Discurso durante a 208ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Emblemática vitória de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos da América. Alterações climáticas na Região Amazônica.(como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. HOMENAGEM.:
  • Emblemática vitória de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos da América. Alterações climáticas na Região Amazônica.(como Líder)
Aparteantes
Adelmir Santana, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2008 - Página 44406
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. HOMENAGEM.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, VITORIA, CANDIDATO, NEGRO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ROMPIMENTO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, VALORIZAÇÃO, VOTO, POPULAÇÃO, ORIGEM, AMERICA LATINA, EXPECTATIVA, DIALOGO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL, MELHORIA, RELACIONAMENTO, COMERCIO EXTERIOR, SOLICITAÇÃO, ENCAMINHAMENTO, DISCURSO, ORADOR, EMBAIXADA ESTRANGEIRA, CUMPRIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), GOVERNO ESTRANGEIRO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DIVULGAÇÃO, DADOS, PESQUISA, INICIATIVA, INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE), COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), EFEITO, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, PROVOCAÇÃO, ALTERAÇÃO, CLIMA, PREVISÃO, AUMENTO, TEMPERATURA, REDUÇÃO, CHUVA, ESTADO DO PARA (PA), ESTADO DO MARANHÃO (MA), APREENSÃO, ORADOR, GRAVIDADE, PROBLEMA.
  • HOMENAGEM, ESCOLHA, JURISTA, BRASIL, EXERCICIO, FUNÇÃO, JUIZ, CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONGRATULAÇÕES, GOVERNO BRASILEIRO, INDICAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de fazer uma análise breve da eleição norte-americana em si e dos eventuais reflexos da vitória do Senador Barack Obama, sobre a economia americana, sobre a vida social e política daquele país e sobre a economia brasileira, e, sem dúvida alguma, os seus reflexos todos estendidos pelo mundo.

Em primeiro lugar, ressalto, Presidente Augusto Botelho, que foi um sopro de bom oxigênio democrático nós termos visto o país optar não pelos métodos belicistas de um homem que não faria um governo desastroso, optar não pela figura valorosa do Senador John Mc Cain, ilustre cidadão americano e verdadeiro herói de guerra, testado em sua hombridade, testado em sua correção, na campanha do Vietnã. Mas, melhorando em muito a performance de George Bush, nós víamos uma certa seqüência de Bush para Mc Cain.

Obama é um corte. Obama representa um golpe muito rude no que possa restar de preconceito racial nos Estados Unidos. Obama representa um país não mais dividido pelo maniqueísmo, entre negros e brancos, porque pesou bastante, nesta eleição, a decisão de latinos e hispânicos. Houve um certo congraçamento nacional. O vitorioso obteve alguma coisa tipo 65%, 66% dos votos latinos e hispânicos, e obteve, aí sim, 95% dos votos negros e 43% ou 45% dos votos brancos. Ou seja, não foi repudiado pelo eleitorado branco.

Foi uma candidatura muito inteligente, de alguém que se declarou, logo de início, o anti-Jesse Jackson, que foi alguém que se colocou como candidato dos negros contra os brancos, numa proposta que, para mim, não era radical, porque não condeno o radicalismo se entendermos que ser radical é buscar a solução pelas raízes; mas condeno o sectarismo, e Jesse Jackson sempre foi um sectário, inclusive tecendo críticas muito duras e muito injustas ao Senador Obama ao longo da campanha. Ele queria um Obama mais candidato negro, e Obama dizia “eu quero ser um candidato americano, quero ser um candidato da união nacional”. Ele disse “não sou candidato dos negros” e se credenciou a obter votos dos brancos.

Obama enfrentou - já concedo um aparte ao Senador Adelmir Santana - uma resistência muito forte, que nós dois testemunhamos. Junto com o Senador Heráclito Fortes, com o Senador Virgínio de Carvalho, testemunhamos a resistência dos brancos pobres em relação a Obama e o entusiasmo de jovens brancos e de brancos abastados em relação a Obama. Mas percebemos, sobretudo, alguém que veio com propostas na direção da paz.

Ele diz “negocio no interesse dos Estados Unidos e da paz mundial até com o Irã”. Entendo que ele obrou bem: é para negociar com quem quer que seja. Por que não negociar a transição democrática de Cuba? Quando ele diz que quer fazer a América Latina retomar um papel de relevância política nas preocupações dos Estados Unidos... Hoje, sejamos sinceros, propaganda à parte, estamos relegados a quinto plano na preocupação do Departamento de Estado Norte-Americano. Eu vejo isso como progresso.

