Discurso durante a 221ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da realização de debates, desde já, acerca das grandes questões nacionais, com vistas à eleição presidencial de 2010.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Defesa da realização de debates, desde já, acerca das grandes questões nacionais, com vistas à eleição presidencial de 2010.
Aparteantes
João Pedro, Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 25/11/2008 - Página 47394
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, PROPOSIÇÃO, PEDRO SIMON, SENADOR, NECESSIDADE, EMPENHO, CONGRESSISTA, REALIZAÇÃO, DEBATE, DIVULGAÇÃO, POPULAÇÃO, ESTUDANTE, SINDICATO, DECISÃO, ESCOLHA, FUTURO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, COMPROMISSO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, ATRASO, BRASIL, DEFESA, REVOLUÇÃO, EDUCAÇÃO, INVESTIMENTO, CIENCIA E TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • COMENTARIO, EXPERIENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ANTECIPAÇÃO, DEBATE, CANDIDATO, GARANTIA, VITORIA, BARACK OBAMA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA.
  • AVALIAÇÃO, GOVERNO, ATUALIDADE, RETROCESSÃO, NIVEL, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, ELOGIO, PROGRAMA, ASSISTENCIA SOCIAL, RESPONSABILIDADE, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, CONTINUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CRITICA, DEMORA, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, COMBATE, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente, mas não tomarei muito tempo.

Quero, inicialmente, agradecer ao Senador Papaléo a cessão da ordem de falar, porque tenho compromisso na Comissão de Educação, onde receberei um grupo de atletas que quer falar sobre a política de esportes no Brasil.

Sr. Presidente, venho aqui retomar o discurso que o Senador Pedro Simon vem fazendo há duas semanas, cobrando a necessidade do empenho, do envolvimento de todos nós, políticos deste País, no debate para a decisão de quem será o nosso Presidente a partir de 2010.

Creio que já é hora, sim, de começarmos a fazer a avaliação do Governo Lula e de definir para onde queremos ir, definir que tipo de Presidente queremos, que comando buscamos, que orientação, que projeto alternativo para o Brasil. Se vamos analisar, mesmo faltando dois anos dos oito do Presidente Lula, creio que é possível dizer que o Brasil avançou, como tem avançado nesses vinte anos de democracia. Não houve retrocesso, salvo em um aspecto para o que quero chamar a atenção.

Creio que, do ponto de vista político, é possível dizer que o Presidente Lula conseguiu uma imensa aglutinação da sociedade brasileira. Conseguiu uma aglutinação que permite hoje, como tem-se visto por aí, que a sua palavra, o seu prestígio, a sua popularidade sejam das mais altas que já teve um Presidente no Brasil. Mas é exatamente esse prestígio que trouxe um retrocesso no nível de consciência da população brasileira. De tanto aglutinar, de tanto incorporar, de tanto conseguir juntar o quebra-cabeça dos diversos grupos que compõem a sociedade brasileira, no final, o Presidente conseguiu acomodar os sindicatos, silenciar os intelectuais, praticamente anular a Oposição que, de vez em quando, chega aqui fazendo críticas, mas sem propor alternativas. Ele conseguiu fazer com que os estudantes deixassem de ir às ruas. Ele conseguiu tal aglutinação que houve um retrocesso no nível de consciência da sociedade brasileira.

Do ponto de vista social, não há dúvida de que significou um avanço dos programas iniciados desde o tempo do Presidente José Sarney, com a distribuição do leite; depois, com o Presidente Fernando Henrique, com a Bolsa-Alimentação e com o Vale-Alimentação; com o programa de Vale-Transporte, que vem de bem antes. Houve um avanço. Pode-se dizer que é um governo com grau de generosidade para com a sociedade mais pobre do Brasil. Não deixa de ser um avanço a generosidade, quando comparamos com o egoísmo, mas é um avanço tímido, limitado, numa sociedade que precisa dar um salto muito maior.

Do ponto de vista econômico, o que podemos dizer é que o Presidente Lula manteve, sim, uma responsabilidade no uso dos recursos, na continuidade de uma política econômica que vem já desde o final do governo do Presidente Itamar Franco. Essa responsabilidade, esse senso de responsabilidade precisa ser elogiado.

