Discurso durante a 215ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise sobre as próximas eleições para Presidente da República do Brasil.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Análise sobre as próximas eleições para Presidente da República do Brasil.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Gerson Camata, Neuto de Conto.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2008 - Página 45765
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ELOGIO, ELEIÇÕES, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CARACTERISTICA, PROCESSO, POPULAÇÃO, INDICAÇÃO, CANDIDATO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • REGISTRO, DEMORA, DECISÃO, BRASIL, CANDIDATURA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), DEFESA, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE, ESCOLHA, COMENTARIO, AUSENCIA, DEMOCRACIA, PROCESSO ELEITORAL.
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, SUPERIORIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CANDIDATO ELEITO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, MAIORIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, AUSENCIA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEFESA, INDEPENDENCIA, POLITICA PARTIDARIA, CAMPANHA, CRITICA, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, OBJETIVO, INDICAÇÃO, TITULAR, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), TENTATIVA, FAVORECIMENTO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, CORRUPÇÃO, MEMBROS.
  • COMENTARIO, PROPOSTA, DECISÃO, POPULAÇÃO, CANDIDATO, ELEIÇÕES, OCORRENCIA, DEBATE, UNIVERSIDADE, FACILITAÇÃO, ESCOLHA, PARTIDO POLITICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - V. Exª está muito bem onde está, Sr. Presidente, com aprovação geral!

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou tratar de um assunto que considero, modéstia à parte, da maior importância. Acho que ele mereceria uma análise muito profunda da nossa parte.

O Presidente Lula disse, nos Estados Unidos, que ele já sente falta da candidatura a presidente, porque, durante cinco candidaturas seguidas, ele foi o candidato do PT. Eu me lembro de amigos meus no Rio Grande do Sul que dizem que não sabem como é que vão votar na próxima eleição para Presidente, porque, desde que eles votam, estão acostumados a ver o nome do Lula no processo eleitoral. Foram cinco vezes.

Não me lembro, no Brasil ou até no exterior, que alguém tenha sido candidato quatro vezes. Mitterrand o foi três vezes, Lincoln também, mas cinco vezes é, realmente, algo espetacular.

Mas, exatamente porque Lula não é candidato, a eleição que virá é diferente. Não há candidatura nata nem no PT nem em qualquer outro partido. Em relação ao próprio PT, o Presidente Lula diz que sua candidata é a Ministra Dilma, de quem sou admirador real e sincero. Acho que a Ministra Dilma marcou sua presença na política brasileira.

O Governo Lula são dois governos: antes da Dilma na chefia da Casa Civil e depois dela. Antes, a figura daquele Chefe da Casa Civil, cassado, marcado. Tudo que é coisa errada que se falava no Governo passava pela Casa Civil. 

Agora, não. Agora, pode haver coisas erradas - não quero nem discutir isso - no Governo, mas não se diz que elas passam pela Casa Civil.

Quando se fala em PAC, na minha opinião, qualquer análise que se faça do PAC, uma deve ser levada em consideração: bota competência e inteligência na criação da fórmula política do PAC! Vão dizer que o PAC são obras, são realizações, são milhares de coisas, mas, antes disso, o que é o PAC? É um gesto de inteligência, de somar ao Governo Federal aquelas obras que desapareciam. O Governo Federal entra com uma verba para a construção de escolas, ou para a construção de estradas, ou para a construção de não sei quê. O Município é que faz, o Estado é que faz, e ninguém fala no Governo Federal. Hoje, isso é obra do Governo Federal.

O Presidente do PT diz que o PT tem seus moldes para escolher candidato e que, na hora exata, vão escolher. Quer dizer, nem com o apoio do Presidente Lula a Dilma é candidata nata. Não há candidato nato. O PSDB está lá com o Serra, Governador de São Paulo; com o Governador Aécio, de Minas Gerais. São vários candidatos. O PDT está com este nome extraordinário, que é Cristovam Buarque, por quem tenho o maior apreço, o maior carinho e o maior respeito. O PPS tem o nome e Ciro Gomes, um nome ilustre, que já teve, numa dessas eleições, uma belíssima votação para Presidente da República.

