Discurso durante a 211ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do sexagésimo aniversário da fundação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Comemoração do sexagésimo aniversário da fundação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Publicação
Publicação no DSF de 13/11/2008 - Página 44980
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ENTIDADE, AMBITO NACIONAL, CIRURGIA, REPARAÇÃO, IMPORTANCIA, TRABALHO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, IVO PITANGUY, MEDICO, ESPECIALISTA, PIONEIRO, DESENVOLVIMENTO, SETOR, INCENTIVO, GRATUIDADE, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • HOMENAGEM, MEDICO, ESPECIALISTA, ESTADO DO PIAUI (PI).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Heráclito Fortes, que preside esta sessão, na qual comemoramos o sexagésimo aniversário de fundação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, peço permissão para saudar todas as autoridades da ciência, que são muitas. E são tantos nomes que eu poderia esquecer algum, o que, mesmo involutariamente, seria imperdoável. Saúdo todos na pessoa do Presidente desta entidade, Dr. José Tariki, Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Brasileiras e brasileiros, vejo, na humanidade, a exaltação daqueles heróis do Renascimento. E o líder deles, sem dúvida nenhuma, foi Leonardo da Vinci, que liderou essa plêiade que mudou o mundo, o qual passou a acreditar na ciência, no saber - Michelangelo, Raphael, Dante Alighieri, Maquiavel; enfim, o artista, Leonardo da Vinci. Mas, feliz estou aqui, porque aprendi, de Sófocles, que “muitas são as maravilhas da natureza, mas, a mais maravilhosa é o ser humano”. Os Leonardos da Vinci, os Migueis Ângelos, os Rafaeis, que admiramos, cultivaram a beleza, a arte, não resta dúvida. Mas hoje, aqui, estamos a homenagear esses artistas, esses sim, de mãos santas, que cuidam da maior obra de Deus: a humanidade, que a aperfeiçoa, que a embeleza.

O Brasil agiganta-se; e, agigantando-se, é preciso que tenha conhecimento por meio do estudo, que é o que leva à sabedoria. Então, posso confessar aqui minhas crenças: em Deus, todos a temos - está ali o filho dEle, o Cristo -; no amor, que é o cimento da família, aliás, Rui Barbosa disse - e ali ele está - que a família é a pátria amplificada; e no estudo, que nos leva à sabedoria. E imagino o estudo que vocês representam, por que eu sou, e vocês já foram e já passaram, um cirurgião-geral.

         Mas os desígnos colocaram-me aqui, na política - isso é comum no médico -, nos caminhos sinuosos da política. Basta dizer que um dos nossos, bem aqui, assacrado, tilhado, humilhado, cassado, o cirurgião Juscelino Kubischeck. Mas, nós entendemos, porque eu vi, li e apreendi, de Shakespeare, Presidente Heráclito: “o futuro é quem sabe mais, mas de menos, menos! É o especialista. Tendo sido cirurgião geral, curvo-me, aqui, por saber que todos vocês, que são médicos, já passaram, entendem isso. E, sem dúvida nenhuma, orgulhosos, estamos aqui e precisamos entender o valor do estudo. Aqui estou, e as minhas passadas foi acreditando em Deus, no estudo e no trabalho. Dizia Rui Barbosa que “a primazia deve ser dada ao trabalho e ao trabalhador; ele veio antes; ele que faz as riquezas”. Eu sei o trabalho de vocês. Sou quase um de vocês: sou um cirurgião geral. Vivi numa Santa Casa de Misericórdia. Na vida, muitos me condenaram, Senador Heráclito, não me refiro a V. Exª,

Por que, mesmo sendo de partidos diferentes, sempre nos respeitamos muito, sempre colocamos amor e os interesses do Piauí e do próximo acima dos nossos. Hoje, mais uma vez, estou orgulhoso de V. Exª, que é melhor líder do que eu - é o maior líder mucipalista - e é heróico, porque, ou eu, ou os meus doentes eram mais frouxos. O Senador Heráclito foi operado há 12 dias e já está aqui desde ontem cumprindo o seu dever. Vi S. Exª exaltar-se em defesa das emendas pelo nosso Piauí sofrido. Então, Heráclito, V. Exª dá esse ensinamento de grandeza.

