Discurso durante a 214ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a ameaça de inflação decorrente da crise financeira mundial.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre a ameaça de inflação decorrente da crise financeira mundial.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/2008 - Página 45725
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, INFLAÇÃO, PREÇO, PETROLEO, EXPORTAÇÃO, PRODUTO IN NATURA, AVALIAÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, COMENTARIO, PROVIDENCIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, AMERICA LATINA, CONGELAMENTO, VALOR, ALIMENTOS, PRAZO, ANO, ANALISE, HISTORIA, BRASIL, INEFICACIA, UTILIZAÇÃO, INSTRUMENTO, DEFESA, MOBILIZAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, INCENTIVO, PRODUÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o preço do petróleo entrou num ciclo de alta irracional, rumo aos US$150.00 o barril. As cotações das commodities agrícolas e não-agrícolas dispararam nos mercados mundiais. O mundo está diante de um cenário em que a inflação aumenta a cada dia. Aqui, andamos perto dos 6% anuais, um índice ainda baixo, se comparado com a média das demais economias em desenvolvimento, que está por volta dos 8%. Mas nem por isso menos preocupante.

Entre os países desenvolvidos, os índices também estão acima do recomendável. Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor registrou 4,2% no acumulado dos últimos 12 meses. Na Zona do Euro, a inflação subiu para 3,7% em 12 meses, e a variação no Reino Unido passou para 3,3% no mesmo período.

Para tentar segurar a inflação, México e Uruguai decidiram adotar políticas de congelamento de preços. No México, onde a inflação está em 4,95%, quase dois pontos acima da meta, 150 alimentos ficarão com os preços estáveis até o final do ano. O Uruguai, por sua vez, congelou os preços de três cortes de carne bovina, reduziu os percentuais de aumento dos demais e pretende negociar outras baixas nos preços dos alimentos.

A tentação é grande, e muitos governos sucumbem a ela. O Brasil já assistiu a esse filme em várias ocasiões, e sabe muito bem qual é o enredo e como ele acaba: primeiro os produtos com preços congelados começam a desaparecer das prateleiras dos supermercados. Torna-se cada vez mais difícil encontrá-los. O congelamento persiste, até que se torna insustentável devido à escassez. Aí vem a liberação dos preços, que simplesmente disparam. Os produtos voltam às prateleiras, mas seu custo é tão alto que se tornam inacessíveis à maioria da população.

Felizmente, o pragmatismo tem prevalecido até agora na atuação da equipe econômica, que resiste à adoção de medidas populistas, comprovadamente ineficazes, como tabelamento, congelamento ou fiscalização de preços. A inflação, dizem os economistas, veio para ficar, pelo menos por algum tempo, ancorada na demanda mundial por alimentos, que cresce a cada dia, e no aumento dos preços dos insumos agrícolas, devido à alta do petróleo.

Já convivemos, anos atrás, com uma inflação de mais de 2 mil por cento ao ano. São tempos que não deixaram saudades, e devemos mobilizar todos os nossos esforços para evitar o seu retorno. Não necessitamos de congelamento, e, sim, de estímulos fortes à produção, complementados por uma política de importações que tire proveito do dólar baixo. Como disse o Diretor de Política Monetária do Banco Central, Mário Torós, temos uma balança de pagamentos em bom estado, os fluxos de capital continuam fortes e nosso crescimento deixou de ser volátil.

Mas não estamos imunes à crise mundial, como provam os alarmantes indicadores de preços divulgados nos últimos dias. A inflação é a principal ameaça a ser enfrentada de agora em diante. Sem recorrer, entretanto, a medidas que podem até resultar em ganho de popularidade no curto prazo, mas causam danos de grande porte mais adiante.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/2008 - Página 45725