Discurso durante a 216ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o Dia de Homenagem à Consciência Negra e a Zumbi de Palmares. Comentários a artigos do Senador José Sarney intitulados "Um menino do Havaí" e "Obama e Fala".

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Manifestação sobre o Dia de Homenagem à Consciência Negra e a Zumbi de Palmares. Comentários a artigos do Senador José Sarney intitulados "Um menino do Havaí" e "Obama e Fala".
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2008 - Página 45932
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, ANTECIPAÇÃO, PRONUNCIAMENTO, HOMENAGEM, DIA, CONSCIENTIZAÇÃO, NEGRO, LIDER, QUILOMBOS, MOTIVO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REPRESENTANTE, SENADO, ENCONTRO, CONGRESSISTA, BANCO MUNDIAL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, JOSE SARNEY, SENADOR, ANALISE, VITORIA, BARACK OBAMA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), LEITURA, TRECHO, MATERIA, MANIFESTAÇÃO, APOIO, ORADOR, ELOGIO, BIOGRAFIA, POSSIBILIDADE, EXTINÇÃO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, MUNDO.
  • DISCORDANCIA, DECLARAÇÃO, JOSE SARNEY, SENADOR, FALTA, CONFIANÇA, ATUAÇÃO, BARACK OBAMA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, CRITICA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, EXPECTATIVA, ORADOR, EXISTENCIA, DIALOGO, POSSIBILIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA, UNIFICAÇÃO, DIREITOS SOCIAIS, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MEXICO, AMERICA LATINA.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Epitácio Cafeteira, nesta semana teremos o dia de homenagem à consciência negra, a Zumbi de Palmares, dia 20. Por ter sido convidado para representar oficialmente o Senado Federal no encontro parlamentar do Banco Mundial, onde se reunirão mais de 150 Parlamentares do mundo inteiro, em Paris, estarei ausente nos dias 20, 21 e 22, pois, repito, estarei representando o Senado Federal nessa reunião.

O pronunciamento que eu gostaria de fazer em homenagem a Zumbi de Palmares o farei hoje, entretanto, relacionado à questão da consciência negra e aos passos que todos os africanos, afrodescendentes nas Américas têm dado. Eu gostaria de comentar, com muito respeito, dois artigos do nosso colega, ex-presidente e Senador José Sarney.

O primeiro publicado na Folha de S.Paulo, de 07 de novembro de 2008, Um menino do Havaí, em que ele começa dizendo que os Estados Unidos não vão mudar. Continuarão com seus problemas, entretanto. Mas, ao mesmo tempo,l ele diz que a vitória de Obama não muda, mas muda tudo.

        A mensagem que a América mandou ao mundo apaga todos os seus equívocos para situar-se no seu forte, que são as grandes idéias que semeou e mudaram a humanidade: a Declaração de Independência, com a palavra de Jefferson de que “todos os homens são iguais” e têm direito “à vida, liberdade e busca da felicidade.

E logo a seguir, diz José Sarney:

A força da liberdade, seu poder criador, o sonho de tantos imigrantes de todas as raças e credos, tudo para a construção de uma sociedade democrática. Nada melhor para resumir o que aconteceu do que as palavras do próprio Obama em seu discurso de vitória: “Se alguém ainda duvida de que a América é um lugar onde tudo é possível, pergunta se o sonho dos pioneiros está vivo em nossos tempos e questiona o poder de nossa democracia, esta noite é a sua resposta”.

A vitória foi, assim, dos Estados Unidos. É o país que justifica ao mundo o porquê de sua liderança e sua capacidade de renovar-se, mesmo em meio a uma tempestade econômica que ninguém sabe quando começou e quando irá terminar.

E aí tece alguns elogios à rica biografia, à sua inteligência, ao seu talento político formado num cerco de segregação que o levou a escrever que “o termo branco era extremamente incômodo em minha boca”. Viveu, então, a capacidade de transitar “entre meus dois mundos”, sabendo que “com um pouco de colaboração de minha parte os dois se conciliariam”. Ele traz a esperança e a carga adicional de ser um símbolo à humanidade de reconciliação das raças e projeta o ideal de um mundo sem cor de pele e nivelado pelo sonho de Luther King: o caráter.

Estou de acordo com essas observações do Senador José Sarney. Mas fiquei um tanto surpreso e discordo do seu outro artigo, e dada a importância do mesmo é que resolvi aqui comentá-lo. No seu artigo, Obama e Fala, de 14 de novembro, diz o seguinte:

Sou dos que receberam a eleição de Obama como o surgimento de um novo e grande momento para a humanidade, mergulhada na pior crise dos últimos tempos. Sua mensagem despertou tanta confiança que não pode fracassar.

Mas confesso que alguns sinais que ele tem dado não me animaram. Primeiro, a inclusão forçada no discurso da vitória de um cachorrinho para suas filhas. Depois, o excesso de retórica com a eleitora mais velha dos Estados Unidos, gesto com cheiro de demagogia e comum nos populistas sul-americanos.

E ainda comentou: E pior, a piada de mau gosto de não querer invocar as sessões espíritas de Nancy Reagan, viúva do presidente Reagan, para ouvir os conselhos de seu marido.

Ora, diz o Presidente José Sarney: Queremos um estadista, um homem de idéias que nos levem a afastar o desânimo e a imagem dos Estados Unidos neste momento tão crucial da história.