É verdade que agora, com a crise que chegou de fora, a gente começa a ter o sentimento de que o Presidente e o seu Governo estão demorando demais para agir na defesa da economia brasileira. Mas não dá para dizer que houve erros na economia durante o governo do Presidente Lula.

Fico muito à vontade para dizer isso, porque já defendi esse tipo de política econômica não por gostar dela, mas por falta de outra, desde o tempo em que, no PT, essa política econômica era vista como algo negativo.

Eu já defendia - e continuo defendendo - que, sem gostar dessa política econômica, não há outra hoje para substituí-la. Com isso, então, eu acho que a gente pode dizer que a avaliação que se faz do Governo Lula é positiva. Mas não dá para repeti-la por mais 4 ou 8 anos. A gente precisa avançar.

O risco que temos é de um retrocesso e da continuidade. Eu acho que tanto o retrocesso - Deus nos livre! - como a continuidade não nos satisfazem. É nesse sentido, Senador João Pedro, que creio que o debate para os próximos meses, na escolha do próximo Presidente, deve ser centrado não na continuidade, mas no avanço.

Este é um País dividido por um muro que separa brancos de negros, pobres de ricos, cheio de preconceitos. O que vimos recentemente - e o Presidente Lula levou isso com a máxima competência - é que a parte de cá desse muro tem jogado migalhas para o lado de lá.

Eu acho que essa concessão generosa não é negativa, mas é insuficiente. O que vemos também é um avanço da sociedade e da economia brasileira em direção ao desenvolvimento, mas numa velocidade muito menor que outros países, com exceção daqueles realmente pobres, que não dispõem de recursos.

Por isso, o grande debate na linha do que propôs o Senador Pedro Simon para escolher qual vai ser a condução do Brasil nos próximos anos é a idéia de que o próximo Presidente deve caminhar, liderar para derrubarmos os dois muros que atrapalham a formação de uma civilização brasileira: o muro da desigualdade, que nos divide aqui dentro; e o muro do atraso, que nos separa dos outros países civilizados, com grau alto de civilização.

E o muro do atraso não será derrubado apenas com crescimento econômico; nem o muro da desigualdade será derrubado apenas com bolsas. O muro da desigualdade só será derrubado quando nós conseguirmos fazer com que aqueles que estão do lado de lá passem para o lado de cá. E, para isso, é necessária uma imensa porta por onde todos possam passar. Não será com bolsas. Não será apenas com generosidade. O caminho possível para isso é uma revolução e essa revolução está na educação. É a escola igual e de qualidade para todos que vai permitir-nos trazer os excluídos para dentro da modernidade. Jogar bolsas é necessário para manter as pessoas vivas. Felizmente, temos bolsas. Agora, elas não serão jamais suficientes para trazer as populações excluídas para a modernidade. É de uma revolução que a gente precisa.

Da mesma maneira, o atraso que nós temos em relação aos outros países não será vencido apenas pelo aumento das exportações, como muitos defendem por aí e alguns acreditam. Não virá mesmo pelo aumento do crescimento econômico. Não é suficiente. Isso está provado, porque, se o crescimento econômico fizesse um país ficar de fato civilizado, o Brasil teria se civilizado durante o Regime Militar, quando nós crescemos até a dois dígitos de taxa, a mais de 10%.

O que nós precisamos é entender que, neste momento, a maneira de não perdermos o bonde da história, a maneira de obtermos os recursos necessários para nos civilizarmos é ciência e tecnologia; é o capital conhecimento, a única fonte de riqueza, daqui para frente, capaz de manter um país caminhando em direção ao futuro.

Conhecimento vem da ciência e da tecnologia; ciência e tecnologia vem da universidade; universidade vem do Ensino Médio; o Ensino Médio vem do Ensino Fundamental; o Ensino Fundamental vem da adoção, com carinho e competência, de todas as crianças brasileiras desde o dia em que elas nascem. Esse é o desafio que a gente precisa enfrentar para conduzir o Brasil nos próximos anos.

