Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação sobre o confronto entre a Polícia Civil e a Polícia Militar, em São Paulo, e a quebra da hierarquia. Solidariedade ao Governador de São Paulo.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO. SEGURANÇA PUBLICA. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Manifestação sobre o confronto entre a Polícia Civil e a Polícia Militar, em São Paulo, e a quebra da hierarquia. Solidariedade ao Governador de São Paulo.
Aparteantes
Casildo Maldaner.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2008 - Página 40983
Assunto
Outros > LEGISLATIVO. SEGURANÇA PUBLICA. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, COMBATE, DESEQUILIBRIO, PODERES CONSTITUCIONAIS, ELOGIO, CONDUTA, PRESIDENTE, SENADO, DEFESA, ORADOR, VALORIZAÇÃO, LEGISLATIVO, REPRESENTAÇÃO, POVO.
  • GRAVIDADE, CONFLITO, POLICIA CIVIL, POLICIA MILITAR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OFENSA, DISCIPLINA, HIERARQUIA, CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECLARAÇÃO, FALTA, APOIO, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, COMENTARIO, ORADOR, HISTORIA, INICIO, DITADURA, MILITAR, JOÃO GOULART, DESRESPEITO, DIRETRIZ, FORÇAS ARMADAS.
  • REPUDIO, GREVE, POLICIAL, MANIFESTAÇÃO, UTILIZAÇÃO, ARMA, PREJUIZO, DEMOCRACIA.
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, COMBATE, PRIVILEGIO, EMPRESTIMO, MARTA SUPLICY, EX PREFEITO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REPUDIO, ARMAMENTO, GREVE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Garibaldi Alves, que preside esta sessão, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Senador Garibaldi, nós queremos cumprimentá-lo. V. Exª - como diz o poeta, “navegar é preciso” - tem navegado desde o início na Presidência desta Casa. Mas V. Exª tem tido sensibilidade política e firmeza na administração. A democracia é esse complexo difícil, complicado, mas entendo que tem sido a melhor criação da humanidade, representada pelo povo.

O homem, animal político, como Aristóteles disse, buscou sempre a melhor forma de governo. Predominaram, na nossa história, os reis. Mas era bom para quem estava no palácio do rei e ligado ao rei. O povo insatisfeito foi à rua e gritou “liberdade, igualdade e fraternidade”.

E a inteligência humana, por meio do homem do Direito, Montesquieu, a primeira coisa foi dividir esse poder, que era simbolizado na história da humanidade...

 

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador Mão Santa, se V. Exª me permite, vou interrompê-lo.

Senador José Agripino, Senador Antonio Carlos Júnior, Senador Eduardo Azeredo, eu peço a atenção de V. Exªs, por gentileza, pois acabo de falar com o Senador Aloizio Mercadante, que também se manifestou solidário a nossa atitude. Ele informa que tinha marcado a audiência para a semana passada, mas não foi possível. Como hoje, terça-feira, também não foi possível, ele marcou para quarta-feira, mas aí eles disseram que novamente não poderiam vir. Ele, então, está absolutamente solidário. Se, até amanhã, eles não anunciarem quando virão, marcando dia e hora, nós faremos o requerimento de convocação.

 

O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Cumprimentos a V. Exª, Sr. Presidente Garibaldi, e ao Senador Mercadante, pois, veja bem, a contribuição que nós queremos dar, pela via do debate que queremos estabelecer, é acalmar o mercado, produzir o apontamento de saídas, conhecer as providências que o Brasil está pensando tomar, o que as autoridades da área econômica do País estão pensando da crise e o que estão pensando fazer, para que a economia não seja movida, como está ocorrendo hoje, por boatos.

O fato de eles virem aqui e debaterem maduramente, sem conflitos - não há diálogo entre Governo e Oposição, vai-se estabelecer o diálogo patriótico em torno de um problema que é mundial e que nos afeta seriamente -, não há o que temer, mas também não há o que adiar. Não há nenhuma razão que justifique o adiamento, principalmente sem justificativa.

De modo que quero cumprimentar V. Exª pela providência tomada, assim como o Senador ACM Júnior. Aguardamos do Senador Aloizio Mercadante, que é um patriota, um homem de espírito público, as providências, para que sejam marcados dia e hora, com a brevidade que a crise impõe.

