Discurso durante a 225ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre economia brasileira e a crise financeira internacional. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reflexão sobre economia brasileira e a crise financeira internacional. (como Líder)
Aparteantes
Mário Couto.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/2008 - Página 48214
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, INCAPACIDADE, GOVERNO, ADMINISTRAÇÃO, PAIS, INEFICACIA, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, MELHORIA, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, EDUCAÇÃO, SANEAMENTO, SONEGAÇÃO, POPULAÇÃO, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, AGRAVAÇÃO, DESEMPREGO, REDUÇÃO, RENDA, AUMENTO, MISERIA, POBREZA, INADIMPLENCIA, INFLAÇÃO, RECESSÃO, ECONOMIA NACIONAL, AMPLIAÇÃO, EXPECTATIVA, RIQUEZAS, DESCOBERTA, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, FALTA, ATENÇÃO, NECESSIDADE, SUPERIORIDADE, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, INEXISTENCIA, FINANCIAMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, OMISSÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, REGIÃO AMAZONICA, MANUTENÇÃO, GRILAGEM, DESTRUIÇÃO, TERRAS, TRAFICO, DROGA, AMEAÇA, SOBERANIA NACIONAL, CORRUPÇÃO, ORGÃOS, MEIO AMBIENTE, DESRESPEITO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Pela Liderança. Sem revisão do orador) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Muito obrigado ao nobre Senador Mário Couto pela gentileza de permutar o horário comigo.

Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores,

“Nunca antes na história deste país...”

Presidente Lula e seguidores

O Brasil viveu, nos últimos seis anos, um momento econômico excepcional. Pela primeira vez, desde a crise do petróleo de 1973, pudemos experimentar um período contínuo de estabilidade monetária conjugado com o crescimento acima da média nacional, incremento da renda e da oferta de emprego de qualidade, além de significativa diminuição dos indicadores de pobreza e miséria. Todo esse aspecto positivo foi obtido graças à continuidade da política econômica iniciada ainda no Governo Itamar Franco e consolidada na Era Fernando Henrique Cardoso. No entanto, além de ter feito parcialmente o dever de casa, a exemplo da manutenção da disciplina fiscal e da sustentação da segurança jurídica do que foi pactuado, o Brasil Lula da Silva teve a seu favor o extraordinário desempenho da economia global, o que foi decisivo para que tivéssemos seis anos ininterruptos sem crise, Sr. Presidente.

A prosperidade foi de tal monta que suplantou qualquer desgaste político, por mais ignominioso fosse o escândalo de corrupção nos Correios, o mensalão, o valerioduto, os dólares na cueca, a atuação dos sanguessugas, a fraude das ambulâncias, a queda do Ministro da Fazenda no caso do caseiro Francenildo, o escândalo dos grampos telefônicos, o patrocínio de interesses escusos do Sr. Daniel Dantas dentro do Governo, os US$5 milhões das Farc, a pusilanimidade em relação às agressões e aos prejuízos causados pelos vizinhos da América do Sul. Rigorosamente nada de politicamente negativo alcançou o Presidente Lula, Senador Mário Couto.

         Ao contrário, a bonança proporcionou dividendos de popularidade ao Governo e ao seu primeiro mandatário só comparáveis aos anos JK. Foi um faturamento completo. A cada pesquisa de opinião, o resultado mostrava que não havia limite para a expansão da admiração simpática do brasileiro para com o seu governante. A contaminação foi tal que cansei de assistir a conservadores empedernidos das elites aristocráticas nutrirem uma atividade sustentável até pelo português ruim do Presidente. Muito afetivo. Mas o sonho acabou. A crise financeira internacional, tratada a princípio pelo Governo Lula como meio de deboche e desdém, começa a corroer o Brasil e ninguém é capaz de prever a sua extensão.

