Discurso durante a 222ª Sessão Especial, no Senado Federal

Celebração do centenário de morte de Machado de Assis.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Celebração do centenário de morte de Machado de Assis.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2008 - Página 47634
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, MORTE, MACHADO DE ASSIS, ESCRITOR.
  • COMENTARIO, EXPERIENCIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, LANÇAMENTO, ESTADO DO ACRE (AC), CURSOS, AMPLIAÇÃO, ACESSO, POLITICA, CIDADANIA, PROGRAMA, BIBLIOTECA, PUBLICAÇÃO, GRAFICA, SENADO, CRESCIMENTO, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, COMPROVAÇÃO, INTERESSE, LEITURA, ESPECIFICAÇÃO, LIVRO, LITERATURA, MACHADO DE ASSIS, ESCRITOR, SUGESTÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), SUBSIDIOS, ACERVO, CULTURA, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves Filho; Exmº Sr. Senador Marco Maciel, autor do requerimento que deu origem a esta sessão e membro da Academia Brasileira de Letras; Exmº Sr. Deputado Osmar Serraglio, 1º Secretário da Mesa do Congresso Nacional; Exmº Sr. Ministro Eros Grau, do nosso Supremo Tribunal Federal; Professor Antônio José Barbosa, Consultor Legislativo desta Casa; Srª Ana Cláudia da Costa Badra, Coordenadora da Comissão Ano Cultural Artur da Távola; senhoras e senhores, não tenho, aqui, a responsabilidade de falar sobre Machado de Assis como a tem o Senador Marco Maciel e outros ilustres Parlamentares que já passaram por esta tribuna na manhã de hoje. O que me traz aqui, modestamente, é a intenção de testemunhar como a literatura brasileira, enquanto entranhada na vida do povo brasileiro, vive, se fortalece e viverá talvez para sempre.

O Senador Marco Maciel e o Senador Sarney são os nossos políticos intelectuais, ou nossos intelectuais políticos, ou ainda nossos políticos e intelectuais, e têm, sim, a responsabilidade de vir aqui e proferir brilhantes discursos, como o fez o Senador Marco Maciel.

É claro que vou me referir a Machado de Assis; mas, para chegar a ele, quero contar aqui uma historinha ambientada no meu querido Estado do Acre. Logo que assumi meu mandato, com a ajuda de meus auxiliares, assessores, inauguramos algo que, no primeiro momento, parecia uma experiência que não teria como prosperar. Nós oferecemos a uma parcela da população do meu Estado, primeiramente, um curso sobre política, denominado Política ao Alcance de Todos. Nós fizemos esse curso como se fosse um curso a distância. Lançamos o curso no Acre, as inscrições tiveram um número tímido, no início, começamos a mandar todo mês um fascículo e, para minha grande surpresa, esse curso, como se diz nas ruas, pegou. De seiscentas inscrições iniciais, nós concluímos o curso, após o seu décimo fascículo, com seis mil inscrições.

Fizemos palestras em todo o Estado, em alguns Municípios do Estado, com participação efetiva de políticos, de professores, de estudantes, do povo em geral.

Nós nos entusiasmamos e, em seguida, lançamos mais um curso, Senador Marco Maciel: Política e Cidadania. Dessa feita, em cinco fascículos. Foi o mesmo sucesso. E eu, de minha parte, quebrei aquilo que a gente, às vezes, alimenta e não externa com receio de melindrar; mas, no fundo, no fundo, as pessoas me diziam: “Geraldo, esse curso... As pessoas não estão interessadas em ler, em aprender assuntos tão cáusticos: filosofia política, sociologia política, política”. Olha, foi uma das experiências mais agradáveis que eu tive neste mandato e na minha vida. As pessoas acorreram, pediram. Até hoje essas duas obras são solicitadas por pessoas no meu Estado e fora do meu Estado, o que me trouxe uma comprovação imediata: as pessoas no nosso País, o povo brasileiro adora ler, gosta de ler; o povo brasileiro, na sua maioria, não tem acesso à literatura, Senador Marco Maciel. Os livros no nosso País ainda são absurdamente caros e acessíveis apenas a uma minoria.

Essa experiência me levou a outra. Quando membro da Comissão de Educação nesta Casa, cheguei a dialogar com o atual Ministro da Educação e concitá-lo a lançar um programa. Assim como temos por parte do Governo Federal o Programa Farmácia Popular, concitei o Ministro da Educação a lançar um outro programa: a livraria popular. O Governo Federal se encarregaria de reeditar obras clássicas da nossa literatura - nós temos um acervo riquíssimo - e a disponibilizaria para a população a preços módicos, subsidiados. Por que não? Eu tenho certeza absoluta de que esses livros não dormiriam nas prateleiras dessas livrarias. Até hoje, não soube de nenhuma experiência ou iniciativa nesse sentido, mas, modestamente, tomei a minha.

