Discurso durante a 231ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Assegura voto de confiança no Presidente eleito dos Estados Unidos, Sr. Barack Obama.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Assegura voto de confiança no Presidente eleito dos Estados Unidos, Sr. Barack Obama.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2008 - Página 50055
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, COMPOSIÇÃO, MINISTERIO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ELOGIO, LIDERANÇA, COMPETENCIA, ESPECIFICAÇÃO, ESCOLHA, CONJUGE, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CARGO PUBLICO, SECRETARIO, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, COMENTARIO, ETICA, SERVIÇO PUBLICO, GOVERNO ESTRANGEIRO, AUDITORIA, SELEÇÃO, INDICAÇÃO.
  • EXPECTATIVA, MELHORIA, ETICA, SERVIÇO PUBLICO, BRASIL, ELOGIO, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO, DIVULGAÇÃO, DEBATE.
  • EXPECTATIVA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EXTINÇÃO, BLOQUEIO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, PROMOÇÃO, PAZ, ORIENTE MEDIO, VALORIZAÇÃO, DECISÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), FECHAMENTO, PENITENCIARIA, TERRITORIO, BANDEIRA ESTRANGEIRA, DESISTENCIA, CRIAÇÃO, FROTA MARITIMA, OCEANO ATLANTICO, ELOGIO, DEMOCRACIA, ELEIÇÃO, NEGRO.
  • CONTRADIÇÃO, VALOR, RECURSOS, CONTENÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, OMISSÃO, SOLUÇÃO, FOME, MISERIA, MUNDO.
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), POLITICA NACIONAL, CONTRIBUIÇÃO, GOVERNO, DEFESA, ALTERAÇÃO, SISTEMA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO, ANALISE PREVIA, CANDIDATO, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, AUMENTO, DEMOCRACIA, PROCESSO.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PRIORIDADE, CAMPANHA, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, NEGLIGENCIA, COORDENAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, DEFESA, MOBILIZAÇÃO, BANCADA, SENADO, REUNIÃO, DEBATE, POLITICA PARTIDARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, estamos vivendo um momento de definição do novo Presidente dos Estados Unidos.

O jornalista Luis Fernando Veríssimo, por quem tenho muito carinho e que considero uma das pessoas mais brilhantes da cultura brasileira, na sua coluna do Zero Hora, fala nas primeiras desilusões com o Presidente eleito, que teria escolhido nomes que são passado: passado no governo Clinton, passado até no governo Bush, mantendo exatamente a pessoa responsável, de certa forma, pelo controle na guerra do Iraque. E diz o extraordinário intelectual e jornalista que não houve nem um espaço inicial de lua-de-mel do Presidente eleito; que, naquele espaço entre a eleição e a posse, ele é só expectativa e que haveria uma desilusão entre as promessas do Presidente e o Ministério que ele estava compondo.

Eu sou um admirador de Luis Fernando Veríssimo. Acho-o uma criatura fantástica. Lembro sempre do pai dele, Érico Veríssimo, na hora mais dramática da luta contra a ditadura, quando nós estávamos com a candidatura de Brossard em 74 e ainda não tinha iniciado a revolução popular, que fez aquelas vitórias espetaculares, em que o MDB ganhou em 16 Estados. Esse é um grande homem, pequenininho, mas um grande homem.

Foi Érico Veríssimo que escreveu uma carta à Nação, explicando por que deveríamos votar em Paulo Brossard, o que significava a sua vitória. E ali foi um marco. Aquela eleição, no Rio Grande do Sul e no Brasil, foi uma até a carta de Érico Veríssimo. Depois de sua carta, que todos os candidatos do MDB em todo o Brasil reproduziram dez vezes em todos os espaços eleitorais de televisão, mudou.

Mas eu quero dizer que eu discordo da afirmativa de que, na constituição do Ministério, o Obama está olhando para o passado, despreocupado com o futuro, escolhendo um Ministério de notáveis em que vai dar uma confusão que não vai chegar a coisa nenhuma. Eu penso diferente.

Eu acho que o Obama está demonstrando uma capacidade extraordinária de grande liderança. O grande líder não tem medo de buscar os melhores nomes para qualquer posição, achando que isso vai ofuscar sua liderança. As pessoas estão achando que, por ter trazido a ex-primeira-dama para um cargo da maior importância, que é relações exteriores, ele está abrindo mão do poder. E que, como ela é muito conhecida e fez grandes relacionamentos, nos oito anos do seu marido no governo e nos seus quatro anos de senado, no mundo inteiro, o que não acontece com Obama, ele vai se sentir diminuído.

