Discurso durante a 224ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifesto de apoio em favor à luta dos aposentados.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL. EDUCAÇÃO.:
  • Manifesto de apoio em favor à luta dos aposentados.
Aparteantes
Flávio Arns, Geraldo Mesquita Júnior, Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2008 - Página 48157
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PAULO PAIM, SENADOR, DEFESA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, TRABALHADOR, APOSENTADO, APOIO, MOBILIZAÇÃO, SENADO, BUSCA, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA, GARANTIA, BENEFICIO, APOSENTADORIA.
  • DEFESA, MOBILIZAÇÃO, CONGRESSISTA, EDUCAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, GARANTIA, RECURSOS, PETROLEO, LUTA, MELHORIA, SITUAÇÃO, BRASIL.
  • CRITICA, TRABALHO, CLASSE POLITICA, AUSENCIA, FAVORECIMENTO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, REGISTRO, DESIGUALDADE SOCIAL, NECESSIDADE, MELHORIA, EDUCAÇÃO, GARANTIA, DIREITOS, APOSENTADORIA.
  • DEFESA, VALORIZAÇÃO, SALARIO MINIMO, INEXISTENCIA, PRIVILEGIO, AUMENTO, REMUNERAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, NECESSIDADE, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, GARANTIA, IGUALDADE, ENSINO PUBLICO, ENSINO PARTICULAR, AUSENCIA, OCORRENCIA, DISCRIMINAÇÃO, PAIS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores e senhoras que nos prestigiam, quero parabenizá-lo, Senador Paim, duplamente. Primeiro, por sua luta em defesa dos trabalhadores na ativa e dos trabalhadores aposentados. Segundo, pela vigília, por esse método, por esse tipo de ação parlamentar que faz com que nós estejamos aqui, num número razoável de Senadores e Senadoras, até esta hora.

Quero dizer que fico orgulhoso de fazer parte desta vigília pelas duas razões: pela bandeira que estamos discutindo e pelo método que estamos usando. Estamos de pé, aqui, até esta hora e, se for preciso, até de manhã, como foi da outra vez.

Estou tão entusiasmado com este seu método que quero propor aos Senadores aqui presentes e às Senadoras que façamos, na próxima semana e na outra, uma vigília pelas 500 mil crianças - como o jornal disse hoje - que estão fora das salas de aula. São 500 mil crianças que serão aposentadas em situação até pior do que à daqueles que hoje estamos defendendo.

Quero propor uma vigília para conversarmos sobre por que o País é campeão mundial de repetência na escola. Sessenta e cinco por cento, no Estado do Rio de Janeiro, no ensino médio, repetem, estão defasados para a idade em sala de aula. Isso merece uma vigília também.

         Isso merece uma vigília, Senador Paim, porque a situação que vivem os nossos aposentados tem relação com a má educação que o Brasil ofereceu ao seu povo duas décadas, três décadas atrás.

Precisamos fazer também vigílias por outras razões. Temos que fazer uma vigília aqui em defesa das Forças Armadas brasileiras, que estão hoje sofrendo a falta de apoio para defender um país do tamanho do Brasil.

Temos que fazer uma vigília aqui para saber o que vai acontecer com o Brasil do ponto de vista das nossas reservas de recursos de petróleo.

Temos que fazer muitas vigílias, de tal forma que queria propor que vire uma tradição do Senado toda quarta-feira termos uma vigília em função de algum tema que tenha sido decidido pelos Senadores. E vamos nos lembrar de que isso começou com sua proposta para discutir o fim desse maldito fator que corrói as aposentadorias dos nossos aposentados.

Mas, Senador, quero, ao mesmo tempo em que manifesto o meu apoio a essa sua luta, dizer que precisamos discutir a lógica que faz com que seja preciso estar aqui em vigília, porque há uma lógica por conta disso. Ao escutar o seu discurso, com toda a coerência, vejo, preocupado, que caímos na mesma lógica de discutir os aspectos financeiros, por lados diferentes, mas a mesma lógica.

Nós discutimos eliminar o fator; não discutimos eliminar a causa que faz com que neste País o poder político trabalhe para a cúpula e não para a base da pirâmide, tanto a cúpula do ponto de vista econômico quanto a cúpula do ponto de vista etário, ao abandonar as crianças. Temos um lógica que faz com que aconteçam essas situações. Nós precisamos fazer uma vigília para saber qual é a revolução de que o Brasil precisa, para que nunca mais precisemos de vigília, e nós precisamos de uma revolução. Não acredito que seja mais uma revolução para pôr de cabeça para baixo a economia, mas uma revolução de que o Brasil precisa para acabar com a necessidade de vigília. Nós precisamos fazer uma vigília para saber qual é o mapa de que o Brasil precisa daqui para frente, porque não temos o mapa.