Lamentavelmente, os debates que a gente vê por aí, Senador Mão Santa, não parecem, nem minimamente, trazer a preocupação da construção do futuro do País. O que a gente vê é uma discussão em torno de nomes; o que a gente vê é uma discussão interna aos Partidos; o que a gente vê são as costas voltadas para a reflexão que o Brasil precisa sobre o tipo de futuro que quer. Para todos ou para alguns? Para situar-se igualmente com os países desenvolvidos? Ou ficar satisfeito por estarmos um pouco atrás deles?

Nós temos o defeito de nos compararmos conosco próprios. A cada ano, dizemos que estamos melhor que no anterior, sem nos compararmos com os outros, que estão ficando muito mais na frente que nós. Trinta anos atrás, o Brasil era um dos países que tinham futuro nas pesquisas espaciais. Estávamos iguais à China e à Índia. Hoje, a Índia mandou uma nave que já chegou à lua. A China já mandou ao espaço diversos astronautas rodando a terra. E o Brasil não tem condições de soltar nem foguetes simples hoje. Ficamos para trás no desenvolvimento científico e tecnológico. A razão é simples: não temos uma massa crítica de pessoas com educação suficiente da qual tirarmos os cientistas, os pesquisadores, os tecnólogos de que o Brasil precisa.

A proposta do Senador Pedro Simon nos traz a chance de usarmos aquilo que a democracia tem de mais rico, que não é a escolha do Presidente, mas é o debate que antecede a escolha do Presidente. Esse debate é fundamental, Senador Mão Santa. Cada um de nós devia se dispor a isso. Tenho a impressão, pelo menos pela minha visita a Teresina na semana, que o Senador Mão Santa está disposto a ser um desses, a ser um daqueles que se propõem a rodar o Brasil debatendo que futuro queremos, que propostas temos, que projetos propomos. Eu gostaria de ver outros também com essa intenção.

Já há universidades interessadas em promover esse debate desde o começo do próximo ano. Na sexta-feira, desafiando e convidando, sugeri ao Senador Arthur Virgílio que fizesse parte desse grupo. Vamos rodar o Brasil, debatendo com os estudantes, com a população, com os sindicatos. Vamos fazer um processo eleitoral que não seja apenas horário eleitoral. Horário eleitoral deve ser um pedacinho de nada, um pedaço minúsculo do grande e complexo debate sobre qual País queremos e, somente em função disso, qual Presidente que melhor representaria esse projeto.

Estou aqui, Senador Mão Santa, simplesmente para reafirmar a idéia do Senador Pedro Simon da realização de prévias formais dentro de cada Partido, mas também para reafirmar aquela proposta adicional que fiz. Os Partidos não querem fazer prévias formais? Muito bem.

Nós que temos responsabilidades, que temos sonhos, que temos propostas, façamos nós, entre nós, as prévias, que, se não derem resultado do ponto de vista interno da burocracia dos partidos, pelo menos sirva para voltar a elevar o nível de consciência da nossa população, que, nesses últimos anos, sofreu um forte retrocesso. Sofreu um acomodamento brutal, sofreu um silenciamento na cabeça, na voz dos nossos intelectuais.

Esse debate será, talvez, o melhor serviço que este Senado pode fazer. Quem sabe a gente não pode transformar esta tribuna num ponto de debate sobre o futuro que queremos para o nosso País. Como será o além-Lula? Como será o pós 2010? Como será o Brasil, passada essa crise que aí está, que coincide com uma outra mudança de perfil, que é sair da economia, da indústria do material para a indústria do conhecimento.

Nós estamos em uma mutação, a mutação que exige um desenvolvimento que case com o meio ambiente. Isso é uma novidade difícil de realizar. E não vai ser apenas com o etanol, não vai ser apenas mudando a matriz energética mas também mudando a matriz industrial que a gente precisa fazer. Nós estamos em um momento de mudança do capital material para o capital intelectual. A riqueza não virá mais das máquinas que a gente tem; a riqueza virá do desenho necessário feito para construir as máquinas. Nós estamos em uma mutação de um processo de globalização, de tal forma que os bancos, em breve, serão um só, porque eles estão se juntando tanto, Senador Papaléo, dentro de cada país que, em breve, eles se juntarão entre os países também.

