Discurso durante a 228ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa em favor dos aposentados e pensionistas. Homenagem ao Monsenhor Walfredo Gurgel, falecido há 37 anos.

Autor
Rosalba Ciarlini (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: Rosalba Ciarlini Rosado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL. CALAMIDADE PUBLICA. HOMENAGEM.:
  • Defesa em favor dos aposentados e pensionistas. Homenagem ao Monsenhor Walfredo Gurgel, falecido há 37 anos.
Aparteantes
Raimundo Colombo.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2008 - Página 49082
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. CALAMIDADE PUBLICA. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, APOSENTADO, BRASIL, REGISTRO, BUSCA, APROVAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO PAIM, SENADOR, RECUPERAÇÃO, VALOR, APOSENTADORIA, VINCULAÇÃO, BENEFICIO PREVIDENCIARIO, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA.
  • SOLICITAÇÃO, COMPROMISSO, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, REITERAÇÃO, EMPENHO, ORADOR, LUTA, DEFESA, APOSENTADO.
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), VITIMA, DESABAMENTO, INUNDAÇÃO, EXCESSO, CHUVA, REGIÃO.
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, WALFREDO GURGEL, SACERDOTE, EX SENADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), COMENTARIO, BIOGRAFIA, ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, EMPENHO, AREA, SAUDE, EDUCAÇÃO, INFRAESTRUTURA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, LEITURA, DISCURSO, POSSE, GOVERNADOR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srª Deputada que aqui chega também para estar ao nosso lado, trazendo a força da mulher gaúcha. Interessante, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. Estamos aqui unidas para, mais uma vez, fazermos essa vigília.

Quando o Senador Paim começou todo esse movimento, não agora, mas há anos - e já foram tantos anos, Senador Paim, que não lembramos mais, já perdemos a conta dessa luta em favor dos aposentados -, foi uma das bandeiras que decidi empunhar ao chegar ao Senado, eleita para esse mandato, somando-me a essa força do Senador Paim e de tantos outros que aqui se encontram, como o Senador Mário Couto, o Senador Raimundo Colombo, o Senador João Pedro, o Senador Pedro Simon, o Senador Zambiasi, o nosso Presidente, Senador Garibaldi e tantos que aqui estão em defesa dos aposentados, da injustiça que acontece com homens e mulheres que, durante toda a sua vida, contribuíram.

Não são aposentadorias que simplesmente chegaram caídas do céu. Não! Vocês passaram a vida toda contribuindo. A cada mês do seu salário era descontado, para que pudessem, na hora que mais precisassem, quando as suas forças já não permitissem mais continuar naquela luta do dia-a-dia, pudessem ficar em casa com tranqüilidade, com a sua família, com dignidade.

Mas, infelizmente, não é isso que está acontecendo. Infelizmente, aqueles que se aposentaram com três salários mínimos, o que não é tanto, o que ainda é pouco para as despesas do dia-a-dia de uma família, começou a sentir que aquilo que ele pensou, durante tantos anos contribuindo, não ia acontecer. Tem um ali fazendo sinal de que foram cinco salários. Outros com seis, outros com nove, com dez, mas contribuíram para isso. Quem teria que receber por três salários, contribuiu para três; por cinco, contribuiu para cinco, pagou, porque foi retirado do seu salário durante toda uma existência.

Aí vocês se aposentaram, mas começaram a ver planos aqui, planos ali, mudanças aqui, mudanças ali. O que foi acontecendo? A aposentadoria foi diminuindo, foi diminuindo... Outros custos não diminuíam, mas o aposentado era sempre o sacrificado.

Quando se fala em alguma crise no Brasil, fala-se logo na Previdência. Nós estamos aqui querendo que uma lei, aprovada por unanimidade nesta Casa, seja cumprida, no sentido de repor essas perdas salariais provenientes de tantos planos econômicos, de dar o direito ao aposentado de ter um reajuste nos moldes do que é feito para o salário mínimo, para que não haja essa compressão dos seus salários.

