Discurso durante a 228ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solidariedade à luta dos aposentados e pensionistas.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Solidariedade à luta dos aposentados e pensionistas.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2008 - Página 49112
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, SERVIDOR, EMPENHO, TRABALHO, AUXILIO, MOBILIZAÇÃO, SENADO, DEFESA, APOSENTADO, MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ORADOR, LUTA, PAULO PAIM, SENADOR.
  • IMPORTANCIA, CONTINUAÇÃO, LUTA, POSTERIORIDADE, APROVAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, SANÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO PAIM, SENADOR, PAGAMENTO, DIVIDA, BENEFICIO PREVIDENCIARIO, DEFESA, ORADOR, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, MODELO ECONOMICO, BRASIL, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, APERFEIÇOAMENTO, SISTEMA NACIONAL DE SAUDE, DESENVOLVIMENTO, REDE DE ENERGIA, RESPEITO, MEIO AMBIENTE, GARANTIA, DIREITOS, EDUCAÇÃO, INFANCIA, JUVENTUDE.
  • CONTESTAÇÃO, FALTA, QUESTIONAMENTO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ORIGEM, RECURSOS, DESTINAÇÃO, BANCOS, PERIODO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, MANUTENÇÃO, FINANCIAMENTO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, TECNICO ESPORTIVO, CONFERENCIA, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, ALEGAÇÕES, PROBLEMA, BRASIL, RESULTADO, FALTA, UNIÃO, BUSCA, MELHORIA, SITUAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Nery, Srªs e Srs. Senadores, quero, antes de qualquer coisa, pedir aplausos para quem não os recebeu ainda, embora esteja aqui: os servidores do Senado que estão trabalhando conosco até esta hora da madrugada. (Palmas.)

Os aposentados estão aqui em sua luta; nós estamos aqui, porque escolhemos vir; os servidores estão aqui, mesmo sem terem escolhido.

Segundo, quero lembrar - não gosto de fazer citações; quem gosta disso é Mão Santa, com sua cultura -, que, quando chegou ao Egito, Napoleão reuniu toda a sua tropa perto das pirâmides e disse: “Do alto dessas pirâmides, 40 séculos nos observam”. Quarenta séculos são quatro mil anos, é mais ou menos o número de anos que temos aqui, somando as idades de todos os aposentados que nos assistem. Fiz as contas, e, pela cara de vocês, multiplicada a idade pelo número, devem dar uns quatro mil anos.

Senadores, quatro mil anos nos observam. É muita experiência, é muita luta, é muita dedicação, e, portanto, é muito direito que vocês têm de exigir de nós, políticos, respeito pelos direitos de vocês. E estamos aqui, nesta madrugada, respeitando cada um de vocês, pelos direitos que têm e que não podemos deixar que lhes sejam tirados. Mas disso todos já falaram, isso todos já citaram. O nosso Mário Couto, o Paim, o Valter Pereira, todos já comentaram os direitos de vocês. Quero falar um pouco mais dos direitos daqueles que nem direitos têm e pelos quais a gente também precisa lutar.

O Valter, no final, fez um discurso, falando em toda a sociedade brasileira. Quero falar que a nossa luta, para dar os direitos que vocês, aposentados, têm, exige que, além da luta por vocês neste momento específico, pelos projetos de lei que estão em andamento, pelo fim da vergonha do fator previdenciário, lutemos também por muitas outras coisas que envergonham o País em que a gente vive.

Vejo aqui, entre esses quatro mil anos, o meu amigo Trajano, velho revolucionário, que está aqui lutando, sim, pelo seu direito, mas tenho certeza de que está aqui também com a convicção de velho militante comunista pela revolução que o Brasil precisa fazer para o direito dos aposentados, para o direito dos trabalhadores na ativa, para o direito daqueles que nem ainda chegaram à idade de trabalhar, para o direito de cada cidadão e de cada cidadã brasileira.