 

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Agradeço a V. Exª, Senador José Agripino.

Peço a compreensão do Senador Mão Santa, para ouvir o Senador Antonio Carlos Júnior e o Senador Eduardo Azeredo. Senador Mão Santa, acredito que V. Exª vai permitir isso que está a ser feito aqui.

Tem a palavra o Senador Eduardo Azeredo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pode continuar.

 

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, agradeço ao Senador Mão Santa, são apenas alguns segundos mesmo.

Nas outras vezes em que o Ministro Mantega e o Presidente Meirelles vieram aqui houve sempre um diálogo, um debate normal e democrático, de maneira que não há por que temer agora, em um momento em que é necessária a vinda deles.

Essa informação que V. Exª nos traz nos tranqüiliza, mas que essa vinda aqui seja marcada para breve, que não marquem uma data depois que a crise acabar, se é que vai acabar.

 

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Amanhã, eu estarei aqui para receber a manifestação. Se ela não acontecer, vamos convocar os Ministros.

Com a palavra o Senador Antonio Carlos Júnior.

O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Rapidamente, Sr. Presidente, só para parabenizar a ação imediata de V. Exª, inclusive ao se propor a convocar os Ministros. Precisamos debater isso o mais urgente possível. Se, até amanhã, eles não se manifestarem, teremos uma convocação, porque precisamos debater urgentemente esse assunto. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Agradeço a V. Exª.

Continua com a palavra o Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Continuando, queria dizer que isso era complicado e, para acabar o “l’êtat c’est moi”, Montesquieu dividiu esses poderes. E Monstequieu foi refletir, passou vinte anos refletindo, escreveu L’Esprit des Lois, O Espírito das Leis.

Senador Garibaldi, V. Exª tem feito um esforço tremendo pela harmonia, os poderes têm que ser harmônicos, equipotentes. Mas, na realidade, eles não têm compreendido, ô Garibaldi. V. Exª, agora mesmo - estamos aqui com o documento do Presidente do Supremo Tribunal Federal, quer dizer, o Procurador-Geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. V. Exª tem feito um esforço por essa harmonia, mas os poderes têm que ser equipotentes, Garibaldi, iguais; e eles não entendem isso. 

O Poder Executivo é espelhado pelo comportamento dos dois donos do dinheiro, que acham isto: que eles são poderosos, que estamos vivendo numa sociedade modernista, e o que vale mesmo é o poder do dinheiro. E o poder do dinheiro é o Executivo. 

Ele tem o BNH, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o dinheiro do mundo todo.

O Poder Judiciário acha-se também mais forte, porque ele prende, ele cassa, às vezes injustamente. Ele se alvoroça em ser uma inspiração divina - e foi -, porque foi Deus que chamou Moisés e deu-lhe as leis. Foi o Filho de Deus que disse: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça.

E nós ficamos aqui acachapados, ô, Garibaldi, humilhados. Essa é a verdade. Nós já vimos sair daqui, humilhado, o maior dos brasileiros, alguém que dá inveja a todos eles - Juscelino Kubitscheck. Ele saiu daqui cassado, humilhado, exilado e hoje nós refletimos que a grandeza estava aqui.

Garibaldi, Deus me permitiu e eu queria falar sobre esse privilégio que tive, quando um dos maiores homens deste País, do meu Piauí, Petrônio Portella, dirigia esta Casa. Eu estava do lado dele, quando veio uma ordem do Poder Executivo, naquele tempo militar, para fechar o Congresso, porque tinha permitido votar uma reforma do Judiciário. Eu estava do lado de Petrônio Portella. Eu aprendi muito. Aí a imprensa toda correu e pediu que ele dissesse qualquer coisa. Ele só disse uma frase: Este é o dia mais triste da minha vida.

Eu aprendi que esse Poder é moral. Esse Poder é moral. Os canhões foram refletir, voltaram e pediram a Petrônio Portella para reabrir o Congresso. Não funciona sem o Congresso, porque aqui somos o povo, Garibaldi.

Garibaldi, sei que o Luiz Inácio tem um montão de votos, todo mundo sabe. Talvez à custa de Bolsas, mas teve os votos. Mas, se somarmos os votos daqui, temos muitos mais. Houve um Senador que fez um pronunciamento em que somou o número de votos dos Senadores aqui: são muito mais votos do que os 60 milhões. Então, nós é que somos o povo. Nós somos filhos da democracia e do voto. Por isso somos fortes.