Quando ele sensibiliza a opinião pública estrangeira... Abro um parêntese para dizer que temia um certo provincianismo americano do tipo “ele pode ser popular lá fora, vamos ver se ele ganha aqui dentro”. Mas ele venceu as eleições e venceu cercado de uma enorme expectativa, de esperança pelo mundo inteiro.

Estou esperançoso. Ele demonstrou competência política, porque, sem competência política, ele não teria derrotado a excelente Senadora Hillary Clinton, muito provavelmente a futura Governadora do Estado de Nova Iorque.

Sem competência política ele não teria enfrentando a sombra desse homem carismático, que foi um grande Presidente norte-americano, que se chama William Jefferson Clinton, o Presidente Bill Clinton.

Sem competência política ele não teria sabido estabelecer as diferenças entre um Mc Cain, que não é Bush, mas que é republicano, no que toca à política de segurança, por exemplo, e ele próprio, que é democrata.

Aí faço algumas perguntas: será ele, Presidente, protecionista, como a tradição democrata diz, numa hora de crise, procurando por aí resolver pequenos problemas do seu país e agravando problemas de países que vivem do agronegócio, como o Brasil? Ou ele inovará também nisto?

O primeiro impacto foi a euforia nas Bolsas. O segundo impacto: a volatilidade continuou e percebemos o tamanho da dificuldade que ele terá de enfrentar, o tamanho da luta que ele terá que fazer, para não transformar a esperança em desilusão.

Mas considero que foi um grande avanço, quando vemos os Estados Unidos nos filmes, no tempo em que negro tinha que ficar em pé nos ônibus ou sentava lá atrás; que tinha bebedouro para branco e bebedouro para negro; quando vimos os Estados Unidos divididos por escolas melhores para brancos e escolas piores para os negros; quando nos lembramos daquelas figuras fantasmagóricas da Ku Klux Klan, os extermínios, os assassinatos. Tudo isso visando, no fundo, a um fundo econômico, que era o de reservar para os brancos melhores empregos, melhores oportunidades de estudo. Portanto, preservando a hegemonia econômica, sobretudo.

Não analiso nada na minha vida que não parta da análise econômica. Para mim, tudo tem explicação econômica por trás.

Percebo que foi um grande avanço civilizatório nós termos um negro pronto para sepultar o racismo nos Estados Unidos, ressaltando que foi a eleição mais plural da história dos Estados Unidos, porque foi aquela em que houve mais influência do eleitorado hispânico, do eleitorado latino, inclusive brasileiros naturalizados americanos votando, decidindo.

Fico muito feliz com tudo isso, porque percebo que, sob esse aspecto, avançaram até muito mais do que nós. Os americanos enfrentaram o racismo que o Brasil escamoteia; os americanos enfrentaram o racismo, e hoje temos um presidente negro. E não por ser negro, mas por ser alguém que compreendeu o seu momento, no momento em que a sociedade americana passava por transformações tão significativas que permitiram a ascensão de um candidato negro, com um perfil aberto, um perfil amplo, com o perfil democrático de Barack Obama.

Sempre digo que, na União Soviética, se Gorbachev tivesse dito o que disse e tentado fazer o que fez alguns anos antes, ele teria sido preso e enviado para a Sibéria como desequilibrado mental. A sociedade soviética estava tão madura para a abertura política, que ele encontrou ressonância e não foi apeado do poder. Ao contrário, chegou ao poder com essas idéias e se manteve no poder com elas. Como ele não foi capaz de fazer uma abertura econômica à altura do projeto de abertura política que ele próprio engendrou, ele acabou sendo condenado na parte econômica; mas foi pela História absolvido com louvor pelo que fez em favor de um projeto democrático de uma Rússia, que não considero democrática hoje, até porque governada por um tirano, uma figura que representa bem o espírito sombrio daquele órgão de segurança, que era a KGB.

Ouço o Senador Adelmir Santana.