Valendo-me da cota que temos aqui para impressão de material gráfico, inaugurei aquilo que denominamos Coleção Biblioteca Popular, aquelas obras que já estão, inclusive no site do próprio Ministério da Educação, disponíveis a todos que o acessam, pois já não há mais que se falar em direito autoral. Comecei a pinçar nessas obras desse site e, como disse, valendo-me da cota que temos no Senado Federal, comecei a republicar obras da nossa literatura brasileira. Uma das obras está aqui, Dom Casmurro, e aí, sim, refiro-me a Machado de Assis. Antes dela, publicamos A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, e agora, por último, O Ateneu, de Raul Pompéia.

Antes havíamos reunido, numa pequena obra, a passagem de Euclides da Cunha pelo meu Estado. Pouca gente sabe disto: ele chefiou a missão brasileira que demarcou, subindo o rio Purus, os limites do Acre, do Brasil com o Peru, o que resultou num outro tratado, além do Tratado de Petrópolis, o mais conhecido do trabalho do Itamaraty em relação àquele imbróglio envolvendo o Acre, a Bolívia e o Peru.

Dom Casmurro, Machado de Assis, cem anos da sua morte!

As pessoas do meu Estado me ligam, me abordam no meio da rua, quando eu estou por lá, e perguntam: “Senador, o senhor ainda tem o Dom Casmurro? A minha prima quer ler. A minha avó soube que o senhor tem o Dom Casmurro e queria um exemplar”. Essa obra, como as demais, fala do sentimento do povo brasileiro. Não é nada mais do que isso. O sentimento do povo brasileiro não muda tão rápido como mudam as indumentárias, os hábitos, os costumes, o próprio ambiente. E Machado de Assis, com a sua perspicácia, com a sua argúcia, com a sua fina ironia, traduz a alma do povo brasileiro. É por isso que a obra, até hoje, assim como outras que se equivalem a essa, cai no gosto da população. E estou falando de pessoas muito simples, porque essa obra é distribuída nos Municípios, nos locais mais distantes do meu querido Acre. E as pessoas adoram ler. As pessoas comentam. As pessoas me abordam para falar de Capitu.

E é isso. Eu queria tão-somente registrar esse fato. É a minha maneira de homenagear Machado de Assis. Vou reproduzir outras obras dele, assim como de outros autores brasileiros consagrados.

E digo aqui para vocês, até para quem não acredita, que o povo brasileiro adora ler. O povo brasileiro ama a literatura brasileira. O povo brasileiro se agarra a obras como essas e se vê nas obras. E é por isso que digo que, talvez daqui a cem anos, estaremos comemorando os duzentos anos da morte de Machado de Assis; e, quem sabe, muitos cem anos para frente, enquanto conseguirmos fazer com que a população brasileira tenha acesso a obras como essa.

Portanto, esta é minha homenagem a Machado de Assis, muito singela. Como disse, no início do meu discurso, não tenho a responsabilidade de falar aqui sobre Machado de Assis como têm nossos políticos acadêmicos, mas, por ele e por outros autores, tive uma das experiências mais gratificantes dentro deste mandato e como cidadão brasileiro. Percebi que o povo brasileiro, apesar de suas dificuldades, adora ler, ama a literatura brasileira. E eu acho que é um dever de todos nós fazer com que obras como essa consigam chegar aos recantos mais distantes do nosso País.

Vocês não sabem a falta que os livros fazem. Quando chegamos a um pequeno Município de seis, dez mil habitantes, eu e meu pessoal - quando posso, também me faço presente -, vamos a escolas, sindicatos, ruas, praças e mercados e distribuímos determinada obra. Imediatamente, as pessoas estampam um sorriso, Professor, e recebem-na com o maior prazer. Em seguida, pedem mais. Portanto, vamos oferecer livros ao povo brasileiro. A homenagem que podemos prestar, além desta que prestamos hoje a Machado de Assis e a tantos autores brasileiros consagrados e àqueles que ainda virão, é fazer com que não se corte a ligação da literatura brasileira com o povo brasileiro.

A literatura sustenta o povo brasileiro, e o povo brasileiro sustenta a literatura, enquanto estiverem unidos pelas obras, pelos livros, pela memória de Machado de Assis e de tantos outros grandes autores que possuímos.

Obrigado pela oportunidade. Esta é nossa singela homenagem àquele que, há cem anos, falecia e deixava uma lacuna a mais na literatura brasileira.

Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2008 - Página 47634