Discurso durante a 213ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Conclama o Poder Público e a sociedade brasileira para um amplo projeto educacional.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. POLITICA SALARIAL.:
  • Conclama o Poder Público e a sociedade brasileira para um amplo projeto educacional.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2008 - Página 45667
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • APREENSÃO, AUSENCIA, ETICA, AGRAVAÇÃO, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, REDUÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, CIDADANIA, COMENTARIO, PESQUISA, INFERIORIDADE, GASTOS PESSOAIS, FAMILIA, EDUCAÇÃO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO MUNICIPAL, INCENTIVO, CONSUMO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, OMISSÃO, INVESTIMENTO, ENSINO, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • CRITICA, AUSENCIA, PRIORIDADE, UNIÃO FEDERAL, ESTADOS, MUNICIPIOS, EDUCAÇÃO, COMENTARIO, SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, PREFEITO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, OBRAS, INFRAESTRUTURA, OMISSÃO, ENSINO, MOTIVO, DEMORA, RESULTADO, DEFESA, ORADOR, MELHORIA, EDUCAÇÃO BASICA, ALTERAÇÃO, CONDUTA, POPULAÇÃO.
  • COMENTARIO, OBJETIVO, AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, INICIATIVA, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ESTADO DO CEARA (CE), AUSENCIA, COMBATE, PISO SALARIAL, OPOSIÇÃO, DESTINAÇÃO, PARTE, JORNADA DE TRABALHO, PLANEJAMENTO, ATIVIDADE EDUCATIVA.
  • ELOGIO, PROGRESSO, ENSINO, MELHORIA, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR, ESPECIFICAÇÃO, SUPERIORIDADE, QUALIDADE, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, MUNICIPIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TERESINA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), NECESSIDADE, EXTENSÃO, AMBITO NACIONAL.
  • DEFESA, ALTERAÇÃO, EDUCAÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR, AUMENTO, RECURSOS, ENGAJAMENTO, FAMILIA, COMENTARIO, ATUAÇÃO, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA, DEBATE, LEGISLAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO, EDUCAÇÃO BASICA, CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, COBRANÇA, AUTORIDADE ADMINISTRATIVA, CAMPANHA, PRIORIDADE, INVESTIMENTO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Senador Mão Santa, eu lhe agradeço. Espero colocar as minhas idéias e as minhas angústias também, como colocou o Senador Pedro Simon, no tempo devido.

O que nós ouvimos agora, nesse discurso do Senador Pedro Simon, foi sobre a falta de valores ou a quebra deles; a impunidade que grassa neste País; a questão da infidelidade, não só a infidelidade partidária, mas a quebra de valores de todas as formas que o homem e a mulher têm neste País de fazerem sua conduta valer - o que, às vezes, vale menos; o problema da corrupção, que também é um problema sério que enfrentamos no País.

         Se há uma quebra de valores, se há problemas de baixa estima do povo brasileiro, se neste País as pessoas dizem que não adianta fazer leis porque ninguém obedece, se as leis são feitas para serem engavetadas ou descumpridas, faz-me lembrar aquilo que vim falar hoje aqui: a preocupação das pessoas, de todo o povo brasileiro, com a formação e a educação do povo. Quebra de valores, corrupção, infidelidade, impunidade, tudo isso significa também que o povo brasileiro não tem a consciência exata do que é cidadania, do que é o valor da família.

Um dia desses, vi uma pesquisa sobre quanto é que o povo brasileiro gasta com educação, quanto a família brasileira gasta com a educação de seus filhos. A família brasileira gasta muito pouco com a educação de seus filhos. Hoje, com toda a crise que estamos vendo no País, Senador Mão Santa, o Governo Federal, Estadual e Municipal está estimulando o consumo. Dizem: podem consumir; há dinheiro de sobra. Estava vendo hoje um site do meu Estado, Mato Grosso do Sul, em que a Caixa Econômica estimulava a comprar eletrodomésticos, a investir na compra de carro novo, porque está sobrando dinheiro, há crédito e se pode gastar. Mas não vejo, Senador Mão Santa, o mesmo incentivo ao investimento na educação. Não vejo que haja crédito suficiente, que haja dinheiro suficiente para que as famílias possam investir no bem maior do cidadão brasileiro, da população brasileira, que é a educação dos seus filhos. Aí sim, poderíamos brigar por uma população que acreditasse nos seus valores, que cobrasse, que exigisse e que soubesse diferenciar muito bem aquilo que é bom daquilo que é ruim.

