Discurso durante a 216ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre a importância da vitória do Senador Barack Obama para a presidência dos EUA.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA PARTIDARIA. JUDICIARIO.:
  • Reflexões sobre a importância da vitória do Senador Barack Obama para a presidência dos EUA.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy, Gerson Camata, Marcelo Crivella.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2008 - Página 45950
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA PARTIDARIA. JUDICIARIO.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, HEGEMONIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MUNDO, AMBITO, CULTURA, MOEDA, ALTERAÇÃO, SITUAÇÃO, CRISE, MERCADO FINANCEIRO, NECESSIDADE, AUMENTO, CONTROLE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), BANCO MUNDIAL, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, EXCESSO, INTERFERENCIA, POLITICA INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, BLOQUEIO, COMERCIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, CUBA, MANIPULAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), GUERRA, ORIENTE MEDIO.
  • ELOGIO, FORMAÇÃO, DIRETRIZ, CAMPANHA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, FECHAMENTO, PENITENCIARIA, EXTINÇÃO, BLOQUEIO, PAIS ESTRANGEIRO.
  • COMENTARIO, HISTORIA, INTERFERENCIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, BRASIL, GOLPE DE ESTADO, DITADURA, REGIME MILITAR, REPUDIO, ANUNCIO, RECRIAÇÃO, FROTA MARITIMA, FORÇAS ESTRANGEIRAS, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • COMPARAÇÃO, HISTORIA, VITORIA, ELEIÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, SEMELHANÇA, CANDIDATO ELEITO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ANALISE, DIFERENÇA, POLITICA PARTIDARIA, BRASIL, EXCESSO, DOMINIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREJUIZO, GOVERNO.
  • COMENTARIO, DECISÃO JUDICIAL, MANUTENÇÃO, JUIZ, PENDENCIA, POLICIA FEDERAL, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN), EXPECTATIVA, CONSELHO DE JUSTIÇA, AUSENCIA, ABERTURA, INQUERITO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente.

Sr. Presidente, essa coincidência de uma crise mundial tão intensa como esta, sem precedentes desde a de 1929, e a coincidência com a posse, agora em janeiro, do Presidente eleito dos Estados Unidos, Obama, nos leva a fazer algumas considerações.

Eu acho que o fenômeno Obama, eu fico com uma mágoa, assim, quando vejo que as coisas que acontecem nos Estados Unidos repercutem no mundo inteiro. Então, nós brasileiros ficamos aqui olhando mais para as coisas de lá que para as coisas daqui. Mas não há como fugir. Os Estados Unidos atingiram uma posição que a história da humanidade não tinha conhecido igual. O Império Romano dominou o mundo, praticamente. Mas era outra época. Não tinha rádio, não tinha televisão, não tinha jornal. A gente vê lá, em Jerusalém, os romanos estavam lá, dominavam, mas o povo de Israel vivia ali, com a sua igreja, com a sua fé, com a sua língua, com o seu espírito, com a sua tradição, com a sua história, não houve nenhuma influência do povo romano em Israel. Como não houve nos outros países dominados pelo Império Romano. É que Roma estava em Roma, os soldados romanos estavam ali dominando a cidade, mas a língua não se impunha, a música, a história e a civilização não se impunham. Hoje é o contrário. Tirando o Iraque e mais meia dúzia de lugares do mundo onde o americano está lá com as suas tropas, não precisam entrar com suas tropas para o mundo se dominar pela força dos Estados Unidos. Liga-se uma televisão e a produção americana é total. Pode-se ver no cinema. Acho aquele festival em Los Angeles, o Oscar, uma coisa impressionante, 2 bilhões de pessoas assistem. É um festival que entrega 40 prêmios à melhor música, ao maior compositor, ao maior cantor, ao maior autor, ao maior ator dos Estados Unidos. E entrega um prêmio ao melhor filme estrangeiro. O resto do mundo ganha um prêmio, o de melhor filme estrangeiro, e 50 prêmios são distribuídos aos americanos. É a realidade. É a realidade. E é esse mundo, e é esse dólar, e hoje estão aí reunidas as grandes nações, dizendo que alguma coisa deve ser feita. Onde foi que se originou esta crise? Lá, nos Estados Unidos. Porque lá, nos Estados Unidos, os bancos de investimento não têm controle e, não tendo controle, houve uma farra de gastos da construção civil. E, para cada dólar que o banco tinha, ele aplicava US$30,00, US$40,00, US$50,00. Então, iniciou o que está acontecendo.

O Presidente francês fala que o mundo deve ter uma nova esquematização da questão financeira e que não deve ficar na mão dos Estados Unidos apenas o controle mundial, como acontece hoje: Fundo Monetário, Banco Mundial... O americano é quem determina, fixa. E se vê de certa forma, hoje, que realmente a crise é enorme, mas não é como houve há 10 anos, por exemplo, quando a crise do México e a crise da Rússia atingiram o mundo inteiro. Hoje, a China tem a sua economia; a Índia tem a sua economia; o Mercado Comum Europeu hoje é uma estrutura cuja moeda, o euro, é uma realidade, mas não há como deixar de reconhecer que o americano é o americano.

A vitória de Obama significa um fato novo muito importante. Acho que nunca a prepotência americana existiu tanto no mundo quanto com o Presidente Bush. Foi o supra-sumo da vaidade, da pretensão. Vejo agora, há 10 dias, as Nações unidas, todos os votos menos dois, dos Estados Unidos e de Israel, a favor do término do bloqueio a Cuba. Lá se vão 50 anos! Não há mais razão para isso! O Fidel, politicamente, não existe. A exportação de teoria, de doutrina de Cuba para o exterior não existe! É um país que está lá, pacato, mas que sofre o esmagamento de um boicote cruel, incompreensível e injustificável, que é esse bloqueio.