Eu penso o contrário, eu penso que ele teve muita categoria e muita capacidade ao buscar a Srª Hillary Clinton, que tem capacidade, que tem conhecimento, que conhece a matéria. Ela, que foi crítica do seu programa de governo nas primárias, está ali, no cargo mais importante.

Aliás, nesse sentido, que coisa espetacular! Por que o Brasil não copia isso? Antes de indicar a mulher do ex-presidente para o cargo, foi feita uma auditoria na fundação que o ex-presidente tem, no dinheiro que ele arrecada no mundo inteiro, nas viagens que ele faz para o exterior, inclusive a convite de entidades e governos estrangeiros. E o Presidente Clinton assumiu uma série de responsabilidades sobre o que ele vai fazer enquanto a mulher dele for secretária de Estado. Ele se comprometeu, em primeiro lugar, a abrir os nomes de 140 mil, de não sei quantas pessoas que lhe deram dinheiro via Internet. Ele vai dar o nome de todos. Ele vai se comprometer a não viajar mais para o exterior em viagem paga por nenhum país estrangeiro, por nenhuma entidade estrangeira. Vai se submeter a que a secretária de Estado - e, se for o caso, vai ouvir o presidente da República - diga quando ele pode fazer conferência no exterior e quando ele não pode fazer conferência no exterior. O Presidente Clinton se submeteu a tudo isso. Mas veja que coisa bacana, que coisa bonita isso!

Aliás, a imprensa publica que o Sr. Obama determinou uma triagem em todas as pessoas que vão ocupar qualquer cargo em seu governo. Uma triagem completa, absoluta, dele, do cidadão, até, como no caso da Srª Hillary, do marido dela, ex-Presidente, e de todos os caras que estão sendo convidados. É a lista completa do que é, de quem é, do que faz, do que tem, do que age e como funciona. Eu acho isso espetacular. Isso o Brasil poderia copiar.

Eu me lembro, quando Ministro da Agricultura, que cheguei lá, assumi, e, daqui a pouco, vem a minha chefe de gabinete e diz: “Ministro, está aí querendo falar com o senhor o fulano de tal”. “Mas quem é o fulano de tal?”. “Ele é o chefe, não me lembro o nome agora, do SNI”. Cada Ministério tinha um setor do SNI no Ministério, não sei como era o nome. Estava lá, oficializado. Peço para ele entrar, e ele me dá uma carta. A carta dizia que todas as nomeações que eu tinha feito não tinham valor, porque não tinham passado por ele. Não tinham passado por ele, ele não tinha liberado. Então, ele estava me chamando a atenção porque ia dar muito problema, porque tudo o que eu estava fazendo não tinha valor.

Fiquei com aquilo, o que é, o que não é. Fui procurar o General Ivan, Chefe do SNI, e o General Leônidas, Ministro do Exército. E conversei com ele. Porque tinha gente da minha equipe do Ministério dizendo: “Olha, vamos fazer uma revolução, vamos acabar, vamos fazer um carnaval para mostrar que a nova República tinha chegado”.

Aí o General Ivan diz uma coisa que nunca me esqueço: “Simon, transforma o limão numa limonada. Primeiro lugar: tira esse cidadão. Escolhe uma pessoa da tua confiança. Segundo lugar: dize o que tu queres que ele faça”. Fui ao General Leônidas, e ele me indicou o Coronel Brochado, que foi, inclusive, depois, Secretário de Segurança do Distrito Federal. Eu o convidei. Demiti o outro e coloquei ele. E disse para ele o seguinte: “Olha, Coronel, não quero saber aqui, no meu Ministério, quem é comunista, quem não é comunista, as idéias do cara. Isso não me preocupa. Claro que, se o senhor souber de alguém que está tramando alguma coisa para derrubar o governo, me avise, porque levamos uma luta inteira para chegar aqui, e não quero que exista, dentro do meu Ministério, um esquema contra o governo. Agora, o negócio das idéias, o que pensam, não me interessa. O que eu quero, Coronel, é que o senhor fiscalize, nome por nome, cargo por cargo, setor por setor, para ver o que tem de corrupção neste Ministério”.

