Discurso durante a 208ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de autoridades recentemente laureadas com o Grande Colar do Mérito do Tribunal de Contas da União. Início de encontro da Maçonaria, em Chapecó/SC. Eleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos da América. Comentários a respeito da crise financeira mundial e seu impacto na economia brasileira.

Autor
Raimundo Colombo (DEM - Democratas/SC)
Nome completo: João Raimundo Colombo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA. POLITICA SOCIAL. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Registro de autoridades recentemente laureadas com o Grande Colar do Mérito do Tribunal de Contas da União. Início de encontro da Maçonaria, em Chapecó/SC. Eleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos da América. Comentários a respeito da crise financeira mundial e seu impacto na economia brasileira.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2008 - Página 44500
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA. POLITICA SOCIAL. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, INICIATIVA, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), CONCESSÃO HONORIFICA, AUTORIDADE, IMPORTANCIA, HISTORIA, POLITICA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, REPRESENTANTE, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), HOMENAGEM POSTUMA, ADEMAR GHISI, EX MINISTRO, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REPRESENTAÇÃO, ANTONIO CARLOS KONDER REIS, EX GOVERNADOR, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, COMENTARIO, BIOGRAFIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • SAUDAÇÃO, REALIZAÇÃO, MUNICIPIO, CHAPECO (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ENCONTRO, AMBITO ESTADUAL, MAÇONARIA, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, GRUPO, HISTORIA, BRASIL, REGISTRO, DEBATE, ETICA, COMPORTAMENTO, CIDADÃO, CONDUTA, REPRESENTANTE, SOCIEDADE, FUTURO, PAIS.
  • COMENTARIO, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), SAUDAÇÃO, BARACK OBAMA, CANDIDATO ELEITO, ANALISE, EXPECTATIVA, POLITICA EXTERNA, COMERCIO EXTERIOR, REGISTRO, EFEITO, CRISE, MERCADO FINANCEIRO, CAMPANHA ELEITORAL, CANDIDATO, OPOSIÇÃO, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, BRASIL, AUSENCIA, IDEOLOGIA, POLITICA, ESPECIFICAÇÃO, ELEIÇÃO MUNICIPAL.
  • CONTRADIÇÃO, POSTERIORIDADE, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RECUSA, ASSINATURA, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DISCORDANCIA, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), INICIATIVA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, UTILIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, SEMELHANÇA, PROPOSTA, COMBATE, EFEITO, CRISE, MERCADO FINANCEIRO.
  • CRITICA, INEXATIDÃO, AVALIAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, EXTENSÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL.
  • ANUNCIO, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, GRUPO, CONGRESSISTA, ANALISE, DIMENSÃO, CRISE, UNIÃO EUROPEIA.
  • ELOGIO, TRABALHO, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AGRICULTURA, DENUNCIA, FALTA, EMPENHO, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, PREVISÃO, ORADOR, REDUÇÃO, SAFRA, EXPECTATIVA, MELHORIA, ATIVIDADE AGRICOLA, NECESSIDADE, PAIS, AQUISIÇÃO, PRODUTO, REVISÃO, PREÇO, SUBSIDIOS, OPORTUNIDADE, CRESCIMENTO, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Quero cumprimentar o nosso Presidente, Senador Adelmir Santana.

Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de fazer dois registros e depois fazer um pronunciamento sobre a eleição nos Estados Unidos.

O primeiro registro é que o Tribunal de Contas da União concedeu o Grande Colar do Mérito do Tribunal de Contas, que foi instituído em 2003, agora a sete autoridades brasileiras. O primeiro a um catarinense, ao Ministro Ademar Paladine Ghisi, in memorian; ao ex-Ministro Arnaldo da Costa Pietro; ao pianista Arthur Moreira Lima; ao Ministro Célio de Oliveira Borja; ao Ministro José Carlos Moreira Alves; à Confederação Nacional do Comércio; e também ao ex-Governador de Santa Catarina, Antônio Carlos Konder Reis, sete autoridades destacadas na história política brasileira, sendo dois catarinenses.