À revelia do Conselho das Nações Unidas, à revelia do pensamento mundial, o Presidente Bush, mentindo à Nação e mentindo ao mundo, dizendo que o Iraque estava fabricando armas nucleares, armas de destruição da humanidade, e à revelia do pensava a ONU ou do que pensava o Conselho, fez a invasão. E hoje se sabe que era mentira, que os órgãos técnicos americanos sabiam que não era verdade! O Embaixador brasileiro que presidia a entidade de controle de armas mundiais foi demitido pelo americano, que fez uma reunião especial para demitir o nosso querido Embaixador. Ficou provado que, em cima de uma mentira - o americano já sabia que não havia arma -, invadiram o Iraque e estão lá até hoje.

O Obama é filho de negro, sim, mas o Obama, à margem disso, tem mostrado e mostrou, em sua caminhada, ser uma figura extraordinariamente profunda nas suas idéias, na pureza dos seus pensamentos, nas questões como a ética e a dignidade - na campanha, antes da campanha e depois de eleito. Tem demonstrado uma grandeza de ideais que temos de dizer que confiamos nele. Confiamos, e demais, em que ele terá condições de fazer o que espera. Digo que é um sinal dos mais importantes da história da humanidade.

Obama tem dito que um dos primeiros atos dele é terminar com o escândalo da penitenciária de Guantánamo, em Cuba. É um terror o americano ter um presídio onde estão pessoas que eles pinçam do mundo inteiro, sem lei, sem denúncia, sem defesa, sem nada, debaixo da tortura e de tudo o que se pode imaginar. O americano tem hoje essa chaga, que diz Obama que pretende extinguir.

Sr. Presidente, não vai ser fácil para o Obama. E não vamos imaginar que ele assumirá e, no dia seguinte, as coisas mudarão e que a realidade mundial desaparecerá. É claro que não. Vai levar tempo. Mas há algumas posições que dependem só dele e que são o simbolismo que pode representar muito para a humanidade. Se ele terminar com essa penitenciária, Sr. Presidente, fechar as portas e destruí-la, o mundo vai aplaudir de pé. Se suspender o bloqueio a Cuba, que não há quem não queira, o mundo vai aplaudir de pé. São atos como esses.

Nós, do Brasil, olhamos para o Obama. Nós, da América Latina, temos uma mágoa profunda: o americano não olha para nós senão como quintal. Aquela tese de que o Brasil, a América Latina é o quintal deles. A tese extraordinária lançada à América pelos americanos e que fez história na América. Quando a Argentina entrou nas Ilhas Malvinas, o americano ficou com a Inglaterra. A Argentina ficou falando sozinha.

Eu acho que o Obama pode ter uma palavra neste sentido: a Quarta Frota, que eles querem ressuscitar, de triste memória. Sexta-feira, o Governo brasileiro deu anistia ao Presidente João Goulart, à sua memória. Cassado pelo regime da ditadura, o único Presidente brasileiro que morreu no exílio - não lhe permitiram vir para se despedir de sua mãe nem para o enterro dela; só veio morto. E a ditadura ainda queria que ele fosse sepultado sem choro nem vela. Foi um ato de rebeldia da gente gaúcha, que não cumpriu a imposição do 3º Exército de que ele tinha de entrar em São Borja, ir para o cemitério e ser enterrado, sem gente, sem povo, sem ninguém. E toda São Borja, e toda a fronteira oeste, milhares e milhares de pessoas foram à rua pegar o caixão na mão e lhe deram a sepultura. Ganhou anistia, sim. Muita gente não sabe que o Jango renunciou por várias razões. Uma delas: a Quarta Tropa estava aqui. E quem ler as memórias do Embaixador Johnson verá que ele conta isso. Houve até uma certa mágoa da Marinha americana porque eles queriam que o Jango reagisse, porque a Quarta Tropa ia invadir. Aquilo que se fala, no sentido de que muita gente olha com cobiça a Amazônia, que olha com cobiça o Brasil, o seu tamanho, esperando fazer o Brasil do Norte e o Brasil do Sul, impediu o Jango de resistir, e a quarta tropa ficou, mas não entrou.

É essa quarta tropa que o Presidente Bush, em um dos últimos atos do seu governo, quer reabrir, quer recriar. A tropa que cuida do Atlântico Norte, que cuida do Atlântico Sul vai muito bem, obrigado. Não há problema algum. Por que criar a quarta tropa para o Atlântico Sul? Qual é o motivo? O petróleo na faixa marítima? É isso? Ou vai ser... Coitadinho do Presidente da Venezuela, que fala um pouco mais alto, mas que, desde o início até hoje, todo o petróleo ele vende da Venezuela, negocia, vai muito bem, obrigado. Não há problema algum. Fala do lado de cá, mas do ponto de vista do americano vai muito bem.

Esperam-se fatos novos com Obama. Fechar a penitenciária, símbolo do que tem de pior na humanidade hoje. Ali se formou a escola que ensinou a tortura na ditadura brasileira, no Chile, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. Para lá, levaram as pessoas para ensinar a torturar, a fazer sofrer o máximo possível e convencê-las a contarem o que sabiam e o que não sabiam e, assim, evitar a tortura e a morte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe concederei um aparte, Senador.

Ah, meu irmão Obama! Se V. Exª fechar essa penitenciária, terminar com esse escândalo, que é uma barbárie, V. Exª começará a ver o mundo lhe aplaudir, com algo que não depende de ninguém, só de V. Exª.

Ah, se V. Exª terminar com o bloqueio de Cuba, V. Exª haverá de ver a ONU que, por unanimidade... Tirando Estados Unidos e Israel, este último porque tem fidelidade e deve toda sua existência ao americano; não há nada de pessoal no voto de Israel. Há o voto porque o americano lhe dá sustentação permanentemente e ela tem que votar. Mas, o resto, os outros, uma enormidade de países que vivem e independem dos americanos, já venceram isso e votam contra o bloqueio.