Quando lutamos aqui para que o fator previdenciário caia, o fator que reduz as aposentadorias, precisamos trazer pessoas que deveriam estar, pela sua idade, pela sua própria condição de saúde, que deveriam estar no seu descanso, mas que aqui vêm, Senador Paim, para acompanhar esta nossa movimentação, esta nossa vigília, durante toda uma noite. Foi assim na primeira vigília.

Impressionante, Senador João Pedro, é a quantidade de registros que nos chegam por carta, por telegramas, por telefonemas, por e-mails. Por onde caminhamos - e venho do meu Estado -, por onde passei, em várias cidades, sempre chegava alguém perto de mim para dizer: “Senadora, obrigada por estar ao nosso lado”. Cada um tinha uma história de vida para contar que nos deixava realmente sensibilizados, traumatizados. De uma certa forma, Senador Paim, deixa-nos assim: Meu Deus, será que não vamos conseguir? Não podemos desistir! E a sensibilidade do Governo? Onde está o Governo, que tem programas sociais tão importantes? Ele vai deixar os aposentados na hora em que eles mais precisam, que têm despesas com remédios, com uma alimentação melhor? Muitos chegam a uma situação dessa! Estamos aqui exatamente para que o Brasil, que nos assiste e nos acompanha, veja que não estamos de braços cruzados, deixando as coisas acontecerem. Estamos aqui nos somando, acompanhando o Senador Paim, que começou toda essa luta, porque sabemos que isso é fazer justiça ao trabalhador brasileiro. Não somente aos que estão aposentados, mas ao trabalhador brasileiro que hoje continua contribuindo e, daqui a alguns anos, poderá ser ele que esteja aqui sentado, esperando uma solução do Governo. (Palmas.)

Então, faço aqui, mais uma vez, o nosso apelo ao Governo Federal - concedo já o seu aparte -, ao Presidente Lula, vamos fazer com que o aposentado brasileiro seja tratado com justiça, seja tratado realmente com respeito, seja tratado com o reconhecimento devido a homens e mulheres que, durante toda uma vida, contribuíram para fazer este País grande, este País forte, este País que todos nós amamos.

Concedo o aparte ao Senador Raimundo Colombo, de Santa Catarina.

Quero, inclusive, Senador, mais uma vez, levar a minha solidariedade, uma palavra de conforto aos milhares, a todos os catarinenses, porque mesmo aqueles que não foram atingidos estão sofrendo pelas dificuldades enfrentadas no seu Estado.

Sei que V. Exª tem tido uma preocupação maior, um pensamento maior. Quero dizer a Santa Catarina o quanto o Senador Raimundo Colombo tem passado para todos nós essa preocupação, essa dor, essa vontade, meu Deus, de que possa, de repente, parar de acontecer tanto sofrimento em sua terra.