O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senador Arthur Virgílio, eu queria exatamente fazer referência a nossa viagem como observadores nas eleições primárias. Já naquela oportunidade, observamos a capacidade de mobilização do povo americano, e a candidatura Obama não se colocava como uma candidatura racial, mas como um processo de renovação, de conquista. E tivemos oportunidade de observar isso no Estado da Pensilvânia, quando um comício de Obama leva mais de 20 mil pessoas às praças públicas - e isso apenas na disputa das primárias -, enquanto a sua oponente, Hillary Clinton, levava três mil pessoas no dia seguinte. Observamos, naquela visita tanto à Pensilvânia como a Washington e outras localidades, que havia uma mobilização não apenas de negros, mas de jovens de todas as cores e pessoas que nunca haviam participado do processo eleitoral primário, que se inscreviam com o objetivo de mudança. Saímos de lá, naquela oportunidade, convencidos de que Obama, certamente, seria o candidato e haveria de vencer a eleição. V. Exª retrata muito bem, foi uma eleição em que ele se impôs pela mudança, soube exatamente aproveitar o seu momento, colocou-se nesse momento como uma mudança de fato necessária para aquele país, e estávamos certos quando profetizávamos, na nossa visita, que certamente Obama seria o Presidente dos Estados Unidos. Parabenizo V. Exª pela análise que faz e estou certo de que representa uma esperança para todo o mundo o processo eleitoral americano, que, mesmo não tendo voto obrigatório, fez com que as pessoas se mobilizassem à busca dessa mudança. Parabenizo V. Exª pelo enfoque que dá.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Adelmir Santana, e, antes de conceder o aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti, respondo a V. Exª, lembrando também aspectos dessa nossa viagem, porque estivemos em Gettysburg, cenário da última batalha da guerra de secessão, da guerra civil americana. Um condado de 50 mil habitantes, com um aspecto rural muito forte ainda e com uma casa aqui e outra acolá, não se sentia lá muita concentração populacional. O ato público que vimos da Senadora Hillary Clinton reuniu, a meu ver, 800 pessoas num ginásio, com aqueles tapumes escuros procurando tapar os lugares vazios; ele reuniu oito mil pessoas nas ruas. Aí fomos para Pittsburg, bem maior: ela reuniu, em recinto fechado, duas ou três mil pessoas, como V. Exª disse; e ele 15 mil pessoas nas ruas. Depois, fomos para Philadelphia, uma grande metrópole: ela reuniu nas ruas oito mil pessoas; e ele, nas ruas, 35 mil pessoas. É claro que lá tem o jogo do colégio eleitoral, mas dificilmente alguém que tem uma vantagem tão expressiva no povo deixaria de ter vantagem no colégio eleitoral.

O colégio eleitoral eu não sei por que eles o mantém; tem uma razão de ser, Senador Geraldo Mesquita Júnior, muito grande no passado, porque temos o seu Estado do Acre, pobre; o meu Estado do Amazonas, esquecido; temos o Estado do Piauí, pobre; temos o Estado de Roraima, pobre, Senador Mozarildo Cavalcanti. Então, para propiciar o desenvolvimento equilibrado dos Estados Unidos, com muita sabedoria, os legisladores da Nova Inglaterra, que virou Estados Unidos, criaram a figura do colégio eleitoral para obrigarem os candidatos a prestar atenção a todos os recantos dos Estados Unidos.

Aqui, no Brasil, a moda é: está muito forte, nem passa pelo Piauí. Se está eleito, não passa lá. Se está perdendo, não vai também, porque vai preferir disputar votos na Baixada Fluminense, onde as cidades são enormes; ou no interior de São Paulo, onde as cidades são grandes também.

Com a artimanha do colégio eleitoral, é obrigatória a passagem por ali. As primárias são realizadas nos estados pequenos. Não sei se isso ainda é necessário, porque não há mais região subdesenvolvida nos Estados Unidos e eu temo muito essa distorção que já houve na eleição de Albert Gore e George Bush, quando Bush saiu vencedor no colégio eleitoral de um jeito que não sei se foi o mais correto, pois houve aquela dúvida toda de fraude na Flórida e, por outro lado, quem teve mais votos populares foi Albert Gore. Para um brasileiro entender isso é complicado. Mas entendo que, de qualquer maneira, estava tão evidente que ele estava galvanizando a opinião pública, tão evidente que ele estava sendo o candidato da mobilização, que disse muito bem o Senador Adelmir Santana, o voto não é obrigatório, mas 70% dos eleitores americanos acorreram às urnas, portanto, espontaneamente.