Se V. Exª, Presidente Obama, fizer o fim desse bloqueio, V. Exª já estará começando a fazer um grande governo.

Nunca vi alguém chegar a um governo com uma expectativa tão fantástica de otimismo que nem essa.

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Senador, V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe concederei, Senador.

É o mundo inteiro. É o mundo inteiro.

É negro? Sim, é negro. Mas vamos fazer justiça: a campanha do Obama não foi a campanha de negro, de é a vez do negro ou coisa parecida. Foi a campanha de alguém que tem uma grandeza de sentimento que emociona a gente. Alguém com um pai estrangeiro que casou com uma americana; de alguém que foi criado pela mãe, pela avó; que veio do nada e que cresceu, que subiu; que se formou em Harvard, a universidade mais importante, mais elitizada dos Estados Unidos e, formado em Harvard, foi para Chicago trabalhar na advocacia com gente simples, com gente humilde. Foi essa gente, graças a Deus... Tive mais conhecimento do que foi a ditadura, a violência, o arbítrio contra o negro nos Estados Unidos do que Obama. Sou muito mais velho do que ele. Quando ele nasceu, ele nasceu ali quando Kennedy e Johnson terminaram com aquele arbítrio.

Eu fui antes, eu tive lá, eu assisti rua de branco e rua de negro, Sr. Presidente. Eu assisti colégio de branco e colégio de negro. Eu ali olhei ônibus de branco e ônibus de negro; eu vi isso, chorando com mágoa, inacreditável, eu assisti esse espetáculo lá no sul dos Estados Unidos. Obama não assistiu. Graças a Deus, quando chegou a época dele, os direitos humanos existiam. Negro votava. Eu ali estive onde negro não votava.

Então, Obama não sentiu a marca e o ressentimento daquilo que deve e deveria atingir. Mas ele tem a grandeza, isso ele tem. A grandeza espiritual, a grandeza da pureza.

Como é lindo ver ele e a esposa mostrarem que se amam, que se entendem, que se respeitam! Um ilustre Senador, brilhante, fez um comentário brilhante sobre ele, mas achou que não ficou bem a Obama dizer que levaria um cachorro da filha para a Casa Branca, um cachorro vira-lata que nem ele. Eu achei fantástica essa expressão! Eu achei fantástica essa expressão! Demagógica? Como demagógica, se ele terminou a eleição e não precisa de voto? Eu achei importante a questão.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Me permite?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A filha dele sai de Chicago, a guriazinha, vai para a Casa Branca. O que ela quer? Quer isso? Quer aqui? Não. Eu quero um cachorrinho. Você vai ter, minha filha, um cachorrinho. Agora, qual vai ser o cachorrinho? Um vira-lata que nem eu. Vira-lata, Presidente dos Estados Unidos. É demagogia? Não! Não é demagogia. Olha, minha inveja é cristã. Mas eu sinto inveja. Quando eu vejo aquele debate entre os dois candidatos... Ali, um de um lado e outro do outro. A Nação americana assistindo, e o mundo assistindo! E eu assisti os quatro! Sim, que nem nosso querido Lula, em seus debates, estava lá ... Como é o nome dele, o que organizava toda a campanha dele? Que criou o “Lulinha, paz e amor.”

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Duda.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Duda Mendonça, que mudou a barba para ser bonitinha. A roupa dele que é, hoje, um modelo espetacularmente bonito e bacana.

Alguns até falam que ele teria feito Botox ou coisa parecida. Acho ridículo. Não vejo nada nesse sentido nem concordo com isso. Mas que o Lula que ganhou a primeira eleição foi o Lulinha paz e amor do Duda, foi! Ele lia tudo que diziam pra ele. Às vezes, eu olhava ele falando na televisão e estava lendo. Eu não estou discutindo isso, porque os outros também lêem. Mas, nos Estados Unidos, é diferente. Quem dá a palavra final, nos Estados Unidos, são os dois cara a cara, ali. Um fala e outro responde. Então, foi um debate sensacional. Outros de pé, uns conversando. Iam ali, debatiam, analisavam. E ali o Obama se revelou. Ali o Obama revelou a alma dele, o sentimento dele, o pensamento dele com relação aos Estados Unidos e ao mundo.

Não é por nada Presidente. Não é por nada! Nós estamos aqui, Sr. Presidente. O PSDB está todo... Veja o que eu estou fazendo! Eu estou falando aqui, e o Presidente Fernando Henrique está lá no Interlegis fazendo uma conferência. E está todo mundo lá. Então vamos ficar aqui, tchê! Quem quiser ir que vá. Mas eu acho que nós podemos fazer aqui, Sr. Presidente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu sugiro que o Presidente possa permitir um tempo para o aparte.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - V. Exª está homenageando o Presidente Fernando Henrique.

A fala de V. Exª é uma homenagem ao Presidente Fernando Henrique.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Também.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sr. Presidente, um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - É uma extensão da homenagem.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Também, Sr. Presidente.

Eu já vou dar o seu aparte. Já darei com o maior prazer, com o maior prazer.

E ali o Obama se revelou. O Obama se revelou! Revelou quem ele é. O sentimento dele. A mulher, a filha. A avó. Houve um pastor que, de uma maneira ridícula, quis encurralá-lo num canto, dizendo que ele era um radical, não sei o quê.

Ele teve categoria de ficar onde tinha de ter ficado. Que bom será o dia em que, no Brasil, teremos uma eleição assim, em que não votaremos no Duda Mendonça nem na criatura que o Duda Mendonça criar, para que o cidadão possa ser o que é, o que pensa, o que sente!