Os candidatos estão aí.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Um aparte: o PMDB tem o nome de Pedro Simon!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu e o Mão Santa. Eu não aceito que tenho chances. O Mão Santa é meu grande e único cabo eleitoral. Mas o Mão Santa, cá entre nós, assim como eu, não tem muito prestígio dentro do PMDB. Nós dois não temos, embora ele vá ser Secretário da Mesa. Tem meu voto.

O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Mas V. Exª tem meu voto também, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele merece pela capacidade dele e pelo o que está demonstrando, na maneira de agir, de estar presente. Acho que podemos discutir a Presidência e tudo o mais, mas vejo no Mão Santo um belo Secretário da Mesa. Não a Primeira Secretaria, porque esta é muito complicada para ele. Ele é mais da política, e não de ver como é que estão as obras, nomeação. Isso não faz parte do currículo dele.

O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Senador Pedro Simon, registre meu aplauso também.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ao Mão Santa?

O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Também ao Mão Santa, mas ao que S. Exª se referiu de V. Exª, que, indiscutivelmente, é um nome que traria orgulho para todo o militante do Partido.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vejo com muito carinho V. Exª e vejo que V. Exª está aqui em uma curva ascendente de credibilidade e de respeito. Não exagere, senão a Liderança vai colocá-lo na quarentena! Vai devagar!

O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Não tenho nenhum receio a essa represália. Tenho certeza de que não haveria represália, porque V. Exª sabe da admiração e do respeito que todo o Partido tem por V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O PMDB teria candidatos. O Governador do Rio de Janeiro é um belo candidato. Um lado é este, mas, se fosse o outro lado do PMDB, o Jarbas Vasconcelos seria um belo candidato. O meu querido amigo Requião, Governador do Paraná, apesar da língua comprida - fala demais -, é um grande Governador, é um Governador excepcional, de obras e realizações. Não tenho o que discutir.

Então, o PMDB também teria candidato. O Luiz Henrique é um excepcional companheiro.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Permita-me, futuro presidente pelo PMDB: o Deputado Ciro Gomes é do PSB, ex-PPS.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - PSB, claro! Falei bobagem. É do PSB, até porque o PPS está querendo se unir ao PSB. É verdade.

O que quero dizer neste momento? É muito simples: quero olhar para o meu Partido, o PMDB.

O PMDB foi o grande vitorioso nesta eleição - modéstia à parte, foi: maior número de vereadores, PMDB; maior número de prefeitos, PMDB; maior número de votos na legenda - seis milhões a mais do que o segundo colocado. Meu Deus do céu! E se há um voto que representa o Partido é o de vereador, porque o vereador é candidato em todos os Municípios. Seis milhões de votos a mais!

Dois anos atrás, já foi assim: maior número de deputados estaduais, PMDB; maior número de deputados federais, PMDB; maior número de senadores, PMDB; maior número de governadores, PMDB.

Depois da primeira vitória, há dois anos, o que aconteceu? Nada. Agora, o que está acontecendo? O PMDB parece que é a noiva; e PSDB e PT a estão namorando, para ver quem dá mais.

A imprensa diz que o PMDB é um grande Partido, mas é um Partido para ser acessório, e não para ser principal. É um bom Partido para dar o Vice para o Partido do Lula, ou para dar o Vice para o PSDB, ou para dar o Vice até para uma organização de partidos nanicos, que, se se organizassem, o PMDB entraria com o Vice.

Não falo mais em candidatura própria do PMDB, porque faço papel de bobo. Venho fazendo papel de bobo no PMDB há muito tempo. Usam-me para fazer chantagem: “Olha, tem gente que quer candidatura própria. O Simon está insistindo muito.” E aí vão negociar caro com o lado de lá e com o lado de cá.

Então, a essa altura, não vou falar em candidatura própria. Não vou falar!

O PMDB é este quadro: um grupo de Parlamentares firmes estava com o Fernando Henrique Cardoso. Eu estava com o Fernando Henrique. Líder do Governo Itamar Franco, o Fernando Henrique era nosso Ministro da Fazenda.