E diria mais, Senador Adelmir - aquela viagem nos aproximou tanto, do ponto de vista pessoal, e só aprofundou o carinho que sinto por V. Exª e por sua família -, nós percebemos também que a boa organização é tudo. Percebemos, quando falamos com o grande líder do Partido Republicano na Philadelphia, o pessimismo dele - realista, inteligente e pessimista. E percebemos a organização e a competência do ex-Governador de Vermont, que nos recebeu, Presidente hoje do Partido Democrata, Howard Dean. Daquela conversa com ele, retirei de mim para mim a seguinte conclusão: se Obama perder, ou se Hillary perder - na época havia uma indefinição, estava mais para Obama -, se porventura Mc Cain ganhar, não tenho nenhuma dúvida de que o próximo candidato democrata será Howard Dean, pela competência, pelo conhecimento de Brasil - eu fiquei impressionado porque, se conhece o Brasil, ele conhece outros países -, pela sua sensibilidade para a música brasileira. Ele discorreu sobre Tom Jobim para nós, o que é muito raro, porque os americanos são fechados para eles próprios, muito voltados para o próprio umbigo. Fiquei muito impressionado com aquela figura que foi o grande artífice, o grande articulador da vitória democrata e da solução que uniu Hillary e Barack Obama, que depois culminou com a apoteose, a aparição final com o Presidente Clinton ao lado dele, praticamente completando os votos que faltavam. Foi uma bela vitória, que eu espero seja uma vitória dos democratas americanos; não do Partido Democrata, mas dos democratas americanos, daqueles que não têm preconceito racial, preconceito social. E espero que não seja uma derrota nossa. Tenho a impressão de que ele poderá abrir com o Presidente Lula um diálogo bom, fraterno.

O nosso Presidente é uma figura que temos de conhecer e respeitar em suas peculiaridades. Certa vez, ele disse que iria dizer: Bush, meu filho, faça isso, faça aquilo. Hoje eu já leio nos jornais sobre ele dando aula ao Presidente Obama de como deve agir para enfrentar a crise.

         O Lula é o Lula e pronto. Nós temos de aceitá-lo. Ele venceu esmagadoramente as eleições; venceu derrotando o meu Partido. Eu não vou agora ficar contestando a sua forma de ser. Mas, é óbvio que ele não vai dar aulas ao Presidente Obama. Ele deverá abrir o diálogo amplo, procurar uma relação pessoal privilegiada; procurar uma relação em que a sinceridade prevaleça, procurando sensibilizar Obama para o fato de que a mudança não será completa e a renovação não será inteira se as práticas protecionistas forem mantidas, pois as práticas protecionistas só fazem ajudar tecnologias atrasadas a se manterem, prejudicando quem está inovando tecnologicamente e está com o seu processo produtivo mais avançado.