Sempre fui simples. Deus permitiu-me conhecer os maiores homens, pelo menos para mim. Para onde quer que a gente vá, levamos a nossa formação profissional. Conheci Christian Barnard; convivi com ele. É outra história que não tem havido hoje: liderai! Sou discípulo do professor Mariano de Andrade. Convivi - Deus me ofereceu essa oportunidade, e a todos nós -, mesmo não sendo cirurgião plástico, com Pitanguy, esta figura extraordinária. Aí é que compreendo Napoleão Bonaparte, quando disse que “o francês é tímido, é até preguiçoso [ele lá, na Santa Helena dele, revendo a sua história], mas, quando ele tem um grande comandante, ele vale por cem, vale por mil”.

E o grande comandante da cirurgia plástica no Brasil é Ivo Pitanguy. Aí vocês deslancham e escrevem uma das páginas mais belas da Medicina do Brasil, e do mundo. Como é avançada, como é necessária!

O Senado da República, que aqui o representamos, porque somos o povo. Posso eu falar como Cícero, que dizia ao Senado e ao povo de Roma: “Eu posso”; Heráclito pode, nós podemos falar. O Senado e o povo do Brasil está aqui para homenagear os senhores, que fazem a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, orgulho de todos nós, que nos dedicamos à Ciência, e tranqüilidade de todos nós, porque todos nós buscamos e queremos a beleza.

Quero, então, dizer o seguinte: esse Pitanguy, essa figura simples - por isso eu fui simples. Governava o Piauí, e, um dia, os carroceiros quiseram adentrar, e eu os deixei adentrar. Foi uma confusão. Ainda hoje falam mal de mim. Os carroceiros entraram lá com os seus jumentos, que comeram o jardim feito pelo Burle Marx. Ainda hoje falam... Eles não estavam acostumados com a simplicidade. Mas eu vi esses homens grandes, convivi com Christian Barnard, com Lile Ray, com Pitanguy. Permita-me, mas sou muito franco e vou contar a sabedoria do Pitanguy. Muito novo, eu Deputado Estadual, lá em Teresina, ele foi convidado para um almoço. Nunca me esqueci, isso é bom, o ensinamento, é verdadeiro, pode até chocar, mas é a verdade - Cristo dizia: “De verdade em verdade, vos digo...” -, pode até chocar, como chocou eu ter deixado os carroceiros entrarem no palácio do Governo do Piauí. Entraram lá com as carroças e os animais comeram um bocado de grama, chocou, e pode até chocar. Estamos na casa do Lages,um cirurgião plástico do Piauí, discípulo dele, como é o nosso Dr. José Paschoal Pier. E aí, o Lajes, todo formal, disse: “Professor Pitanguy, o senhor é um homem que deve ter uma vida estressada: dá curso no mundo inteiro; pesquisador; opera os rostos mais famosos do mundo; professor, e o estresse que todo cirurgião sofre, como o senhor foge desse estresse? Qual o seu hobby? Olha, ali é sabedoria - eu sei que vai chocar, sei lá o que é que vão dizer, mas eu já estou acostumado. Eu tenho a mania, eu o imito, quando o vi, aquela sumidade, ele nem sabe, mas eu sei: sapato sem meia, calça jeans, e uma camisa. É como está no Livro de Deus.

Coélet disse que ninguém sabia mais do que ele, porque era filho de Salomão, neto de Davi, e que lhe haviam ensinado tudo. Ele teve riquezas, ouro, prata, castelo, mais gado do que estrelas no céu, mulheres mil, ninguém mais do que ele sabia explicar a vida, e ele queria dizer que tudo é vaidade. O bom mesmo é fazer o bem e viver bem. E ele ainda vai mais além: você pode não acreditar agora, mas, quando tiver um velório de um amigo, medite, que é verdade.