O Ministro Pertence era Procurador-Geral da Republica do Governo Sarney, indicado pelo Tancredo. Estão lá os dossiês que eu levei de atos de corrupção que eu encontrei no Ministério. Até hoje eu louvo a atitude do Presidente Sarney, quando me mostraram o dossiê do IBDF. Quem fez a indicação para o IBDF foi o Presidente Tancredo. Estava viajando por lá, em Manaus... Não me lembro o nome, era um poeta, intelectual, da Academia Brasileira de Letras, um mineiro. E o Jornal Nacional publicou ele com esse cidadão, num barco em Manaus. Ele tinha se isolado e estava passeando lá, por Manaus, isolando-se do mundo, e o Tancredo convidou-o para ocupar um cargo no Governo dele. E ele respondeu: “Eu não tenho condições. Eu estou aqui, Presidente. Agora, tem uma pessoa que eu lhe garanto: meu filho, que é o Reitor da Universidade de Uberaba, tem grandes condições”. E o Tancredo, oficialmente, pelo Jornal Nacional, convidou-o.

Eu recebo um dossiê de corrupção e mais corrupção no IBDF. Eu vou ao Sarney, pedindo a demissão. O Sarney até teve lágrima nos olhos: “Mas, ô Pedro, isso aí não foi indicação nem tua, nem minha, foi do Tancredo. É o único cargo que a gente conhece que o Tancredo convidou pela televisão. O Jornal Nacional publicou o convite dele”. “Mas está aqui”. “E o cara não era só amigo do Tancredo, é meu amigo, nós somos colegas da Academia Brasileira de Letras”. “Mas está aqui”. E o Sarney assinou a demissão, e o cara foi demitido.

A Cobal, que era um órgão que, antes de eu passar pelo Ministério, vivia na crônica policial, só na crônica policial, já naquela época. Meu nobre Líder, acho que foi o início, foi o Coronel Brochado que iniciou um serviço de escuta onde provou todos os escândalos que aconteciam na Cobal. E fizemos um limpa na Cobal. Realizamos o plano de alimentação popular, modéstia à parte, espetacular, onde o Governo pegava os estoques que comprava, depois entregava para os grandes grupos, parte desse estoque, passamos a fazer alimento popular para distribuir nas vilas e nas favelas de todo o Brasil. Um plano espetacular! Morreu, quando terminou a inflação, o plano cruzado e, praticamente, foi ali.

Quero dizer que isso que o Presidente americano está fazendo é espetacular e podíamos adotar aqui. Escolheu grandes nomes, sim, inclusive ali, para tratar da guerra do Iraque, para terminar com a guerra no Iraque deixou o homem do próprio governo Bush. Mas um homem cuja discordância, cuja divergência todo mundo viu dentro do governo do Bush. Acho sensacional a escolha. Pessoas de pensamentos divergentes que, para mim, demonstra a competência do Obama, vai sentar com o gabinete: um fala de um jeito, outro fala de outro, e ele vai tirar a conclusão para ver qual o melhor caminho. Não é todo mundo pensando igual. Com relação à guerra, com relação à economia, ele está botando líderes, o melhor em cada setor, o mais notável em cada setor, com pensamentos divergentes, muitas vezes, porque ali ele não vai comer pela boca nem de “a”, nem de “b”; ele vai ver o que pensa “a”, o que pensa “b”, as divergências, e a conclusão vai ser dele, e a decisão vai ser dele. Eu acho muito positivo. Acho que o Obama tem razão quando diz: “Não esperem milagre. Numa crise estrambólica que nem essa, não esperem milagre.”

Fico pensando, nobre Senador Renan, estou eu, o nobre Senador Mão Santa e V. Exª, nesta sexta-feira, meio-dia, mas que bom nossa TV Senado, Presidente! Podemos dizer: e o povo? Tenho que felicitar o Senador Sarney e o Senador Antonio Carlos que criaram esta TV Senado. Foi um passo fantástico, positivo. V. Exªs não estavam aqui; eu estava. Podíamos falar agora, a essa altura, e não tinha significado nenhum. Uma grande sessão, um grande debate, no dia seguinte o Jornal Nacional dizia: “Ganhou por tanto”, e o resto não acontecia.