É muito pequena a capacidade de poupança do povo brasileiro para investimento na educação. É por isso que fico preocupada quando discutimos as questões relativas a quanto gastamos efetivamente na reposição dos juros deste País - principalmente dos juros da dívida, que é de mais de R$1,5 trilhão - e a quanto investimos na educação, que é 1,5% do que investimos nos negócios da dívida. É muito pouco. Investir na educação não é prioridade neste País. Não é prioridade da União e também não é prioridade para os Estados e Municípios.

         Todos os Parlamentares viram, na última semana, uma romaria de prefeitos e governadores pedindo emendas para seus municípios. Todos nós recebemos os nossos prefeitos. Felizes ficamos de receber os nossos companheiros de quaisquer partidos. Mas é difícil um prefeito que não tenha vindo aqui pedir verbas para infra-estrutura. Todos querem asfalto. É uma febre de fazer com que os seus municípios tenham infra-estrutura. Fico feliz. Quero ver as cidades limpas, quero ver as cidades asfaltadas, quero ver as cidades com flores, quero ver as cidades bonitas. Mas, como digo a todos os prefeitos com que posso falar, não adianta ter uma cidade maravilhosa, toda asfaltada, limpa, se a população dessa cidade não tem condições de pensar por si própria, se não tem condições de decodificar, de ler aquilo que está vendo, se não tem condições de investir na sua cidade para o futuro, se não pensa, se não tem condições de criticar, de pedir, de implorar e, principalmente, de fazer mudar aquilo que continua errado neste País.

Portanto, quero, sim, o asfalto, mas quero muito mais investimento em educação e cultura. É a cabeça da população que faz mudar as coisas neste País. O Senador Pedro Simon pode vir aqui quantas vezes quiser, falar horas e horas sobre questões como essas que ele levantou agora, mas não vai mudar a consciência da população se ela não entender que, principalmente, o investimento na cultura e na educação é que pode fazer a mudança de mentalidade de um povo. E a mentalidade de um povo se muda quando se investe naquilo que é fundamental. E parece que os nossos governantes não têm a idéia do que é fundamental.

Não estou aqui criticando todos os Prefeitos e Governadores, até porque as pessoas pensam de forma diferente em relação à educação, principalmente, Senador Mão Santa, porque a educação não muda as coisas de uma hora para outra. A educação é um processo, mas os administradores não querem investir num processo porque levam-se anos para se perceber a mudança em um processo. O administrador - o Prefeito, o Governador, o Presidente da República - acha que é mais fácil e, para ele, mais importante uma mudança que a população veja em quatro ou, às vezes, em oito anos, e não se vê essa mudança no investimento em educação ou em cultura, pois nem sempre é possível, como eu digo, colocar uma plaquinha no investimento na educação, na garantia da mudança em educação e em cultura. O Prefeito, o Governador e o Presidente da República acham que isso pode ficar para depois, preferem deixar que o outro faça. “Vamos deixar para o futuro”. E assim a população brasileira vai passando de ano em ano.

Houve uma crítica enorme a cinco Governadores: à Governadora Yeda Cruzius, do PSDB, Governadora do Rio Grande do Sul, aos Governadores de Santa Catarina, do Paraná, do Mato Grosso do Sul, meu Estado, todos do PMDB, e ao Governador do Ceará, Cid Gomes. Esses Governadores entraram com uma Adin na Justiça para discutir não o piso salarial - fiz questão de ler a Adin toda -, mas aquilo que foi acrescentado além do piso salarial para os professores deste País.