Ouço o Senador Mozarildo Cavalcanti.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Arthur Virgílio, na minha vida estudantil, como adolescente, como jovem acadêmico, eu nunca fui comunista, nunca fui marxista; e não me considero um homem também de direita. Eu até, pela minha formação de médico, me considero um humanista. Portanto, o que tem de bom de um lado ou do outro, se é que ainda tem essa dicotomia de esquerda e de direita, eu aproveito. Mas eu tinha uma aversão muito grande aos Estados Unidos, porque julgava os seus dirigentes prepotentes, arrogantes, ciosos de que eram os donos do mundo, e a minha idéia começou a mudar com o John Kennedy, que terminou sendo assassinado; depois, o seu irmão que nem sequer assumiu. Eu tinha aquela esperança de que realmente os Estados Unidos um dia, com a democracia pujante que têm, corrigiriam esses defeitos. E vejo, agora, com a eleição do Barack Obama, que, realmente, como ele próprio disse, não foi ele, foi o povo dos Estados Unidos, foi a América que resolveu mudar. Tive um exemplo inclusive quando eu era estudante, um colega meu de Medicina, que era Sargento da Aeronáutica, foi a uma missão da Aeronáutica aos Estados Unidos, ele e mais três. Na nossa classificação brasileira, ele era um moreno claro. Essa cor a que nós brasileiros chamamos carinhosamente de moreno claro. Pois bem, à noite, eles resolveram ir a uma boate e foram, como no Brasil, à primeira que encontraram, mas foram impedidos de entrar porque era boate só para brancos. Eles disseram: “Mas nós nos consideramos...” E responderam: “Não, a de negros é ali na frente”. Aí eles foram para a dos negros, e, chegando lá, também não puderam entrar, porque não estavam classificados, segundo eles, como negros. Então eu achava realmente que esse racismo era muito ruim, não tenho dúvida. E o Barack Obama soube conduzir com muita competência a sua campanha desde as origens. Nós aqui o consideraríamos como o quê? Como negro? Por ter a pele um pouco escura, filho de uma branca, de uma avó branca, criado por avôs brancos. Mas não interessa a cor. Eu quero chamar a atenção para a formação, para a educação de Barack Obama. Um homem que tem duas faculdades, uma na Universidade de Columbia e depois na Universidade de Harvard. Portanto, um homem extremamente preparado para conduzir o país e que soube demonstrar nessa campanha a capacidade de unir, como V. Exª colocou, hispânicos, latinos, brasileiros que estão lá. Nós vimos, inclusive, chineses fazendo campanha para ele e uma maioria significativa de brancos. Então, acho que realmente os Estados Unidos passaram a escrever uma nova página na sua história. Eu espero que para o Brasil isso seja muito benéfico, porque a relação dos Estados Unidos com o Brasil sempre foi aquela de nos considerar como uma república de bananas, pouco importante dentro da conjuntura internacional. Parabenizo V. Exª pela oportunidade do pronunciamento, porque não tenha dúvida de que se antes diziam que o que era bom para os Estados Unidos era bom para o Brasil, temos que dizer o seguinte atualmente: o que for bom para os Estados Unidos pode ser bom para o Brasil, dependendo de quem o governe.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Mozarildo. Aliás, quero parabenizar V. Exª pelo belíssimo pronunciamento de ainda há pouco. Eu o ouvi pelo rádio, não no todo, mas no trajeto da minha casa para cá, e foi perfeito quando V. Exª atacou a fisiologia, a troca de votos por cargos, estigmatizou os políticos, os Parlamentares que não sabem se mover fora desses baixos instintos.

Engraçado é que minutos antes estavam programando passeatas contra governadores, enfim. E que façam passeatas a favor dos professores. Mas o discurso de V. Exª foi ouvido sem que ninguém se entusiasmasse com a sua idéia de combater a corrupção. Aliás, aconteceu aquele episódio do “mensalão” e não vi ninguém dessa boa turma armar passeata. Eu vi foi muita gente se defendendo e se escondendo. Mas, muito bem.

Parabéns a V. Exª, porque é coerente no que faz. É um Parlamentar que passei a apreciar. Chegamos juntos ao Congresso Nacional, à Câmara dos Deputados.

Fomos adversários sem nunca termos permitido que a diversidade política nos afastasse no plano pessoal, e hoje eu me sinto muito próximo de V. Exª, porque companheiros de luta oposicionista aqui, esse é um fato, esse é um dado. V. Exª, dentro do seu partido, e certamente com o consentimento do seu partido, é um dos parlamentares mais independentes com que conta a Casa. Mas eu digo a V. Exª que de fato o racismo é de uma estupidez. Ainda há pouco eu observava que a nossa galeria era de adultos visivelmente do Sul do País, porque todos loiros. Agora eu percebo uma garotada, exatamente o futuro deste País, e nós temos que abrir os canais da nossa lucidez para prepararmos o Brasil para eles, porque a minha esperança é que Obama faça isso nos Estados Unidos. V. Exª pontua bem: ele é um homem preparado, um aluno brilhante de Harvard; sua esposa também, uma aluna brilhante de Harvard. Aliás, ele foi aluno do professor Mangabeira Unger, que hoje é Ministro de Estado no Brasil.

O racismo é uma coisa tão estúpida - sob todos os aspectos, do mais prosaico ao científico, porque parte de uma suposta superioridade branca e, eu repito, com fundo econômico, Senador Adelmir, porque na África do Sul o racismo tem explicação claramente econômica: é a reserva de melhores empregos, de melhores salários, de melhores oportunidades educacionais - e sem oportunidades educacionais as dificuldades econômicas só se aprofundam ao longo da vida - para os brancos. Então, nós tínhamos lá os ingleses, os boers, que eram os descendentes de holandeses e franceses, e os africanos, e nós precisávamos mesmo de uma mobilização social que teve como grande líder esse homem - que passou 28 anos preso, sem perder a lucidez em nenhum momento, sem se desesperar em nenhum momento - que se chama Nelson Mandela, uma figura que está acima de qualquer análise na África do Sul, porque ele é a África do Sul que se pretende mais democrática e mais justa hoje. Não acredito que o ódio racial tenha desaparecido, mas foi uma vitória Mandela ter-se imposto àquela coisa odiosa, injusta e perversa, que dava direito ao branco de estuprar negra sem punição, mas tudo com fundo econômico - preservar o melhor para os brancos, deixando o pior para os negros.

