Discurso durante a 215ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Ramez Tebet, no transcurso hoje, 17 de novembro, dos dois anos de seu falecimento.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Ramez Tebet, no transcurso hoje, 17 de novembro, dos dois anos de seu falecimento.
Aparteantes
Marcelo Crivella, Pedro Simon, Renan Calheiros.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2008 - Página 45798
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, RAMEZ TEBET, EX SENADOR, EX PREFEITO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, BUSCA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, TRES LAGOAS (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO ESTADUAL, DEPUTADO ESTADUAL, SUPERINTENDENTE, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO CENTRO OESTE (SUDECO), GOVERNADOR, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), JUDICIARIO, PRESIDENCIA, SENADO, CONGRESSO NACIONAL.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, REALIZAÇÃO, VONTADE, SENADOR, RECRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO CENTRO OESTE (SUDECO), ATUALIDADE, REGISTRO, IMPORTANCIA, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

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O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há exatos dois anos, o Senado Federal perdia um dos seus baluartes, um dos seus mais respeitáveis componentes: o Senador Ramez Tebet. Ele faleceu no dia 17 de novembro de 2006, depois de um longo e doloroso martírio.

A viúva Fairte, as filhas Simone e Eduarda e os filhos gêmeos Ramez e Rodrigo Nassar compensam o sofrimento da perda com o orgulho do legado que ele deixou, de um legado inteiramente ético.

Não é diferente o sentimento de seus companheiros e amigos lá do meu Mato Grosso do Sul, especialmente da vetusta Três Lagoas, sua cidade, sua terra natal, que ele tanto amava.

A recordação dos que privaram do seu convívio aqui é a de um político habilidoso, de um tribuno eloqüente, de um Parlamentar capaz. Foi com essas qualidades que o bravo Ramez Tebet embrenhou-se pelo mais arrojado itinerário já percorrido por um político do meu Mato Grosso do Sul.

Sua trajetória começara nos anos 60, quando ele ingressara no Ministério Público Estadual. Na condição de Promotor de Justiça, ganhara a credibilidade que o levaria à prefeitura do Município de Três Lagoas. A partir daí, elegeu-se Deputado Estadual, Vice-Governador e Senador por duas vezes.

Na última eleição, de 2002, escolheu-me para concorrer a seu lado como companheiro de chapa. No entanto, uma das atividades das quais meu amigo Ramez mais se orgulhava de ter exercido era a do magistério.

Era sempre motivo de grande felicidade reencontrar um ex-aluno. Em nossas conversas, quando enveredávamos pela nostalgia, não raro ele comentava sobre suas aulas e seus discípulos.

Além dos mandatos a que me referi há pouco, Sr. Presidente, ele foi Superintendente da antiga Sudeco e foi também Governador do Estado.

Na chefia do Governo Estadual, ele substituiu outro grande vulto da política sul-matogrossense, Wilson Martins, advogado brilhante que deixara o Governo para disputar uma vaga no Senado Federal, e aqui esteve por um mandato quase inteiro, um mandato completo.

Apesar do seu curto período no comando do Executivo estadual, Ramez realizou um notável programa de obras e perenizou sua marca em numerosos Municípios e em várias regiões do Estado. Em todas as funções que assumira, incluindo a de Relator da Constituinte Estadual, Ramez se desincumbira com raro brilho.

Todavia, Sr. Presidente, sua ascensão ao Senado da República -V. Exª deve se lembrar muito bem que era assim que ele se referia sempre, invariavelmente, a esta Casa -, teve o condão de influir na própria auto-estima da população sul-mato-grossense. É que ele ia vencendo desafios, especialmente como Relator de arriscadas matérias e se credenciando, cada vez mais, para missões sempre mais difíceis e mais abrangentes.

Quem não se lembra, por exemplo, da sua decisiva atuação na Comissão de Ética do Senado Federal ou na CPI do Judiciário, por exemplo? Foi com esse conceito que ele chegou ao Ministério da Integração Regional. Naquela Pasta, não teve nem tempo para realizar um de seus grandes sonhos: a recriação da Sudeco e a implantação da agência de desenvolvimento de toda a Região Centro-Oeste.