Primeiro, o Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Pedro Simon, V. Exª externa hoje um sentimento com que muito compartilho. Aliás, há pouco, já havia tratado deste tema, inclusive dos artigos do nosso colega, o ex-Presidente e Senador José Sarney. Com o primeiro artigo dele, Um menino do Havaí, em que fez uma referência tão positiva ao Senador Barack Obama, concordei. Mas, quanto ao segundo artigo, em que, conforme V. Exª há pouco mencionou, ele não considerou adequada a menção bem-humorada feita por Barack Obama, de que suas filhas poderiam levar um cachorro que não fosse de raça...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vira-lata.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...vira-lata como ele. Tive a oportunidade - e acredito que V. Exª também - de observar ao vivo aquela cena. Acho que o Senador José Sarney não captou o significado da interação da multidão esfuziante, em um momento de júbilo, de contentamento, em que ele disse coisas com bom-humor, como essa que V. Exª salientou. Para quem conhece a tradição norte-americana, falar sobre o cachorro que vai à Casa Branca é uma coisa muito interessante e adequada para aquele momento de alegria. Da mesma maneira ele também homenageou aquela senhora de 106 anos, que, por tanto tempo, conforme V. Exª acaba de registrar...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Cinco horas na fila esperando.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...para votar nele. Ela, senhora de 106 anos, que, por muitos anos, teve o direito de votar negado. Então, o fato de ele, simbolicamente, ressaltar aquela experiência também...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Achei lindo!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...foi tão bonito. Concordo com V. Exª. Queria apenas, compartilhando com a expectativa tão positiva que V. Exª tem, recordar aqui uma coisa interessante dita pela escritora Samantha Power, que visitou,há pouco o Brasil, por ocasião do lançamento do livro sobre Sérgio Vieira de Mello. Ela salientou uma característica que era de ambos: Sérgio Vieira de Mello e Barack Obama, de quem ela era amiga e assessora, Samantha Power disse: “Esses dois homens têm uma qualidade, que é a de não ter medo de falar com aquelas pessoas que pensam de outra maneira”. Então, quando o Senador McCain, seu adversário, ficou preocupado que o Senador Barack Obama conversasse com seus adversários A, B ou C, ou o Presidente Hugo Chávez, ou o Presidente do Irã e assim por diante, eis que me fez lembrar essa observação de Samantha Power: o Senador Barack Obama não tem o receio de dialogar com pessoas que pensam de outra maneira, mesmo sendo adversários porque, de lá, poderá sair uma solução de paz, conversando com respeito e dignidade.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito o aparte de V. Exª. Concordo inteiramente.

Concedo um aparte ao Senador Gerson Camata.

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Senador Pedro Simon, quero cumprimentar V. Exª pela fala. Como a de ontem, foi muito interessante, muito importante, muito up to date com a situação do mundo, muito atualizada. Estava lá naquela noite. Não em Chicago, mas em Washington, quando houve a recepção do Partido Democrata. A população de Washington, 65% é negra. Percebi o seguinte: no começo da festa a maioria era branca. Mas lá pela meia-noite já havia uma maioria bem brasileira, abraçando-se. Apareceu um conjunto espanhol com uma música, feita na hora, muito bonita, que dizia o seguinte: “Como es el nombre del hombre/ el nombre del hombre/ el hombre se llama Obama.” Lá fizeram um carnaval. Parecia uma eleição no Brasil, a vitória de Lula, a segunda. Quero voltar a Cuba, quando V. Exª referiu-se ao bloqueio. O que me recordo - e a gente tem de ler a história e não perder a memória da história - é que quando a União Soviética comprava todo o açúcar de Cuba e vendia à Europa pela metade do preço, prejudicando os produtores brasileiros de açúcar; quando a União Soviética mantinha Cuba dando-lhe petróleo, gás, comida, que o comunismo cubano era incapaz de produzir, Cuba não reclamava do bloqueio. Acabou a União Soviética, acabaram-se as mordomias, os armamentos e tal, e Cuba começou a reclamar do bloqueio. O povo de Cuba não tem internet não é porque tem bloqueio, não; é porque a ditadura cubana não deixa ter internet. O povo de Cuba não tem celular - só os do Partido é que têm, ainda é censurado - não é porque tem o bloqueio americano; é porque o ditador de Cuba não deixa ter telefone celular para o povo. O povo de Cuba não pode ler determinados livros e não pode ter rádio portátil não é porque tem bloqueio não; é porque o ditador de Cuba, comunista, ele e o da Coréia do Norte, não deixam o povo ter rádio portátil porque o povo tem que ficar dominado. São duas prisões: de um lado, é Guantánamo, uma prisão, e do outro é Cuba inteira, que é outra prisão. Tem que acabar com as duas.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Obama diz muito bem. Ele não fala em terminar com o bloqueio, Senador, sem ter a contraparte. Ele diz com todas as letras que, na medida em que Cuba for normalizando a sua situação...

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Se acabar o bloqueio, o comunismo acaba.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como é que é?

O Sr. Gerson Camata (PMDB - ES) - Se os Estados Unidos suspenderem o bloqueio, o comunismo cubano não agüenta seis meses. É simples acabar com o comunismo cubano: basta suspender o bloqueio, daí a seis meses acaba o comunismo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É isso aí. Dentro de seis meses terminou o comunismo cubano, que, aliás, terminou no mundo inteiro. Que aliás terminou no mundo inteiro. Então eu acho que o Obama termina com o bloqueio, termina com a penitenciária, que é uma chaga na história da humanidade. E se Obama pensar um pouco na Quarta Frota - pelo menos nós fomos falar com o embaixador americano e ele disse que a Quarta Frota era humanitária, estaria sendo criada para ajudar a América do Sul. Olha, mas eu digo aos senhores...:

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu estive nos Estados Unidos na vitória do Kennedy. Era diferente. Era o primeiro católico? Era, mas e daí? Os evangélicos americanos são mais rígidos do que os católicos, são mais firmes no pensamento do que os católicos.