Eu disse, no dia da votação do piso, que não acreditava que alguém pudesse ser contra um piso de R$950,00 para os professores deste País. Acho que tínhamos que expatriar aquele que disser que R$950,00 é demais para quem educa o povo brasileiro. Esse valor, R$950,00, é muito pouco para garantir a vida e, principalmente, para garantir a continuidade da educação de um professor que cuida do povo brasileiro. Aí nós vamos continuar tendo a educação que nós merecemos.

Tenho certeza de que Governador nenhum, de que Prefeito nenhum pode ser contra um piso de R$950,00. Pode ser contra os penduricalhos que colocaram depois que veio a lei para o Congresso. Pode ser contra isso, mas não contra o piso. Esse piso é muito pouco para garantir que um professor tenha condições sobejas e mínimas para poder oferecer à população brasileira uma educação de qualidade.

Mais ainda. Podemos pensar que avançamos na educação. Estão falando que nós fazemos tanto pela educação... O Senador Wellington, que é da área, sabe disso. Avançamos? Claro que avançamos, Senador Wellington, nesses anos todos. Avançamos nesses últimos dez ou quinze anos. Temos casos excepcionais, como o de uma cidade do interior de São Paulo, de Teresina do Senador Mão Santa, com uma escola aqui e outra acolá, com uma experiência bem sucedida aqui, com uma universidade boa ali, com outra que entra no ranking mundial... São exceções, ótimas exceções. Mas, um país que quer ser do Primeiro Mundo, um país que se diz emergente, um país que quer brigar pela economia mundial tem que começar a brigar em casa, a fazer o dever de casa, a garantir educação para todos, e não para alguns ou para alguns brilhantes em alguns Estados da Federação.

Essa é a mudança que queremos para a educação brasileira. E como vamos mudar? A mudança está muito lenta. Estamos avançando? Sim, estamos avançando. Sou otimista e penso assim. Mas quero, Senador Mão Santa, muito mais. Quero uma mudança efetiva na educação mais rápida, para que a nossa geração, para que a minha geração ainda tenha o orgulho de poder ver uma mudança neste País após todos esses anos de luta. Eu quero ver essa mudança antes de morrer, antes de partir para uma outra. Eu quero ver isso! Mas para isso é preciso fazer com que prefeitos, governadores e Presidente da República, todos sintam que a educação é importante, que este Congresso sinta que a educação é importante. Torço para que as leis meritórias a favor de uma educação de qualidade sempre tenham o respaldo de todos os Parlamentares que aqui trabalham.

Como vamos melhorar a educação? Isso significa construir mais escolas? Há prefeitos que pensam assim. Um pode dizer “não, eu melhorei a educação”, “eu construí três escolas durante o meu mandato”, “eu construí quatro escolas...” Outro pode dizer “olha, eu investi em uma universidade para o meu Estado!”

Só isso vale? Só isso garante uma educação de qualidade? Não, uma educação de qualidade é muito mais do que isso. Educação de qualidade pressupõe, primeiro, a garantia de mais verbas para a educação.

É claro e evidente que eu gostaria que ainda estivéssemos na época da Grécia, com os filósofos gregos, que não precisavam de uma escola e que andavam com seus alunos, passeando pelas aléias dos jardins. Maravilhoso! Podíamos dar educação, conversando embaixo de uma árvore. Belíssimo! Belo para a ecologia, inclusive. Mas, hoje em dia, isso não é possível.

Com o avanço da tecnologia, mas, principalmente, com as novas conquistas em todas as áreas da educação e da tecnologia, nós precisamos de muito mais. Nós precisamos de uma escola estritamente bem equipada para que os nossos alunos tenham o mínimo de conhecimento. Nós estamos na era do conhecimento e não há condições de não avançarmos com a tecnologia que temos. E queremos o melhor, só que tecnologia custa caro, e nós precisamos investir.