Então, V. Exª tem feito e tem tido uma tolerância enorme - tem tido, eu tenho reconhecido. O confronto com o Poder Judiciário, e vai navegando. E a recíproca não é verdadeira, os homens acham que o dinheiro é que é o Deus, que são os poderosos e fazem pior do que fizeram, cassando Juscelino, humilhando Juscelino, tirado daqui pela ditadura. Eles fazem é desmoralizar mesmo.

Está ali o Rui Barbosa, magrinho. Ele não foi Presidente desta Casa nem Presidente da República, mas se eu perguntar a todos os brasileiros o nome... Já tivemos 29, e eu não sei o nome de todos esses Presidentes, mas pode perguntar a qualquer criança que ela sabe de Rui Barbosa. Sabe, o Rui Barbosa! E sabe o que ele ensinou, Garibaldi? O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver.

Esse é um direito que V. Exª tem. V. Exª. O povo lhe deu, o povo insatisfeito, o povo procurando um modelo nas ruas gritou: “liberdade, igualdade e fraternidade!” Esses Poderes são iguais! Acabou-se! O rei era Deus na Terra; Deus era um rei! Dividiu-se o poder. Acabou o “l’état c’est moi”.

Nós somos para fazer leis boas e justas, iguais às que Deus entregou para Moisés. Eu sei que a Justiça, a inspiração divina... O filho de Deus disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça [...]”. Mas não são divinos os homens que fazem as leis. Não, eles são homens, eles erram muito. Paira a corrupção.

Então, estamos aqui, Garibaldi. Ouvi um pronunciamento de um bravo homem do meu partido, Jarbas Vasconcellos. Eu estava presidindo a sessão na ausência de V. Exª e fiquei atento, meditando e refletindo como Montesquieu. E ele falava desse confronto irracional da Polícia Civil com a Polícia Militar. Nós governamos Estados, nós tivemos isso. Eu tive esse problema.

Olha! O Presidente da República ataca é o Governador do Estado para pedir desculpas. Ô Senador Garibaldi Alves, Padre Antonio Vieira disse que o exemplo arrasta.

Essa quebradura de disciplina... Porque o Comandante-em-Chefe da Polícia Militar e da Polícia Civil é o Governador de Estado, é a unidade de comando. Eu sou oficial da reserva. A hierarquia e a disciplina que dão força a essa instituição. Quebram-se de uma vez a hierarquia e a disciplina. Sabe por quê? Aqui não rolaram cabeças, como na França. Nós fomos até mais inteligentes, porque lá rolaram cabeças, foi difícil. Mas aqui, nós tivemos dois períodos: um ditador civil, bom, estadista - graças a Deus por Getúlio Vargas - e um militar, é muito recente. E por que o militar surgiu? Foi a quebradura da hierarquia. Todos nós sabemos.

João Goulart era um líder mais forte do que Luiz Inácio. Foi o Ministro do Trabalho que inspirou Getúlio a fazer toda a Previdência Social, todos os direitos trabalhistas, todas as lutas, o salário mínimo. Era fortíssimo. Não sei onde estava o Garibaldi, mas eu era menino quando Custódio Amorim, um vereador do PTB, saiu de lá, da Parnaíba - e, naquele tempo, para chegar ao Rio de Janeiro era complicado e era difícil -, e todo o Brasil foi assistir ao comício de João Goulart. Cabo Anselmo - depois disseram que foi tramado pela CIA - foi-se abraçar com o Presidente. E a gota d’água foi no Automóvel Clube, quando os sargentos e cabos se reuniram para desmoralizar os comandantes. Ali era 30 de março, 31 já era, e, em 1º de abril, já rodava o Estado-Maior.

Então é o que estamos vendo aqui, no País, em São Paulo! Não se respeita mais. Quebra-se a hierarquia, quebra-se a disciplina. É muito diferente uma greve de estudante -- eu fiz --, ou uma greve de professores! Mas uma greve de pessoas armadas, invadindo um palácio do maior Estado do País, num momento do banquete da democracia, que nós temos que zelar e aprimorar, que são as eleições?! E aquilo ali... Então é este País que está uma “zorra”! É aqui trombando com o Judiciário, numa questão de interpretação do nepotismo, é o Executivo desmoralizando o Legislativo. E o Legislativo é o povo, Luiz Inácio. Nós somos o povo. O Senado são os pais da pátria.