O livro que o Senador Pedro Simon lançou hoje, que mostro aqui, tem uma crônica chamada “O mapa do luxo”, e o Brasil, Senador Pedro Simon, tem o mapa do luxo e o mapa do lixo. São dois mapas diferentes. Conduzimos o povo brasileiro para um lado, se for pobre, e para outro lado, se for rico. Essa lógica corrói o salário dos aposentados. E, se ficarmos apenas discutindo o fator - e precisamos discuti-lo - caímos na lógica financeira, mesmo que olhando por outro lado. Vamos discutir como unificar o mapa do luxo e o mapa do lixo neste País, para que encontremos um mapa único que conduza o futuro do Brasil.

O mapa do luxo é o mapa daqueles que ganham muito. O mapa do lixo é daqueles que ganham pouco. O mapa do luxo é daqueles que têm escolas boas. O mapa do lixo é daqueles que têm escolas ruins.

O mapa do luxo, Senador Mão Santa, que é médico, é aquele que faz com este País tenha sistemas médicos da mais alta qualidade, comparando com os melhores países do mundo. E faz com que os pobres tenham o mapa do lixo, que é uma saúde pública incapaz de lhes dar uns aninhos a mais que sejam de vida pelo atendimento médico na hora.

Não há país que sobreviva com dois mapas, porque quando você tem dois mapas, você está perdido. Você só se encontra quando tem um mapa só. Não existem dois mapas; só um mapa. E a gente não tem um mapa. Precisamos ter uma vigília para discutir qual é o mapa que este País vai ter daqui para frente para encontrar o seu futuro.

O livro Reflexões, do Senador Simon, é cheio de otimismo, apesar da crise que vivemos. Porque, na sua consciência, no seu coração, no seu sentimento, na sua experiência, ele tem a idéia de um mapa dele. Mas esse mapa é dele e não estamos conseguindo passar esse mapa, como líderes que somos, para o conjunto da sociedade brasileira.

Defendo o meu mapa: é o mapa da escola igual para todos. É um mapa que faça com que as escolas sejam como uma bola de futebol, redonda para todos. É preciso lembrar, e isso devo dizer que aprendi hoje, que, quando o futebol chegou aqui, no Brasil, era proibido para os pobres. É como se a bola fosse quadrada. Pobre não podia jogar futebol. Depois, os pobres entraram. E, como a bola é redonda, transformaram-se nos grandes craques. Porém, deixaram que pobres jogassem futebol, mas não deixaram que pobres estudassem nas boas escolas deste País.

E a conseqüência é que nós fomos criando uma desigualdade crescente. Desigualdade, Senador Paim, que até nos vicia. E aí uma preocupação que eu tenho com o seu discurso: não há por que querermos ganhar sempre muitos salários mínimos.

Eu espero que, um dia, neste País, parlamentar nenhum ganhe mais do que cinco salários mínimos, por o salário mínimo crescer tanto que não precise parlamentar ganhar mais do que cinco salários mínimos, como nos países decentes acontece. Nos países decentes, parlamentar não ganha muitos salários mínimos porque o salário mínimo cresceu numa velocidade tal que se distribuiu a renda. Não há como se distribuir a renda e os salários crescerem na mesma proporção do salário mínimo.

E aí menospreza-se o trabalho do Senador Paim, que conseguiu fazer com que o salário mínimo crescesse muito. Muito, não, mas mais do que os outros.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Cristovam, só para ajudar o raciocínio. É claro que eu concordo com a sua teoria, mas eu não posso concordar com que uns ganhem, neste País, R$30 mil e o outros ganhem R$415,00.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não, claro que não.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Enquanto isso não acontecer, o Regime Geral, no meu pronunciamento, vai na linha de que quem estiver ganhando cinco salários mínimos ganhe, pelo menos, cinco e deixe o outro ganhar vinte e cinco.

O Sr. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu espero que o salário mínimo cresça tanto...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Tomara.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Claro! É isso que a gente tem que fazer. Agora, manter a mesma proporção é não querer que o salário mínimo cresça. E o senhor luta pelo salário mínimo crescente.

Eu não estou falando dos que têm cinco. Eu estou falando é de nós, parlamentares, que ganhamos quase 40 salários mínimos. Eu estou falando dos juízes, que ganham 50 salários mínimos. Eu estou falando de um país em que o piso do salário do servidor público - e nem falo dos empresários - chega a 50 vezes o salário mínimo.

