Discurso durante a 228ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração da quarta Semana do Senado Federal de Acessibilidade e Valorização da Pessoa com Deficiência.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. HOMENAGEM.:
  • Comemoração da quarta Semana do Senado Federal de Acessibilidade e Valorização da Pessoa com Deficiência.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2008 - Página 48924
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, COMENTARIO, EXPERIENCIA, VULTO HISTORICO, COMPOSITOR, MUSICA ERUDITA, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, EMPENHO, FRANKLIN DELANO ROOSEVELT, EX PRESIDENTE, PAIS INDUSTRIALIZADO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMBATE, RECESSÃO, NAZISMO, ELOGIO, ATUAÇÃO, ATLETAS, BRASIL, OLIMPIADAS, PESSOA DEFICIENTE.
  • SAUDAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, COMEMORAÇÃO, SEMANA, SENADO, ACESSO, VALORIZAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, LEITURA, OBRA LITERARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Garibaldi, distintas autoridades representativas que nos honram com suas presenças, senhoras e senhores, hoje é um desses momentos em que esta Casa interpreta um grande sentimento da sociedade brasileira. Hoje é um desses momentos em que não somos nós que estamos homenageando os ilustres representantes das organizações que tratam das pessoas com deficiência, são os senhores vindo aqui que nos dão a honra de recebê-los, que nos dão uma aula, uma demonstração de civismo, de grandeza, de beleza, que mostram que este nosso País tem histórias magníficas.

Lamentavelmente, nós temos uma fobia no Brasil pela notícia negativa. Nós não publicamos as manifestações, as realizações, as entidades extraordinárias, com exemplos monumentais de grandeza e de superação dos obstáculos da vida.

Hoje, aqui no Senado, e por meio da TV Senado, as pessoas que nos assistem no Brasil inteiro, estão a entender e a compreender que neste País nós temos uma infinidade de gente que, atingidas pela fatalidade, dão uma magnífica demonstração de resistência, de luta e de superação. E a história da humanidade está a demonstrar que muitas vezes, assim como Beethoven, surdo, compôs a sua sinfonia mais espetacular - até hoje eu fico a me perguntar: mas como é possível, surdo compor; como foi possível Beethoven compor a Nona Sinfonia? Exemplos como este nós temos pelo Brasil e pelo mundo. Foi dito aqui e foi muito bem dito: o Presidente Roosevelt, reeleito várias vezes Presidente da República, inválido, numa cadeira de rodas, derrotou quem parecia impossível, o Hitler, e comandou os aliados na sua resistência e na conquista da sua vitória, começando na hora mais trágica dos Estados Unidos, a recessão de 1929, e transformando aquela nação que praticamente caía no abismo na maior nação do mundo.

Os jogos Paraolímpicos mostraram que exatamente esses deficientes mostram que o Brasil é uma nação importante, disputando os primeiros lugares, o que não acontece nos jogos normais.

Creio que essas entidades são tão intensas e tão vastas...

Eu me formei no ginásio e, depois, na faculdade de Direito com meu colega Valquírio Bertoldo, o primeiro advogado cego do Brasil. Ele era o nosso mascote, o nosso ídolo. Era impressionante a sua capacidade, a genialidade com que ele, com o braille, é verdade, mas muito mais do que com o braille, com o seu cérebro, com a sua memória que captava tudo, tinha as melhores notas. Ele tinha a maior compenetração. Formado advogado, meu colega de escritório, a primeira causa que ele pegou, em 1959 ou 1960, foi a das vítimas da talidomida. Um grande número de crianças, cujas mães usaram o pseudo-remédio, que nasceram com uma infinidade de deficiências. Ele, cego, obteve uma vitória espetacular. Foi lutando, lutando contra um laboratório de uma multinacional que tinha certeza que jamais perderia a ação, e ganhou, saindo-se vitorioso até no Supremo Tribunal Federal, inclusive em nível internacional. Que reunião magnífica, que emoção quando deficientes e mães do Brasil inteiro prestaram uma homenagem àquele jurista, cego, que, no entanto, tinha sido um grande advogado.

         Hoje é uma aula para este País. Em primeiro lugar, para os nossos órgãos de divulgação. Sou uma pessoa doente por não entender por que a imprensa nacional tem uma paixão pela má notícia e não mostra, ao lado disso, tantas e tantas histórias fantásticas que podem servir de exemplo de grandeza para o Brasil e para o mundo.

Quando o Papa esteve no Brasil, ele foi a uma cidade do interior de São Paulo conhecer uma colônia da Igreja voltada para dependentes de drogas. Ele saiu de Roma e veio conhecer o que o mundo inteiro admira. Foi com sua ida que a imprensa falou, pela primeira vez, daquela colônia em que milhares de crianças já foram salvas pela abnegação e pela dedicação de grande número de brasileiros.

Não, meus irmãos, a história do mundo nos mostra que grandes e fantásticos avanços são conseguidos exatamente por pessoas que podem ter uma deficiência mas se superam e, se superando, vão adiante.

Lembro-me do velho Teotônio Villela, numa cadeira de rodas, no final de sua vida: quatro cânceres, duas bengalas e arrastando-se pelo Brasil. Falando, na Assembléia do Rio Grande do Sul, a milhares e milhares de jovens, ele botava as bengalas em cima da mesa, carregado por nós até a tribuna - lá também não há, meu companheiro Mesquita, acesso à tribuna -, ele mostrava as bengalas e dizia: Eu falo a vocês, jovens, vocês que têm dois olhos para ver, que têm os pés para caminhar, as mãos para dirigir, a vocês que têm a plenitude da vida. Eu os convoco nessa caminhada pela democracia e pela liberdade.

Sim, eu creio que os senhores, meus irmãos, estão fazendo esta convocação. Primeiro a nós, que, às vezes, temos olhos, mas não enxergamos o que é, e sim o que queremos ver; que temos ouvidos, mas não escutamos o sentimento da amargura nas ruas, mas o que queremos ouvir; que temos boca, mas não falamos uma palavra de carinho e de conselho ao nosso irmão que precisa.

Por isso, meus irmãos, venho aqui trazer um agradecimento. Para mim, todos os anos, quando compareço a esta reunião, é uma aula que recebo. É um choque no meu sentimento, na minha vaidade, que me diz: Olhe para o lado. Olhe o que você pode fazer. Olhe para as pessoas que estão aí, com exemplos fantásticos de superação, e olhe para o que falta e para aquilo que você podia fazer e não faz!

Leio e repito isto dezenas de vezes ao longo da minha vida. É anônimo e diz o seguinte:

Ninguém é tão forte que nunca tenha chorado.

Ninguém é tão fraco que nunca tenha vencido.

Ninguém é tão auto-suficiente que nunca tenha ajudado.

Ninguém é tão inválido que nunca tenha contribuído.

Ninguém é tão sábio que nunca tenha errado.

Ninguém é tão errado que nunca tenha acertado.

Ninguém é tão corajoso que nunca teve medo.

Ninguém é tão medroso que nunca teve coragem.

Conclusão: ninguém é tão alguém que nunca precisou de ninguém.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2008 - Página 48924