O Ministro Adhemar Ghisi, que faleceu recentemente, Parlamentar brilhante, homem público extraordinário, um exemplo para todos nós, inclusive foi Ministro do Tribunal de Contas da União, recebeu, através da sua senhora, uma homenagem realmente destacada, merecida e reconfortante à família e a todos nós brasileiros.

Eu tive o privilégio de representar o Dr. Antônio Carlos Konder Reis, um dos políticos mais brilhantes do nosso País. Foi Deputado Estadual, Deputado Federal várias vezes, Senador da República, Governador duas vezes, Vice-Governador, Relator da Constituinte de 67, Relator Adjunto da Constituição de 88, um dos homens mais cultos que conheço. Dedica sua vida exclusivamente à vida pública, homem probo, um exemplo, uma pessoa extraordinária que, não podendo estar presente à solenidade, pediu-me que o representasse e eu o fiz com o maior orgulho, com a maior honra, pois tenho por ele uma admiração extraordinária. É realmente uma das pessoas que são referências, porque o líder é aquele que deixa caminhos, que mostra caminhos, que tem seguidores. Em Santa Catarina mesmo e no Brasil, são milhares os seguidores de Antônio Carlos Konder Reis, pelo seu exemplo, pela sua história, pela sua vida, pelo resultado do seu trabalho. Foi realmente uma grande honra e eu cumprimento o Tribunal de Contas da União pela extraordinária homenagem a todos os sete, e destaco aqui os dois catarinenses.

Quero, também, cumprimentar a todos os catarinenses que estarão no encontro da maçonaria, que começa hoje em Chapecó. É extraordinário esse grupo. Não sou maçom, mas tenho uma grande admiração pelo trabalho que eles fazem, pela contribuição que eles dão, desde o Império e sempre, à sociedade brasileira.

Os temas que serão discutidos são extraordinariamente oportunos e vão realmente destacar, ampliar e qualificar ainda mais a participação na sociedade brasileira.

O Senador Mozarildo Cavalcanti, uma das grandes autoridades do Brasil, estaria hoje lá, estava sendo aguardado, mas infelizmente não foi possível. V. Exª seria muito bem recebido, pois no nosso Estado tem grande número de admiradores, havia uma expectativa muito grande. Tenho certeza de que em breve V. Exª estará lá e poderá transmitir seu conhecimento, como fez hoje aqui, que vai repercutir lá.

Hoje inicia um encontro extraordinário na especial cidade de Santa Catarina, que é Chapecó, centro de desenvolvimento, uma região importante, o oeste catarinense, uma região produtora, que vai concentrar esse encontro de todos os catarinenses que vão debater temas extraordinários com relação à ética, ao comportamento do cidadão, aos valores, princípios da conduta dos líderes na nossa sociedade e o futuro do nosso País.

Cumprimento a todos os que estarão lá. Infelizmente não poderei estar presente, mas será um evento de grande repercussão e mostra a importância desse segmento, desse grupo de pessoas honradas, que trabalha, que faz o bem sem mostrar o rosto, sem querer ser reconhecido por isso, mas que ajuda muito a nossa sociedade a evoluir.

Sr. Presidente, eu desejo colocar a importância, a simpatia que causou em todo o mundo a eleição do Senador Barack Obama, agora Presidente eleito dos Estados Unidos. Ele realmente é um homem predestinado, um homem que se qualificou, venceu barreiras incríveis. Nas primárias do Partido Democrata, ele venceu nada menos que a Senadora Hillary Clinton, que era tida como uma grande candidata, a quem dificilmente alguém poderia fazer frente; ainda mais um negro, ainda iniciando a carreira, pudesse competir com ela em condições de igualdade e até superá-la. Foi realmente uma grande surpresa. No início, ninguém acreditava.

