O SR GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é fato indiscutível que crises geram perdas. Ninguém melhor para atestá-lo que os países e instituições financeiras atingidos pela crise financeira global, ainda em pleno desenvolvimento, e que ninguém se arrisca a prever como e quando terminará. Nas semanas recentes, a confusão tomou conta dos mercados, fazendo com que bolsas de valores ao redor do mundo literalmente derretessem e a cotação do dólar atingisse as alturas. Mas dizem também, igualmente com razão, que toda crise esconde oportunidades.

É hora de adotar medidas preventivas, de conter gastos, mas também é hora de lançar um olhar para o futuro, para como será o mundo depois de terminado o vendaval, e planejar para que as oportunidades, quando chegarem, não sejam desperdiçadas.

            No Espírito Santo, o Governo anunciou cortes de gastos logo no início da crise, mas tomou o cuidado de preservar e até mesmo ampliar os orçamentos de educação, saúde e segurança pública. São cortes preventivos, parte de uma estratégia que permite ao Estado fortalecer-se durante a crise para que suas conseqüências sejam reduzidas ao mínimo possível, e para que as oportunidades não passem ao largo de seu território quando a tormenta acabar.

Pode parecer inusitado, mas a verdade é que o ciclo de expansão econômica que o Espírito Santo vive nos últimos anos não deu sinais de enfraquecimento, mesmo em plena crise. Na semana passada, a Baosteel CSV, Companhia Siderúrgica de Vitória, uma parceria entre o grupo chinês Baosteel e a Vale, confirmou o investimento de R$10 bilhões na construção de uma usina siderúrgica em Anchieta, no Sul do Estado.

A usina, com uma capacidade de produção prevista de 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, deve começar a ser construída no ano que vem, e entrará em operação em 2012. Ficará situada na mesma região em que a Samarco erguerá sua quarta usina de pelotização de minério, e onde a Petrobras constrói a UTG Sul, uma unidade de tratamento de gás.

A construção da usina siderúrgica está integrada a dois outros projetos. Um deles é o de um porto de águas profundas em Ubu, para atender à produção siderúrgica, exportação de minério, importação de carvão e movimentação de outros granéis sólidos.

O outro é a construção da variante ferroviária Litorânea Sul, que interligará a estrada de ferro Vitória-Minas a Cachoeiro de Itapemirim, passando pela Grande Vitória e pelo porto de Ubu. A Vale, responsável pela obra, já recebeu licença do Ibama para dar início aos trabalhos, que devem começar nos próximos meses. Com 165 quilômetros de extensão, a Litorânea Sul terá uma capacidade de transporte de 13 milhões de toneladas de carga por ano.

Uma missão oficial do Governo do Estado, chefiada pelo vice-Governador Ricardo Ferraço, com a participação de empresários e diretores da Federação das Indústrias do Espírito Santo, está agora em Xangai, na China, para conhecer a usina siderúrgica do grupo Baosteel. A siderúrgica que será erguida em Anchieta deve gerar cerca de 33 mil empregos, dos quais 15 mil diretos, durante a construção, e 3 mil diretos e 15 mil indiretos quando estiver em funcionamento. Milhares de pessoas serão capacitadas gratuitamente pelo SENAI, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, nos municípios da região.

No setor de petróleo e gás, há muitas boas notícias. Com a conclusão do gasoduto Vitória - Cabiúnas, no primeiro semestre deste ano, o Espírito Santo passou a exportar gás natural. Para o futuro, as perspectivas são ainda melhores. A área denominada Parque das Baleias, na costa capixaba, onde está o campo de Jubarte, já está sendo chamada de “o novo pólo do pré-sal no Brasil”.

Embora não existam cálculos definitivos sobre as reservas, os resultados das perfurações feitas até agora têm surpreendido até mesmo os técnicos da Petrobras. Só em Jubarte podem existir cerca de 4 bilhões de barris equivalentes de gás natural, mas o Parque das Baleias tem ainda outros quatro campos por entrar em produção, os de Cachalote, Baleia Azul, Baleia Franca e Baleia Anã. E há outra vantagem, o fato de as reservas estarem a profundidades que chegam a ser de apenas 200 metros, enquanto na Bacia de Santos os reservatórios ficam a 6 mil ou 7 mil metros, e em outros locais a 4 mil metros.

Enfim, há quem diga que, no idioma chinês, crise e oportunidade se complementam na mesma palavra, formada por dois ideogramas. Não sei se isto é verdade, mas existe algo incontestável: o Espírito Santo está sabendo tirar proveito da crise, abrindo espaço para oportunidades. É o que todos nós, brasileiros, devemos fazer.

Os acontecimentos conspiram a favor do Brasil, por seus recursos naturais e pelas possibilidades que oferece, como comprova o exemplo capixaba. Se agirmos com a combinação adequada de realismo e ousadia, agilidade e planejamento, bom senso e criatividade, poderemos tirar vantagem de uma situação adversa. Ou, como diz o velho ditado, fazer desse limão uma limonada...

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.

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