Agora, não; agora é alguém com a profundidade de pensamento que é real. Alguém que é um casal, que é uma família, que mostra que vale a pena esperar. Sim, foi possível; a mudança foi possível.

         Cá entre nós, no Brasil, tivemos isso um pouco. Ninguém pode deixar de reconhecer que o Lula na Presidência da República é um fato novo na história do Brasil. Homens que fizeram grandes transformações? Getúlio Vargas, mas ele era um filho da elite, da burguesia da época, dos grandes fazendeiros, dos grandes proprietários de terra do Rio Grande do Sul. Fernando Henrique, um grande brasileiro, mas filho de general, uma figura das mais ilustres e das mais importantes. Agora, um baixinho, sem um dedo, sem o curso primário, cuja família o pai abandonou e a mãe criou os nove filhos...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vieram em um pau-de-arara de Pernambuco para São Paulo, que foram jogados naquela floresta de cimento, bárbara e cruel. Ali, fez um curso técnico de mecânico e conseguiu um emprego, no qual fez vida sindical. E numa das épocas mais difíceis de se fazer vida sindical. Houve uma época, Sr. Presidente, V. Exª sabe, em que fazer vida sindical era bacana. A época do Dr. Getúlio, a época da legislação, a época da proteção, a época em que fazer vida sindical era área protegida, tinha apoio, estímulo e dinheiro. Sabemos que alguns líderes do passado tiveram um biografia muito triste. Não é o caso de Lula; ali, foi cadeia, e ele pegou cadeia.

Lembro-me de quando eu e o Teotônio Vilela estávamos no ABC, com a praça lotada de gente. O comandante do 2º Exército deu um prazo de duas horas para que todos saíssem, ou sairiam à bala. O Lula estava preso. As pessoas ali protestando contra essa prisão. Lembro-me da decisão genial do Teotônio, que falou - não me lembro se com um coronel ou um general: “O senhor está vendo aqui? São milhares de pessoas: mulheres, crianças e militares”. Ele respondeu: “Ah, mas eu recebi uma ordem”. Teotônio disse: “Ninguém vai se lembrar da ordem que o senhor recebeu. O que o mundo vai mostrar é a carnificina que vai acontecer aqui. E que o senhor será o responsável”. Aí o militar se convenceu. Ele disse assim: “O povo sai da praça e uma hora depois os militares saem”. E então o Teotônio conseguiu convencê-lo do contrário: “Coronel, o senhor tira as suas tropas...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - V. Exª me permite? Peço desculpas por interrompê-lo, mas é porque vivi esse problema. Quem convenceu as autoridades de Brasília a retirar os helicópteros e deixar o povo caminhar livremente fomos nós.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade. O cara não tinha autonomia, estava recebendo ordem. 

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Minha homenagem ao Senador Teotônio Vilela, que ligou. Peguei-o na casa do Prefeito Tito Costa e levei-o para conversar com o Lula para tentar convencê-lo a estabelecer uma conversa para liquidar a grave. Desculpe-me por interrompê-lo, mas é um assunto que está dentro da nossa área. 

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª teve uma função muito importante e faço justiça a V. Exª. V. Exª foi uma das pessoas que dialogou com o coronel, que disse para ele: “Faça o acordo, faça o entendimento. Se o Senador está tomando a responsabilidade, diz que vai fazer, vamos fazer!”. E V. Exª teve razão.

O coronel ou o general - não me lembro - aceitou.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Era o Coronel Braga, Comandante da Polícia Militar.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Exatamente, Coronel Braga.

E o Teotônio pegou o microfone: “Meus amigos, estou fazendo um entendimento com o coronel. 

As tropas, os tanques, todo mundo vai sair, todos vão sair. Mas eu estou dizendo para ele que, dentro de uma hora, vocês, jovens, mães e crianças, sairão da praça e irão para casa. Não é sair da praça e fazer manifestação. Irão para casa”. E foi o que aconteceu.

         Felicito V. Exª pela lembrança e faço homenagem a V. Exª, porque num ato tão grave e tão sério, foi um dos grandes responsáveis por esse fato.

Saímos dali e fomos visitar o Lula na cadeia. O Lula chorou quando ouviu o fato. O Lula chorou quando tomou conhecimento desse fato. Esse Lula fez vida sindical nessa época.

Eu me lembro quando nós fomos, Senador Suplicy, lá no Tribunal Superior Militar para o julgamento do Lula, onde ele estava sendo julgado, prende, não prende, como incurso na Lei de Segurança Nacional. Então ele tem biografia. Tem. Chegou à Presidência da República? Chegou. É um grande nome? É um grande nome.

Eu vou ser muito sincero. A diferença entre o Obama e o Lula é uma: lá o Obama é o Obama. Tem o Partido Democrata, mas quem manda no governo americano é o Presidente da República. Quem nomeia ou não nomeia é o Presidente da República. E aqui não era o Lula. Era o PT.

Ah! Se o PT... Isso eu cobrei de Dom Evaristo Arns: “Dom Evaristo, o senhor transformou as comunidades de base da Igreja em núcleos para fazer o PT. E fez. E o senhor ensinou o PT a fazer greve, a atirar pedras, a fazer oposição. Isso o senhor ensinou.

Mas por que o senhor não ensinou o PT a governar? Por que o senhor não ensinou o PT o que fazer depois de estar no Governo?” A resposta dele nunca vou me esquecer na minha vida: “É, Senador, o senhor pode até ter razão, mas quem via aqueles jovens, aquela moçada, aquela gente do PT, a emoção, a alegria, o sentimento deles, eu até ordenava padre porque achava que eles estavam preparados para tudo”. Infelizmente, o Cardeal não entendeu a diferença entre ser oposição e estar no governo.