Ainda na semana passada, a Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado deu um importante passo nesse objetivo. Eu estava lá sustentando o relatório da Senadora Lúcia Vânia prevendo essas duas medidas.

E lá aprovamos o relatório, que, brevemente, com certeza, levará à concretização de mais um dos sonhos do velho e grande combatente Ramez Tebet.

Sua passagem pelo Ministério foi meteórica porque era chamado para assumir aqui a Presidência desta Casa, a Presidência do Senado e do Congresso Nacional. Naquela ocasião, V. Exª se lembra muito bem, esta Casa vinha passando, havia quase dois anos, por grandes turbulências, e Tebet foi a escolha certa para tirá-la daquelas terríveis provações.

Não posso falar no Ramez sem comentar o convívio que tive com ele no meu Partido, no nosso Partido, o PMDB. Todos nós sabemos que na militância partidária a relação entre as pessoas, por mais amistosa que seja, nem sempre se traduz por amizade. A convergência de interesses ou a identidade política entre pessoas de um mesmo agrupamento, via de regra, é fonte de uma relação de companheirismo, mas nem sempre de amizade. Ramez tinha esse tipo de relacionamento tão comum, mas, além de companheiros, ele tinha também muitos amigos, amigos no PMDB, amigos fraternos. Tinha esses amigos no PMDB e noutros partidos também, amigos pelos quais ele se interessava, estando ou não no poder; amigos que ouvia sempre com muita atenção e respeitava também.

Com muito orgulho, posso lhes dizer, Sr. Presidente, que fui um desses amigos.

Em 1982, quando preparávamos o Partido para disputar a primeira eleição direta de Governador, eu já defendia o nome dele para ser o vice-Governador na chapa encabeçada pelo Dr. Wilson Martins. Ele tinha o perfil ideal e a representatividade regional mais adequada para aquele momento, para aquela disputa. Esses eram os pressupostos que nos motivaram naquele momento, nenhum outro; a partir dali, a confiança mútua não parou de crescer.

Em 1990, uma crise interna provoca grande defecção no comando do PMDB estadual.

Deixaram o Partido figuras exponenciais como o ex-Governador Wilson Martins, Ramez Tebet e André Puccinelli, hoje Governador do Estado, e tantos outros que discordavam dos rumos da nossa agremiação naquele momento. Depois desse profundo cisma, eu assumi a Presidência do Diretório Estadual do meu Partido. Para resgatar o vigor do PMDB e prepará-lo para novas vitórias, precisava trazer de volta aquelas grandes lideranças.

No segundo semestre de 1991, promovi verdadeira peregrinação para convencê-los a retornar. Ramez estava sem mandato naquela época e dedicava-se exclusivamente ao magistério. Não escondia a sua preferência por continuar ministrando as suas aulas na universidade. Não imaginava, naquela ocasião, que, nas tratativas de sua volta ao seu ninho, a sua organização partidária, estava pavimentando o caminho para conquistar a vaga de Senador. E foi o que aconteceu. Em 1992, essas grandes expressões retornaram, o partido retemperou-se e, hoje no Governo e no maior número de Prefeituras de um Partido político organizado no meu Estado, constitui a maior agremiação de Mato Grosso do Sul.

Ao longo de todo esse tempo, trocamos idéias, formulamos projetos, divergimos e convergimos, mas não deixamos de dividir esperanças de um Brasil melhor e de um Mato Grosso mais próspero.