Senador Mozarildo, a filha do Presidente Jânio Quadros, em 1961 - depois Deputada, nessa época não era -, Tutu Quadros, foi barrada num bar na África do Sul por ser considerada negra, ela que era morena para nós. Eu queria até ser prosaico agora. V. Exª falou de uma boate que só tinha branco. Que coisa mais sem graça! Quer dizer, iriam barrar o astro do basquete, Michael Jordan? Iriam barrar o Pelé? Agora, vamos olhar pelo ângulo dos homens, enfim. Iriam barrar a Naomi Campbell, que é uma negra linda. Iriam barrar ou iriam pedir a árvore genealógica da Juliana Paes, para saber se ela tem negro na família? Eu até digo: Eu que tenho claramente a participação negra na minha vida, o meu avô negro, saí alvo de pele, tenho dois irmãos morenos, enfim, tenho uma irmã loira, sou a cara do Brasil. Se barrassem a Juliana Paes, eu me consideraria barrado na hora, eu me solidarizaria na hora, porque é de um mau gosto, o que prova que o racismo é cruel, injusto e burro. E mais: em boate que só entra branco nem tanto de mulher eles gostam. O racismo, para mim, não merece respeito. Entro até nesse terreno. Há quem não se assume como gay. Respeito os gays, porque é uma opção sexual, mas não respeito os racistas, não respeito. Enfim, todo racista deveria, no fundo, sair do armário, deveria se resolver. Mas, enfim, vamos ser bem francos: tem razão econômica por trás.

Eu gostaria, Sr. Presidente, de remeter, por intermédio de V. Exª, este pronunciamento modesto à Embaixada americana, ao Embaixador Clifford Sobel, que é uma figura que se relaciona com o Brasil de maneira admirável, para que os anais da Embaixada americana acolham este discurso, que deseja, em nome do PSDB, felicidades aos passos do Presidente Obama, porque é tanta responsabilidade que o pior retrocesso seria ele não dar certo. Acredito que ele vai fazer um bom papel, mas enfrenta uma crise terrível: recessão na Europa e sinais claros de recessão nos Estados Unidos, o que impõe a todos nós muita responsabilidade. Decréscimo no crescimento positivo da China, com reflexos que virão sobre a compra de commodities brasileiras. Um mundo difícil, com uma crise que poderá oferecer não a pior recessão - a recessão dos anos 80 foi pior -, mas um mundo que vai apresentar um quadro muito nítido de dificuldades, dificuldades que, se Deus quiser, não serão dramáticas, mas serão dificuldades e podem se tornar dramáticas se não encararmos com realismo, aqui mesmo no País, o tamanho da crise. Não é uma marolinha de que o Presidente Lula desdenhava. É um tsunami, a pior crise sistêmica, do sistema capitalista de produção, desde o crash de 1929.

Encerro, Sr. Presidente, pedindo a V. Exª que acolha a publicação, na íntegra, de discurso que aqui resumo. O Inpi, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e a Vale do Rio Doce apresentam dados preocupantes sobre desmatamento na minha região, com reflexos em alterações climáticas negativas. Mais: o relatório mostra que as temperaturas de Pará e Maranhão, Estados focos do estudo, podem subir até dois graus celsius a partir de 2010 e que as chuvas devem ter redução de até 10% entre 2010 e 2040. É o primeiro estudo tão detalhado a respeito do clima na região, e os prazos de análise são curtos. Então, peço que a matéria de O Globo que relata a pesquisa seja também inserida nos Anais da Casa.

Estou estranhando - nós que somos moradores de Brasília, que nos acolhe com tanto carinho - que, em novembro, tenhamos chuvas incertas. Era para as chuvas estarem torrenciais em Brasília. E mais: eu não sentia necessidade de ar-condicionado. Pela primeira vez na vida, coloquei ar-condicionado no meu quarto e no quarto dos meus filhos. Pela primeira vez na vida. As mudanças climáticas estão nítidas aí. Temos de estar atentos a isso.