Não sei se o Senador José Sarney ouviu o discurso de Barack Obama ao vivo. Eu estava em Buenos Aires na terça-feira para quarta-feira, 4 de novembro, e acompanhei como tantas pessoas no mundo inteiro a transmissão ao vivo, por volta das três horas da manhã, daquele memorável discurso do Senador Barack Obama e pude acompanhar, ao final da tarde e início da noite, o número crescente de pessoas que compareceram ao parque de Chicago, ao Grant Park de Chicago, e até, quando eram 11 horas da noite em Chicago e três horas da manhã em Brasília e em Buenos Aires, eis que então ele iniciou seu discurso para 100 mil ou 150 mil pessoas. Talvez o Presidente José Sarney tenha apenas lido e não observado. Mas o que eu pude constatar é que o Senador Barack Obama, naquele momento eleito Presidente da República, Presidente dos Estados Unidos, interagiu com aquela multidão com o espírito muito próprio dos norte-americanos. E se ele em algum momento fez uma observação a respeito de suas filhas, Sasha e Malia, amo vocês duas mais do que podem imaginar e vocês ganharam um novo cachorrinho que está indo conosco para a Casa Branca. Ora, dizer algo assim e dizer que até este cachorro não era de raça, era como um vira-lata tal como ele, quer dizer, se trata de uma observação feita de muito bom humor, como era próprio naquela noite de júbilo de confraternização com todos aqueles que com ele estavam partilhando daquela alegria. E os fatos mais importantes relativos ao pronunciamento de Barack Obama, sobretudo foi a consagração daquilo que ele havia falado ao longo de sua campanha, em discursos memoráveis, dentre os quais aquele em 18 de março, a respeito daquilo que havia expresso o seu pastor Jeremias, da sua igreja, exatamente o pastor que o havia casado e batizado as suas crianças, que entretanto havia feito uma observação que Barack Obama considerou um tanto estimuladora de maior divisão racial e, como ele justamente tem por objetivo construir uma sociedade de acordo, inclusive, com os ideais de Martin Luther King Jr., em que essas divisões de raças possam ser separadas, foi então que ele disse que tinha alguma divergência com o pastor que, entretanto, respeitava, porque era o pastor de sua igreja. Também ele estava ali consolidando e consagrando os ideais que colocou em seu extraordinário discurso de 24 de julho de 2008, em Berlim, onde ele mencionou que agora não é mais possível admitir muros entre velhos aliados de cada lado do Atlântico, que não podem continuar os muros entre os países que têm mais e os que têm menos, não podem continuar os muros entre raças e tribos, entre nativos e imigrantes, entre cristãos, mulçumanos e judeus. Não podem permanecer. Hoje são esses os muros que precisamos derrubar.

Essas coisas estavam, obviamente, na mente de todos, assim como, também, o mais longo discurso que ele fez, ao ser homologado pela convenção democrata, em 28 de agosto de 2008, exatamente ao se relembrar dos 40 anos do memorável discurso de Martin Luther King, I have a dream (Eu tenho um sonho), ao qual já me referi.

Portanto, eu gostaria de, com toda amizade e respeito que tenho para com o Senador José Sarney, discordar, quando, por exemplo, ele menciona que achou um exagero inadequado que tivesse Barack Obama homenageado a senhora de 106 anos, que, depois de tantas vezes impedida de votar, porque houve época, nos Estados Unidos, em que essa senhora esteve proibida de votar, porque, nos Estados do Sul, antes da grande campanha pelos direitos iguais de votação e pelos direitos civis levados adiante de forma vitoriosa por Martin Luther King Jr., por muitos anos, aos negros não era dado o direito de votar. Então, avalio que...

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...foi um ponto alto das observações do Senador e Presidente eleito diretamente, quando observou que:

Estas eleições contaram com muitos inícios e muitas histórias que serão contadas durante séculos. Mas uma que tenho em mente esta noite é uma mulher que votou em Atlanta. Ela se parece muito com outros que fizeram fila para fazer com que sua voz seja ouvida nessas eleições, exceto por uma coisa: Anne Nixon Cooper tem 106 anos. Nasceu apenas uma geração depois da escravidão, em uma era em que não havia automóveis nas estradas nem aviões nos céus, quando alguém como ela não podia votar por dois motivos: por ser mulher e pela cor de sua pele. Esta noite penso em tudo que ela viu durante o seu século nos Estados Unidos - a desolação e a esperança, a luta e o progresso, às vezes em que nos disseram que não podíamos e as pessoas que se esforçaram para continuar em frente com esta crença americana: podemos.

Em uma época em que as vozes das mulheres foram silenciadas e suas esperanças descartadas, ela sobreviveu para vê-las serem erguidas, expressarem-se e estenderem a mão para votar. Sim, nós podemos.

E por aí ele seguiu.

Quero dizer que esse pronunciamento muito comoveu a todos que estavam assistindo.

Então, prezado Senador José Sarney, carinhosamente, quero dizer que, da minha parte, não fiquei decepcionado. Quero muito que o Senador Barack Obama, o Presidente Barack Obama acerte. Tenho muita vontade de com ele dialogar, dar sugestões a respeito do que ele pode fazer e colaborar para que, desde o Alasca...

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...até a Patagônia, tenhamos, um dia, a implementação de medidas que possam homogeneizar os direitos sociais e não haja mais muros que separem os Estados Unidos do México, da América Latina.

Vou prosseguir com o tema de homenagem a Zumbi dos Palmares, se possível, amanhã, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2008 - Página 45932