O Sr. Raimundo Colombo (DEM - SC) - Agradeço a V. Exª em nome do povo de Santa Catarina. Realmente, tem sido muito difícil a situação lá. Amanhã, farei um pronunciamento trazendo todas as informações, mas realmente vivemos um quadro desafiador, muito difícil, com muitas perdas humanas e materiais. Esta última vamos conseguir recuperar. É importante que o posicionamento de V. Exª, de todo o Senado, de todos os Partidos, de cada um dos Srs. Senadores e das Srªs Senadoras. Vamos precisar muito, porque a reconstrução leva um longo e sofrido tempo. Agora, temos a atenção de todo o País, de todo o mundo. As pessoas estão sensibilizadas, mas, depois, a tendência é isso ir se enfraquecendo e os problemas continuarem. Por isso, vamos precisar muito do apoio até para liberar os recursos que são necessários para a reconstrução. Senadora Rosalba, eu prestava bastante atenção ao seu pronunciamento, e a cumprimento, porque realmente ele expressa de forma muito clara a realidade. Cumprimento o Senador Paulo Paim pela coragem e perseverança, porque S. Exª tem demonstrado isso a todos nós. Virou um símbolo dessa luta. Para nós, S. Exª simboliza esse trabalho contra a injustiça. Todos encontram uma razão, quando estão no Governo, para dizer que não é possível. Lá atrás, quando se estendeu a aposentadoria para todos, inclusive para aqueles que não contribuíram, acho que essa foi uma medida justa, adequada, mas aplicada de forma errada, porque não poderia ser paga a aposentadoria deles pela Previdência e, sim, por um programa social do Governo, porque de fato era um programa social do Governo conceder a aposentadoria a todos aqueles que atingem a idade, mesmo que não tenham contribuído. Mas o fundo é um fundo, ele não pode fazer a ação social do Governo - isso, parece-me, foi lá no Governo João Figueiredo. E aí começou o desequilíbrio do sistema. O meu pai aposentou-se com dez salários mínimos e, agora, recebe pouco mais de dois. Ele tem 85 anos, e isso ocorre justamente quando tem mais carência em relação a remédios, e toda a situação. Ele tem de oferecer um lazer, tem de manter o padrão de vida dele. Se dependesse exclusivamente disso, ele hoje não teria condições. Então, acho que é um processo de injustiça muito forte que precisa ser derrubado, eliminado e, por isso, esta vigília. A ação que está sendo feita por todos os Senadores, especialmente por Paulo Paim e por todos que estão aqui, tem todo um sentido. Quero me solidarizar com ela e me comprometer a dar continuidade, a dar curso não apenas nas palavras, porque já teve gente aqui que fez muitos discursos quando estava na oposição, mas agora que está no Governo muda totalmente de lado. Acho que isso não pode continuar. (Palmas.) Ou no Governo, ou na Oposição, nós temos de ser claros. Isso é uma injustiça. Acho que o Brasil precisa ter vergonha dessa realidade e corrigir isso porque não tem sentido continuar assim. Parabenizo V. Exª, e vamos continuar a luta!

A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Obrigada, Senador Colombo.

Eu gostaria agora, Sr. Presidente, se V. Exª me permitir, de prestar uma homenagem a um grande brasileiro, natural da cidade de Caicó, no nosso querido Rio Grande do Norte, infelizmente falecido já há 37 anos. Refiro-me ao Monsenhor Walfredo Gurgel, ex-Deputado Constituinte, ex-Senador da República, ex-Governador de Estado, cujo centenário de nascimento é comemorado em 2 de dezembro. Hoje é o seu centenário de nascimento.

Cem anos depois do nascimento, a história do Monsenhor Walfredo Gurgel está sendo relembrada não apenas como político ou religioso. A trajetória desse caicoense está sendo mostrada às novas gerações como exemplo de coragem, determinação e fé.

Vocacionado para o sacerdócio, o menino Walfredo sentia que a realização de seu sonho era cada vez mais difícil. Órfão de pai, o menino de 10 anos vendia frutas para ajudar no sustento da família. Era uma vida muito dura, mas, em nenhum momento, ele esmoreceu e, aos 26 anos, pela generosidade de Dom José Pereira Alves, Bispo Diocesano de Caicó, conseguiu ingressar no Seminário São Pedro. De lá, a vida religiosa seguiu até Roma, onde cursou Filosofia e Teologia.

Voltando ao Brasil, Monsenhor Walfredo Gurgel não se preocupou apenas com a fé dos cristãos. Preocupado com a educação dos jovens do Seridó, batalhou pela construção de uma escola de primeiro grau e viu nasceu o Ginásio Diocesano.

Líder, era natural que um dia, mais cedo ou mais tarde, ele ingressasse na vida política. Convidado por Georgino Avelino, foi para o Partido Social Democrata. Nessa legenda, conseguiu se eleger Deputado Federal na Constituinte, ao lado de Dioclécio Duarte, José Varela e Mota Neto.

Continuando sua carreira política, Walfredo Gurgel conseguiu se eleger Vice-Governador do Estado, com Aluísio Alves, Governador. Presidiu nessa função a Assembléia Legislativa Estadual. Não chegou a concluir o seu mandato porque, após outra vitória nas urnas, chegou ao Senado da República, com grande votação.

Em todo o Estado potiguar e, é claro, em Caicó, lá no Seridó, abençoado por Sant’Ana, está havendo extensa programação comemorativa, da qual constam sessão solene na Câmara Municipal, exposição fotográfica, missa em ação de graças na Catedral de Sant’Ana, seminário e lançamento de selo postal.

