Discurso durante a 228ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração da quarta Semana do Senado Federal de Acessibilidade e Valorização da Pessoa com Deficiência.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração da quarta Semana do Senado Federal de Acessibilidade e Valorização da Pessoa com Deficiência.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2008 - Página 48938
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), NUMERO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, BRASIL, COMENTARIO, LUTA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO, BUSCA, INTEGRAÇÃO SOCIAL.
  • ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, FUTEBOL, LUTA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO, HOMENAGEM, ATUAÇÃO, ATLETAS, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, OLIMPIADAS, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA.
  • CONGRATULAÇÕES, TRABALHO, DESENHISTA, RESPONSAVEL, CRIAÇÃO, MANUAL, RESPEITO, VALORIZAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, poucas coisas são mais odiosas, mais perniciosas, mais nefastas do que o preconceito!

Filho dileto da ignorância, o preconceito leva os seres humanos a rotular seus semelhantes, a catalogá-los como “diferentes”, “anormais”, “inferiores”. O passo seguinte é a discriminação, a segregação, a exclusão. A partir disso, os grupamentos sociais ficam divididos entre os “bons” e os “maus”, os “superiores” e os “inferiores”, os que “têm direitos” e aqueles que “nada merecem”, como se fosse possível assim classificar a pessoa humana, enquadrá-la em rígidas e simplistas categorias.

Essa irracional postura de rejeição ao “outro”, àquele que não compartilha das minhas características pode ser endereçada ao estrangeiro que não fala a minha língua e tem costumes “bárbaros”; ou àquele que pertence a outra etnia, e, portanto, pressuponho que seja menos dotado, intelectual ou fisicamente; ou, ainda, aos integrantes de determinada categoria profissional, a quem, conjuntamente, atribuo determinado padrão de má-conduta. Pode até mesmo ser endereçada aos oriundos de determinada região do País, nos quais penso enxergar, generalizadamente, desvios de caráter.

E o preconceito pode, também, ser dirigido àqueles que apresentam alguma deficiência, que são portadores de necessidades especiais.

Nesse caso, parece que regredimos a uma postura infantil, irrealista, de querermos que o mundo corresponda a nossas fantasias de contos de fadas, um lugar onde não exista espaço para a diferença, para qualquer imperfeição, onde todos deveriam ser jovens, possuírem intelecto e condição física privilegiados, e todos os órgãos dos sentidos perfeitamente aguçados.

Por que será, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que nos sentimos tão ameaçados, tão perturbados pela diversidade ou mesmo pela imperfeição? Será porque ela nos põe em contato com a nossa própria imperfeição, lembra-nos de que nós mesmos não nos enquadramos no figurino do conto de fadas?

Hoje, iniciamos um importante debate que se estenderá ao longo desta Quarta Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência.

Segundo o último censo do IBGE, cerca de 14,5% da população brasileira tem alguma forma de deficiência (que pode ser física, mental, auditiva, visual ou múltipla, quando associada mais de uma delas). Isso significa que 24,5 milhões de brasileiros possuem necessidades especiais, mas as dificuldades que carregam não os impedem de continuar lutando. Cerca de 9 milhões de brasileiros nessas condições, por exemplo, estão trabalhando e compondo a força de trabalho do País.

Historicamente, os portadores de necessidades especiais têm sido alvo de tremenda carga preconceituosa, vistos como absolutamente incapazes, condenados à eterna dependência, às vezes afastados do convívio social pelos próprios pais e parentes, que se envergonhavam de ter um deficiente na família.

Felizmente, significativas mudanças têm sido observadas nesse quadro de uns anos para cá. Isso, graças aos avanços da medicina, da ciência, da sociedade e sobretudo da força de vontade de cada um desses cidadãos, que lutam diariamente para terem garantidos os seus direitos e a possibilidade de buscar espaço sem discriminação.

Atualmente, a família também tem uma grande importância. Graças a nova postura de muitos pais, que estimulam os seus filhos e acreditam na sua capacidade, educando-os para a independência e incentivando o desenvolvimento de suas potencialidades, e graças também ao esforço dos próprios portadores de necessidades especiais, que, com muita luta, têm mostrado a capacidade de superar seus limites, provando que podem estudar, praticar esportes, realizar atividades artísticas e inserir-se no mercado de trabalho.

Em 2005 tivemos um belo exemplo por meio do ex-jogador Romário. Na partida em que se despedia da Seleção Brasileira de futebol, ao comemorar seu último gol, Romário emocionou o País inteiro ao exibir uma camiseta com a frase: “Tenho uma filhinha Down que é uma princesinha”. Ao assumir com orgulho uma filha com deficiência, o atleta teve um gesto digno, bonito e corajoso. Afinal, sabe-se que ainda persiste, entre alguns pais, a tendência de sentir vergonha, de esconder aquilo que percebem como um “problema”. Na sua posição de figura pública de grande notoriedade, o ídolo do futebol deu, assim, uma importante contribuição à luta contra o preconceito.

Várias figuras de destaque da nossa sociedade que têm filhos ou outros parentes com necessidades especiais vêm dando, também, uma importante contribuição na luta contra o preconceito.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de, neste momento fazer também uma homenagem aos atletas paraolímpicos brasileiros, que participaram dos Jogos de Pequim.

Meu elogio começa pelos números e recordes dos atletas brasileiros: nossa equipe terminou a competição em nono lugar na classificação geral, em um total de 147 países, à frente de tradicionais e ricas potências esportivas como Alemanha, França e Japão. Um verdadeiro resultado de ouro desses atletas!

Números e recordes à parte, o importante é destacar a vitória pessoal de cada um desses atletas, medalhistas ou não. Os atletas paraolímpicos, assim como a grande maioria dos portadores de necessidades especiais, são modelos de superação e de vontade de viver. Mostram que são especiais não pelas limitações físicas, mas pela determinação que carregam consigo. Não se abatem ante as dificuldades - além das dificuldades físicas, muitos enfrentam a sina do preconceito e do descaso social.

Mesmo assim, continuam lutando! E nos dando em belo exemplo de vida.

Finalizando, eu gostaria de elogiar também o célebre desenhista Maurício de Souza, o “pai” da Mônica e do Cebolinha, que de forma brilhante criou dois personagens: a Dorinha, deficiente visual, e o Luca, que brinca, estuda e se diverte utilizando uma cadeira de rodas. Estes dois novos integrantes da Turma da Mônica aproximam a realidade dos deficientes de todas as crianças brasileiras, ajudando a acabar com todo o tipo de preconceito.

Aliás, nós adultos temos muito que aprender ou reaprender com as crianças sobre amizade, sobre tolerância e sobre ajudar o próximo.

Aos portadores de necessidades especiais uma última mensagem: jamais deixem de acreditar no potencial de cada um de vocês!

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2008 - Página 48938