Discurso durante a 209ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cobrança de uma política de pessoal pelo Governo.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.:
  • Cobrança de uma política de pessoal pelo Governo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/11/2008 - Página 44717
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, COBRANÇA, GOVERNO, ADMINISTRAÇÃO, QUADRO DE PESSOAL, SERVIÇO PUBLICO, ATENDIMENTO, DEMANDA, CIDADANIA.
  • IMPORTANCIA, CUMPRIMENTO, OBRIGATORIEDADE, CONCURSO PUBLICO, GARANTIA, QUALIDADE, ADMISSÃO, SERVIDOR, DEMOCRACIA, ACESSO.
  • COMENTARIO, PESQUISA, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), INICIATIVA, COMISSÃO DE ETICA, GOVERNO FEDERAL, DADOS, PERCENTAGEM, SERVIDOR, CONFISSÃO, RECEBIMENTO, PROPINA, DESCUMPRIMENTO, LEGISLAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, RECONHECIMENTO, FALTA, ETICA, DIRETRIZ, INTERESSE PUBLICO, AUSENCIA, PREPARO, COBRANÇA, ORADOR, RESPONSABILIDADE, GOVERNO, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA, COMPROMISSO, RESULTADO, ATENDIMENTO, CONTRIBUINTE, PROMOÇÃO, INCENTIVO, TRABALHO, MELHORIA, FORMAÇÃO, EXPECTATIVA, APROVEITAMENTO, ESTUDO, APERFEIÇOAMENTO, SERVIÇO PUBLICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, não tenho nada a desculpar ao Senador Arthur Virgílio, já que a informação que ele presta aqui é das mais relevantes, e a toda a Nação interessa.

Sr. Presidente, por diversas vezes, tenho ocupado esta tribuna ...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Peço permissão para prorrogar a sessão por mais meia hora, para ouvirmos todos os oradores.

Use a tribuna pelo tempo que achar necessário.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Agradeço a V. Exª.

Sr. Presidente, tenho ocupado esta tribuna, por diversas vezes, para cobrar uma política de pessoal.

Entendo que a administração de pessoal é uma ferramenta efetivamente importante para garantir um desempenho adequado da administração, a fim de que ela cumpra a sua grande destinação.

Trata-se de uma área da mais alta importância, já que a sua atividade, a atividade do serviço público, é diretamente ligada às demandas de cada cidadão. Portanto, é uma atividade que está ligada à própria cidadania.

Estou falando, Sr. Presidente, daquele servidor que é responsável pelo atendimento do pai ou da mãe que postula uma vaga na escola pública para matricular o seu filho; do atendente incumbido de receber o doente que reclama socorro numa unidade de saúde qualquer de nosso País; do médico, do dentista, do bioquímico; do policial, que têm a tarefa de atender à vítima assaltada ou que está na iminência de sofrer qualquer tipo de violação; do legista, que só se encontra com a dor, mas que pode agravá-la ainda mais, dependendo da forma como atende àquele que necessita de seus serviços em determinados momentos; do burocrata, a quem incumbe expedir, às vezes, uma simples certidão, que, não raro, acarreta grandes aborrecimentos àquele que precisa desse documento.

Enfim, Sr. Presidente, estou falando sobre o pessoal da administração pública, mais especificamente sobre o servidor. Servidor cuja alcunha já diz claramente: foi instituído para servir. A admissão ao serviço público impõe um requisito que, teoricamente, corresponderia a um selo de qualidade, que é o concurso. Ninguém pode ser admitido no serviço público senão em razão de concurso. A exigência desse certame está alicerçada em dois objetivos. O primeiro, fazer a seleção dos melhores. Ao aplicar provas, e provas e títulos, espera-se sempre com o concurso recrutar os servidores mais qualificados para prestar os melhores serviços, com a melhor qualidade, com o melhor padrão. O segundo objetivo é o de democratizar as oportunidades. O concurso é público. Portanto, é aberto a todos que tenham atributos para bem exercer determinada atividade para a qual fora convocado o concurso.

Assim, a admissão ao serviço público obedece a um adequado pressuposto, que tem, na mira, o bom atendimento. Esse é o objetivo central da seleção.

No entanto, é um grande equívoco imaginar que o concurso é suficiente para dotar o serviço público de bons servidores. A propósito, a Universidade de Brasília acaba de noticiar uma pesquisa que mostra dados preocupantes sobre esse assunto. Por exemplo, 18,1% dos servidores pesquisados admitem que já cobraram propina para atender a uma reivindicação legítima do cidadão. Veja, Sr. Presidente: são 18,1%. É um número efetivamente recheado, porque, quando se fala em propina, fala-se da vantagem que se está retirando de um cidadão que precisa, em determinado momento, de uma providência a que o servidor está na obrigação de atender. No entanto, uma parcela considerável está exigindo uma contrapartida que, além de aética, é ilegal.