Casildo Maldaner, também eles precisam saber que isto aqui é fruto de uma inspiração divina. Como se formou o Senado? Foi justamente quando o líder maior de Deus, Moisés, que via que o povo estava desobediente às leis, quebrou as tábuas. Seu povo ia adorar os bezerros de ouro, e ele quis desistir. Ouviu a voz de Deus, que disse: “Buscai os mais velhos e os mais sábios. Eles vos ajudarão a carregar o fardo do povo”. Aí é que nasceu a idéia. Ó gente do Judiciário, aprenda! Ó gente do Executivo, aprenda! Aí é que apareceu a idéia do Senado: os mais velhos, os mais experientes o ajudarão a carregar o fardo do povo. 

Na Grécia, foi melhorando; na Itália, Cícero dizia e falava: “o Senado e o povo de Roma”. Eu falo! Ó Poder Judiciário! Ó Poder Executivo, do dinheiro! Eu falo: “o Senado e o povo do Brasil”. Nós representamos o povo do Brasil! E V. Exª é isso. Mande somar os votos daqui: dá muito mais do que os do Luiz Inácio. Nós somos povo. É isso! Aqui, se desmoralizar, acaba tudo.

Mas V. Exª vê, Deus não ia abandonar o Brasil. Nunca. Nas dificuldades, Ele botou Davi para vencer Golias; Ele botou Moisés para libertar, ele botou V. Exª aí, que tem atravessado muitos mares vermelhos. No dia da entrada, não sei como não se afogou. Tem, em cada dia e em cada instante. V. Exª não é duro nem mole. V. Exª é firme. Eu o conheço, talvez eu o conheça mais. No Nordeste, fomos Governadores juntos. E assim, a tranqüilidade, a consciência e a satisfação do cumprimento da missão.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Permite V. Exª um aparte, Senador Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permito. V. Exª enriquece. V. Exª governou tão bem o seu Estado, V. Exª é um Senador extraordinário e V. Exª lidera o PMDB, esse nosso partido grandioso - por isso é grande, estamos aqui. E vai eleger o Prefeito da capital, com a sua liderança.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador Mão Santa, nosso Estado o admira muito, suas pregações, seu bom humor constante. V. Exª procura harmonizar, procura intermediar. V. Exª foi Governador do seu Estado e tem enfrentado problemas sérios - quem não os tem enfrentado? -, problemas dos mais diversos. Montesquieu já dizia que deve haver harmonia entre os Poderes. As coisas têm que ser bem tratadas. V. Exª o diz muito bem.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eqüipotente.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Hoje, vi aqui nosso Presidente, o Senador Garibaldi. Ele é muito sensato, muito moderado, muito harmonioso. Vejam o que ocorreu na Comissão de Assuntos Econômicos: foi marcada reunião para ontem, e aí veio uma comunicação, e não haverá mais reunião. De certo modo, percebi que o próprio Senador Eduardo Suplicy sentiu-se menosprezado, porque sei que, na última semana, ele esteve ao lado do Presidente, até a mesa, insistindo para que se comunicasse esse encontro que haveria ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos, com o Ministro da Fazenda e com o Presidente do Banco Central. Depois, veio um comunicado, dizendo que seria amanhã - aliás, era para ser hoje; agora, é para amanhã. Até o Presidente foi surpreendido com a notícia de que não será mais amanhã. Claro que, por mais harmonioso, por mais Moisés que seja nosso Presidente Garibaldi, chega um momento em que se tem que tomar uma atitude em defesa deste Poder, embora deva haver harmonia entre os Poderes. E é por isso que o Presidente Garibaldi está sendo cumprimentado, com certeza, não só pelos colegas do Senado, pela Oposição e pela Situação, mas até pelo próprio Governo, porque S. Exª tomou uma atitude