Eu espero que, um dia, não haja nenhum servidor público ganhando 50 salários mínimos por o salário mínimo crescer tanto que a gente não vai ter essa desigualdade. Agora, até lá, a gente tem que fazer com que...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - É como a política de cotas. É necessário...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não, nunca deve ser pelo salário mínimo. Até lá temos de fazer uma correção, como V. Exª disse, transferindo aos aposentados parte do aumento da produtividade que o PIB reflete. Quanto a isso, sim, estou de acordo, Senador Paulo Paim: que se transfira para os aposentados o aumento que a produtividade permitiu no PIB. Contudo, comparar com o salário mínimo, não! Não é decente um país onde os parlamentares recebem 40 salários mínimos. Perdoem-me!

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª me permite um aparte?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Com prazer, Senador Geraldo Mesquita.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Eu sempre, por uma questão de justiça, cito a fonte. Aqui, um dos Parlamentares que se batem pelo encurtamento, pela diminuição do intervalo entre a maior remuneração e a menor é o Senador Flávio Arns. Já o vi defender essa tese por várias vezes neste Parlamento. E V. Exª foi na veia! Aí reside o fundamento a partir do qual podemos começar a tornar as relações econômicas e sociais em nosso País mais justas. Com Relação a essa questão que está posta no momento, temos de compreender que não se trata de atribuir ou dar aos aposentados. Trata-se de resgatar aquilo que foi contratado com eles. Consideremos um cidadão como um dos que estão aqui nas galerias hoje, que começou a trabalhar com 18 ou 20 anos e se aposentou depois de 30 ou 35 anos de serviço. O País assinou um contrato com ele de que, por exemplo, se ele se aposentou com cinco, seis salários mínimos, ele ia ganhar isso ao longo do restante da sua vida. Eu lembro V. Exª que aqui não se está querendo atribuir nada aos aposentados. A luta é pelo resgate daquilo a que eles têm direito a partir de um contrato que assinaram com o País. Então, a gente precisa primeiro sanar essa questão e avançar longamente, como V. Exª propõe. O Senador Simon estava lembrando aqui que, na Alemanha, um grande executivo ganha oito vezes o que ganha um operário. E é isso que a gente tem que buscar. Mas, para chegarmos lá, Senador Buarque, a gente precisa sanar essas questões que estão pendentes no País, atrás das quais há contratos firmados. Não é justo, não é decente que pessoas que iniciam sua vida laboral produtiva na perspectiva de uma determinada quantia que ganharão depois de aposentados, depois que se aposentam, por causa de fator previdenciário, por causa de uma série de outros artifícios que são lançados, vêem a sua remuneração diminuída gradativamente. Não é justo isso, Senador Buarque. Não se trata de ter como referência salário mínimo. A gente tem que ter referência em algum lugar. 

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas, Senador, eu não falei em aposentado; eu falei no senhor e em mim. Falei em parlamentares ganharem 40 vezes o salário mínimo. Eu espero que um dia parlamentar não ganhe mais de 5 salários mínimos. Não falei dos aposentados.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Quanto a esse assunto, eu já me referi a ele, dizendo que a nossa luta tem de ser essa mesma, de reduzir esse espaço.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Isso. Então, estamos de acordo.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Agora, com relação aos aposentados de hoje, que estão sendo lesados, há uma quebra de contrato. Há claramente uma quebra de contrato no nosso País.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - E eu vim aqui, porque sou a favor do respeito a essa cláusula do contrato e sou a favor do fim do fator previdenciário, mas volto a insistir... E não foi falando dos aposentados, foi falando da lógica. A lógica do luxo e a lógica do lixo fazem com que a gente queira que os Parlamentares ganhem, proporcionalmente, número de salários mínimos sempre. Subiu o salário mínimo, sobe o salário dos ricos. Isso não pode ter.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Claro. Nisso, nós estamos de acordo.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Foi bom lembrar o Senador Flávio Arns...

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Aliás, não precisamos nem de lógica do luxo nem de lógica do lixo.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas nós estamos de acordo, então.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Não precisamos nem de lógica do luxo nem de lógica do lixo. Precisamos de uma lógica para o povo brasileiro.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Isso. Pronto. Mas só vai existir lógica para o povo, quando não houver nem a do luxo nem a do lixo. Não há duas lógicas.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Claro. Com certeza.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Ou uma ou nenhuma das duas é lógica. Ou um ou nenhum dos dois são mapa.