Quando voltei, Presidente Colombo, para o Amazonas - eu morava no Rio de Janeiro e voltei exatamente há 30 anos por ter a minha primeira eleição de Deputado Federal em plena oposição ao regime autoritário -, lembro-me de que fui ao Paraná do Cambixe, no Município de Careiro da Várzea, e lá, eu, que estava fazendo a transição de alguém que tinha tido toda a sua formação no Rio de Janeiro, Senador Paulo Duque, que é a sua terra tão querida, para o amazonense que eu jamais quis deixar de ser, ouvi um ribeirinho dizer para mim assim: “O senhor precisa voltar aqui na época da ‘séca’”. E eu fiquei intrigado com aquela pronúncia. Eu disse: Será que é sotaque regional? Ele quis dizer seca e está falando “séca”? Fui ao dicionário e não encontrei, até hoje, em dicionário nenhum, a palavra “seca”.

Era a sabedoria do homem da região. Era o conhecimento empírico, da região, do ribeirinho, do caboclo. Por quê? Porque seca se aplica, se aplicava ao Nordeste: época das cheias, época das águas e época da seca, no Nordeste. Já, na Amazônia, o que tinha era mais água ou menos água, não havia seca. Portanto, o caboclo, com muita sabedoria, disse: “Séca”. Eu compreendi isso e foi uma lição de Amazônia que tomei logo ao retornar para a minha terra. Ultimamente, nós temos visto seca, o solo esturricado, lembrando paisagem nordestina. Os dicionaristas deveriam inclusive incluir essa expressão nas suas novas edições, porque há diferença, sim, entre seca e “seca”, e o que eu temo é que as alterações climáticas levem a seca para o Amazonas, desaparecendo a figura da “seca”, que significava menos água, mas muita água, e não água nenhuma, como sempre aconteceu no Nordeste, e como eu já vi, nos últimos momentos, acontecer no meu Estado. É uma preocupação muito grande. 

É uma preocupação muito grande!

Finalmente, Sr. Presidente, encaminho à Mesa voto de aplauso ao professor Antônio Augusto Cançado Trindade, por ter sido eleito Juiz da Corte Internacional de Justiça de Haia. Ele sucede outros brasileiros, como José Philadelpho de Barros Azevedo (1946/1951), Levi Fernandes Carneiro (1951/1955), José Sette Câmara (1979/1988) e o Ministro Francisco Rezek (1996/2006). Tenho certeza de que, pelo seu preparo, ele, que é oriundo da Universidade de Brasília e que participou da direção do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores, pelo seu preparo intelectual, pelos livros que publicou, por sua experiência como magistrado internacional, Doutor (PHD) em Direito Internacional por Cambridge, juiz e ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, professor titular da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Rio Branco, ex-consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, membro titular do Institut de Droit International e do Curatorium da Academia de Direito Internacional de Haia, membro das Academias Mineira e Brasileira de Letras Jurídicas, autor de 30 livros, de aproximadamente duas centenas de pareceres jurídicos, de cerca de 360 monografias, artigos, contribuições para livros publicados em vários países, enfim, por tudo isso, tenho certeza de que a indicação brasileira merece aplauso.

Está de parabéns o Governo brasileiro por ter indicado o professor Antônio Augusto Cançado Trindade para nos representar na Corte de Haia, que, aliás, sucede também alguém que brilhou na área, o imortal Senador baiano Rui Barbosa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO.

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            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, algumas previsões internacionais pessimistas que já trouxe a este Plenário, a respeito de alterações climáticas na Amazônia, parecem, infelizmente, que caminham para confirmar-se.

É o que mostra relatório feito em pareceria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Vale, sobre os efeitos do aquecimento global na Região. Esses dados foram publicados pelo jornal O Globo, edição do dia 10 de setembro deste ano.

Não se trata nem de conseqüência do desmatamento - e este é um agravante. Em resumo, o relatório mostra que as temperaturas nos Estados do Pará e Maranhão - foco do estudo - podem subir até 2 graus Celsius a partir de 2010. E as chuvas devem ter redução de até 10% entre 2010 e 2040.

É a primeira vez que se faz estudo tão detalhado a respeito do clima na Região e para prazos curtos. Até então, os estudos abrangiam áreas maiores e faziam previsões para o final do século.

Pela importância da avaliação, solicito que a notícia de O Globo, aqui anexada, seja transcrita nos Anais da Casa.

Era o que tinha a dizer.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida: O Globo “Emergência na Amazônia”


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2008 - Página 44406