O Senador Barack Obama mostrou realmente talento político, capacidade de comunicação. Ele é um homem que se comunica extraordinariamente bem, com grande carisma. E, depois, ele venceu a eleição contra, não um candidato qualquer, mas o Mc Cain, que é uma bandeira, é uma referência nos Estados Unidos. É um herói de guerra, um homem de conduta ilibada, uma pessoa extremamente qualificada, e que mostrou, de forma muito clara, que não era uma eleição qualquer; não era.

Mas, com certeza, o grande fator que prejudicou o Senador Mc Cain foi realmente a crise americana. Houve também a questão da Guerra do Iraque, que teve lá um desgaste muito grande; um outro fator importante foi o Furacão Katrina, quando o Governo demorou muito a reagir. Mesmo quando essa discussão era forte e desgastava o Governo, o Mc Cain ainda estava em primeiro lugar. Nas pesquisas, ele estava à frente do Obama. O que realmente tirou a eleição do Partido Republicano e do Mc Cain foi realmente a crise econômica. Esta fez com que se mudasse todo o processo de avaliação de preferência política, porque Barack Obama, claro, do ponto de vista do seu desempenho pessoal, do seu carisma, se tornou, no mundo inteiro, a grande referência, e há grande simpatia em torno dele. Mas não era assim, nos Estados Unidos, no início. Ele se transformou depois. Ela é uma vitória pessoal, forte. É claro que ela tem muitos lados e muita simbologia em diversos setores.

E aqui já foi falado pelo Senador Arthur Virgílio, ele não usou a seu favor a questão do racismo, até porque, neste momento, isso seria limitante. Os Estados Unidos até evoluíram muito nessa questão. Quando a Suprema Corte declarou, em 1954, inconstitucional a segregação nas escolas públicas isso já foi de certa forma um avanço. Aquela legislação de 64, de 65, onde se conquistaram os direitos civis, o próprio direito eleitoral, foi muito rápido. Vejam que 43 anos depois já temos isso tudo superado e elegendo agora um Presidente negro dos Estados Unidos. Mas também o próprio Partido Republicano trabalhou nessa questão quando nomeou, no primeiro Governo Bush, o Bush pai, aliás o único que não se reelegeu, Colin Powell, cujo livro li, realmente mostra claramente ali a ascensão da comunidade negra nos Estados Unidos. Agora mesmo, a Condoleezza Rice, como Secretária de Estado, é destacada.

Então é impressionante como, num período tão curto, a sociedade americana mostrou tanto bom senso e equilíbrio, superando aquilo que era uma coisa inadmissível, inaceitável num país de referência como esse, poder ter hoje um presidente negro, pela primeira vez na história americana, mas com carisma realmente espetacular. A crise no Governo Bush prejudicou muito o Partido Republicano. No Estado de New Hampshire, o candidato ao Senado perdeu para um adversário que só dizia duas palavras, como o caso daquele que dizia “meu nome é Enéas!” Lá, ele dizia “Eu sou anti-Bush”. Um Senador renomado, com forte atuação - não me lembro seu nome agora -, acabou sendo derrotado por um que não tinha nenhuma proposta. A única coisa que fazia era passar essa mensagem.

No Estado de Minnesota, onde há cerca de três milhões de eleitores, um dos Senadores mais destacados concorreu, Senador Mozarildo, contra um cômico e ganhou por 571 votos. Então, houve, de forma clara, uma posição contra o Presidente Bush e o Partido Republicano. Isso ficou muito claro no resultado da eleição, sobretudo na eleição parlamentar, onde o Partido Democrata ampliou a sua representação, que já era majoritária, tanto no Senado quanto na Câmara.

Eu acho que isso deixa alguns sinais para todos os países, especialmente para o nosso, porque há vários fatos novos refletindo na conduta da sociedade. O Senador Arthur Virgílio falou da posição de Gorbachev quando fez aquela abertura na Rússia. Eu li, na época, em 1985, seu livro e me impressionou muito a sua visão e o seu combate contra o estatismo, contra o controle do Estado, o excesso do Estado, a corrupção, o velho Estado arcaico e corrupto que sabemos se estabelece ao longo do tempo e que a história mostra que acontece desde o início da civilização. Assim foi no Império Romano.

