acreditando que, como havia crédito, receberam esse dinheiro e aplicaram em derivativos aqui no Brasil, internamente, e agora, com essa alteração que houve no mundo, com a apreciação do dólar, várias passam por dificuldades.

Por outro lado, Sr. Presidente, veja como são as coisas, até parece que existe ação e reação; para toda ação existe uma reação. Ainda ontem, em meu Estado, na cidade de Joinville, considerada a Manchester catarinense, em reunião ontem à tarde em que estavam presentes os três Senadores por Santa Catarina - a Senadora Ideli Salvatti, Coordenadora do Fórum Catarinense, e o Senador Neuto de Conto, Presidente da Comissão de Agricultura do Senado Federal - e vários Deputados Federais que compõem o Fórum Catarinense no Congresso Nacional, uma reunião da Associação Comercial e Industrial de Joinville - ACIJ. Lá compareceram empresários, prefeitos, não apenas de Joinville, como da região norte catarinense, para debatermos em conjunto perspectivas para o ano que vem. Debatemos as emendas, o Orçamento para o ano que vem. O que é que o Fórum Catarinense pode propor? O que é mais fundamental para a região? Assim, o Fórum está realizando reuniões na região de Blumenau, da Serra, em Lages, do oeste catarinense, na região sul, no litoral, enfim, em todas as regiões, debatendo perspectivas para o ano que vem.

Ontem à tarde, em Joinville, ouvindo os diversos setores, diversos empresários, de um certo modo, até me surpreendi. Em alguns casos, há um mal que vem para bem. Alguns empresários do setor têxtil, por exemplo, o setor de malharia, que é muito forte em Blumenau, em Joinville, Jaraguá, Guaramirim disseram: “Nós que não fizemos ou praticamos o ACC, que estávamos exportando na base de R$1,50, R$1,60, R$1,70, vínhamos sofrendo problemas de concorrência no mundo”. Era difícil concorrer, por exemplo, com a importação de produtos da mesma área do Japão ou da China, principalmente; era difícil concorrermos internamente. Com a atual apreciação do dólar, que foi a R$2,00, R$2,10 nessa base, mais ou menos, a situação está melhorando. Estão respirando com alívio. E não só o setor têxtil, malharia. Tive a honra de ouvir também alguns empresários do setor de móveis.

O setor de móveis não depende muito de material importado, pois tem a matéria-prima produzida aqui no Brasil. E há muitas indústrias em São Bento, Rio Negrinho, a região do oeste e outras regiões de Santa Catarina. Com a atual apreciação do dólar, com a valorização do dólar em relação ao real, indo para R$2,00, R$2,10, mais ou menos, há melhores condições de competição. Estão respirando melhor. Quer dizer, elas mesmas têm nos informado a esse respeito.

O setor de calçados, que é a região de São João Batista, uma região que produz muito calçado, também vinha sofrendo muito. E poderia falar da região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul: Novo Hamburgo, aquela região toda, Igrejinha, Dois Irmãos. Uma grande área. Mas cito o exemplo catarinense de produção de calçados. E vale para o Brasil. Franca, e assim por diante. O setor exportador que não depende de matéria-prima importada começa a respirar.

Vejam como são as coisas. Setores como o do agronegócio, o de carnes, que exportam e que não haviam praticado o ACC, que não haviam fechado compromissos para o futuro também começam a respirar.

Eu apenas queria fazer a análise de que alguns setores. Como para toda ação existe uma reação, alguns setores respiram melhor. E até dizem que, se o dólar permanecer na faixa de R$2,00, haverá condições de competir melhor com o mundo. Mas, como estava, em torno de R$1,50, R$1,60, importava-se muito, o que eliminava empregos aqui dentro. Havia uma concorrência desleal.

E estávamos perdendo emprego porque as nossas fábricas não podiam competir. Aí, deixavam de produzir, porque o importado era mais barato e não havia condições de competir.