Fazer oposição no PT, na época, a pessoa era líder sindical, ganhava um empreguinho, trabalhava de graça, não tinha o que fazer. Não era a mesma coisa que estar no Governo, assumir um cargo de confiança, ser diretor do Banco do Brasil ou da Petrobras, receber salários de R$15 mil, R$16 mil.

Esse PT é que fez mal para o Lula. Por isso, acho que agora o PT melhorou. Por isso sou fã da Srª Dilma. Hoje o PT da Dilma na Chefia da Casa Civil não é o PT do Sr. José Dirceu. Na época do José Dirceu, a corrupção toda saía da Casa Civil. Hoje não sei o que está acontecendo. Mas não se diga que nada está saindo da Srª Dilma, Chefe da Casa Civil.

Com maior prazer ouço V. Exª.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador, vou lá atrás, numa parte do seu discurso em que V. Exª falou...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não é que V. Exª vá lá atrás. Eu que, indelicadamente, tinha que ter lhe dado o aparte lá atrás, e agora deveria estar-lhe concedendo o segundo. Mas faça os dois.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não, não, de maneira alguma.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Peço que não demorem muito, porque ele é o próximo orador.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele?

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas não estou com pressa. Vou lá atrás quando V. Exª disse que foi lá e viu, viu ruas de brancos e de negros...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu vi.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Que havia banheiros de brancos e de negros nos Estados Unidos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu vi.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu quero dizer que isso continua havendo no Brasil, não de brancos e de negros, mas de pobres e de ricos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Este País tem ruas de pobres e ruas de ricos. Tem ruas de pobres, onde os ricos não entram, até com medo. E tem shopping centers, onde entram os ricos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senador, desculpe-me, mas o IBGE reconhece que há favelas no Rio onde eles não entram nem para saber quem nasceu e quem morreu, porque não têm coragem de entrar.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem, mas aí é porque não têm nem coragem, mas, mesmo que tivessem coragem, não iriam lá, não iriam. Este País não é diferente dos Estados Unidos durante a segregação, só que, agora, não é a racial, agora é pelo crachá, agora é pela renda, é pelo cartão de crédito. Este é um País onde há hospital de ricos e hospital de pobres, mais separados do que nos Estados Unidos eram os hospitais de brancos e de negros. Não quero justificar o racismo americano, não. Quero que vejamos, também, com um espírito sábio, que não temos muita autoridade para criticar o racismo, por pior que seja, dos Estados Unidos. Aqui, aqui existe banheiro de pobre e banheiro de rico, banheiro público. Todos se chocam quando, nos Estados Unidos, viam um banheiro só para negros; na África do Sul, banheiro só para brancos. E aqui? Compare os banheiros dos aeroportos e os banheiros das rodoviárias. São banheiros para pobres separados de banheiros para ricos. Aqui tem, sim, praia de pobre e praia de rico. Não precisa haver muro separando, não precisa cobrar, como já existem praias onde se cobra para que as pessoas entrarem. Não precisa! A população pobre sabe que em algumas praias ela não deve entrar, e não entra. Os ricos têm guardas por ali. Você vai caminhar em algumas praias do litoral pernambucano - que conheço mais - e há momentos em que você percebe os guardinhas olhando se você tem pinta para poder passar ali ou não. Então, é racismo! Você não tem sequer que mostrar a carteirinha. Eles vêem, porque você rindo mostra que tem dentes, e os pobres, rindo, não mostram dentes. Eles sabem pela roupa, pelo seu jeito e pela cor também. Este é um Pais que tem, sim, racismo, e de outra forma. É um racismo que permite que você, preto, quando fica rico, torne-se branco. Você, então, não é tratado como negro, e sim como branco: você “embranquece”. Isso é racismo também! Este é um País que tem, sim, o que é de pobre e o que é de rico! E quase sempre pobre é preto, e rico, branco. Agora, hoje temos o Obama nos Estados Unidos. Vamos observar aquela época, quando V. Exª esteve lá e viu, e vamos lembrar: ali começou a mudança que permitiu Obama se tornar Presidente, quando os Estados Unidos decidiram que os negros poderiam entrar nas escolas dos brancos! Foi ali que começou. Ainda havia segregação nos banheiros, nas ruas - aliás, ainda há, até hoje, ruas nos Estados Unidos onde quase toda a população é negra e outras onde ela é quase toda branca. Foi ali onde começou a mudança, quando os Estados Unidos disseram, por decisão governamental, e definida pela União... Se esses governadores que estão pedindo a inconstitucionalidade do piso salarial morassem lá, teriam pedido a inconstitucionalidade da lei do Presidente Eisenhower, quando ele decretou que os negros poderiam estudar nas escolas de brancos. Ainda bem que os Governadores de lá não foram iguais aos daqui, inclusive a Governadora do seu Estado, quando pediram a inconstitucionalidade. Pois bem, foi quando a escola ficou para brancos e negros que começou a possibilidade de um dia a gente ter um Presidente negro nos Estados Unidos - claro que ninguém imaginava que ia ter um tão genial como Obama, tão preparado como Obama, mas foi ali que começou. Mas os americanos fizeram algo mais do que a gente: eles colocaram ônibus para levar os estudantes negros e pobres para estudarem nos bairros dos brancos e ricos, coisa que, no Brasil, jamais alguém tem coragem de propor. Defendo escola igual para todos, mas não tenho, com toda a franqueza, o delírio de propor ônibus que levem os estudantes das famílias ricas, dos condomínios, para estudarem em escolas boas que a gente faria nas favelas. Isso, nem pensar a gente pensa aqui. Os americanos o fizeram.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E a recíproca também não: botar os pobres nas dos ricos.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Também, nem pensar nisso aqui! Eles não deixam também. Os americanos fizeram, há 50 anos, o sistema de ônibus para levar os estudantes, misturando-os, algo que até não é bom, pedagogicamente, que é tirar a criança de perto da escola para estudar longe, mas que foi necessário para criar uma consciência que quebrasse o preconceito racial, ou seja, os americanos elegeram, Sr. Presidente. Aqui, a gente não está criando as condições para eleger um Presidente que, de fato, venha desse lado, porque o Presidente Lula veio, mas ele chegou comprometido com o sistema inteiro, tirando o fato de ser mais generoso do que foi o Presidente Fernando Henrique Cardoso, que deu apenas quatro milhões de Bolsa Escola, e o Presidente Lula deu dez milhões. Esses seis milhões são a diferença, e é uma diferença grande, mas não no conceito! No conceito, até piorou, porque desvinculou da educação. Fernando Henrique manteve com a educação. Até piorou, porque tirou a palavra escola e colocou a palavra família, que é muito digna, mas é vinculada à pobreza, não é vinculada à educação. Então, nós precisamos fazer - e agradeço muito sua colocação e sua firmeza - essa reflexão. Aqui, nós estamos hoje, século XXI, como estavam os Estados Unidos 50 anos atrás. Só que, em vez de ser explicitamente banheiro de branco e banheiro de negro, aqui é banheiro de pobre e banheiro de rico; em vez de serem ruas de negros e ruas de brancos, aqui são ruas de pobres e ruas de ricos - não de negros e de brancos. O negro que enriquece pode entrar lá. E esta lembrança eu quero fazer: o que fez possível Obama ser Presidente foi quando os americanos decidiram que a escola seria, no máximo possível, igual para todos - porque ainda não é igual - e quando começaram a tomar essas medidas de misturar as crianças nos diversos bairros da cidade através do sistema de bus, como eles chamam lá. Lembre-se de que, naquele momento, foi preciso, Senador Tuma, colocar exército para garantir que jovens negros entrassem nas universidades dos brancos. Exército! O exército tem filmes mostrando isso, filmes verdadeiros. E há jovens, uma mulher, sobretudo jovem, passando pelo exército para entrar na universidade. E o Presidente bancou e mandou as tropas federais...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ia o ônibus com as crianças à frente, e atrás as tropas do exército, para garantir.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Isso mesmo. Tropas federais.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu vi! Desciam do ônibus para entrar na escola, e eles também entravam para manter a garantia da segurança.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas, aqui, cinco Governadores - do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Ceará -, estão, sem necessidade de tropas, tentando impedir que haja um piso único de salário para todos os professores. Felizmente, eles não estavam nos Estados Unidos 50 anos atrás - e não conseguiriam fazer -, senão Obama não seria o Presidente da República. Espero que o Supremo Tribunal... Ontem, o senhor fez aqui um apelo aos Juízes - e deu certo - para que não retirassem o Juiz De Sanctis.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Que bela decisão: dois a um.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Estava precisando hoje que os elogiássemos. Espero que o Supremo Tribunal não acate esse pedido de inconstitucionalidade, que, no caso dos Estados Unidos, teria mantido o racismo e, aqui, manterá essa desigualdade vergonhosa que a gente tem.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ficando apenas em um assunto de V. Exª, ontem, realmente, o Tribunal, a Câmara, por dois a um, não retirou o Juiz do caso. Manteve o Juiz. E agora está reunido o Conselho de Justiça para decidir se abre inquérito contra o Juiz ou não abre. Espero que não abra. Eu espero que não abra. Seria muito triste o Conselho de Justiça abrir inquérito para continuar essa questão, que tem que parar.