O Itamar lançou três candidato dele: Fernando Henrique, Antônio Britto e Pedro Simon. O Pedro Simon achou que o Antônio Britto era o grande candidato. Costurei a candidatura do Antônio Britto, um Ministro da Previdência que estava com um prestígio espetacular. O Sr. Antônio Britto ficou com receio de enfrentar o Quércia na Convenção. Ganharia brincando, candidato do Itamar, que estava no auge com o Plano Real. Candidato de todos nós.

O Quércia nem iria para a convenção. Ele preferiu um passarinho na mão do que dois voando. Era candidato a governador, foi eleito governador e não aceitou.

Com aquilo, eu não tive chance de fazer nada. O Fernando Henrique, em uma reunião histórica no Palácio do Planalto - reunidos Fernando Henrique, Itamar, Britto e eu -, ele, Fernando Henrique, disse: “O candidato é o Britto. Eu sou Ministro da Fazenda e Ministro da Fazenda é bom cabo eleitoral e não bom candidato. O Britto é o candidato!”

Mas o Britto caiu fora. Eu me queimei, porque estava com o Britto, estava colocando todas as fichas no Britto, e saiu candidato o Fernando Henrique. Eu apoiei o Fernando Henrique, bom candidato que era.

Lamentei quando ele fez um acordo com o PFL; não pelo Marco Maciel, excepcional candidato, mas pelo PFL, que era à época representado pelos que haviam vindo da ditadura, por aquele grupo que representava a Direita.

Lembro-me do Fernando Henrique. Ele riu, e eu fiquei com a cara de bobo na reunião do grupo. Disse ele: “Então, Simon, você acha que sendo eu, Fernando Henrique, o Presidente da República, o PFL vai influenciar ideologicamente o meu Governo?”

Eu respondi: “Eu acho. Essa turma está no Governo há cem anos. Eles vão de um governo para o outro. Democracia ou ditadura, é de cá, é de lá. Eles estão sempre no poder, e vão te absorver”. E absorveram.

Eu, modéstia à parte, com a minha coerência, comecei o mandato do Governo Fernando Henrique como o seu Líder nesta Casa. E depois não aceitei. Eu não aceitei quando ele vetou criar a CPI das empreiteiras. Eu disse: “Não, não me serve”. E não aceitei! Mas o PMDB estava firme com ele. O PMDB costuradinho com ele, e ficaram o tempo todo com ele. Oito anos depois, ganhou o Lula. O PMDB fechadinho com Lula, costuradinho com Lula.

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Permite-me um aparte, Excelência?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Quando o vejo o Ministro da Integração Nacional... Eu me lembro de uma reunião na casa do Presidente do Senado - não me lembro se era o Presidente Sarney, não me lembro quem -, uma reunião da bancada com o Lula, o Presidente da República - o Camata deve se lembrar, o Mão Santa deve se lembrar. Falou o Lula, falou o Presidente, falou o líder, depois ele pediu a palavra e deu um show. Eu vi que o cara era profissional, uma categoria, a seriedade, mas deixou o Lula e os Líderes do PMDB sem terem o que falar. Oposição. Oposição dura e radical.

Vejo agora nos jornais o que diz o nosso Geddel: “Eu estou apaixonado pelo homem, eu me apaixonei pelo homem. O que vou fazer?”

Pois é, não dá para fazer nada, ele está apaixonado pelo homem. Quer dizer, os que estavam com Fernando Henrique hoje estão com Lula, apaixonados. Tudo bem, não quero nem discutir. Agora, o que posso fazer é a seguinte pergunta: como é que vamos para essa eleição para presidente?

Veja que espetáculo é a eleição americana! A eleição americana começa com dez candidatos a presidente da República disputando a primária no Partido Democrata e mais dez disputando a primária no Partido Republicano. Se fosse no Brasil a eleição americana, a ex-primeira-dama teria ganho brincando, porque ela começou dona de tudo; com as primárias, o Obama foi subindo.

Com as primárias, o Obama foi subindo, foi crescendo e se transformou no candidato, derrotando a ex-primeira dama, cujo marido, Bill Clinton, tinha sido um grande presidente, um presidente espetacular nos seus oito anos. Era o grande líder do partido democrático, e a mulher dele era a candidata natural. As primárias mostraram a cara dos candidatos.