Durante o período de crescimento econômico, o Governo Lula fez o País acreditar que tudo de bom que acontecia ao Brasil era fruto da dadivosa administração petista. O “nunca antes na história desse País” foi uma expressão introdutória para identificar políticas de inclusão social revolucionárias, obras monumentais, além de ter no PAC símbolo de um desenvolvimento ambicioso, previsto para durar décadas e capaz de nos aportar no primeiro mundo em questão de menos de uma geração. Houve uma profusão incomensurável de PACs e seus efeitos extraordinários. O PAC da saúde, o PAC da segurança pública, o PAC da educação, o PAC do saneamento, e por aí vai.

O Governo do PT, é verdade, tem conseguido, com impressionante desfaçatez midiática, sonegar dos brasileiros os efeitos da crise, mas sabemos que o otimismo simulado que o poder central transfere ao País está perdendo espaço para a realidade. Essa conversa da solidez dos fundamentos macroeconômicos, da rigidez do sistema bancário e das extraordinárias reservas monetárias não nos ilude mais. O Brasil precisa se preparar para momentos de escassez, quando haverá desemprego, queda de renda, aumento da pobreza, inadimplência generalizada, grandes conglomerados empresariais indo à bancarrota e até recessão econômica, provavelmente combinada com inflação em alta. É uma volta à realidade a que nos acostumamos por décadas a fio. O brasileiro vai descobrir, por exemplo, que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento acabaram em um atoleiro de máquinas paradas. Haverá uma percepção de que os megaempreendimentos de infra-estrutura, como a transposição do rio São Francisco, a Ferrovia Norte-Sul e a Transnordestina, as usinas nucleares, as hidrelétricas, os investimentos em rodovias, o programa de recuperação do sistema portuário, enfim, a construção de sistema revolucionário de saneamento básico e habitação popular e a urbanização de favelas, para ficar por aqui, eram apenas promessas que só se desenvolviam na capacidade de imaginação do Governo. Era obra de monumental engodo.

Srªs e Srs. Senadores, da mesma forma que a administração do PT vendeu a idéia de que tudo de bom que ocorreu ao Brasil nasceu, cresceu e frutificou na era Lula, agora vai tributar o fracasso à crise financeira mundial. Politicamente, o Governo se prepara para se apoiar em estratégia escapista. Aliás, é característica fundamental do petismo transferir responsabilidades e jamais admitir seus equívocos. Não se trata de fazer política da terra arrasada e apostar no derretimento da economia brasileira para se obter vantagem eleitoral. Agora, não podemos admitir, por exemplo, que o fracasso do PAC seja atribuído a qualquer motivação alheia à incapacidade gerencial do Governo. É preciso dizer que a administração petista anunciou, ainda em 2003, um programa de recuperação e implantação de infra-estrutura que não saiu do papel nos primeiros quatro anos da gestão Lula, e só em 2007 conseguiu ser formalizado. Foi uma época de inesgotável demagogia, quando se inaugurava o lançamento de pedra-fundamental como se fosse obra acabada. Perderam tempo precioso e, principalmente, jogaram fora uma época de oportunidade proporcionada pela expansão econômica mundial.

O que quero concluir é que o período de prosperidade dos últimos seis anos foi saudável ao Brasil, mas não nos transformou em gigante econômico capaz de atuar como protagonista no cenário mundial e tampouco teve o condão de superar as condicionantes que nos amarram ao terceiro mundo, conforme o Governo anunciava sistematicamente. De igual forma, a crise econômica não nos levará ao limbo, como a hecatombe que destruiu subitamente a dadivosa e monumental obra nunca antes vista neste País. Vamos sobreviver à crise, especialmente porque o Brasil vai voltar a pisar em terra firme, se confrontar com a realidade e perceber que a oratória confortante de um presidente popular não é suficiente para que uma nação vença os desafios.

Neste retorno ao Brasil real, vamos entender, por exemplo, que são uma expectativa de riqueza extraordinária as descobertas de petróleo do pré-sal, mas que para se confirmar será preciso desenvolvimento tecnológico e investimentos pesados, recursos de que o País não dispõe no momento e que não terá, considerando-se a escassez de financiamento externo.