V. Exª tem autoridade, Presidente, mas esse conflito, em primeiro lugar, interno na Polícia, tem que acabar, mas, em segundo lugar, entre Supremo e Juízes de Primeira Instância, também tem que acabar. Acho que abrir no Conselho... Não foi para isso que nós criamos o Conselho, Sr. Presidente; não foi para isso. Abrir uma investigação em cima do Conselho, em cima do Juiz é muito triste!

Mas, Sr. Presidente, quando eu falei no Lula, eu queria apenas dizer que eu faço uma comparação entre o Lula, Presidente do Brasil, e o Obama, e até mais o Lula, que teve uma luta muito mais intensa. Não conseguiu tirar uma universidade, não conseguiu tirar um curso, foi operário, de operário a líder sindical e de líder sindical a Presidente da República. Mas veja como é triste a participação dos partidos no Brasil. Nos Estados Unidos, digam o que disserem dos partidos políticos, mas não dá para dizer que quem levou Bush a essa radicalização dele foi o Partido Republicano. Não! Ele foi muito mais radical do que o Partido Republicano! O Partido Republicano é radical. É! Mas o Bush foi o mais radical dentro do Partido Republicano. Reparem que o Ministro de Estado, Colin Powell, o grande homem que, durante muito tempo, foi o segundo homem americano, apoiou Obama, dizendo, com todas as letras, que não concordava com o que Bush tinha feito no seu segundo governo. Agora, aqui, no Brasil, infelizmente, é diferente. Os partidos políticos não ajudam, mas atrapalham. Não ajudam mas atrapalham!

Com todo o carinho, o PT atrapalhou muito o primeiro Governo do Lula. Atrapalhou muito o primeiro Governo do Lula! Espero que, agora, não aconteça isso. Acho que, no Governo do Lula, hoje, a Ministra é um fato novo. Espero que o PMDB não atrapalhe.

Mas, lá nos Estados Unidos, o Obama representa, realmente, o que de melhor podemos esperar: dignidade, seriedade e honradez.