A grande verdade é que aquele modelo construído após a Segunda Guerra Mundial, que até levantou o Muro de Berlim para construir ali uma diferença ideológica, é uma coisa superada. O muro já caiu, o modelo soviético também não existe mais. Eles estão construindo e estão tentando ter a sua posição. Assim, essa questão ideológica não é mais parâmetro para a preferência política. Isso também se dá aqui no Brasil, de forma muito clara. E essa falta de identidade política se traduz, por exemplo, na eleição municipal. Num Município, seu aliado era o partido que tinha o número 11. Aí tu viajavas 30 quilômetros e o seu aliado era o partido de número 15 e o de número 11 já era seu adversário. Aí no outro era o de número 45, no outro era... Então, as pessoas percebem que os partidos hoje praticamente não têm mais identidade. Existem diferenças, existem lideranças que se destacam, que têm a sua preferência, a sua postura, a sua imagem, mas, quanto aos partidos virou tudo uma salada, exatamente em conseqüência dessa questão ideológica.

E há no Brasil um outro fator também que repercute, que amplia essa confusão, que é a falta de diferença, na prática, de proposta de governo. Porque, de forma clara, dez anos atrás, nós tínhamos um grupo que tinha uma ação de governo mais liberal, que se carimbou como neoliberal e se achou ali todos os defeitos do mundo, porque havia uma oposição muito dura feita pelo PT e que apresentava questões muito diferentes. Por exemplo, no caso das privatizações, havia aquela história muito clara de que o PT não aceitava... O PT não quis assinar a Constituição de 88. Lembro, por exemplo, a questão do lucro dos bancos. Eu só tenho uma conta no banco, mas a gente, que era oposição, era carimbado como banqueiro, diziam que representávamos o lucro dos bancos.

O Proer, Senador Mozarildo Cavalcanti, era uma coisa clara. Se formos analisar o que o PT falou do Proer, veremos que ele agora está fazendo algo igual. Inclusive, artigos do Ministro Guido Mantega diziam realmente horrores do Proer. Mas agora o que ele pode dizer da ação que está fazendo na proteção dos bancos?

A questão do nacionalismo. Havia uma diferença clara de proposta, de modelo, de solução para o nosso País. A diferença existia, mas hoje não há mais, porque o PT chegou ao Governo e está fazendo exatamente aquilo que ele combatia, que ele quase criminalizava, indo para as ruas e chamando a gente de tudo quanto era coisa. Você imagina o PT, na Oposição, agora, aqui, combatendo ou dizendo de novo o que o Governo está fazendo em relação ao Proer do Lula. Em contraponto, não aceita que o INSS aumente ou corrija de forma adequada o salário dos aposentados. Então, se o PT agisse com a irresponsabilidade com que agiu quando era Oposição, nós hoje teríamos passeatas pelo Brasil inteiro e o Congresso aqui não poderia funcionar. A verdade é que o PT chegou ao Governo e ficou igualzinho ao que combatia antes. Isso confunde as pessoas e desgasta a classe política.

O que é o Obama nesse contexto? O Obama é o novo. Ele representou mais do que disse e mais do que propôs. Eu procurei acompanhar e não vi propostas claras do candidato Obama. Ele era muito genérico, não dizia como ia resolver o problema. Ele levantava o problema, mas não dizia como iria resolvê-lo. Claro que nós todos vibramos, pela simbologia da sua eleição, pela característica pessoal, muito simpática, muito carismática, mas, se formos olhar a questão, veremos que ela é mais profunda, porque o Partido Democrata é mais protecionista. Representando mais as questões internas, vamos ter conseqüências no Brasil.

Mas eu mesmo torci pelo Obama e, se fosse votar, votaria nele, pelo que ele representa em relação à evolução social, à capacidade da sociedade americana, que não é diferente da do Brasil, pois um operário é o Presidente do nosso País. Isso mostra que essa movimentação social é realmente uma coisa extraordinária, sendo uma das grandes conquistas da democracia, uma das marcas da democracia que faz com que nada seja impossível. Isso é uma coisa extraordinária.