Cerca de 22,5% dos funcionários entrevistados reconheceram que já descumpriram a lei. Veja, Sr. Presidente: o servidor público, que deveria ser o espelho, em uma fatia considerável, admite, confessa que descumpre a lei.

Mais grave: somente 51,3% - portanto, pouco mais da metade - reconheceram-se éticos, o que é um dado extremamente desalentador, que mostra uma deterioração. Esses servidores reconhecem que não agem sob o primado da ética e da decência.

Mostrou ainda essa pesquisa que um contingente apreciável de servidores exerce “com desprezo” a sua atividade, o seu mister, ou seja, é um contingente que diz que está no serviço público simplesmente porque tem necessidade e precisa do salário, mas que faz exatamente aquilo que não lhe apetece. Foram quase 12% - mais precisamente 11,9% responderam assim.

Outro dado preocupante, Sr. Presidente: mais de um quarto dos entrevistados, exatos 26,7%, confessam que a categoria não está focada no interesse público.

Por sua vez, mais da metade dos que foram ouvidos consideram os funcionários “amadores” ou “semiprofissionais”.

Veja a gravidade, Sr. Presidente: fez-se o concurso para selecionar o melhor contingente, e, de repente, os que foram selecionados, os que foram recrutados entre os melhores acabam confessando, ou acabam se transformando em servidores amadores ou semiprofissionais. Foram 57,7% que responderam assim. É a maioria que enxerga nos funcionários públicos as condições de amadores ou semiprofissionais.

Essa pesquisa mostra o que já percebemos no contato diário com a sociedade, com a sociedade que reclama, com muita freqüência, de várias áreas do serviço público. Sempre que a sociedade precisa do serviço público, ela vai em busca do atendimento e, às vezes, sai de lá desapontada com a forma com que é atendida. Mostra ainda que se faz necessária e urgente a formulação e a execução de uma política de pessoal. Por quê, Sr. Presidente? Porque a culpa não é, em última instância, do servidor. A culpa é do governante. Do governante que imagina que cumpriu com o seu compromisso no momento em que fez o concurso. Do governante que imagina que se esgota ali, no cumprimento do mandamento constitucional e legal, a sua gestão.

Na verdade, o que se precisa fazer, o que se exige de cada governante é que tenha em mira, tenha no foco um compromisso com os resultados, porque, afinal de contas, quando o contribuinte paga, quando o contribuinte recolhe os seus tributos, ele busca uma prestação de serviços que esteja à altura. Que o funcionário seja competente, que seja diligente, que atenda, efetivamente, às suas expectativas.

Infelizmente, o que temos observado é que os governantes imaginam, os governantes têm a impressão de que cumprem a lei no momento em que fazem o concurso e entregam o servidor à própria sorte, sem atualização, sem uma motivação para o trabalho, sem os resultados que devem ser perseguidos, como são perseguidos esses resultados numa empresa privada, onde o funcionário, o trabalhador, repetidas vezes, é submetido a um processo de atualização profissional; repetidas vezes, é levado a realizar estudos, pesquisas, treinamentos, a fim de se capacitar. Numerosas são as vezes em que são instigados a uma motivação para que possam dar o melhor de si, a fim de que a empresa possa prosperar. E, no serviço público, a despeito da remuneração que é feita com regularidade, o servidor não recebe essa motivação, não recebe uma atualização de seus conhecimentos, uma atualização profissional, e, ao longo do tempo, vai perdendo o seu conhecimento, a sua competência e, de repente, aquilo que é essencial para produzir os bons resultados: a motivação. Sr. Presidente, assim, o verdadeiro destinatário, que é o cidadão, é o grande prejudicado.

Portanto, Sr. Presidente, ao fazer esse comentário sobre essa pesquisa da Universidade de Brasília, é preciso que se diga que a pesquisa foi realizada pela Comissão de Ética do Governo Federal, que fez aquilo que o Governo já deveria ter feito há muito tempo: avaliar os seus quadros, avaliar o seu pessoal, a fim de prepará-lo para prestar os melhores serviços à comunidade. Está de parabéns a Comissão de Ética, estão de parabéns aqueles que se preocuparam em fazer isso.

Os meus votos são no sentido de que o Governo aproveite os dados apurados por esse grande inquérito social, por essa pesquisa da Universidade de Brasília, para iniciar uma discussão e uma formulação de uma política de pessoal.

Temos funcionários capacitados, sim. Temos funcionários da melhor estirpe, mas infelizmente o serviço público não tem dado a resposta que a sociedade espera, não tem dado a presteza que o cidadão comum precisa quando busca qualquer tipo de serviço público, quando busca o apoio de que necessita para resolver os seus grandes problemas, os seus grandes desafios.

Esse era o sentido da nossa intervenção nesta tarde, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/11/2008 - Página 44717