Fala da Presidência durante a 205ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do quarto centenário de nascimento do Padre Antônio Vieira.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do quarto centenário de nascimento do Padre Antônio Vieira.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2008 - Página 43910
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SENADO, HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ANTONIO VIEIRA, SACERDOTE, IGREJA CATOLICA, ESCRITOR, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL, ATUAÇÃO, BRASIL, PERIODO, IMPERIO, COLABORAÇÃO, CONSTRUÇÃO, PENSAMENTO, FILOSOFIA, ORDEM JURIDICA, ORDEM POLITICA E SOCIAL, PAIS.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Após a sessão de homenagem, V. Exª terá a palavra para uma comunicação inadiável.

            O tempo destinado aos oradores do Período do Expediente da presente sessão será dedicado a assinalar a passagem do 400º aniversário de nascimento do Padre Antônio Vieira, nos termos dos Requerimentos nºs 747 e 1.230, de 2008, do Senador Marco Maciel e outros Senadores.

            Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Embaixador de Portugal, Francisco Seixas da Costa. (Pausa.)

         Convido também para compor a Mesa o Exmº Sr. Senador Marco Maciel, primeiro subscritor do requerimento. (Pausa.)

            Convido ainda o Exmº Sr. Padre Aleixo para compor a Mesa. (Pausa.)

            Nossa saudação aos ilustres visitantes e às autoridades já nominadas, especialmente o Sr. Embaixador de Portugal, Francisco Seixas da Costa, e o Padre Aleixo.

            O ilustre Senador Marco Maciel, com o zelo e o descortino que lhe são peculiares, requereu se destinasse o período do Expediente de uma sessão plenária para que esta Casa pudesse assinalar o quadringentésimo aniversário de nascimento do Padre Antônio Vieira. A Presidência do Senado Federal, louvando a feliz iniciativa do insigne Senador, destaca a importância da homenagem devida a um pregador que, reconhecido como uma das maiores expressões do nosso vernáculo, em todos os tempos, foi também um humanista que viveu à frente do seu tempo e que contribuiu enormemente para a formação do pensamento filosófico, jurídico e político brasileiro.

            Dono de uma vastíssima cultura e autor de uma também vastíssima obra, Vieira tem despertado o interesse de pesquisadores em várias partes do mundo. Nas últimas décadas, suas obras foram publicadas ou republicadas em países como França, Inglaterra, Espanha e Estados Unidos, além, obviamente, do Brasil e Portugal. Com toda justiça, sempre figurou entre os maiores nomes da literatura em língua portuguesa. Sua ação política e seus questionamentos filosóficos, nem por isso, são menos importantes. Embora tenha vindo para o Brasil com apenas seis anos de idade, em 1614, influenciou como poucos os destinos de Portugal. No Colégio dos Jesuítas, onde ingressou em 1623, desenvolveria, além da vocação religiosa, uma consistente formação humanista, calcada em Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Francisco Suarez e outros pensadores católicos.

            Sua obra revela, além da influência desses pensadores, notável conhecimento dos clássicos da Antiguidade. Jusnaturalista convicto, defendeu os índios e os escravos, além de condenar veementemente a intolerância religiosa. Tendo regressado a Portugal, seus sermões provocaram enorme impacto na sociedade e na monarquia. Perseguido pela Inquisição, foi preso, depois mantido em custódia e afinal proibido de pregar. Em face de sua brilhante defesa perante aquele Tribunal, foi anistiado, sofrendo limitações, entretanto, quanto aos temas de suas pregações. Na verdade, foi incompreendido, conquanto criticasse as instituições do Reino e da Igreja. Vieira enxergava nas suas propostas modernizantes uma forma de Portugal superar impasses sociais e econômicos e garantir sua hegemonia no cenário internacional.

            O professor Everaldo Gonzalez, estudioso da obra de Vieira, acredita que a vivência do pregador no Brasil contribuiu de forma significativa para aprofundar sua formação humanista, fundada numa concepção filosófica e teológica avançadas para sua época.

            Ao propor a presente homenagem pelos 400 anos de nascimento do Padre Antonio Vieira, o Senador Marco Maciel destacou o fato de o pregador jesuíta ser considerado um cidadão de dois mundos. De fato, Vieira influencia decisivamente a história de Portugal, tanto quanto a do Brasil, para onde retornaria, em 1681, e daria continuidade ao seu intenso trabalho de evangelização.

            O Brasil colonial, sob a influência sucessivamente das Ordenações Afonsinas, Manoelinas e Filipinas, tinha um ordenamento jurídico de cunho escravista. Os jesuítas, entre eles Vieira, destacadamente, pugnavam pelo estabelecimento de uma ordem menos excludente, que não sustentasse a riqueza e o bem-estar de uns mediante a miséria e a escravização de outros. Em sua vasta obra, na qual faz uma detalhada radiografia da sociedade luso-brasileira de então, o Padre Vieira não hesita em afrontar a Coroa, a Igreja e até a Inquisição, para lançar as bases de um novo ordenamento jurídico e de uma nova concepção da organização social.

            A Presidência do Senado Federal sente-se gratificada por prestar esta singela homenagem ao Padre Vieira, o ilustre orador, missionário e homem público que, tendo se destacado como um dos grandes vultos da nossa história, continua iluminando, com sua percuciência e sabedoria, os ínvios caminhos que ainda precisaremos desbravar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2008 - Página 43910