Todas essas homenagens, Sr. Presidente, são mais do que justas. Em tempo de intensa animosidade, em que as divergências de pensamento geram rusgas insanáveis, às vezes descambando para inimizades e perseguições, a postura do Monsenhor Walfredo Gurgel é inspiradora.

Em meu Estado, Srªs e Srs. Senadores, já vivemos dias difíceis, com a vida política trespassada pelo ódio, com intensa virulência e ataques descabidos. Essa nunca foi a conduta do ex-Governador. Como fruto da sua superior formação cristã e de sua ascendência humilde e laboriosa, Monsenhor Walfredo Gurgel sempre soube enxergar a possibilidade de convergência onde antes parecia preponderar a cizânia. No discurso de posse no Governo do Estado do Rio Grande do Norte, deu o tom de como se portaria na vida política na condição de primeiro magistrado estadual: “Sou homem que pretende governar com a simplicidade da minha formação e do meu temperamento. Desejo e espero o convívio cordial de todos os que me cercam e a todos darei o exemplo de tolerância e de compreensão”.

Seu mandato foi marcado pelo cuidado com o setor agrícola e pela expansão do Banco do Rio Grande do Norte, além de inúmeras obras físicas, sobretudo estradas e a ponte rodoferroviária de Igapó. Mas o que hoje chamamos área social não foi esquecida. Com efeito, a Biblioteca Câmara Cascudo constitui obra de sua administração, bem como os vários colégios erguidos em localidades carentes e, na área da saúde pública, a construção do grande hospital que hoje leva seu nome.

Porém, nos dias em que predomina o fausto e a ostentação, outro exemplo pode advir da conduta sempre irrepreensível do Monsenhor Walfredo Gurgel. A austeridade foi uma das marcas de sua administração. E, no plano mais pessoal, de forma educada, mas firme, declinava dos convites não-oficiais e dos regalos, impunha-se uma disciplina férrea, conduzindo o seu próprio carro e dispensando quaisquer mordomias.

Penso, Srªs e Srs. Senadores, que a lição que ficará dessa inesquecível figura pública, a sua grande contribuição é justamente a franca disposição para o debate e o entendimento, sem rancores, sem violência, sem perseguições, ainda que em nenhuma ocasião tenha cogitado da hipótese de transigir com oportunismos de qualquer ordem.

Recorro, mais uma vez, ao seu discurso de posse, verdadeiro guia para que compreendamos a estatura moral e política de um homem íntegro até a medula:

Não procurarei adversários. Não buscarei adesões. Não transacionarei apoio. Mas não recusarei ajuda nobre e espontânea à administração que estou iniciando, porque não tenho o direito de repelir aqueles que se disponham a trabalhar pelo Rio Grande do Norte. Não perseguirei adversários. Não procurarei ferir ninguém. Numa palavra: desejo que haja respeito ao governo, e o governo respeitará a todos, aliados ou adversários.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tais palavras seriam assinadas por qualquer grande estadista, em qualquer momento da história.

Finalizando, gostaria de mencionar o cortejo que seguiu o féretro do ex-Governador. Vitimado abruptamente por um câncer, o operoso Monsenhor Walfredo Gurgel veio a falecer, nos idos de 1971, na capital do Estado. Se a morte de um homem diz algo sobre sua vida, o carinho e a solidariedade popular diante do inevitável dizem ainda mais. Os registros dos biógrafos e da imprensa da época acusam a participação de dezenas de milhares de populares, todos à espera da oportunidade de, pela derradeira vez, contemplarem um homem que - intuíam - a eles devotou sua vida.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.

Quero aqui, na Casa que já recebeu o Monsenhor Walfredo Gurgel, esse homem digno e justo, inspirar-me na sua figura ilustre, na personalidade marcante do meu Estado, para, mais uma vez, dizer aos aposentados do meu País que estou nessa luta, que não irei, de forma nenhuma, arredar um milímetro da determinação de insistir, persistir e jamais desistir. O direito é de vocês, trabalhadores. Vocês merecem justiça!

Muito obrigada. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2008 - Página 49082