Como é que vai ser a nossa economia com o sistema financeiro unificado, que, certamente, ocorrerá nas próximas décadas? Nós estamos entrando no processo de recursos naturais escassos cada vez mais - e não só do petróleo. Tudo isso está acontecendo ao nosso redor e a gente fala em escolher um candidato a Presidente com base apenas nos debates internos da burocracia partidária e, muitas vezes, dessas burocracias se encontrando para nem ao menos o debate durante o período eleitoral, que é diferente do processo eleitoral, ocorrer. Caminha-se para tal grau de centralização que nem no horário eleitoral haverá debates, da mesma maneira que não tem havido debates nesta Casa.

Eu vim aqui reafirmar a minha solidariedade e meu apoio à proposta do Senador Pedro Simon. E essa idéia de avanço que eu venho fazendo de que, independente de haver ou não prévia entre partidos, independente de haver ou não haver escolha democrática dentro de cada partido, façamos nós, diretamente, abertamente, o debate com as diversas camadas da população brasileira, iniciando-se pelos sindicatos e as universidades. Já tem uma lista de universidades predispostas a sediar esse debate. Já temos pelo menos alguns que se propõem a irem aos debates, como o Senador Suplicy me disse. Eu próprio me disponho e, como eu tenho escutado de outras vozes, o Senador Mão Santa também se propõe.

Eu vou continuar insistindo nisso, porque não vejo outro caminho para encontrar o caminho a não ser o grande debate entre os líderes nacionais para saber não qual vai ser, mas que idéia cada um deles traz.

Senador João Pedro, com muita honra lhe passo um aparte.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - V. Exª, há dias, vem abordando este assunto, ou seja, como politizar, como fazer do momento da eleição presidencial um momento de transparência, de debate, de definição de projetos. Penso que isso ajuda. Quero lembrar a V. Exª que essa definição não está muito no âmbito dos Partidos, mas no âmbito da sociedade, principalmente da imprensa. Acho que o papel que a imprensa vem exercendo no Brasil por conta de promover debates é importante. Essa é uma particularidade do Brasil. Nos Estados Unidos, há bem menos debates. Nessa eleição, houve apenas dois debates com os candidatos à Presidência. No Brasil, praticamente todas as emissoras promovem o debate. Acho que isso ajuda. Quero só ressaltar o fato de que, nos últimos anos, vêm crescendo os debates promovidos pelas redes de televisão em âmbito nacional. Então, penso que isso é importante. Quero concordar: precisamos fazer o debate, discutir projetos. Isso diminui o personalismo e o País participa, construindo propostas, discutindo as cidades, as regiões e os temas. V. Exª falou, ainda agora, de ciência e tecnologia. As universidades, o papel das universidades, da ciência e da tecnologia, as regiões, a pobreza, a renda, a questão agrária, a questão dos povos indígenas, são temas que devem vir à tona, que devem vir à baila numa campanha presidencial, para que candidatos, partidos, militantes e a própria sociedade se envolvam no sentido de definir um projeto. Temos que romper com a lógica da eleição de que é fulano que vai resolver o problema do Brasil. Temos que votar em um presidente que defenda um projeto político claro de Nação, de Estado. Nesse particular, concordo com a preocupação que o Senador Pedro Simon tem levantado, assim como o Senador Suplicy, inclusive V. Exª, todos os Senadores, no sentido de melhorar, qualificar o debate na sucessão. Porque V. Exª aponta muito para os partidos. Acho que os partidos têm que tomar providências. O PT já fez prévia, tem experiência de uma prévia, faz prévia para Prefeitos, muito mais do que esse debate similar ao dos Estados Unidos. Acho que temos uma lógica também na nossa sociedade, da nossa democracia. Nos Estados Unidos, não há apenas dois partidos, mas o que parece ao mundo é o bipartidarismo. No Brasil, não. Tivemos, nas últimas eleições, seis candidatos, sete candidatos. Então, as eleições no Brasil são grandes acontecimentos e estão melhorando. Mas quero concordar com V. Exª de que este é o momento de não só dois partidos, mas de toda a sociedade participar no sentido de definir um projeto político de Nação para o presidente eleito. Obrigado a V. Exª.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador.