No Brasil uma eleição, cá entre nós, mesmo as mais democráticas, são de mentirinha. Lembro-me do Dr. Tancredo quando eu perguntei para ele: Dr. Tancredo, como é, vamos terminar logo com a sublegenda? Ele me deu uma resposta que nunca esqueci. Ele disse: “Olha, Simon, principalmente tu, que és do Rio Grande do Sul, do lado do Uruguai, pára para pensar o que é sublegenda. A ditadura desmoralizou, no Brasil, a sublegenda. A ditadura utilizou a sublegenda para desmoralizar, para garantir que os militares mandem na escolha dos candidatos. Mas a sublegenda é o máximo da democracia. Olha no Uruguai. No Uruguai os partidos têm um, dois, três ou quatro candidatos que disputam não a convenção mas a eleição. Não é que nem nos Estados Unidos onde, nas primárias, os candidatos disputam quem vai ser o candidato do partido. No Uruguai, na sublegenda, os pré-candidatos disputam dentro do Partido Colorado, um, dois, três, quem vai ser o candidato; dentro do partido Branco a mesma coisa, e dentro da Frente Ampla a mesma coisa”.

Dizia mais o Dr. Tancredo: “Não é que nem nós. Aqui a democracia se resume a escolher entre A, B ou C; o que o grupo fechado escolheu aqui, a cúpula determinou que é esse e o povo vai ter que escolher entre o João e Manoel. É uma baita democracia: é o João ou o Manoel. E é uma grande verdade.

Então, aqui no Brasil, nesta hora que estamos vivendo, está o Lula tentando convencer o seu partido que é a Dona Dilma - eu acho isso espetacular; está o PSDB discutindo entre o Aécio Neves e o José Serra; está o PDT com o seu enorme candidato, não importa o resultado da eleição, é um grande candidato. E os outros estão aí.

Qual é a proposta que eu faço, meu amigo Camata, meu querido Líder de Santa Catarina e meu bravo Mão Santa? Qual é a proposta que faço, meu bravo companheiro do mato Grosso do Sul? A proposta que faço é a seguinte: o PMDB toma a decisão: vamos ter candidato próprio, vamos apoiar o PT, vamos apoiar o PSDB, vamos fazer o quê? Feito isto, a proposta é a seguinte: em vez de fazermos um conchavo (vamos argumentar que o PMDB decide apoiar o PT), a Dilma Rousseff para Presidente - não vou dizer, não vou queimar - e não sei quem para vice. O PMDB faz a seguinte proposta: vamos ver quem vai se reunir em torno do Presidente Lula. O PT: quem é o candidato do PT? A Dilma Rousseff. E o PMDB: quem é o candidato do PMDB? O Governador do Rio. 

O PDT: quem é o candidato do PDT? É o Cristovam. O Partido Socialista: quem é o candidato do Partido Socialista? É o Ciro Gomes. Tem mais? Tem mais. Esses candidatos vão se reunir e iniciar um grande debate, de uma primária, percorrendo o Brasil, para depois escolher a forma pela qual um deles será o escolhido. Pode ser uma prévia, pode ser uma grande manifestação, um grande plebiscito em que os filiados de todos partidos possam votar. A fórmula eu não sei. Seja qual for, vocês já imaginaram que coisa espetacular? Em primeiro lugar, esses candidatos iriam a Porto Alegre, Brasília, Recife, Bahia; a tudo quanto é lugar para debater, discutir, apresentar proposta, analisar. E o povo, assistindo.

Então, em vez de ser uma eleição de conchavo, é um momento espetacular. E se a gente conseguir que o outro lado faça isto também, o PSDB bota o Aécio, bota o Serra, põe candidatos de outros partidos que o apóiam, muda-se a eleição: em vez de ser uma eleição de conchavo, de troca-troca, é uma eleição de grande debate, de grandes discussões, de grandes teses.