Temos de lutar pela Previdência e estamos aqui por isso. Sou absoluta e totalmente solidário à luta liderada pelo meu amigo Paulo Paim. Mas não paremos essa luta no dia seguinte ao da aprovação, que espero aconteça na Câmara, dos projetos de lei que vão resolver o problema da Previdência; não paremos de lutar no dia seguinte ao da sanção do Presidente Lula a essas leis, porque também acredito que, no fim do processo, o Presidente Lula vai, sim, sancionar a lei. Não paremos de lutar. Lutemos, por exemplo, pela mudança fundamental na economia brasileira, sem o que, daqui a seis meses, vai ter de haver outra luta para recuperar o poder aquisitivo dos aposentados, corroído pela inflação que virá.

Vamos lutar, sim, para que a economia mude, para que os filhos de vocês, os netos de vocês não fiquem sem emprego, porque, se a economia continuar seguindo nesse rumo, vai haver uma tragédia neste País, e, mesmo que os aposentados tenham seus salários corrigidos, conforme é um direito, a família ao redor não vai estar bem.

O Brasil tem a história de uma economia, Senador Nery, baseada na ponta da pirâmide. É uma economia que produz para os ricos. Por isso, é uma economia que exige financiamento para vender os produtos. Por isso os bancos emprestam irresponsavelmente, por isso os bancos estão quebrando, por isso o Governo está tirando dinheiro, inclusive de vocês, para colocar nos bancos, para continuar vendendo automóveis, para manter a economia funcionando para o topo da pirâmide.

Nós precisamos fazer uma revolução nessa economia, fazendo com que ela trabalhe, sobretudo, para a base da pirâmide, porque, para comprar sapato, a gente não precisa pedir dinheiro emprestado em banco; para comprar comida, a gente não pede dinheiro emprestado em banco; para comprar os bens de consumo das classes pobres, não quebramos os bancos, não geramos essa crise maldita que estamos vivendo, que decorre de querermos que nosso País consuma produtos mais ricos do que a renda permite. E aí só há um jeito: é postergando o pagamento que a renda de hoje não permite. E aí só há um jeito: é pedindo emprestado no banco. E aí, um dia, o banco entra em crise. E, neste País, quando o banco entra em crise, não falta dinheiro para o banco.

Na minha luta pela educação, quando falo na mudança, todo mundo pergunta de onde vem o dinheiro. Não vi nenhum jornalista perguntar de onde está vindo o dinheiro para colocar R$8 bilhões nos bancos, para continuar financiando automóveis. Ninguém pergunta.

Aí, alguém pode dizer: “Mas vem de um banco - Banco do Brasil”. “Mas vem da Caixa”. Muito bem. Está vindo de algum lugar, mas ninguém pergunta. Mas, se a gente falar em pagar o piso salarial do professor, todo mundo pergunta de onde vem o dinheiro, porque a economia é baseada na produção dos bens materiais para uma minoria privilegiada e não na produção de cultura, de educação para todos.

Por isso, quero aqui dizer que estamos na luta, mas ela luta não pode terminar, quando for conquistado o direito que os aposentados têm. Temos de ir além. Temos de lutar, por exemplo, para mudar o sistema de saúde deste País, até porque, se o sistema de saúde funcionasse bem, até que dava para a gente não brigar tanto por aumentar salário nem para aumentar o salário dos aposentados, porque uma parte do nosso dinheiro vai para a saúde. Já pensaram se a saúde funcionasse bem, gratuita e de qualidade? Era capaz de a gente não estar precisando brigar tanto pelo salário. Temos de brigar, sim, para que neste País a gente possa ter um sistema de energia que funcione sem depredar a natureza, porque, se a natureza for destruída, não vão adiantar aposentadorias altas, porque não vamos sobreviver no calor do aquecimento global; porque as casinhas que a gente tiver, aquelas que ficam em cidades perto do mar, vão ser inundadas, conforme, aliás, já está acontecendo até longe do mar, como é o caso de Santa Catarina. As inundações em Santa Catarina não são fruto da geografia de Santa Catarina; são fruto do aquecimento global, gerando-se uma desorganização climática. Por isso, temos de lutar, para que o meio ambiente seja equilibrado com o processo produtivo. Não basta lutar apenas pelos nossos salários.