Quero dizer que esse Pitangui só fez o bem e viveu bem. Mas o Lages perguntou, e eu... Um ídolo ele já era, um deputado novinho. Nunca na minha vida, Heráclito, peguei aquele negócio, aquele garfo para pegar gelo, porque aí ele meteu a mão no balde de gelo. Não venha com aquele negócio não, que eu faço como o Pitangui, como o exemplo arrasta, meto logo a mão. E meteu, colocou o uísque, ficou aquela paciência, demorou. Olhei para os pés dele, sem meias, simples, jeans, camisinha. Olha a simplicidade! Não tinha aquela vaidade, porque ele já era. Estava lá também aquele seu amigo, companheiro, Clidenor Freitas, pai da psiquiatria, que foi cassado, presidente do Ipase. E ali ele meteu o gelo, colocou o uísque e ficou. E eu atento. Aí eu digo: o homem vai dizer que é um negócio de umas lanchas que ele tem, vai para a ilha, avião, viagens. Ele parou e disse: rapaz, o melhor mesmo é mulher. Então, essa é a verdade verdadeira.

Esse era o homem. Quem quiser acabar seu stress, está aí. Quer dizer, ele passou a ser como Leonardo Da Vinci, que mexeu com muita coisa, foi engenheiro e tal, foi o maior gênio. Então são pessoas assim. Mas ele tem outro ensinamento a dar aos senhores. Olha, eu o admiro, mas é muito, ele é uma figura simpática, bonito mesmo, elegante, social, de quem nós nos orgulhamos.

Heráclito Fortes, eu fui médico de Santa Casa. Eu passei uns trinta anos da minha vida, Deus guiando essas mãos, operando ali e acolá, em uma Santa Casa. E ia à Santa Casa do Rio de Janeiro, fui recentemente - eu tenho uma filha que está fazendo dermatologia, no Azulay, professor -, para rever a Santa Casa. E o meu professor Mariano de Andrade, grande cirurgião geral, quando eu fazia residência no Hospital do Servidor do Estado, ele dizia que lá estavam os mecânicos de doentes. E os cientistas ele mandava lá para a Santa Casa, para pesquisar. De vez em quando eu ia, e ele via que eu não tinha essa propensão, essa tendência, e me colocou lá, no HSE. Eu fui um mecânico de doente, como dizia, na sabedoria dele. Mas eu ia à Santa Casa olhar. Sexta-feira, todas as sextas-feiras de todos os anos de sua vida -fé sem obra já nasce morta -, ele se dedicava na Santa Casa a operar os pobres. Todas as sextas-feiras. Então, é isto. Isso me influenciou muito. Padre Antônio dizia que “palavra sem exemplo é como tiro sem bala, o exemplo arrasta”, e eu, na minha Santa Casa da Parnaíba, cirurgião novo. Eu não tenho nada de mão santa; foi até o povo do Maranhão, numa solenidade em que fui representar o diretor - e eles não sabiam o meu nome -, aí um chegou lá: “E esse doutor, doutor das mãos santas, que me operou, e eu estou aqui”. Aí entrou na política, fizeram, mas eu não tenho nada. As mãos santas, eu acho, são dos senhores que atingem, através da cirurgia, a beleza, aperfeiçoando a maior obra de Deus que somos nós, a humanidade.

Mas o exemplo de Pitanguy talvez me trouxe aqui. Chegava a Irmã Precioso. É lógico que dinheiro é bom, eu tinha. Eu tinha nome como cirurgião, fui para lá porque eu quis.