Quero dizer que são poucos os debates entre candidatos nos Estados Unidos, mas os debates entre pré-candidatos tomam dois anos. E foi graças a esses dois anos que surgiu o futuro Presidente dos Estados Unidos. Ele não era um membro da burocracia do Partido, não era um candidato da máquina do Partido, não era nem mesmo um candidato muito conhecido, não era um candidato com alto índice nas pesquisas. Dois anos de debates, dentro do Partido dele e dentro dos outros Partidos, com os outros candidatos, fizeram com que fosse se consolidando a idéia de que, como ele disse na campanha, era possível. Isso a gente não tem. Isso não tem porque os debates ficam fechados. E, mais do que isso, hoje os debates não são nem dentro dos muitos partidos; são blocos de Partidos se juntando para escolher um só candidato, roubando do eleitor a possibilidade de escolher entre as diversas alternativas.

Mais do que isso, a mídia tende a fazer o primeiro turno antes do próprio eleitor. Quando a gente vai votar no primeiro turno, a imprensa já escolheu quais são os dois que vão para o segundo turno. Há uma “midiocracia” neste País que faz com que o eleitor não escolha quem vai para o segundo turno. Eles já chegam praticamente escolhidos.

Agora, na eleição para Governadores são raríssimas as alternativas. Na eleição para Presidente anterior, a imprensa se media pela posição em que cada candidato estava nas pesquisas. Não havia espaço para debater idéias; havia, sim, uma superficialidade nas notícias. Agora, aí, nós é que devemos pautar a imprensa, não deixar que a imprensa tolha o debate, porque aí a culpa é nossa.

Finalmente, quero dizer que nós temos tempo para fazer isso, com ou sem prévias nos partidos. Quanto ao Partido dos Trabalhadores, que é o único que fez prévias, durante o tempo da presença do Lula como candidato, não havia razão de prévia, porque ele de tal maneira encarnava a alternativa, que qualquer prévia era falsa.

Sugeriram que eu disputasse a prévia. Eu disse: não disputo prévia com um mito. Mas o Suplicy teve a coragem, o valor de disputar uma prévia, mas para marcar posição, porque o Lula representava de tal forma o Partido, que não havia o menor sentido de ser outro. Agora, não será ele. Agora, sim, deveria haver uma prévia. Há muitas pessoas dentro do Partido com condições de ser candidato. Fica estranho que o Presidente pegue o nome, o Partido aceite o nome, e os outros Partidos não façam também debates internos para que outros possam aparecer.

É no interesse de fazer um debate nacional que esse grupo de Senadores, do qual faço parte, vai tentar levar adiante o debate. E se esses nomes dos grandes partidos quiserem vir, outros, ótimo. E não têm que ser só os mesmos. Em cada universidade, em cada cidade, que sejam os mais diferentes possíveis os pretendentes a candidatos que apareçam.

Acho que todo Senador, hoje, tem condições de se colocar não como candidato, mas como pré-candidato. Candidato é o partido que escolhe - não há outra maneira -, mas pré-candidato qualquer um dos 81 Senadores aqui têm condições e - diria mais - quase que a obrigação de dizer à Nação: esse é o meu projeto para virar, na história, o futuro do meu país, porque nesse rumo não estamos nos encontrando plenamente. Estamos dando passos pequenos demais, quando todo o mundo está mudando rápido demais; estamos viciados em características sociais e econômicas do passado, quando o mundo está trazendo novas características; estamos dando valor ao produto interno bruto da economia material, quando, hoje, a riqueza se mede pela natureza e pelo imaterial, que é o conhecimento que há nas mentes de cada pessoa do país.

Eu, portanto, reafirmo meu apoio ao Senador Pedro Simon e minha predisposição de levar adiante esse debate, seja aqui, seja onde for que um grupo de pessoas - não precisam ser Senadores - queira debater qual o futuro que propomos para o Brasil a partir de 2011.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Cristovam, permita-me lembrar o filósofo Spencer: “De nada vale um planejamento que não se segue da ação”. V. Exª fez um planejamento lindo: o piso salarial dos professores. É uma vergonha o rumo que está acontecendo. V. Exª é um homem muito estudioso, com quem eu procuro aprender. Mas V. Exª sabe, como eu sei, que, nas sociedades civilizadas, a diferença do maior salário para o menor salário é de dez ou doze vezes. Então, isso é uma vergonha. E V. Exª, agora, começa nosso debate para Presidente. Nós temos de buscar coragem. Faltando coragem, falta toda virtude. Nós temos de começar, como V. Exª, convidando para uma vigília todos os professores. Quando V. Exª pede um piso de R$900,00, não é isso?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Novecentos e cinqüenta reais.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Novecentos e cinqüenta reais. Eu quero lhe dizer que dez vezes são R$9.500,00; 20 vezes são R$18.000,00; 23... Há dois anos, passou por aqui, com pressão do Supremo Tribunal Federal, esse - esse aí que está na defesa - passou célere e rápido. E esta Casa se agachou... Muito mais de R$27 mil para o Judiciário. Então, nós temos, a bem da verdade, de ter coragem não vou dizer de diminuir o deles, mas de fazer subir, começando pelos professores, que V. Exª representa tão bem.