Honra-me, Senador Crivella.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Senador, eu gostaria de somar minha voz ao discurso lúcido, emocionado, reverente, solene que V. Exª pronuncia da tribuna desta Casa, Senador Valter, porque vejo que ele tem tanta verdade, as palavras de V. Exª trazem à nossa mente, de maneira clara, essa pessoa, esse vulto. Os cidadãos que não cultuam seus quadros históricos cometem um grave pecado contra si mesmos e contra a pátria. É o caso de Ramez Tebet. Eu privei da sua companhia, como V. Exª, porém por um tempo ínfimo, sobretudo nos momentos da dor. Estive no gabinete dele e levei uma Bíblia que lemos juntos e fizemos uma oração. Antes de ele morrer, por telefone, também fizemos uma oração. Ele já não falava mais. Mas seu chefe de gabinete me disse: “Senador, ele não pode falar, mas ouviu. E eu quero aqui dizer que uma lágrima dos olhos foi um derradeiro amém”. Isso me disse seu companheiro que estava lá ao lado do leito dele no momento de partida. Essas figuras nobres, que dignificam, que enobrecem esta Casa, essas biografias precisam ser lembradas, mas lembradas assim, como V. Exª fez hoje: trazendo sua caminhada desde o tempo de vereador. Sabemos que foi uma epopéia porque a vida política é um dilúvio de ódios e paixões. Se ele venceu tudo isso e manteve incólume sua dignidade é porque se trata realmente de um grande brasileiro, de um homem que representa a opulência da moral e da cultura do povo de Mato Grosso do Sul. V. Exª está de parabéns! V. Exª, neste momento, faz com que este Senado se engrandeça porque lembra a trajetória de um grande político, de um amigo de todos, de um servidor do povo, de um homem que se levantava, abria os braços e clamava pelo seu bravo Estado de Mato Grosso do Sul. Todos ouviam porque sabiam que ali não havia malícia, segundas intenções. Era realmente um político na essência da palavra e do dever, cumprindo sua índole, sua vocação, em defesa da sua brava e valente gente. Parabéns a V. Exª! Que o Brasil escute suas palavras e que possamos nos espelhar em um exemplo tão nobre de um Senador que, nesta Casa, não se apagou, pelo contrário, fechou os olhos para enxergar melhor, para colher no céu a boa semente que plantou nesta Terra. Muito obrigado pelo aparte. Parabéns a V. Exª! 

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Obrigado a V. Exª pelas palavras serenas e, sobretudo, pela sinceridade que brota do seu coração nesse aparte que só enriquece o nosso pronunciamento.

Honra-me o Senador Renan.

O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Senador Valter Pereira, a exemplo do Senador Crivella, eu quero me associar a V. Exª. O Senador Ramez Tebet foi um dos maiores homens públicos que tive a honra, o privilégio mesmo, de conhecer. O seu papel nesta Casa foi relevantíssimo, sem dúvida, absolutamente sem nenhuma dúvida. Sua vida, sua biografia, seu legado merecem sempre o registro de todos nós, de todos os brasileiros, de seus amigos. V. Exª foi dele um grande amigo. V. Exª fala, neste momento, Senador Valter Pereira, por todos nós. O Senador Ramez, pela coragem física e cívica, pela bravura, pela maneira como presidiu esta Casa - e ele foi Ministro da Integração Nacional e Governador do seu Estado -, vai viver para sempre. Eu tive, a exemplo de V. Exª e do Senador Pedro Simon, o privilégio de conviver com o Ramez Tebet nos dias mais dramáticos da vida política nacional, institucional. Não é preciso, mas posso testemunhar a sua coragem, a sua coerência, o seu destemor. Isso tudo, de certa forma, colaborou muito para o aperfeiçoamento institucional do nosso País. Parabéns a V. Exª.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Muito obrigado.

V. Exª presta um depoimento que me faz lembrar quando estávamos lá em Três Lagoas, e V. Exª, na condição de Presidente desta Casa, foi prestar a esse bravo companheiro sua derradeira homenagem, expressando o sentimento de todos os componentes desta Casa.

