Discurso durante a 217ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Dia da Consciência Negra e à memória de João Cândido, conhecido como Almirante Negro. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.:
  • Homenagem ao Dia da Consciência Negra e à memória de João Cândido, conhecido como Almirante Negro. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/2008 - Página 46667
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, NEGRO, EXPECTATIVA, INAUGURAÇÃO, ESTATUA, PRAÇA PUBLICA, REPRESENTAÇÃO, JOÃO CANDIDO, ALMIRANTE, LIDER, REVOLTA, PRECARIEDADE, TRATAMENTO, MARINHEIRO, PRISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), OCORRENCIA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, LEITURA, OBRA MUSICAL, ELOGIO, ATUAÇÃO, VULTO HISTORICO.
  • IMPORTANCIA, PROJETO, FAVELA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), UTILIZAÇÃO, RECURSOS, EMENDA, AUTORIA, ORADOR, TENTATIVA, REDUÇÃO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • COMENTARIO, HISTORIA, ORIGEM, PALAVRA, RAÇA, HOMENAGEM, VULTO HISTORICO, AUXILIO, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu gostaria de prestar aqui uma homenagem ao Dia da Consciência Negra que, amanhã, vamos celebrar no Rio de Janeiro com a presença do Senhor Presidente da República, que, na Praça XV, vai inaugurar uma estátua de Antônio Cândido.

Eu quero fazer aqui, Sr. Presidente, uma homenagem à memória do Almirante Negro. Não foi almirante, na verdade, era um timoneiro, mas que sentiu a dor de ver outro marinheiro, Marcelino, condenado a 250 chibatadas e que, então, liderou uma revolta contra aquele tratamento indigno que a Marinha dava, na ocasião, aos seus subalternos.

A verdade é que Rui Barbosa, nesta Casa, com seus grandes discursos, conseguiu demover a truculência, a arrogância do Governo do Estado e logo acabou-se com o regime de chibata na Marinha. Mas João Cândido sofreu todas as represálias que a discriminação tanto racial como social impunham àquela época da nossa evolução histórica. Ele foi preso, passou um tempo na masmorra, depois teve problemas mentais e terminou sua vida de maneira muito, eu diria, pequena diante do gesto de brasilidade e nacionalidade que ele teve na formação da raça brasileira. Amanhã vamos resgatar sua história com uma estátua na Praça XV.

Mas não é só isso, Sr. Presidente, estamos realizando no Rio de Janeiro um projeto no Morro da Providência - quero chamar a atenção para isso -, Cimento Social, que é verdadeiramente um resgate de tantos anos, eu diria séculos de discriminação. Hoje, tanto o Ipea como o Sesde, em números, colocam com clareza: os negros no Brasil ganham menos, trabalham mais, moram em condições inadequadas, muito piores, e sofrem ainda, homens e mulheres, uma odiosa discriminação no Brasil. O Projeto Cimento Social, Sr. Presidente, tenta resgatar isso tudo no Morro da Providência. São recursos de emenda parlamentar que dediquei a esse projeto e que agora será realizado pelo Governo do Estado, depois de ter sido iniciado pelo Ministério do Exército, que lá realizou um papel importante que nos dignificou, que nos enobreceu.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco/PSB - SE) - Senador Marcelo Crivella, interrompo V. Exª por um instante para anunciar a presença, no recinto do Senado Federal, das seguintes autoridades, acompanhadas pelo nosso Presidente Garibaldi Alves: o Sr. Ministro das Relações Exteriores da Coréia; o Ministro da Economia; o Embaixador do Brasil; o Secretário do Presidente para as Relações Internacionais e Segurança Nacional; e, também, o Diretor-Geral da América Latina e do Caribe.

Passo a Presidência dos trabalhos ao nosso Presidente Garibaldi.

 

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Peço permissão ao Senador Marcelo Crivella para comunicar ao Plenário que estamos tendo a honra de receber o Presidente da Coréia do Sul, Lee Myung-bak.

O Senador Marcelo Crivella poderá prosseguir em seu pronunciamento, mas, logo em seguida, farei a saudação ao Presidente da Coréia do Sul.

 

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Sr. Presidente, eu estava aqui falando sobre a homenagem que vamos prestar, amanhã, a João Cândido no Dia da Consciência Negra. Acho que é um assunto que toca também os asiáticos, porque também sofreu extrema discriminação a raça amarela por ocasião de sua imigração para a China. Portanto, conhecem bem esses dilemas que ocorrem no enredo das civilizações.

Pessoalmente, Sr. Presidente, estou entre aqueles que não conferem nenhum valor social à palavra raça. Ela surge no espanhol, na Espanha, para fazer uma distinção entre os tantos povos, Senador Mão Santa, que passaram ali. A Espanha é a esquina do mundo. Ali andou Aníbal com seus elefantes. Ali andaram os mouros durante muito tempo. Ali andaram os romanos. Ali andaram os judeus. Enfim, a Espanha é mesmo uma esquina do mundo e, portanto, para haver certa diferenciação, Senadores queridos, surge ali a palavra raça. Mas depois, entre aqueles que defendem, e não sou eu um deles, uma origem zoológica do homem pela teoria da evolução - sou um criacionista, creio nisso -, acabou tomando proporções hediondas na intolerância e na discriminação.

No Rio de Janeiro, amanhã, vamos fazer um resgate histórico. E eu não encontraria palavras mais sublimes para homenagear os meus irmãos de origem africana, que tanto fizeram pelo Rio de Janeiro. Três séculos e meio de escravidão, páginas mais odiosas da nossa História, que também no Rio de Janeiro, na minha terra, foram redimidas por Nabuco, por Patrocínio e por nossa inesquecível Princesa Isabel, num dia monumental, em que num Senado como este se cobriu o chão de rosas.

Eu não encontraria palavras, Sr. Presidente, mais elevadas do que aquelas escritas por João Bosco e Aldir Blanc no samba Mestre-Sala dos Mares. Senador Paulo Paim, se V. Exª me permitir, farei aqui a leitura desse momento épico inesquecível das páginas da nossa história. Diz assim Sr. Presidente:

Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão do mar apareceu

Na figura de um bravo marinheiro

A quem a história não esqueceu

Conhecido como almirante negro

Tinha a dignidade de um mestre-sala

E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas

Foi saudado no porto

Pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas

Jorravam das costas dos negros

Entre cantos e chibatas

Inundando o coração

Do pessoal do porão

Que a exemplo do marinheiro gritava, então:

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,

Glória à farofa, à cachaça, às baleias

Gloria a todas as lutas inglórias

[quantas lutas inglórias!]

Que através da nossa história

Não esqueceram jamais...

Salve o almirante negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas do cais.

Tinha por monumento as pedras pisadas do cais. Agora não. Agora ele terá uma homenagem digna do seu gesto de bravura e heroísmo ao defender seus companheiros, porque lá estará perpetuada para sempre a sua imagem como brasileiro nesse caldeirão racial, e, para minha honra, naquela imensa forja que é o Rio de Janeiro, uma forja entre as montanhas e o mar, onde há 500 anos se retemperam as fibras do povo carioca, ali, no cais do porto, estará a imagem de um grande brasileiro cuja memória a história resgata.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/2008 - Página 46667