A palavra-chave da campanha do Obama era “mudança”. Acho que isso se aplica muito ao Brasil. Acho, Senador Mozarildo, que o Governo está errando muito na avaliação da crise por todas as informações que recebemos. Ainda hoje vamos viajar com um grupo de Parlamentares para a Alemanha a fim de conhecermos mais profundamente o que está acontecendo na Comunidade Européia. Mas nós nos relacionamos. Falo praticamente todos os dias com um amigo que é reitor numa universidade de Economia dos Estados Unidos. As informações que recebemos do que está acontecendo lá e do impacto que vai ter aqui são bem diferentes daquilo que o Presidente diz, quando fala que é uma marolinha, ou do que a Ministra Dilma Rousseff disse ao comparar a crise a uma gripe de final de semana. As informações que recebemos são completamente diferentes do que está sendo dito aí.

Senador Mozarildo, concedo um aparte a V. Exª e fico honrado de tê-lo aparteando o meu pronunciamento.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Eu que me sinto honrado, Senador Colombo. Primeiramente, quero agradecer a V. Exª pelo registro que faz do 6º Congresso Maçônico catarinense, que se realizará em Chapecó. Como V. Exª disse, eu estaria lá amanhã, como um dos conferencistas, mas fiz um pronunciamento hoje, da tribuna do Senado, que acho que terá uma abrangência maior, porque foi para todo o Brasil.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Com certeza.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Tenho certeza de que os nossos irmãos maçônicos de Santa Catarina, o quarto Estado em importância na Maçonaria brasileira, estão atentos à realidade do País. Fiquei também muito impressionado com a análise de cientista político que V. Exª fez do quadro não só dos Estados Unidos como do Brasil. Coincidentemente, ganhou lá o Partido Democrata e V. Exª é do Democratas brasileiro. Então, espero que igual sorte também tenha V. Exª. Tenho certeza de que muitos catarinenses querem vê-lo no Governo daquele Estado. Faço votos de que realmente V. Exª seja o próximo Governador.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Muito obrigado.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Quanto ao PT, realmente, V. Exª colocou com muita elegância. Mas até já fiz aqui um pronunciamento mostrando o paradoxo. O Presidente Lula disse que ele é uma metamorfose ambulante. Eu diria que ele está sendo quase uma metamorfose ambulante delirante, porque o Presidente Lula, quando Constituinte, simplesmente não votou o texto constitucional, dizendo que o texto constitucional não prestava, que estava obedecendo ao comando do Palácio do Planalto. Quem era o Presidente? O Presidente Sarney. Disse ainda que os Constituintes eram conservadores, banqueiros, reacionários e que os militares ficariam na mesma situação. Porém, hoje, essas pessoas que ele acusou dessa forma é que garantem a governabilidade do governo dele. E o combate que ele fazia da política que eles chamavam de neoliberal, de entreguista? Então, eles estão fazendo uma política neossocial, que está sendo pior do que a neoliberal, porque, na verdade, estão estatizando setores de maneira indireta. Eles dizem: “Mas estão fazendo na Europa também”. Então, de fato é preciso que o Presidente Lula fale menos e aja mais, fale menos e ouça mais. Ele tem bons assessores. O Presidente Henrique Meirelles, que, felizmente, está na Presidência do Banco Central, é um homem que ele tem que ouvir mais, e tem que deixar de ouvir certos setores radicais e ideológicos do PT, que, na verdade, ao contrário do que o Presidente diz - que é a Oposição que torce pelo quanto pior melhor -, parece que são os setores que torcem para que realmente a coisa fique ruim e eles possam então argumentar que precisam mais tempo no poder para corrigi-la. Quero cumprimentar V. Exª e, repito, quero vê-lo Governador de Santa Catarina.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Agradeço muito as palavras de V. Exª, e já me encaminhando para o encerramento, Senador Adelmir Santana, eu quero...