Nós estamos aqui para impedir que direitos sejam tirados, mas queria que vocês quisessem lutar também para que novos direitos sejam dados a grupos, Senador Praia, que não têm os direitos ainda, como as crianças que estão na rua, como as meninas prostituídas, como os jovens que abandonam a escola. Sessenta, a cada minuto, abandonam a escola neste País, levando-se em conta 200 dias e as horas do período letivo. Ou seja, durante uma sessão de vigília como esta - façam as contas -, quantas crianças abandonariam a escola.

Temos de lutar por isso, até porque a aposentadoria voltará a estar em crise se não houver uma base eficiente de jovens trabalhando, produzindo, para que haja recursos, para que nós, mais velhos, recebamos a aposentadoria. Se quebrar a base de pirâmide de idade, vai quebrar o salário dos aposentados no topo - não sou aposentado, mas serei em breve -, porque nós, mais velhos, vivemos dos salários dos mais jovens e da contribuição que eles pagam hoje, para compensar o que pagamos no passado.

É claro que, se o dinheiro que a gente paga hoje for bem aplicado, esse dinheiro termina rendendo aquilo para financiar a aposentadoria.

Mas, em todos os cálculos que a gente faz, na hora de organizar o sistema previdenciário, os chamados cálculos atuariais - é assim que eles chamam -, leva-se em conta o aumento da base que paga contribuições previdenciárias. Se essa base que paga contribuições previdenciárias parar de crescer, faltará dinheiro aqui em cima, mesmo que a gente tenha contribuído corretamente e mesmo que não tivesse havido desvio de dinheiro, como aconteceu neste País, do fundo de aposentadoria para construir represas. Para que aquelas represas? Para produzir bens que exigem muita energia. Que bens são esses? Os bens do topo da pirâmide. Por isso, tem de haver uma mudança neste País.

Eu gosto de usar a palavra revolução, mesmo que ela para mim não signifique tirar propriedade, mesmo que ela para mim não signifique colocar o Estado dominando a economia, como a gente defendia no passado. Eu prefiro chamar a revolução como aquela que vai fazer com que neste País a escola do filho do mais pobre seja tão boa quanto à escola do filho do mais rico. Eu sei que é difícil convencer as pessoas de que isso é possível. Sei que é mais fácil convencer de que o fator previdenciário vai ser abolido do que convencer de que abolida será a desigualdade nas escolas. Mas as duas lutas têm de vir juntas.

Por isso, sem querer continuar, porque teria de falar muito tempo de cada um dos outros itens que corroem a vida nacional, e não só o fator previdenciário corrói a vida nacional, para não falar de todos, até porque já são mais 3 horas da manhã e há outros Senadores que querem falar e amanhã cedo a gente vai ter de estar aqui trabalhando, quero dizer que hoje de manhã, na Comissão de Educação, assisti a uma palestra fenomenal desse técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, que é o Bernardinho. O Mão Santa estava lá. E ele lembrou uma coisa para mim em que, confesso, eu não tinha pensado muitas vezes. É que o Brasil tem seus problemas, porque não é um time.

Não conseguimos ainda fazer do Brasil um time. Cada de um de nós joga para um gol diferente. Temos de fazer um time capaz de defender os direitos dos aposentados, mas temos de fazer com que os aposentados façam parte do time, para criar direitos para aqueles que nem direitos têm ainda, para atender não apenas os que passaram dos sessenta, mas também aqueles que não chegaram aos seis anos de idade ainda. Esse é o time que a gente precisa criar.

Eu creio que graças ao Paim, e a nós que aqui estamos, e a outros que já passaram por aqui e àqueles que estiveram nas outras vigílias, eu creio, Senador Nery, que nós estamos dando um exemplo de que esse grupo de Senadores quer fazer do Brasil um time. Mesmo que tenhamos de ficar aqui de madrugada, queremos fazer do Brasil um time, Senador Praia. Nesse time, tem de ter um lugar muito especial para aqueles que jogaram no passado, para aqueles que foram os construtores, no passado, deste País e que estão aqui olhando para a gente, lá de cima dos seus quatro mil anos - sem somar a mim, porque senão dá um pouquinho mais ainda -, com os direitos que adquiriram, com o respeito que merecem, e eu digo que, dessa parte dos que estão aqui, vocês vão contar, até o fim, nesta luta, com o respeito que a gente tem por vocês.

Era isso o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado pelo tempo. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2008 - Página 49112