Vamos perceber que os problemas da Amazônia que o Governo resolveu por decreto logo depois do assassinato da irmã Dorothy Stang permanecem intactos. A grilagem de terras, a pistolagem, a biopirataria, a devastação da cobertura vegetal, o tráfico de drogas, as ameaças à soberania nacional, a corrupção dos órgãos ambientais são algo muito distinto daquela Amazônia feliz e sustentável que o Governo incutiu na cabeça do brasileiro. A crise, com certeza, vai nos trazer de volta à consciência do desastre do sistema educacional brasileiro e fazer o País acreditar que toda prosperidade será ilusória enquanto não houver ensino de qualidade. O Enem 2008 está aí para comprovar nosso desempenho abaixo da mediocridade. Com a crise, vamos voltar a pisar na realidade e reconhecer mais de 50 mil corpos estendidos no chão, por ano, vitimados de homicídio. Neste retorno, ficará patente o engodo do PAC da segurança com os penduricalhos falsamente cidadãos.

O Brasil real, Sr. Líder da Minoria, vai também notar que a crise é fruto da nossa incapacidade de gerar conhecimento em razão do desprezo que este Governo possui por pesquisa e desenvolvimento.

O mesmo País, quando acordar, observará que continua correndo esgoto a céu aberto na porta da sua casa e que era mera propaganda o investimento revolucionário em saneamento do PAC mentiroso.

Por fim, Sr. Presidente, a crise vai permitir um auto-reconhecimento de um País de rodovias intransitáveis, de impostos extorsivos, de governos perdulários, incompetentes e corruptos. Um Brasil de baixíssima capacidade de inovação tecnológica, de uma burocracia gigantesca que corrói a sua condição de competitividade, enquanto, em pleno século XXI, suas crianças ainda morrem de diarréia e desnutrição.

A crise vai fazer o Brasil se voltar à realidade.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Permite V. Exª um aparte, Senador Demóstenes Torres?

O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Concedo a V. Exª o aparte.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senador, não poderia deixar de aparteá-lo diante de um belo discurso, de um belo pronunciamento. Gostaria de tê-lo. Peço que a assessoria de V. Exª me forneça uma cópia desse pronunciamento de hoje à tarde, que vai ficar em minha memória. Gostaria também de acrescentar que temos uma BR. Às vezes fico pensando, Senador: como é que se acredita tanto em um governo com tanta corrupção? O 80º país mais corrupto do mundo, na atualidade. Perde para poucos países, Senador Demóstenes. O País tem a maior taxa de homicídios do mundo. É o país em que vivemos hoje. Essa é a nossa grande realidade. Um PAC que não começa a funcionar nem nas licitações, porque já estão todas corrompidas. Quanto à BR-163, que liga Santarém - uma cidade do Pará, minha querida Santarém, que tanto precisa dessa estrada - até Cuiabá, no Mato Grosso, três licitações foram canceladas pelo Tribunal de Contas da União por intenções de corrupção. Horrível. O País não funciona. A corrupção não deixa o País funcionar, Senador. Não deixa. O seu pronunciamento foi cristalino, de uma lucidez impressionante. Quero parabenizá-lo e dizer que V. Exª foi muito feliz no pronunciamento que faz hoje à tarde. Vou guardar, para que, daqui a alguns dias, eu possa ler seu pronunciamento nesta tribuna.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Muito obrigado.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Tenho certeza de que V. Exª está com toda a razão. Meus parabéns.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Muito obrigado, Líder. Agradeço ao Líder Mário Couto. Temos de reconhecer, nosso Líder, Sr. Presidente, infelizmente o povo foi enganado pela propaganda, e, agora, a crise que não existia pode ser o pretexto para justificarem o fracasso e dizerem que não foram adiante na bela ilusão que se criou no Brasil porque a crise impediu.

E a crise, finalmente, Sr. Presidente, vai fazer o Brasil voltar-se à realidade e sepultar as belas mentiras de um tempo que foi próspero, mas, ao mesmo tempo, desperdiçado, a se considerarem as perdas de oportunidade provocadas por um Governo falacioso, incompetente e corrupto.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/2008 - Página 48214