É isso que o livro do Senador Simon, lançado hoje, fala na parte do luxo, criticando a realidade que temos hoje. Ele cita a minha cidade, Recife, em que produtos do mais alto luxo saíram das prateleiras em poucas horas depois que ali chegaram, porque alguns lá ganham muitas vezes o salário mínimo. Se o salário mínimo subir, esses daqui vão cair e aí a gente vai ter nem luxo nem lixo: decência. Esse é o mapa de que a gente precisa, não só do Brasil como o senhor diz, o mapa da decência.

Agora, eu falei, criticando a lógica que existe no País de existir uma lógica para os que ganham muito e uma lógica para os que ganham pouco. Aí entra o fator previdenciário, para corroer dos que ganham pouco. Como o Senador Paim falou, os que ganham muito têm aposentadoria igual à daqueles que estão na ativa.

Há duas lógicas neste País. Temos que quebrá-las. Uma parte disso é o salário mínimo subir mais do que o salário da gente, parlamentar. Devíamos até fazer uma lei, dizendo que o salário de parlamentar não sobe mais do que 10% do que subiu o salário mínimo. Algo assim!

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - V. Exª me permite uma sugestão?

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam, eu queria apenas fazer uma pequena correção.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Vamos lá.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Eu tenho certeza de que V. Exª vai concordar comigo. Sabe V. Exª que eu devo grande parte da minha vida a Recife. Mas eu fiquei triste quando V. Exª disse “minha cidade, Recife”. V. Exª devia corrigir: a cidade em que eu nasci.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas eu tenho duas cidades.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - A cidade que lhe fez reitor, Governador, Senador é Brasília.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu tenho duas cidades.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Divida esse seu amor com Brasília porque é um dever de justiça.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não. Eu tenho duas cidades.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Esclareça.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Tenho duas cidades, mas eu não vou dizer só que nasci em Recife. É a minha cidade tanto quanto Brasília, como a do senhor é tanto Teresina, como Recife.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Eu tenho três.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Ah, o senhor tem três. Eu tenho duas.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Teresina, Brasília e Recife. Aí é que eu gostaria que V. Exª também dividisse com Brasília senão os candangos ficam com ciúme. Por apreço a V. Exª, os candangos ficam enciumados.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu tenho duas. Todos sabem disso. Eu tenho duas cidades, com muito orgulho.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Fica esclarecido.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª tem que ter muito cuidado quando fala. V. Exª realmente é um pernambucano, mas é um brasiliense.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sou, claro.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Foi um grande Governador e é um grande Senador. Mas, a essa altura, o Rio Grande do Sul, Porto Alegre, já o vê com muita simpatia. Andando pelo Rio de Janeiro, todo mundo fala em V. Exª. Acho que V. Exª tem duas ou mais cidades.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas eu tenho duas, que estão no meu coração.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Eu queria que V. Exª, no futuro, se gabasse, inclusive, de ser cidadão parisiense, sendo, com muita justiça, indicado Secretário-Geral da Unesco.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não, não sou nem um pouquinho.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - E esse Governo, por ser absolutamente injusto com V. Exª, não faz essa indicação, que seria meritória. Aí o senhor teria Recife, Brasília e Paris.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não. Eu gostaria de voltar ao eixo da nossa conversa. Brasília e Recife já bastam para mim.

Agora, eu quero voltar ao eixo.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Ainda bem que com relação à cidade, V. Exª não é seguidor do Ledo Ivo.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Do...

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Ledo Ivo

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Claro, e outros muitos.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - “Amar mulheres,várias!

Amar cidade, só uma - Recife

E assim mesmo com as suas pontes

E os seus rios que cantam”.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu acho que o Senador Heráclito... Acho que vocês estão levando muito a sério...

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Heráclito, você não aconselhe mal o Senador Buarque. A esposa dele está aqui nas galerias prestigiando a nossa vigília. Por favor.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Vocês estão levando muito a sério a palavra vigília e transformando em boemia. Eu quero continuar no eixo, de que nós aqui estamos defendendo algo justíssimo, que é o fim dessa corrosão que se faz da aposentadoria da população pobre, porque a população rica, na lógica e no mapa do luxo, tem mecanismos de fazer aposentadorias paralelas, aposentadorias complementares. As empresas pagam para suas aposentadorias e eles não têm corrosão.

É isso que eu quero chamar a atenção. Estamos aqui para defender o fim da corrosão. Mas eu insisto: o que eu trouxe aqui é que além da corrosão, que é um problema financeiro, técnico, nós temos que discutir uma questão lógica, ideológica. Além de derrubar o fator, nós temos que fazer uma revolução no Brasil, que para mim, é a escola igual para todos. Que para mim, é o filho do trabalhador na mesma escola que do filho do patrão. Essa é a revolução que eu imagino no século XXI; e essa revolução merece uma vigília como essa que nós estamos fazendo pelo fator previdenciário.