E, aqui e agora, começa o debate presidencial. Não acredito num país... Eu cortei... Eu, quando governei o Estado do Piauí, eu não... A diferença era mais de 100 vezes de um coronel para um soldado. Eu sei o quanto sofri isso. Eu cortei, eu botei um redutor dos grandes salários. Eu não entendia que um coronel tinha 100 estômagos e o soldadinho só tinha um. Então, a diferença era essa. Quis resolver essa injustiça.

Mas vamos continuar... Foi bonito o piso e a teoria. E a ação? Vamos, vamos, vamos, aqui e agora, marque a vigília! Começou o debate para Presidente. Eu acho que este País... Eu entendo mais da Justiça do que aqueles que estão de toga? Não. A justiça é divina: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Eu a tenho. Então, a Justiça começa com justiça salarial. Este País é imoral e é indecente. Quis Deus eu estar na Presidência e dizer isso.

Nos países organizados, civilizados, a diferença do maior para o menor é 12 vezes. Essa é a média. É aí, os civilizados... Então, nós temos que... A primeira luta é essa... Então, eu já me credencio, passando e avançando de V. Exª na corrida presidencial, porque eu tive a coragem de, na Presidência do Senado da República, mostrar ao povo essa farsa. É imoral, é vergonhosa e passou aqui célere e correndo. O João Pedro não tem culpa porque ele não estava aqui. Mas o que fazer? Passou célere e rápido. Ele vivia aqui, pressionando. Eu não vi ninguém pressionar pelo salário minguado.

Eu vi. Atentai bem, brasileiros e brasileiras. Eu tenho uma história a contar. Fala-se aí da revolução. Eu conheci o Presidente Castello Branco pessoalmente. Estudei no Ceará. Ele foi comandante de lá. Eu conheci pessoalmente o Geisel e o Figueiredo. Eu quero dizer que, quando eu fazia Medicina, cirurgia, este País era organizado.

E vou dar um exemplo: fui médico de uma universidade federal de Medicina e fiz cirurgias, pós-graduado, no Hospital dos Servidores. Tudo coisa de Governo. Era o Pelé fazendo gols, e eu operando Brasil afora. E hoje os pobres não têm essa condição, como o próprio Presidente Luiz Inácio teve. Ele foi um privilegiado, um sortudo. Estudou no Senai. Sei bem o que foi o Senai. Meu tio-padrinho fundou a Federação das Indústrias do Piauí. Eu sei o que era. Minha cidade tinha um Senai. Era uma escola altamente responsável. Então, Luiz Inácio é sabido por isso. Ele teve boas escolas, que hoje não temos.

V. Exª viu o Enem. V. Exª estuda e estudou a Grécia. Havia a Paidéia. Era um programa de educação muito mais completo do que temos hoje, cinco séculos antes de Cristo. Por isso, Sócrates foi eternizado, por isso Platão é respeitado, e Aristóteles.

         Então, estamos decadentes. No exame do Enem, a maior nota foi Brasília, seis, o resto tudo foi para o pau. O Piauí, que é do Partido dos Trabalhadores, de V. Exª, tirou 26º lugar na escola pública, média menor que quatro. Então, essa é a verdade.

