Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a violência que assola o País, e voto de pesar pelo falecimento do empresário Arthur Sendas. O aumento da conscientização da população em relação à importância da doação de órgãos.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA. IMPRENSA. SAUDE.:
  • Reflexão sobre a violência que assola o País, e voto de pesar pelo falecimento do empresário Arthur Sendas. O aumento da conscientização da população em relação à importância da doação de órgãos.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2008 - Página 40979
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA. IMPRENSA. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EMPRESARIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), VITIMA, HOMICIDIO, AUTORIA, EMPREGADO, IMPORTANCIA, DEBATE, CRESCIMENTO, CRIME, ARMAMENTO, POPULAÇÃO.
  • GRAVIDADE, CONFLITO, POLICIA CIVIL, POLICIA MILITAR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), NECESSIDADE, QUESTIONAMENTO, DIREITO DE GREVE, SETOR, MOTIVO, DESRESPEITO, DIRETRIZ, DISCIPLINA, HIERARQUIA, CRITICA, OCORRENCIA, MANIPULAÇÃO, NATUREZA POLITICA, GREVE, TENTATIVA, FAVORECIMENTO, ELEIÇÕES, ADVERSARIO, GOVERNADOR.
  • COMENTARIO, EXPERIENCIA, ORADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), DIFICULDADE, REVOLTA, POLICIA.
  • CONCLAMAÇÃO, IMPRENSA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, QUESTIONAMENTO, EXCESSO, DIVULGAÇÃO, VIOLENCIA, SUSPEIÇÃO, INCITAMENTO, CRIME, NECESSIDADE, ATENÇÃO, PROBLEMA, AUSENCIA, RESTRIÇÃO, LIBERDADE DE IMPRENSA, REGISTRO, SEMELHANÇA, SITUAÇÃO, INTERNET.
  • ELOGIO, IMPRENSA, DIVULGAÇÃO, DOAÇÃO, ORGÃO HUMANO, EFEITO, AMPLIAÇÃO, INICIATIVA, POPULAÇÃO, BENEFICIO, TRANSPLANTE DE ORGÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Senador Casildo Maldaner, que assume a Presidência neste momento, Srªs e Srs. Senadores, quero, inicialmente, saudar V. Exª, Senador Casildo, que acabou de usar da palavra e que assumiu o mandato de Senador de uma forma muito atuante nesse período. Podemos ter uma convivência mais próxima. V. Exª já tinha uma experiência anterior e quero cumprimentá-lo e agradecer-lhe o período que temos tido de convívio.

Mas, Senador Mão Santa, Senador Casildo, Senador Antonio Carlos, quero trazer aqui, mais uma vez, o assunto da violência. O PSDB sempre procurou tratar essa questão de forma muito racional, objetiva, sem explorações fáceis no momento das dificuldades.

Assim é que a violência novamente mostra uma face muito difícil para todos os brasileiros. São alguns eventos que nos fazem pensar, que nos fazem meditar e que precisam de uma visão que eu diria temperada, serena. Começa com a questão, que foi abordada aqui pelo Senador Romeu Tuma, em relação ao Rio de Janeiro, onde o empresário Arthur Sendas foi brutalmente assassinado dentro da sua casa.

Eu também tive a honra e o prazer de conhecer Arthur Sendas, um empresário dedicado, religioso, preocupado com os seus funcionários. Na época em que eu era Prefeito de Belo Horizonte, ele lá instalou um novo shopping, o Shopping Delrey, com as suas lojas. Nessa época, pude conhecê-lo mais de perto e ver, nas conversas, como ele sempre colocou a sua visão de que os funcionários precisavam ter uma integração com as empresas.

Por ironia, acaba que, pelos fatos já divulgados, ele morre por um tiro dado por um funcionário. Isso mostra a banalização do crime, como está acontecendo. E se soma a isso a questão de São Paulo, que ocupa o noticiário já há uma semana: o brutal assassinato de uma jovem, ainda menor de idade, que tinha todo o futuro pela frente. Nesse caso, mais uma vez, também a banalização, com pessoas que estavam dando o melhor para evitar o pior, mas houve um fim trágico, que agora ocupa as preocupações de toda a população brasileira.

Soma-se a esses dois eventos, um no Rio e outro em São Paulo, o conflito das polícias em São Paulo, e aí nós vemos: será que não é hora de meditarmos um pouco sobre essa questão das greves nas polícias?