Que coisa espetacular foi a eleição americana, cá entre nós. Eu dizia sempre e vou repetir agora: quem decide a eleição nos Estados Unidos, a palavra final não é de um mar de dólares que um consegue, que outro consegue. Não é da publicidade, não é de nada. A palavra final, a última palavra é dos quatro grandes debates, onde os dois, um sentado aqui e o outro na frente, sem ninguém, onde apenas um fala e o outro responde, falam para a nação inteira. Foi o que aconteceu agora. De um lado, a dúvida se o Obama tinha a firmeza, tinha a resposta à crise internacional ou se não tinha; do outro lado, o candidato republicano no sentido de mostrar se ele tinha saúde, se ele tinha firmeza, até que ponto ele era o retrato falado do Bush, até onde ele tinha idéias próprias. Foi isso que o americano viu, foi aí que ele tomou a decisão: o homem é o Obama, vamos jogar no Obama - aliás, decisão mil por cento abençoada por Deus. Obama era o homem, mas ele mostrou. Não é apenas o Obama, a propaganda, a publicidade. Obama! Obama mania e não sei o quê! Mas no debate, naqueles quatro debates de duas horas cada um, olho no olho, cara na cara, onde não tinha agente de publicidade, onde não tinha ninguém preparando, onde ele não tinha nada, ele respondeu, mostrou que era o homem, mostrou que não era o problema apenas de ser negro, de ser candidato dos negros; mostrou que é um homem de idéias profundas, de conteúdo, que tem uma visão social da humanidade. É um homem de uma pureza extraordinária, fruto da sua maneira de ser.

Não podemos fazer uma coisa semelhante aqui? Ao invés do conchavo, vamos dividir. O fulano pega isso, o beltrano pega aquilo... O Democratas já está dizendo ao PSDB abre mão da vice em troca de outros cargos para facilitar uma aliança. Não é por aí!

Eu faço essa proposta. Em vez de o Presidente Nacional do PMDB estar tão preocupado com a Presidência da Câmara, cargo a que ele tem direito... Se já foi quatro anos, pode ser mais seis, que podem virar oito. Mas tem direito... Não vejo ninguém na Câmara com mais capacidade, com mais competência, com mais austeridade, com mais experiência do que ele. Além do mais, é Presidente do maior Partido e, pelo Regimento, cabe ao maior Partido a Presidência da Câmara.

Em segundo lugar, o PT tem um acordo com ele. Há dois anos, nós apoiamos o candidato do PT, e agora era a vez do PT nos apoiar.

Em terceiro lugar, o Lula diz que ele é o candidato do Presidente. É o candidato natural; então, não precisa se humilhar, não precisa parecer que está pedindo por amor de Deus, que estão fazendo um gesto de caridade e que ele tem que agradecer, porque o estão escolhendo. Ele é o homem porque é a vez dele e ele é o grande nome. Mas mantenha a firmeza de um Presidente de um Partido como o PMDB. Mantenha a firmeza e não apareça querendo botar tapete por onde o Lula vai passar, facilitando as coisas para o Lula.

Eu acho que essa é uma grande proposta. É uma grande proposta! Vamos debater, vamos sentar à mesa, vamos discutir. Essa tese, por exemplo, de que a Ministra Dilma é fraca porque nunca foi candidata à coisa nenhuma, para mim não quer dizer nada - mas dizem -, desaparece no meio dos debates, desaparece no meio da discussão. Vamos lá, vamos ver o Senador Cristovam botar as questões da educação e vamos ver os outros candidatos se comprometerem com as teses da educação. Isso vai aparecer. Isso vai aparecer, porque não vai poder esconder. O Senador Cristovam vai cobrar, e os outros vão ter que se posicionar.

Que campanha espetacular! De repente, teremos as nossas primárias; não é um partido só, mas vários partidos dentro de uma aliança.