         V. Exª está com boas intenções, vamos para a hora da verdade. E um dos melhores passos de V. Exª foi aquele.

         Agora, por que busquei a revolução? Eu estava no Hospital do Servidor do Estado, no Ipase, quando o Presidente Castello Branco - atentai bem, olha para cá - assinou um decreto, naquele tempo era decreto-lei, para a enfermeira ganhar seis salários mínimos. E hoje, o nosso Cristovam Buarque, o mestre, o nosso Sócrates, pede um piso mínimo de dois e não é... Entra a Justiça com liminares, contra isso, contra o que nasce aqui, ô, Cristovam. Então, vamos embora começar logo aqui, a reação.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - V. Exª permite um aparte, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PÌ) - Este Poder tem que se impor.

         Diga, V. Exª tem um aparte neste debate qualitativo e de coragem do Parlamento, que começou a melhorar com a nossa presença.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Senador Cristovam, quero reconhecer aqui em V. Exª um obstinado pela educação. E a obstinação pela educação significa obstinação pelo desenvolvimento deste País. Não podemos pensar em desenvolver este País economicamente, socialmente, todas as conseqüências positivas, se nós não tivermos como base a educação. Então, o que lamentamos, Exª, que a maioria, que o Poder Público, que seria o grande sustentáculo da educação, esteja jogando a escola pública para segundo plano, tornando a escola pública uma escola de má qualidade. Vou falar da minha região. Nós, no Estado do Amapá, estudávamos em escolas públicas, não fazíamos cursinho, não tinha nada disso. Íamos para Belém fazer vestibular para Medicina, que tinha concorrência terrível, e o índice de aprovação de candidatos do Estado do Amapá era louvável. Hoje, não temos mais isso. Em Belém do Pará havia escolas públicas disputadas. Quem conseguia ser aluno do Colégio Paes de Carvalho? Quem? Era muito difícil. Se V. Exª for ver, as grandes personalidades do Estado estudaram no Paes de Carvalho, estudaram no Magalhães Barata, estudaram no Augusto Meira. Hoje, todo esse ensino deteriorado. Peço a V. Exª, porque jamais me atreveria a dar um parecer ou uma opinião sem ouvi-lo primeiro, a questão das cotas. Essa questão das cotas temos de discutir com responsabilidade, por quê? Nós ouvimos os especialistas falarem. Cotas na universidade, você está começando de cima para baixo.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Exatamente.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - A qualidade do ensino fundamental é que precisa ser melhorada na escola pública, para qualificar exatamente todos os excluídos socialmente, aqueles que não têm condições de sustentabilidade financeira, aqueles que são discriminados por raça, por religião. Podemos unificar tudo isso em qualidade se tivermos investimentos na escola fundamental, no ensino fundamental. Aí, sim, vamos alcançar o degrau, para, quem sabe, na universidade, seja excluída essa questão das cotas. Que isso seja uma ação passageira e que seja exatamente corrigida com o investimento nos ensinos pré-universitários. Eu, por exemplo, posso entrar no sistema de cotas. A miscigenação do raça brasileira é tão grande que não sabemos quem é quem, quem é pardo, quem é afrodescendente. Ninguém sabe. Eu sou pardo. Então, estou na cota dos pardos. Então, é muito difícil. Acho que o modelo que trouxeram para cá é o modelo norte-americano, que não tem muito a ver, mas que respeitamos. Absolutamente o respeitamos. Pode estar suprindo uma necessidade imediata, mas temos de ter um modelo nosso, um modelo responsável, e que passemos a discutir sem querer inventar novidades, porque, hoje, é tudo novidade. Tudo o que é novidade querem e, com isso, estão jogando de lado aquelas tradições, principalmente do ensino que a modernidade ainda permite muito bem, porque são tradições positivas. Então, quero parabenizar V. Exª, parabenizar o Sr. Presidente por suas opiniões e dizer que V. Exª é tido por nós como grande modelo nos conselhos relacionados à educação. Parabéns a V. Exª.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador Papaléo.

Mas o assunto das cotas vamos debater muito ainda, inclusive amanhã, na Comissão de Educação.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Dois salários por piso. Como vamos fazer uma campanha? Vamos fazer uma vigília logo aqui. Marque.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Vamos fazer a vigília assim que o Supremo acenar quando decidirá quanto à constitucionalidade ou não da matéria.

Agradeço, mas há outros Senadores querendo falar.

Obrigado, Sr. Presidente.


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