Há momento em que se tem que tomar! Ele tem que dizer: “Se não for assim, será assado.” E é isso que engrandece. Os brasileiros que assistem e que acompanham esse processo o respeitam, porque o Senador Garibaldi, Senador Mão Santa, é homem que costura. Parece que ele tem a linha e a agulha na sua mão e faz esse trabalho sensacional entre todos aqui, na Casa; entre este Poder e os demais Poderes. Ele tem essa habilidade, mas há um momento em que se pensa: “Espere aí, agora chega!” Temos que ir até onde a elasticidade permite, mas não se pode arrebentar a corda. Temos limites. Acho que todos passamos por isso. Quando fui Governador, enfrentei algumas greves, mas há momento em que não se pode também deixar virar bagunça. Há momentos em que é preciso limite. Muitas vezes, tenho brincado, dizendo “entre tapas e beijos” - às vezes, mais tapas do que beijos. A vida da gente é isto: há altos e baixos, trovoadas e bonanças. Passamos por isso, mas há que se enfrentar a situação. V. Exª foi Governador, o Presidente da Casa foi Governador e é Presidente de um Poder. Acho que, harmonicamente, segundo Montesquieu, temos que tratar disso. Por isso, quero que V. Exª trate dessa matéria e faça também uma reflexão sobre ela. Quero cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporamos todas as palavras do Senador Casildo Maldaner.

Senador Garibaldi, a importância de V. Exª é tão grande!

V. Exª se lembra quando Juscelino antevia aqui a esperança? Foi Prefeitinho de Minas, Governador de Minas, o sorriso! V. Exª se lembra e retrata a história que quem manteve a paz e a posse de Juscelino foi o Presidente do Senado, de Santa Catarina, Nereu Ramos.

Então, V. Exª é isto: V. Exª é um Poder igual na democracia, na imaginação do Montesquieu e na criação do povo. Foi o povo que criou assim. Mas eu diria para nosso Luiz Inácio e para o Judiciário também entender, Casildo Maldaner: Mitterrand. Na França foi criada a democracia. Foi lá que o povo gritou: liberdade, igualdade e fraternidade. Mitterrand, assim como nosso Presidente, com luta, como homem trabalhador, apanhou várias vezes para chegar à Presidência. E, durante seu segundo mandato, de sete anos, com câncer, moribundo, ele resolveu escrever um livro e publicou Mensagem aos Governantes - atentai bem - para todos nós. Para todos nós! V. Exª pode chegar à Presidência da República. O nosso não é o maior Partido? É assim que funciona! Agorinha, não foi quantitativamente o maior Partido eleito pelo povo do Brasil? Qualitativamente também somos bons; muito bons.

Mitterrand, moribundo, com câncer, deixou escrito - não tinha mais nem força para escrever, Garibaldi; pediu a um auxiliar que o fizesse: Mensagem aos Governantes: fortalecer os contrapoderes.

Não é assim, Luiz Inácio! Não é assim, mandando seus Ministros desmoralizarem, avacalharem, humilharem o Senado da República!

Vim cedo também. Sou da CAE e sei muito Economia.

Está tudo errado. Só há malandragem, só há traquinagem. Sei disso porque sou um fato raro, raro, raro! E vou dizer por que, Garibaldi: desde que entrei aqui, estou nessa CAE. Seis anos. Isso não existe, não. São dois anos. Com dois anos, tentaram me tirar de lá, porque obstruí muitos empréstimos imorais, injustos, que o Governo dava para a Marta, Prefeita, e não dava para outros Prefeitos, e não dava para outros Governadores.

Eu havia sido governadorzinho, assim como V. Exª. Só pode haver empréstimo duas vezes maior do que a receita. Ela tirava oito. Devia. O Divaldo Suruagy naufragou e nunca conseguiu um.

Aí quiseram me tirar, mas houve tanta confusão! O Pedro Simon, leal, disse que não admitia, e fui ficando. O Mercadante, mais sabido do que outros, quando foi eleito Presidente, o primeiro que ele convidou fui eu.

Então, estou há seis anos nessa CAE, e hoje, esperando ... Nunca vi isso na história.

Garibaldi, nossa solidariedade a V. Exª e nossa solidariedade a esse extraordinário homem da democracia. Nunca votei nele, não; no José Serra. Em 1994, votei no Luiz Inácio. V. Exª sabe disso, mas, para a democracia, hoje, ele é o ponto de equilíbrio.