Senador Cristovam, meu candidato pelo PDT.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador, eu ouvi seu discurso, 15 dias atrás, nessa mesma linha. Na mesma hora, eu vi que essa é uma grande, grande e patriótica idéia. É absurdo se ela for deixada de lado. Mas é bem capaz que ela seja deixada de lado, porque nem tudo que é patriótico aqui, neste País, hoje, tem valor acima dos conchavos, como o senhor disse. Por isso, peguei sua idéia e decidi ver como é que a gente pode levá-la adiante mesmo sem os partidos participarem, apoiarem. Chamei o Senador Suplicy, que se comprometeu comigo que irá participar, liguei para algumas universidades e, a partir do próximo ano, pelo menos ele e eu vamos rodar o País, debatendo qual dos dois seria o melhor Presidente do Brasil, embora sem enganar ninguém, deixando claro que, talvez, nenhum dos dois seja candidato. Vou chamar o Gabeira e a Senadora Heloisa Helena. Mas acho que isso não pode ficar restrito a um grupo. Era bom que o PMDB, que o PP, que o Democratas colocassem seus nomes, ou então que cada um dos políticos, independente de os partidos colocarem ou não, viessem para esse debate. Dez universidades já se propuseram, dez universidades que me ouviram aqui falando, e um blog aceitou fazer a transmissão ao vivo - o Blog do Noblat. Eu acho que os outros virão, porque, na hora que um de nós vai, sozinho, debater, interessa àquele grupo que está assistindo; mas, na hora em que um grupo de políticos vai debater entre eles qual tem a melhor alternativa para o futuro do Brasil, isso vai chamar a atenção. É bem capaz de os Partidos não se interessarem, mas nós cumprimos o nosso papel. E se esses nomes começarem a aparecer nas pesquisas? E se um deles ou alguns deles crescerem nas pesquisas? Será que os Partidos vão conseguir frear o crescimento deles? Aí a gente vai quebrar o conchavo. Aqui nós somos um grupo de Senadores. Eu queria que cada um daqui se comprometesse a ir a isso, até porque nenhum de nós vai poder ir a todos. Que o Mão Santa venha. Eu vou a um, ele vai a outro. Cada um vá a alguns. Mas que as universidades deste País - e eu faço até um convite às universidades que estão me escutando, além daquelas dez - se ofereçam para fazer esse debate. E, depois das universidades, por que não nos sindicatos e nas associações empresariais? Já que o Senado não virou a Casa deste grande debate sobre o futuro País - porque era aqui que deveria ser... Quem sabe o Tião, como Presidente, possa fazer isto aqui: transformando esta Casa no fórum de debates sobre as alternativas.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele, primeiro, quer ver se se elege Presidente. Depois, ele entra nas teses mais... Por enquanto ainda não é o momento.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Ele não precisa dizer as teses dele, agora, mas ele pode se comprometer conosco, que somos seus eleitores, de que vai abrir o Senado para ser o fórum de debates sobre o futuro do Brasil e não como a gente tem ficado, nesse ramerrame - desculpem-me a expressão -, em que a gente não discute o futuro. O senhor traz uma proposta que tem a ver com o futuro do País, porque é uma maneira de construir a idéia do futuro. Então, quero dizer que eu peguei sua idéia - foi sua -, levei para o Senador Suplicy, mas estou convidando aqui os demais. As universidades me procuraram - não precisei procurar nenhuma - e querem bancar esse debate. Sr. Presidente, um blog ofereceu-se para transmitir ao vivo o debate. Não será o único; haverá uma rede de blogs. Aí a gente vai fazer pelo lado paralelo, já que não pode fazer por dentro, o que o senhor propõe com tanta dignidade. Quero dizer-lhe que vou pegar sua idéia e dar minha contribuição. Não vou esquecer que foi fruto da sua idéia, de uma maneira um pouco diferente, porque já fazendo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas pode ser igual se o Lula aceitar.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não; do jeito que a gente está fazendo não precisa ninguém aceitar.

 O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas, se aceitar, melhor ainda.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Ah, se ele aceitar, vira uma coisa oficial. Aí a gente coloca o partido, claro. Aí vai ser como realmente deveria ser. O Obama não seria nada se não houvesse prévias nos Estados Unidos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Nem candidato.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Nem candidato. Foi o fato de haver prévias que o levou a se transformar em um nome nacional. Nós aqui estamos emperrando, impedindo, sentando em cima daqueles que podem crescer no cenário nacional ao manter a escolha dos candidatos nas mãos da burocracia. Então, parabéns por sua idéia! Vou ser um batalhador para que ela seja levada adiante oficialmente, como o senhor defende, ou extra-oficialmente, como é nossa obrigação fazer.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª deu dois passos adiante. Um ao falar em nosso amigo do Rio de Janeiro e na nossa querida amiga Senadora por Alagoas. Na verdade, ele não se elegeu prefeito, mas achei a atuação dele espetacular, realmente espetacular. A nossa querida e saudosa Senadora, como candidata à Presidência, deu um show. Realmente, seriam dois nomes que, junto com V. Exª e outros tantos, dariam muita dignidade a essa campanha.