Não sei se o Senador Cristovam Buarque quer um aparte ou se vai fazer um pronunciamento logo em seguida.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Um aparte.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Por favor, é uma honra para mim. O meu sonho é que um dia Cristovam e Colombo se unam.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu deveria era chamar Senador “Cristovão”, porque de vez em quando me chamam de Senador Colombo.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Muitos me chamam de Senador Cristovão Colombo.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Raimundo Colombo, eu quero dizer da satisfação de poder dar este aparte e também que há diversos temas do seu discurso que eu gostaria de comentar. Vou começar pelo que o Senador Mozarildo Cavalcanti trouxe, que é a posição do Partido dos Trabalhadores. Eu fui do Partido dos Trabalhadores e lembro que defendi o Proer. Levei muita pancada.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Ao contrário do partido, na época.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Ao contrário. Fui mais longe. Em uma entrevista, creio que em setembro de 1998, eu disse que se Lula ganhasse a eleição de outubro de 1998, deveria manter o Malan por pelo menos 100 dias. Isso porque vivemos num momento em que a credibilidade é tudo, e a grande causa da crise é a falta de credibilidade, porque uma instituição, na verdade duas entraram em uma crise explícita, porque a crise já existia, essa alavancagem do sistema financeiro, além do que é tolerado no sistema bancário. Mas creio que muitos não perceberam ainda que a crise não está só no sistema financeiro, mas está no setor produtivo. Banco não empresta mais apenas para ter lucro, porque eles gostam; banco empresta mais porque tem gente querendo empréstimo para comprar mais. E há indústria procurando ajudar a dar crédito porque quer vender mais: é o setor produtivo. Os empréstimos de 100 meses para comprar carro é claro que iam terminar dando problema, como vão dar ainda, a meu ver, no Brasil. E essa injeção de ontem é uma tentativa de evitar isso. A grande pergunta, e não sou contra essa injeção, é por que na hora da injeção para os bancos que estão derretendo, a gente encontra dinheiro público federal? No entanto, na hora de evitar que derretam os cérebros das nossas crianças sem escola boa, a gente não encontra dinheiro federal. Inclusive, quando defendo a federalização, acham que é um absurdo. Então, esse é um ponto. O outro ponto, que foi a abertura do seu discurso e sobre o qual eu gostaria de me manifestar, é também a minha simpatia, que o Senador Mozarildo Cavalcanti conhece, pelos maçons, pela luta dos maçons na República, na Abolição da Escravatura, na volta da democracia no Brasil, na luta pela educação. Isso do ponto de vista político. Além disso, o trabalho deles diretamente, na ação concreta, ajudando milhões de pessoas no Brasil afora. Uma rede de proteção social que vemos também nos espiritualistas e em diversas igrejas. A Maçonaria que, muitas vezes, é vista como contra a Igreja faz um trabalho que poucas igrejas fazem do mesmo tamanho. São pessoas pelas quais tenho o maior respeito. E terceiro, sobre o Presidente Barack Obama. Primeiro, estou de acordo com V. Exª de que é um gesto simbólico fundamental. Perguntaram-me em uma entrevista, há alguns dias, antes da eleição dele, qual dos dois eu achava melhor para o Brasil, o Mc Cain ou o Obama. Eu disse: “Para o Brasil é a mesma coisa, mas para a humanidade, Obama é melhor. E como o Brasil é parte da humanidade, penso que é melhor que seja o Obama”. Não por essas questões comerciais. Nisso, cada um tem que defender o interesse do seu país. Ele realmente representa um símbolo. Agora, eu acho que ele chegou a formular algumas propostas, Senador Raimundo Colombo. Não explícitas, não com detalhes, mas quando ele falava em distribuir a renda, penso que ele chegou a deixar claro que vai fazer isso por meio do sistema de saúde. E continuo achando que a melhor maneira de se distribuir renda, Presidente Adelmir Santana, não é distribuí-la, mas os serviços em que a renda é necessária para comprar. Se dermos saúde boa e educação boa, estaremos distribuindo renda.