Por isso, diria que, hoje, se o Governo cuidar e se as empresas nacionais que têm matéria-prima produzida aqui exportarem, elas terão condições de competir. Ficou melhor. Agora, aquelas que precisam de matéria-prima - tem de entrar matéria-prima para cá - para terminar o produto, que têm de agregar isso ao valor dos produtos para depois exportar, essas sentem mais dificuldade. Depende do percentual de participação.

Em que o Governo poderia participar? Qual é a função do Governo? Na hora de entrar o equipamento - vamos supor um equipamento a fabricar que não tem similar no Brasil; não há condições, precisamos buscar o equipamento importado -, com a valorização do dólar, torna-se mais caro. O que o Governo poderia fazer? Tentar retirar os impostos de importação ou coisa que o valha, buscar fazer com que as empresas possam adquirir esses equipamentos para produzir e ter um produto que possa competir lá fora. Aí, é de acordo com o percentual na composição de alguns produtos, mesmo no caso de matérias-primas que muitas vezes precisamos.

No setor de agronegócios, há a questão dos adubos; para a elaboração de fertilizantes, importamos muita matéria-prima. É aí que o Governo, então, teria que entrar, para retirar impostos da importação. Com os fertilizantes fazendo parte da preparação dos solos, produziríamos melhor o nosso alimento. O agronegócio melhoraria, e teríamos condições, com o dólar abaixo de R$2,00, de competir no mundo e elevar a produção do alimento, para gerar produção e o Brasil não sofrer recessão.

Acho que é esse tipo de equilíbrio que precisamos ter. É com os responsáveis pela máquina do Governo, pelos diversos setores do Governo, que tínhamos de estar sintonizados.

Então, o agronegócio é um dos setores - na importação de equipamentos ou de insumos - a fazer parte dessa composição. E assim também o setor industrial.

Usando a cabeça, ficando com os pés no chão, analisando isso no conjunto, o Brasil tem condições de produzir não só no sentido horizontal, mas também no vertical, e de competir no mundo.

Trago esta reflexão porque senti ontem de diversos setores empresariais do nosso Estado que, se usarmos a cabeça, a serenidade, e o Governo usar o compulsório - não para o banco pegar o compulsório e aplicar para ele mesmo. Aí, não. O compulsório não tem custo, já é dinheiro sem custo. Se ficar com o banco sem custo nenhum... O dinheiro não pode ficar para ele; o banco tem que aplicar esse compulsório nos setores que são fundamentais. Aí, tem de haver uma vigilância muito severa do Governo: dos Ministérios correspondentes às diversas áreas, como o Ministério da Agricultura, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Aí, tem que haver a participação de setores do Ministério da Fazenda, do Banco Central...

Jogando-se bem esse xadrez, usando-se a cabeça, há condições de atravessarmos sem recessão e de continuarmos com esse desenvolvimento, melhorando até, e não nos preocupando com a possibilidade de haver desemprego e queda de produção. Se começar a haver desemprego, teremos problemas sociais; e, se cair a produção, teremos queda de arrecadação, e assim por diante.

Então, se jogarmos bem esse jogo, esse xadrez, em todos os sentidos, Sr. Presidente e nobres colegas, será possível enfrentar essas vicissitudes, com terremotos não tão violentos.

Esses são os comentários que gostaria de fazer e que senti ontem, lá em Joinville, por intermédio de representantes de diversos setores que expuseram suas impressões, suas razões, suas análises. Não pude deixar de trazê-los a esta tribuna, no dia de hoje, para pensarmos em conjunto.

Eram essas as considerações, Sr. Presidente e nobres colegas, que não poderia deixar de fazer, por tê-las ouvido ontem.

Portanto, para finalizar, digo para continuarmos meditando, pensando, refletindo nesse sentido, mas temos de estar todos a postos, de atalaia. E quem detém isso?

(Interrupção do som.)

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC) - ...o Banco Central, o Ministério da Fazenda e os diversos Ministérios que compõem essa área, em sintonia, para podermos atravessar essas vicissitudes.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2008 - Página 40976