Honra-me o Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Veja V. Exª como o destino é caprichoso. Eu estava saindo para ir embora e passei por aqui. Não sabia que V. Exª iria abordar esse assunto. Mas agradeço a V. Exª e agradeço a Deus a oportunidade que me deu de fazer este aparte. V. Exª tem que ter muito orgulho porque preenche uma vaga de um grande brasileiro. Aliás, diga-se de passagem, V. Exª está com muita seriedade, muita competência, preenchendo brilhantemente esse papel. Mas V. Exª lembra Tebet. Tenho dito muitas vezes que na vida política brasileira, hoje, estão faltando referências. Naquela época, a gente olhava para Brasília, para a política nacional, e as referências eram infinitas praticamente. Hoje fazem falta. Talvez Teotônio, Ulysses, Tancredo, tanta gente não tenha tido uma vida tão completa e tão extraordinariamente feliz como Tebet. Ele preencheu todos os vácuos. Ele foi o grande advogado, ele foi o grande procurador, ele foi o grande Parlamentar, ele foi o grande Governador do seu Estado, ele foi o grande Senador. Numa hora difícil o Partido foi buscá-lo para ser o grande Ministro da Integração e numa hora mais difícil o Partido foi buscá-lo para ser Presidente desta Casa. Ele sempre, com competência, com seriedade, com austeridade, com dignidade, teve o seu desempenho. Tebet era uma pessoa profunda demais na sua maneira de encarar a vida. Eu conheço muitos Senadores e funcionários desta Casa que diziam que nos momentos difíceis que eles viveram Tebet estava ali para dar um conselho, para dar uma orientação, para dar um abraço de solidariedade, para estar presente. Eu não posso esquecer a fantástica grandeza com que Tebet viveu os últimos dias de sua vida. Eu o vejo ali, subindo à tribuna, alquebrado, a gente com medo, sem saber se ele subiria os degraus ou não subiria, e ali ele foi. Veio de São Paulo, esteve em Brasília, veio aqui para se despedir e ir para sua casa morrer, e se despediu. Que pronunciamento emocionante, ele falando à Casa, falando ao seu Estado pelo qual tinha tanta paixão, falando à sua gente, à sua família! Eu vejo a sua filha hoje, e V. Exª me conta da grande vitória que ela teve e da feliz administração que está fazendo. Eu vejo o Tebet pai, o esposo, o amigo, e eu digo com muita, muita sinceridade: Eu guardo uma imagem muito querida do Tebet. A mim ele conquistou pela grandeza, pela pureza, pela seriedade que ele dava à coisa pública. Tebet foi um dos grandes momentos na vida deste Parlamento. Eu o abraço pelo seu pronunciamento, eu o abraço pela sua atuação, eu o abraço por V. Exª, com grandeza, estar levando adiante a biografia dessa sua cadeira, que é de honra: ontem, com Tebet; hoje, com V. Exª.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Muito obrigado, Senador Simon. V. Exª, que indiscutivelmente era um dos amigos mais caros do Senador Ramez Tebet, tem razão quando diz que ele preenchia todos os vácuos. Indiscutivelmente, se ele possuía uma bússola que o orientava era a do bom-senso, sobretudo. E a imagem que V. Exª guarda daquele bravo Senador é a imagem que toda a população de Mato Grosso do Sul também tem devidamente preservada.

Não tenho dúvida, Senador Pedro Simon, de que minha escolha para ser seu parceiro de chapa resultou da grande afinidade política que tinha com ele, mas, sobretudo, de uma confiança, de uma amizade que muito nos unia.

Por tudo isso, não posso deixar de consignar mais uma vez minhas sinceras homenagens a esse grande vulto, que tanto orgulho propiciou a toda a sociedade de Mato Grosso do Sul e a seus amigos, em particular.

E, veja V. Exª, acabo de receber aqui comunicação da Secretaria: de São Paulo, assistindo ao nosso pronunciamento, um Senador também respeitabilíssimo nesta Casa faz o seu aparte, de longe, para dizer que incorpore neste discurso a saudade que ele tem do Senador Ramez Tebet.

Aqui, Senador Romeu Tuma, que está me ouvindo de longe, estará, sim, consignado em nosso pronunciamento, porque todos nós sabemos do respeito e da admiração que V. Exª sempre devotava à figura do grande Senador Ramez Tebet.

Sr. Presidente, ao encerrar minhas homenagens, não posso deixar de consignar, de registrar, não só a saudade dessa figura, que, para Mato Grosso do Sul, é inesquecível e, tenho certeza, também para esta Casa, e o faço na figura de sua esposa, Fairte, a homenagem que presto a sua família, e na de seus diletos filhos, especialmente da advogada Simone Tebet, a quem o Senador Pedro Simon se referiu com indisfarçável orgulho. Simone, que hoje é uma grande Prefeita, realiza uma extraordinária administração, que, certamente, lá do céu, propicia orgulho extraordinário a seu pai, pela produção, pela qualidade da filha que entregou a sua cidade, Três Lagoas. Simone, seguramente, será - não será, já é - sua principal herdeira política. O grande legado de Ramez Tebet, indiscutivelmente, terá como principal artífice a Simone, porque segue a mesma rota de dignidade, de decência e de competência do seu saudoso pai.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2008 - Página 45798