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Perfeito.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - O importante não é o contra-cheque, mas o que você compra com ele. Em educação, ele fala pouco. Mas é um professor, um homem que vem da vida acadêmica, é um comprometido. Em saúde, ele falou muito, até pela influência da Senadora Hillary Clinton. Eu tenho muita esperança que o Governo do Presidente Obama, além do simbolismo... Imagine a África como não deve estar de alegria. Ontem vi uma matéria em uma televisão brasileira dizendo que acabou o racismo. Talvez seja muito forte isso, mas a partir de agora... Como já vi acontecer aqui em Brasília, algumas pessoas me contaram sobre um negro indo em seu carro, com o seu motorista branco, e as pessoas que o acompanhavam falavam com o motorista e não com ele. Um funcionário, um Diplomata da Embaixada cubana, meu amigo, Sergio Cervantes, que é negro, disse-me que uma vez estava no carro e o guarda o parou... Não. Uma pessoa pediu esmola para ele e ele disse que não tinha dinheiro naquele momento. O pedinte então disse: “Não estou falando com você, crioulão. Estou falando com o dono do carro”. Veja a que ponto... Isso não vai acabar individualmente, mas vai haver uma quebra dessa idéia de diferença. Teremos que respeitar, o mundo inteiro, a partir de agora, terá que respeitar o negro como pessoa que é capaz de ser Presidente dos Estados Unidos. Vão ficar, inclusive, bonitas e bonitos os negros, porque a beleza vem muito não só de um instinto estético, mas também de um respeito social. Beleza tem muito a ver com isso. É um simbolismo, mas acho que ele tem uma linha do que fazer e como fazer. E, provavelmente, será uma mudança forte nos Estados, dentro da democracia, sem quebrar nenhum dos pilares da sociedade norte-americana, como Roosevelt não quebrou nenhum; mas, realmente, significou uma mudança. Só para encerrar, V. Exª falou um pouco e queria lembrar que a nossa geração tem tido a oportunidade de ver coisas fascinantes. Vimos o homem chegar à Lua. Estamos vendo o avanço na área da medicina. Estamos vendo essa história de clonagem, do DNA, descobrindo como é que o ser humano é produzido. Vimos a queda do Muro de Berlim. Vimos o fim do apartheid na África do Sul, que poucos imaginavam. Vimos o fim das ditaduras que existiam nos anos 70 em tantos países. E, agora, vemos um negro, com cara de progressista, com discurso progressista, ser o Presidente dos Estados Unidos. Vamos ter muito que contar para os netos. E isso me deixa muito feliz, independente de qualquer resultado que surja.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC) - Com certeza. Agradeço a V. Exª, que enriquece o meu pronunciamento, mas também a participação do Senador Mozarildo Cavalcanti. Fico orgulhoso.

Realmente, essa questão vai ser uma referência para nós todos e terá impacto político no Brasil. Acho que esse é o grande desafio.

Preocupa-me muito a questão da crise. E V. Exª colocou muito bem: uma coisa é a crise no setor financeiro, esta é uma unanimidade. O Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem feito um trabalho correto, digno de elogios, mesmo nós da Oposição reconhecemos: que bom que está sendo feito. Agora, o Senador Cristovam Buarque destacou que em relação a outros setores, como, por exemplo, o da agricultura, realmente o Governo está deixando a desejar. E vamos ter uma queda de safra, na minha opinião, muito maior do que essa que está sendo prevista. É uma coisa meio estranha, porque é o momento. Mas espero que, em 2010, possamos retomar, porque os países que se vão agravar na crise precisarão comprar mais e terão de diminuir o subsídio, que é uma questão fundamental. E aí teremos uma oportunidade. Tomara que, em 2010, o governo enxergue isso e dê condições para crescermos.

Agradeço a oportunidade e foi um privilégio ter V. Exª na Presidência, Senador Adelmir Santana.

Obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2008 - Página 44500