Senador Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mais um tópico daquilo que V. Exª observou. Primeiro, estou de acordo com V. Exª de que foi positiva a decisão dos juízes, para que o Juiz De Sanctis permaneça no caso que ele vinha examinando com tanta seriedade. Acho esse passo importante. Com relação ao que aconteceu nos Estados Unidos da América, também quero saudar o que, ainda ontem, V. Exª e o Senador Cristovam Buarque observaram, que ali houve um exemplo notável.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Senador Pedro Simon, já faz, praticamente, 55 minutos que V. Exª está na tribuna. Fique à vontade, mas lhe faço um apelo para que seja breve.

Vou dar continuidade.

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Serei breve, Sr. Presidente. Os Senadores Barack Obama e Hillary Clinton, Senador Pedro Simon, fizeram nada menos que 22 debates, até que houve a decisão final para a escolha de Barack Obama.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Se não houvesse as primárias, não existiria o Obama. Quem ganharia seria a Senadora, que tinha toda a máquina do partido do lado dela.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - E foi tão bonita a forma como os temas foram sendo tratados, como ambos colocaram seus pontos de vista! Muitas vezes eles eram comuns, mas havia diferenças, e, pouco a pouco, o povo, todos aqueles que votaram nos candidatos do Partido Democrata puderam chegar a uma decisão. V. Exª bem salientou o nível dos debates entre o Senador Barack Obama e o Senador John McCain; também esses, como os primeiros das prévias, das preliminares. Todos os debates foram transmitidos em cadeia nacional e muitas vezes até para o mundo. Nós, aqui, pudemos acompanhá-los, e isso foi muito positivo. Queira Deus possamos aprender um pouco dessa experiência democrática e possamos, os Partidos que integramos, ter experiências nessa direção. Os debates entre os candidatos constituem uma das melhores maneiras para que o povo possa definir bem qual o seu candidato. Um dos pontos mais bonitos do discurso de Barack Obama foi o agradecimento cavalheiresco que ele fez ao telefonema de John McCain.

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Obrigado, Senador.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, é o último aparte.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Pois não.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - E prometo ficar no tempo regimental de três minutos, que é o tempo regimental do aparte.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Espere um pouquinho, Senador: dentro do tempo do orador. Faz uma hora que o Senador está usando a tribuna por respeito à grandeza do assunto que ele trata.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Muito bem!

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Então, V. Exª terá os três minutos, mas não regimentais, porque o tempo do Senador está ultrapassado. Mas o ouviremos com prazer - V. Exª está inscrito para falar a seguir, depois da Senadora Ideli Salvatti.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - Peço desculpa ao Senador Pedro Simon, com todo o respeito.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É o último aparte. Agradeço a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB - SP) - É tão importante o pronunciamento de V. Exª que não temos direito de interrompê-lo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

O Sr. Marcelo Crivella ((Bloco/PRB - RJ) - Senador Pedro Simon, não quero deixar de participar deste momento solene, que vai ficar marcado na história do Senado. V. Exª, com lucidez, nos momentos supremos, manifesta-se e tem sido um grande orador nesta tribuna. Na questão do Supremo, sem interferir em outro Poder - e todos sabemos que o acórdão deve ser mantido e deve ser preservado -, V. Exª tocou no assunto com palavras inteligentes, e isso causou uma reação que faz bem para nós todos, profilática: manter o Juiz; não permitir que intolerância, truculência interfiram num processo que a Nação inteira acompanha e exige que vá ao fundo da verdade. Agora, V. Exª me permita extravasar meu sentimento com relação ao Rio de Janeiro: 1864, Brasil invadido pelo Paraguai na sua terra. Não havia Exército formal. Dom Pedro II lança um projeto chamado Voluntários da Pátria - saiu publicado no Jornal do Commercio, numa segunda-feira -, com o qual consegue que 30 mil negros participem da Guerra do Paraguai. Muitos morreram, mas muitos voltaram. Os que voltaram receberam sua alforria, mas não tinham trabalho nem moradia. Portanto, em 1870, eles têm permissão para ocupar o Morro da Providência. Por que esse nome? Porque disseram: “Negros alforriados da Guerra do Paraguai, ocupem o morro, e vamos tomar uma providência.” Passaram-se 137 anos e, até agora, não se tomou nenhuma providência. O Presidente Lula, a meu pedido, lançou o Cimento Social, para levar àquelas casas urbanidade. V. Exª precisa ver como sofri! O preconceito de uma elite conservadora e reacionária fez com que aquelas obras, Sr. Senador, fossem decretadas eleitoreiras, obras garantidas pela Constituição, uma redenção social e cívica na cidade do Rio de Janeiro. Foram consideradas eleitoreiras, foram embargadas e tiveram o repúdio de muitos jornais que representam a Direita, a antiga UDN. V. Exª toca num ponto extraordinário: há racismo. A palavra “racismo” vem do espanhol. A Espanha é uma esquina do mundo. Ali passaram os mouros, ali passou Aníbal com seus elefantes, ali passaram os romanos. Ali é a esquina e ali, na Espanha, nasce a palavra “raça”, a que não dou nenhum valor. Só o dão aqueles que defendem uma origem zoológica do homem e que não conhecem os princípios cristãos. Não existe raça negra ou branca; existe raça humana, à imagem e semelhança de Deus. Temos um trabalho a fazer, todos nós: o de lutar para que essas coisas no Brasil sejam colocadas, enfrentadas e vencidas e, quem sabe, um dia, possamos celebrar uma eleição como os americanos. Muito obrigado pelo aparte de V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço, do fundo do coração, o aparte de V. Exª e agradeço a tolerância de V. Exª, Sr. Presidente.

Pelo que estou sentindo, o Fernando Henrique já deve ter terminado a palestra, porque o PSDB está aparecendo. Então, termino aqui também.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2008 - Página 45950