Eu nunca soube, Heráclito, o que era desemprego; soube, depois, na política, era fila me convidando. Eu fui, porque era minha cidade. Convidaram-me para dirigir esse hospital, recém-formado, mas eu fui. E a freira, Irmã Precioso - atentai bem, como isso talvez me trouxe aqui; dinheiro é bom, não vou dizer que não -, quando eu terminava aqueles afazeres nossos de cirurgias, de instituto, de previdência, particular, muito pouco, uma região do Nordeste, ela dizia: “Tem cinco”. Eu dizia: É, pois bota. Eu raciocinava assim: dinheiro é bom, e não tinha dinheiro, mas o trabalho, a experiência me ajudariam. Então, operei muito. E numa Santa Casa que eu vi que o Pitanguy, o famoso, o internacional, dedicava todo dia da semana a atender os pobres. Como eu não poderia atender na minha cidade, os pobres da minha cidade?

Então, são essas as nossas palavras. E, orgulhoso mesmo, eu queria dizer que a nossa razão e o Piauí são grandiosos. Piauí, terra querida, filha do sol do Equador; na luta, o primeiro que chega. Eu queria, então, render esta homenagem àqueles que fazem medicina no Piauí, e é uma medicina avançada a do Piauí.

Nós temos a melhor medicina do Nordeste. É! Em Brasília, por muito tempo, houve aquela piada de que o melhor médico era a Vasp e a Varig; hoje ela se consolidou, é um centro, daí eu ter recusado vir no princípio.

Eu tenho 42 anos de medicina. O Piauí é muito avançado na ciência médica. Talvez eu tenha sido Governador por isso, porque o partido mais importante é dos médicos, e vou dizer por quê. É simples. Getúlio Vargas, o estadista, saiu colocando em quase tudo tenente; no Piauí, foram todos tenentes os interventores, os tenentes que tinham, antes dele, tentado uma revolução com Luís Carlos Prestes, os tenentistas. Era tenente em todo lugar. Até ao nosso Piauí foi tenente, Landry Sales. Mas ele não gostou, ou o Piauí não gostou dele; eu sei que ele foi embora para o Ceará, e ficou um médico, Leônidas Melo, formado no Rio de Janeiro pneumologista. Então, não tinham a visão do médico Leônidas Melo, que no período de Vargas governou dez anos, dez meses e seis dias. Médico avançado, que construiu o Hospital Getúlio Vargas, gigantesco para a época. Ainda está lá; quando governei, fiz um pronto-socorro anexo. Aí a medicina disparou. Os outros não tinham essa visão.

E é como Padre Antônio Vieira disse: “Um bem nunca vem só”. E aí vem Clidenor com a psiquiatria, a cirurgia e a cirurgia plástica de que nos orgulhamos também no Piauí.

Então quero prestar homenagem a todos esses que fazem a Medicina.

Olha, quando governei o Estado do Piauí, acreditei tanto - isso foi em 95 -, que lá foram realizados 95 transplantes cardíacos com êxito. É só um fato. Os outros, claro. Então, é uma medicina avançada que quero homenagear, porque a cirurgia plástica faz parte dessa grandeza de que nós nos orgulhamos.

E quero homenagear o Dr. José Pascoal Pinheiro, o Dr. Maurílio de Miranda Nunes, o Dr. Mauri Brandão de Medeiros Júnior, o Dr. Geraldo de Magela Lages Rebelo, o Dr. Fernando Cronenberg Miranda, o Dr. Benedito Portela Barbosa, o Dr. Marco, o Dr. Warligton Brandão Mendes, o Dr. Maynard Sá Quirino e outros de que me tenho esquecido.

Então, estas são as nossas palavras.

Agradeço o convite que me foi feito por esse extraordinário Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Regional de Brasília, Ognev Cosac.

E quero dizer o seguinte: olha, são muito importantes, Heráclito, esta homenagem e este reconhecimento.

E todos nós precisamos. Eu mesmo. E aprendi com a minha mãe, Terceira Franciscana, que disse que a gratidão é a mãe de todas as virtudes. Eu mesmo já precisei, e aqui fui atendido pelo Dr. Carpaneda, que é um orgulho da ciência plástica do Brasil.

Que meus aplausos se somem aos aplausos de todos os brasileiros e brasileiras em homenagem aos que fazem a grandeza da cirurgia plástica no nosso Brasil! (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/11/2008 - Página 44980