Discurso durante a 218ª Sessão Especial, no Senado Federal

Lançamento oficial do primeiro Pacto Global pela Cidadania da Infância.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Lançamento oficial do primeiro Pacto Global pela Cidadania da Infância.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2008 - Página 46807
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • GRAVIDADE, DESIGUALDADE SOCIAL, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, BRASIL, EFEITO, DESEQUILIBRIO, CRITICA, FALTA, PRIORIDADE, INFANCIA, DEFASAGEM, ALIMENTAÇÃO, EDUCAÇÃO, DEFESA, ALTERAÇÃO, SITUAÇÃO, APOIO, EDUCAÇÃO PRE-ESCOLAR, INVESTIMENTO, ATENDIMENTO, DEMANDA, POPULAÇÃO CARENTE.
  • APOIO, PACTO, CIDADANIA, INFANCIA, PREVISÃO, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, MOTIVO, PRIORIDADE, INVESTIMENTO, CRIANÇA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, querido público infantil, especialmente a quem me dirijo agora.

Vocês já devem ter aprendido na escola o que é uma pirâmide. Já não aprenderam o que é uma pirâmide? Vocês sabem o que é uma pirâmide. A pirâmide fica sempre assim. Se botar uma pirâmide assim, Sr. Presidente, ela cai. A pirâmide invertida não fica em pé, mas o Brasil ainda não descobriu isso. O Brasil é um país que quer ter a pirâmide invertida, porque a gente dá mais prioridade aos adultos do que às crianças, que são a base. A gente dá mais ajuda, apoio, para vender os produtos caros dos que estão lá em cima, aqueles poucos ricos, do que para vender aquilo de que a população pobre precisa. Somos um País de pirâmide invertida. Por isso, vivemos em crise; por isso, vivemos na violência, na desigualdade, na ineficiência. Damos mais importância à universidade do que ao ensino médio; damos mais importância ao ensino médio do que ao ensino fundamental; damos mais importância ao ensino fundamental do que ao da primeira infância. Trabalhamos com a pirâmide invertida, o que gera um desequilíbrio. Quando a gente não dá importância ao ensino médio, a qualidade da universidade vai lá para baixo, porque os alunos que entram na universidade estão despreparados. Quando a gente dá mais importância ao ensino do que ao ensino fundamental, a qualidade do ensino fundamental é puxada para baixo, porque os que entram no ensino médio não vieram preparados. E quando a gente dá importância ao ensino fundamental sem garantir boa alimentação, bom atendimento médico, brinquedos pedagógicos para as crianças antes da idade de entrar na escola, fazemos com que o ensino fundamental fique sem qualidade, porque as crianças chegam lá sem condições de aprender.

Hoje, a menor importância que é dada neste País é à primeira infância. As crianças não recebem alimentação devida na maioria da população pobre, não recebem os brinquedos pedagógicos que ajudam a desenvolver sua intelectualidade, não começam a brincar com letras mesmo antes de saber ler, e aí, quando elas entram na escola, aos cinco ou seis anos, não conseguem avançar rapidamente.

Nós precisamos, no Brasil, colocar a pirâmide na posição certa, começando a investir na base: na base etária, que quer dizer a base de idade, na primeira infância, e na base social, que quer dizer investir na maioria da população, que é pobre. Mas acontece o contrário no Brasil. Toda a nossa economia foi desenvolvida com base na produção dos bens para a minoria rica. Por exemplo: o automóvel. Todos querem ter um automóvel. E aí o que foi preciso fazer para que todos tivessem automóvel? Concentrar a renda, para que alguns pudessem comprar, porque, num país pobre como o nosso, ninguém ia poder comprar carros. Um ou outro comprava importado. Mas, para produzir aqui, para vender muitos, tivemos que concentrar a renda, porque a nossa economia é baseada pelo topo, não pela base da pirâmide.

Aí deixamos de cuidar da água, do esgoto, deixamos de resolver a questão da habitação da população, deixamos de fazer hospitais, abandonamos as escolas públicas para garantir que não faltariam estradas, viadutos e muito financiamento para vender os automóveis. Preferimos o topo no lugar da base da pirâmide. Aí entrou em crise, porque é preciso financiar, é preciso que o banco dê dinheiro, ninguém tem dinheiro no bolso para comprar o carro à vista. Aí os bancos emprestaram tanto que começaram a quebrar. O que o Governo fez? Pegou oito bilhões e jogou esse dinheiro no sistema bancário para ajudar a vender mais automóveis, outra vez pelo topo, outra vez pelo topo.

Já que há uma crise na venda de automóveis, por que não investimos na habitação popular, na água, no esgoto? Por que não aumentamos o salário dos professores, para criar demanda? Não fizemos isso. Escolhemos sempre o topo da pirâmide. E, aí, ela fica assim e vai cair sempre.

Nós precisamos inverter a posição da pirâmide, colocar a pirâmide, Senador Duque, pela base. Na verdade, a base são duas: a base social, investindo para atender às necessidades dos pobres; e a base etária, de idade, para atender às necessidades da primeira infância.

A Senadora Heloísa Helena, uma Senadora que tínhamos aqui e que saiu, dizia: “O Brasil só precisa fazer uma coisa para resolver seus problemas: adotar uma geração inteira”. Adotar. O Brasil inteiro precisa adotar as crianças quando nascerem. Se a gente fizer isso, quando essas crianças crescerem, elas vão adotar o Brasil. Aí o Brasil vai estar com seus problemas resolvidos.

Quando vejo esse 1º Pacto Global pela Cidadania da Infância, o que vejo é uma tentativa de inverter a pirâmide. Em vez de ficar assim, ela ficar assim. Aí vai ficar estável, ficar consolidada, ficar equilibrada, sem ameaças de virar por qualquer soprinho que se fizer de um lado ou de outro.

Precisamos fazer esse Pacto Global pela Cidadania da Infância virar uma grande realidade não apenas para beneficiar as crianças, mas para, por intermédio das crianças, beneficiar o Brasil inteiro.

Esse é um Pacto pela Cidadania da Infância, mas é um pacto pela cidadania do Brasil. A gente tem que saber que o Brasil começa na infância, é na infância que o Brasil começa, não é naqueles da minha idade, porque são as crianças que vão fazer o Brasil.

Por isso, parabéns por esta solenidade, Sr. Presidente Mão Santa, parabéns a cada um de vocês que levam adiante essa campanha. E que Deus ajude que o Brasil, por meio de um Pacto Global pela Cidadania da Infância, faça com que a pirâmide fique na posição certa: todo o apoio às crianças e todo o apoio à maioria da população pobre.

Um grande abraço para vocês e, como brasileiro, muito obrigado por vocês estarem querendo fazer aquilo que é óbvio: pôr a infância em primeiro lugar, porque, aí, estamos pondo em primeiro lugar o futuro do nosso Brasil.

Um grande abraço para cada um e para cada uma de vocês. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2008 - Página 46807