Quero pedir desculpas para aqueles que pedem aparte, porque eu disse ao Senador Couto, que me cedeu a vez, que não ia falar muito. E estou falando mais do que deveria, até pelos desvios boêmios que surgiram ao longo dessa fala, graças ao espírito alegre do Senador Heráclito Fortes.

O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Só mais um aparte, Senador?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Flávio Arns.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Só mais um aparte. Porque V. Exª entrou num debate da vergonha, que é a diferença entre o menor salário e o maior salário no Brasil. É a maior indicação, sem dúvida alguma, maior sinalização dessa injustiça que acontece de um salário mínimo para 50 salários mínimos. Nunca vai mudar essa situação, porque quem decide sobre quem ganha um salário mínimo é quem ganha 30, 40, 50 salários mínimos. Então, creio que vai ser muito difícil. Nós deveríamos ter uma lei, quero sugerir a V. Exª, e todos nós poderíamos assinar em conjunto, que o maior salário público, num primeiro momento, não ultrapasse, por exemplo, 30 ou 20 salários mínimos, num primeiro momento. Nenhum salário público pode ser maior do que 30 salários mínimos. Aí, sim, todos que ganham 30 ou 20 salários mínimos se esforçariam ao máximo para que o valor do salário mínimo aumentasse, para conseguirem receber, inclusive, mais. Então, não vejo outra alternativa, a não ser elaborarmos uma lei, submetendo-a ao Senado e, depois, à Câmara, dizendo: “Olhe, ninguém pode ganhar mais do que determinado número de salários mínimos num primeiro momento.” Daqui a cinco anos, será outro valor, até chegarmos, como V. Exª colocou, a dez salários mínimos, cinco salários mínimos, alguma coisa compatível com o País que tenha desenvolvimento da justiça para todas as pessoas.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Flávio Arns, acho uma ótima idéia. Conte comigo. Mas quero trazer um assunto.

O senhor disse que nunca vai mudar, porque os de cima decidirão a seu favor. É verdade. Mas tem uma maneira de mudar isso. Basta aprovar um projeto de lei que está paralisado, engavetado no Senado, e que diz que, daqui a sete anos - veja bem o prazo -, todo dirigente nacional eleito neste País terá de ter o seu filho na escola pública. Quando isso for lei, não tenha dúvida de que a escola pública ficará boa, porque a gente fará aquilo que o senhor disse corretamente e que não conseguimos fazer. Os que decidem decidem para si. Essa é a realidade de um País dividido, de duas castas até, e os que estão lá em cima decidem para eles. Esses que estão lá em cima somos nós.

Quando a gente aprovar uma lei que obrigue a população rica a usar os serviços da população pobre, os serviços da população pobre melhorarão. Por que o Brasil erradicou a poliomielite, como exemplo no mundo? Porque a poliomielite dá em ricos e pobres. Por que o Brasil tem o melhor sistema mundial de atendimento aos portadores de HIV? Porque o vírus não escolhe classe. Se analfabetismo pegasse, não haveria mais analfabetos no Brasil. Se fome pegasse no ar, não haveria fome no Brasil. Mas fome não pega; analfabetismo não pega. Assim, a gente não resolve daqueles que estão condenados a isso.

Aceito assinar, junto com o senhor, o projeto que limita em número de salários mínimos creio que não só o primeiro, mas o último posto também do serviço público. Mas vamos juntos levar adiante esse projeto que nos faz colocar - Vereador, Deputado, Senador, Prefeito, Presidente da República - os filhos na escola pública. Veja que nem tenho coragem - até protegido, porque não é o tema que falo - de dizer que se tem de ir também para um hospital público. Mas deveriam também.

Não é uma República aquela onde existe a escola do eleito e a escola do eleitor. Não é uma República aquela onde existe o hospital do eleito e o hospital do eleitor. Pode até haver roupa do eleito e roupa do eleitor, comida do eleito e comida do eleitor, sapato do eleito e sapato do eleitor. Escola, não. Escola tem de ser a mesma. Assim, a gente quebra essa diferença que existe e resolve na lógica o assunto do fator previdenciário. Até lá, Senador Paim, senhores aposentados e senhoras aposentadas, contem comigo para que a gente derrube aquilo que corrói o salário a que vocês tem direito pelo contrato, como disse muito bem o Senador Geraldo.


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