V. Exª lança uma tese...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - (...) muito importante, inclusive para não se esperar até o início do debate partidário, e, já no ano que vem, iniciar isso, que pode ser o prenúncio do que pode ser aceito pelos Partidos. Pode até ser iniciado assim: um grupo vai percorrer, vai andar pelo Brasil. E o melhor local se chama universidade, que é o lugar da intelectualidade, ou seja, não se trata de ver quem bota o povo na rua ou de quem traz mais ou de quem não traz mais. Não; é trazer quem quer espontaneamente aparecer. Eu não tenho nenhuma dúvida de que, no segundo, no terceiro, no quarto debate, haverá muito gente, e talvez até dê certo. Talvez até dê certo.

Felicito V. Exª, porque acho que o que estamos apresentando aqui e a complementação de V. Exª são muito importantes. É exatamente esse o caminho: em vez de ficarmos no aconchego do grupo daqui ou do grupo de lá, fazendo arremedos para ver quem dá mais, vamos fazer um grande debate, vamos transformar a política brasileira. E o povo vai participar, não escolhendo entre João e Manuel, pelas coisas que já estão feitas, mas escolhendo, entre a enormidade dos grandes nomes, quem deve realmente ser o líder.

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Senador Pedro Simon, pelo tempo, eu não deveria mais aparteá-lo, mas quero apenas apoiá-lo integralmente na idéia que V. Exª propõe. Nesse deserto de idéias e de nomes - V. Exª iniciou seu discurso dizendo isso -, na projeção da campanha para o ano que vem, a melhor maneira de o povo brasileiro descobrir um Obama no Brasil - o povo brasileiro descobriu o Obama muito antes do Obama: descobriu o Lula - é descobrir o sucessor do Lula. Talvez esse debate, essa ampliação, abrindo, como disse aqui o Senador Cristovam, no lugar de sentar em cima, abafar as novas vocações políticas, vamos despertá-las, aguçá-las, seria uma maneira de transformamos a eleição para Presidente da República em uma renovação, como os Estados Unidos fizeram agora, dando um exemplo ao mundo. O Brasil que já deu um, pode dar o segundo exemplo, seguindo a idéia de V. Exª. Parabéns!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

O Sr. Neuto de Conto (PMDB - SC) - Senador Pedro Simon, a idéia é brilhante. O PMDB precisa não só de idéias, mas de usar a sua força; precisa colocá-la à disposição e a frente da sociedade brasileira. A apresentação de nossos líderes em todo o Brasil seria o grande caminho para o surgimento de um líder que possa, sim, ser o timoneiro do Partido, o timoneiro da campanha e - por que não? - o Presidente do nosso Brasil. Por isso, eu me somo às manifestações de V. Exª, não só às de hoje, mas às que V. Exª tem feito ao longo do tempo e em que prega a força extraordinária que nosso partido tem para, usando dessa força e conduzindo suas lideranças, demonstrar ao País e a toda a sociedade o quanto podemos ser com essa força e com essas inteligências a serviço da Pátria. Parabéns! Eu o cumprimento pela grande liderança que é. V. Exª aqui sempre teve um eleitor.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

Encerro, Sr. Presidente, dizendo que seria muito bom se chegássemos a uma conclusão conclusiva. Seria muito bom se, ao invés do que vem acontecendo, principalmente com o nosso PMDB... A imprensa está judiando de nós. A última agora é que estamos querendo o Ministério da Justiça. O PMDB quer indicar o Ministro da Justiça porque quer ficar com o comando da Polícia Federal, por causa de algumas investigações que estão fazendo de companheiros nossos ou coisa que o valha. Pelo amor de Deus! De onde é que vão tirar uma coisa dessas? Mas de onde? Eu quero dizer, com toda a sinceridade, que vejo com a maior simpatia a presença do Sr. Tarso Genro no cargo de Ministro da Justiça.