Meu Nordeste está pior do que a Venezuela. Vocês sabem como são os votos lá. Fica todo mundo à toa: ninguém está estudando e nem trabalhando.

Está aí São Paulo, e sou solidário a esse extraordinário homem que o País conhece. Foi um Ministro da Educação extraordinário, do Planejamento, Prefeito, Governador. Foi ferido fundamentalmente: quebraram a hierarquia e a disciplina em São Paulo. Aí acaba, fica todo mundo nessa zorra.

Garibaldi, nossas palavras são: solidariedade ao Governador de São Paulo, porque democracia é isso. Não é só um lado, não. Tem que ter o outro lado, e São Paulo está mostrando altivez e grandeza.

Eu queria dirigir estas palavras para todo o Brasil: os intelectuais existem. Estudo existe, e acredito nele; acredito no estudo, que leva à sabedoria. Acredito no trabalho. Rui Barbosa disse: “O trabalho vem antes do trabalhador. Ele é que faz a riqueza.” Essa gente não acredita nessas coisas. Acredita em corrupção, acredita em mensalão.

Arnaldo Jabor é um intelectual. Leiam em O Globo: Dois ‘Obamas’: Gabeira e Kassab. Ele faz uma análise. Graças a Deus, o bravo povo paulista está mostrando discernimento. Mas não é paulista porque nasceu lá, não; é paulista porque há nordestinos e vergonha! E eles vão para lá para trabalhar, para engrandecer São Paulo e o Brasil. Eles estão apoiando isto: os caminhos do trabalho e do estudo, e não o caminho de ficar à toa.

Há dois piauienses ali: um é o José Arlindo da Silva Filho, o Zezinho, Prefeito eleito de Curimatã, povo inteligente. Tem a Estelita, o Delito Macedo. É uma raça muito inteligente, a da sua cidade, como foi a cidade Diamantina, de Juscelino. Juscelino, nas suas memórias, deixou escrito que, quando começou a crescer, ele só ouvia falar em ouro. Não tinha mais ouro, não tinha mais diamante, mas ele disse que tinha um povo, que o povo era a riqueza, o povo mineiro de Diamantina. Não tinha ninguém à-toa. Ninguém ficava à-toa nas Minas Gerais de Diamantina. Todo mundo trabalhava. Até aqueles homens e mulheres folclóricos, como há em todas as cidades, trabalhavam, tinham um ofício, uma profissão. As crianças, todo mundo estava a estudar ou a trabalhar. Aí, eles estão aí.

Os nordestinos de São Paulo, que estão lá, grandiosos, que estudam e trabalham, que impulsionam aquela cidade, estão vendo que esse Governo não está oferecendo ao Nordeste a riqueza do estudo e do trabalho, está-nos desviando.

Então, São Paulo vai escrever a página mais bela desta democracia. Tem de ter esse equilíbrio.

Quero dar minha solidariedade ao Governador de São Paulo, o qual, nas vésperas da eleição, quiseram destronar, quebrar a hierarquia, porque ele é o comandante-em-chefe da Polícia Militar e da Polícia Civil.

Então, são essas as minhas palavras.

Sem dúvida nenhuma, nós, deste Senado que há 183 anos oferece a liberdade democrática, não vamos trair o Brasil.

O Senado, hoje, homenageou o aviador, a Aeronáutica. Nós nos orgulhamos do aviador brasileiro, da Aeronáutica, da Embraer.

Para encerrar, Garibaldi, espero que, no Dia do Aviador, Santos Dumont e Eduardo Gomes, nosso líder que perdeu eleições para Presidente, como Rui Barbosa, sirvam de exemplo para este Senado. Disse o Brigadeiro Eduardo Gomes que o preço da liberdade democrática é a eterna vigilância.

Ô Garibaldi, nós vamos ser vigilantes pela democracia da equipotência do poder. Na imaginação de Montesquieu e na Constituição do povo, que fez a bela obra da democracia, V. Exª é igual ao Luiz Inácio e ao Gilmar Mendes.

Então, nós estamos confiando, pois, sem dúvida nenhuma, V. Exª é um ungido de Deus e tem vencido grandes obstáculos.

Seja forte, bravo e feliz na democracia.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2008 - Página 40983