Eu ouvi, ontem, o reitor da Universidade Estadual do meu Estado, que tem sede em Dourados, a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul. O reitor esteve conversando comigo, pedindo pouca coisa, Senador Mão Santa. Ele pede o quê? Ele pede laboratório, computadores, data show, equipamento para que os professores possam trabalhar. É o mínimo que a gente pode oferecer na época de hoje para que a educação se faça com mais qualidade.

Além do recurso que precisamos, o que mais nós vamos precisar para ter uma educação de qualidade? A valorização do professor. Eu sou professora, e há quarenta anos brigo para que a educação e os professores sejam valorizados. Que valorização do professor? A valorização salarial, a valorização de equipamentos e de condições de trabalho, a valorização no conceito da sociedade. Por que a sociedade acha que professor é uma capacidade de segunda categoria? É uma profissão que ninguém quer. Cursos na área de educação não querem mais fazer, Mão Santa. Por quê? Porque não é valorizado. A sociedade brasileira não valoriza o professor, e nós precisamos dessa valorização. E precisamos mais: o maior engajamento das famílias na educação.

E não podem achar os pais, as famílias que a escola vai dar conta sozinha das condições de educação do povo brasileiro. Não dá, Senador Mão Santa. Nós precisamos que as famílias passem a educar também os seus filhos, a trabalhar junto com a escola, a colocar a educação dos seus filhos como prioridade. Penso que aí, sim, teremos um tripé: recursos, valorização do profissional da educação e a família engajada. Aí eu acredito que nós teremos realmente uma educação de melhor qualidade.

Quero terminar, Senador Mão Santa, falando um pouquinho de algo que eu acredito ser importante. Nós vamos continuar falando, vamos continuar criticando, cobrando, discutindo, ouvindo especialistas de todas as áreas. Tudo isso é importante, mas é importante, efetivamente, que concretizemos essa mudança na educação o mais rápido possível. Essas informações que nos chegam para fazermos um real diagnóstico da educação brasileira são importantes para que assumamos, com vigor, a tarefa de mudar a educação.

Temos feito isso na Comissão de Educação, Cultura e Esporte desta Casa. Temos discutido leis efetivas que possam mudar a educação brasileira. Temos discutido isso todas as semanas. Temos colocado à disposição do País um arsenal de boas leis, mas que precisam, efetivamente, ser cumpridas. Aí já não é função desta Casa, mas vamos continuar falando, discutindo com prefeitos, com governadores e com o Presidente da República, para que coloquem a educação como prioridade.

Não sei mais o que podemos fazer. Quantas leis mais poderemos fazer? Isso não vai mudar a cabeça e a forma de pensar dos nossos dirigentes. Isso tem de vir pelas mãos da sociedade. Que a sociedade saia às ruas, que lute, que brigue, que mande e-mails para meio mundo, que faça com que a imprensa toda esteja desse lado, a fim de que haja uma campanha nacional enorme a favor de uma educação de qualidade, a favor de uma mudança de mentalidade do povo brasileiro, para que o povo saiba que tem nas mãos o poder de mudar. Tenho certeza de que esse poder de mudar vai vir quando as pessoas acharem que a hora da educação chegou. E espero que a hora da educação seja agora, e que essa hora não atrase muito, porque, se essa hora atrasar, o povo brasileiro e o Brasil vão perder o bonde da história - usando uma expressão de antigamente.

Senador Mão Santa, espero que as minhas palavras não tenham caído no vazio e que todas as pessoas que nos estão vendo e ouvindo por meio da Rádio Senado e da TV Senado possam começar essa campanha, cada um na sua casa, no seu bairro, na sua escola, no seu clube de serviço, em qualquer lugar. Mas que se comece uma campanha, falando sempre que educação tem de ser prioridade, que se exijam dos seus prefeitos um investimento maciço em educação, que seus governadores invistam na universidade e nas escolas que têm. Só assim tenho certeza de que vamos fazer uma educação melhor para o nosso País.

Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2008 - Página 45667