O direito de greve é um direito universal, mas, na escolha da carreira militar, define-se com clareza o respeito à hierarquia e o respeito à disciplina em primeiro lugar. E o que se viu em São Paulo foi exatamente o fim da disciplina; vimos a exploração política, exatamente no período eleitoral, como disse o Governador José Serra - e quem quiser dizer que não, que não tem situação política, está fora da realidade, porque o movimento foi deflagrado exatamente no período eleitoral, para pressionar dentro do período eleitoral, sabendo que as questões políticas ficam mais afloradas nesse momento.

Deixo aqui a indagação, porque este é o momento de se indagar, se as polícias militares, as polícias civis, os organismos militares, policiais, se eles não devem repensar um pouco essa  questão da liberdade de infringir normas que hoje acontece.

Pessoalmente, vivi um clima muito difícil em Minas Gerais, exatamente por força, na época em que era Governador, de uma revolta da polícia e que acabou realmente por levar ao momento mais difícil que tive no meu governo. E, ainda que erros possam ter sido cometidos, o fato é que não se justifica que policiais fiquem na rua fazendo passeata, que tomem atitudes contra as quais eles são treinados para agir.

Sr. Presidente, alguns amigos dirão assim: “Você gosta de mexer em casa de marimbondo”, mas não está na hora de a nossa imprensa também fazer uma auto-regulamentação em relação à violência? A imprensa fez isso, com muito sucesso, em relação aos suicídios. Não se noticia suicídio no Brasil, e não é por lei, não. É porque a imprensa chegou à conclusão de que o noticiário de suicídios gera novos suicídios.

Será que não é o momento de se fazer o mesmo em relação à violência como um todo? Será que o noticiário da violência exacerbada não faz com que novos crimes aconteçam? Será que essa divulgação, a todo o momento, a todo minuto, até mesmo com cenas de helicóptero, não vai fazer com que novos reféns possam surgir?

É uma indagação que coloco. Não estou, evidentemente, defendendo nenhuma legislação de “pode”, “não pode”. A imprensa é livre, e é bom que seja, mas estou comentando que a auto-regulamentação em relação ao suicídio deve ser uma auto-regulamentação perseguida também em relação a outros tipos de violência que acontecem no País.

É importante que o noticiário seja feito, que as notícias sejam trazidas, mas é evidente que, quando há uma divulgação maciça, isso acaba influenciando, sim, aquela parte da população que, em momentos de descontrole, acaba seguindo esse mesmo caminho.

Exemplos temos, e muitos! Muitos exemplos mostram que essas questões acontecem, sim. Pessoas que vêem o noticiário aprendem e fazem igual ao que viram noticiado. Assim nós temos visto também na área da Internet o que tem acontecido. Há exemplos, ainda agora na campanha eleitoral, em que a violência aumenta - de palavreado, mas também forte. Nós precisamos de normas nesse setor. Agora mesmo, na minha capital, em Belo Horizonte, há três dias, o site de nosso candidato, Márcio Lacerda, foi invadido por hackers que colocaram o site fora do ar, mostrando que essa violência tem vários contornos.

Resta, entretanto, um ponto muito positivo, com o qual eu gostaria de terminar meu discurso: a doação de órgãos. Assim como eu estou aqui colocando uma indagação em relação à divulgação excessiva da violência e dos crimes, eu quero cumprimentar a divulgação muito positiva, que faz com que aumente a doação de órgãos. A imprensa tem um papel fundamental nessa divulgação. Vidas serão salvas com os órgãos da moça Eloá, que foi assassinada em São Paulo. E nós sabemos das filas que existem em todo o Brasil para recepção de órgãos doados.

Não há ainda a conscientização necessária, não há ainda o preparo em todos os Estados para a retirada de órgãos - o Senador Mão Santa, que é médico, sabe disso. Não é simples, também, fazer um transplante; isso exige um preparo dos hospitais, dos médicos e dos profissionais ligados aos hospitais. Mas é muito bom nós vermos que, nesse caso de São Paulo, tivemos este lado humano, em que, junto à tragédia, houve o aumento da utilização de órgãos transplantados.

Que esse exemplo sirva para outros casos.

Da mesma maneira que estou colocando aqui a minha preocupação de que a divulgação sirva de exemplo para que outros crimes sejam cometidos, temos a certeza de que a divulgação da doação fará com que outras doações de órgãos aconteçam e que nós tenhamos vidas salvas em todo o País.

Portanto, Presidente, estas são as palavras que eu queria trazer aqui hoje, em nome do PSDB: a preocupação com o recrudescimento da violência; a preocupação com a divulgação, que acaba influenciando para que outros crimes sejam cometidos; e, finalmente, a satisfação em ver o aumento do número de doações de órgãos, que são fundamentais em todo o País.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2008 - Página 40979