Falando nisso, com todo respeito ao Supremo, rezo a Deus para que ilumine nossos Ministros, se é que vão tomar hoje a decisão que a imprensa está dizendo. Pelo amor de Deus, afastar o Juiz porque os advogados de defesa do banqueiro dizem que ele é parcial... Pelo amor de Deus! Olha, eu não acredito; juro por Deus que não acredito. É claro que o juiz julga pelo que está nos autos. O que não está nos autos não existe. É claro. Eu sei disso. Mas a sociedade existe e está olhando. E esse juiz pode ter os defeitos que tiver, mas ele tem o respeito da sociedade e tem o meu. Não estou dizendo que ele é perfeito, não estou dizendo que não tenha cometido erros, mas a transformar o Juiz, o Promotor e o Delegado em réus, daqui a pouco, vão estar fazendo uma homenagem ao banqueiro Dantas. Pelo amor de Deus, isso já é demais!

Então, está o PMDB querendo um Ministério porque quer a segurança; está o PMDB na disputa por cargo, por vantagem e por não sei mais o quê. O PMDB tem uma história muito bonita; o PMDB tem uma biografia muito bonita. É verdade que as lideranças de hoje do PMDB praticamente não viveram aquela história. É gente nova, que veio depois, talvez até com outras idéias, mas a nossa história merece respeito, a nossa biografia merece respeito.

Essas duas vitórias entusiasmadas, onde o povo brasileiro votou no PMDB... E reparem os senhores que não tínhamos candidato a Presidente da República nem a vice, há dois anos. O PMDB ficou metade de um lado, metade do outro, e não teve candidato nem a vice. Mesmo assim, ganhou mais deputados estaduais, mais deputados federais, mais senadores e mais governadores. E, agora, a mesma coisa: mais vereadores e mais prefeitos, com seis milhões de votos a mais do que o que está em segundo lugar.

A elite do Partido tem obrigação de respeitar a opinião pública, tem obrigação com essa gente, com esse povo. Não podemos brincar com a vontade da Nação. Por isso essa proposta; por isso não falo aqui em candidatura própria, porque estaria, repito, fazendo jogo de alguém. “Ah, mas, está vendo? O Simon já foi para a tribuna falar em candidatura própria. Não podemos fugir, é muito delicado; tem muita gente que quer candidatura própria. Logo, nos oferecem mais no troca-troca”. Não é isso não!

Agora, essa proposta de transformar a próxima eleição em um grande e fantástico pleito democrático, com a participação de toda a sociedade, é muito grande e muito positiva.

E, olha, se o Presidente Lula tiver a capacidade, a visão, a orientação de Deus no sentido de ver a importância disso, onde, com toda a sinceridade, na minha opinião, é mais fácil o Lula ter um candidato que ganhe nessas primárias do que ganhar a Presidência da República sem as primárias. Porque, nessas primárias, com esse debate, com essa discussão, ele tem como promover, como crescer e como avançar. Uma coisa é a Drª Dilma, a Ministra, ser candidata direta a Presidente da República com todos perguntando quem é, de onde vem, o que ela é; e outra coisa é ir a uma primária, e ela ter a oportunidade de dizer quem ela é, de onde veio, e o que ela quer. Se ela ganhar, é uma candidata com muito mais força. Eu me refiro ao Lula porque, se o Lula aceitar, é meio caminho andado para os outros também aceitarem. Se ele, que é o Presidente da República, que tem condições de indicar o candidato, se disser: “É uma boa. Vamos fazer isso?”, seria uma grande saída.

Mas concordo com o Senador Cristovam: se, independentemente disso, já no ano que vem, um grupo aceitar a tese e percorrer as universidades brasileiras, debatendo essas idéias, talvez os partidos tenham de vir atrás.

O meu apoio e a minha solidariedade.

Obrigado pela tolerância de V. Exª, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2008 - Página 45765