Hoje, o grande debate a sociedade está acompanhando. A sociedade está acompanhando. E, hoje, o Senado Federal... V. Exª não calcula o prestígio de V. Exª, Sr. Presidente. E é interessante que se diga: cada dia vejo V. Exª com um livro diferente, uns antigos, outros modernos. Eu duvido que haja, no Brasil, uma pessoa que esteja atualizando-se tanto em termo de cultura universal como V. Exª. E o Brasil está notando isso.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu estou lendo, agora, Reflexões, que V. Exª lançou.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E o Brasil está notando isso, porque tem a TV Senado. Porque tem a TV Senado! E, logo, logo, ela vai estar aberta. Vai-se ver em canal aberto. Não a elite, mas toda a sociedade brasileira. E, lamentavelmente, o Presidente Lula errou, ao fazer uma das coisas mais espetaculares, que nós esperávamos há 30 anos: criar a TV pública. Mas não precisava ter criado por decreto! Não precisava ter criado por decreto. Não precisava ser criado com cupincha, indicado membros do Conselho que ninguém sabe quem é. Pessoas que não têm nenhuma experiência e estão lá: TV pública, audiência zero. Zero multiplicado por zero! Era uma TV que deveria ter nascido de um projeto, trazendo para cá as grandes lideranças de televisão do Brasil e do mundo para fazer uma grande televisão.

Um país, do tamanho do Brasil, onde tem zonas isoladas como na Amazônia e que se leva três dias para sair de um vilarejo até o primeiro lugar que tenha uma injeção para comprar, só há uma maneira de conscientizar nosso povo: via televisão. E não é com as novelas nem com os jornais nacionais que só falam em desgraça. Que falem em desgraça, que falem em corrupção, mas que contem as coisas positivas que acontecem neste País!

Pois essa é a TV Senado que faz com que nós aqui, nós três... O Brasil está assistindo. Que bom que esteja assistindo!

Pois eu digo: confio no presidente americano, não em milagre. Eu era guri e fiquei emocionado na vitória do Kennedy. Achava que iriam ser grandes condições. Ainda me lembro da emoção do seu discurso: “Não perguntes o que o país pode fazer por ti, mas o que tu podes fazer pelo teu País”. Foi um presidente razoável, bom. Mas não é o caso do Obama.

Obama tem história, tem biografia, tem origem. Em primeiro lugar, ele não assistiu, eu assisti o drama racial nos Estados Unidos mais do que Obama, porque não tinha nem nascido. Eu estive lá, como Deputado estadual. E vi em Dallas e em todo aquele sul, o que era a discriminação racial. Eu vi rua de branco e rua de negro; ônibus de branco e ônibus de negro; colégio de branco e colégio de negro; calçada de branco e calçada de negro. Eu vi! Voltei lá depois e vi aprovada a lei, os ônibus escolares de negros, cercados de tropas militares, irem lá no colégio de branco para eles estudarem lá.

E ônibus de brancos, cercado de tropas militares, indo lá no colégio de negros para estudarem lá.

Eu estava lá quando negro não votava, não tinha direito a voto. Obama não viu isso, não viveu esse caldo. Ele, seu pai, os americanos inteligentes, espertamente, criaram uma elite africana para estudar nos Estados Unidos, para preparar para voltarem aos cargos. Então, abriu as comportas dos Estados Unidos a muitos jovens da África estudarem nos Estados Unidos e se prepararem para voltar. Seu pai foi um desses. Casou, nasceu, viveu, humilde, passou por Harvard, chegou à Presidência. Mas ele não tem aquela mágoa, aquele ressentimento que tinha o Luther King, aqueles que viram a amargura da discriminação. Ele tem a grandeza de ver um mundo sem ódio e sem guerra e sem racismo. Eu confio nisso. Não em milagre.

Aliás, a frase da Srª Hillary Clinton é chocante: “O mundo precisa dos Estados e os Estados Unidos precisam do mundo.“ No mundo, só há os Estados Unidos e o resto. Aliás, é como o Oscar: quarenta prêmios para o melhor filme, para o melhor roteiro, para o melhor protagonista, para o melhor não sei o quê, todos americanos, e um prêmio para o melhor filme estrangeiro. Quarenta para os americanos e um para o melhor filme estrangeiro.

É isso aí: o mundo precisa dos Estados Unidos e os Estados Unidos precisam do mundo. Quer dizer, precisa do petróleo, precisa... sei lá. A grande verdade é que nós vivemos uma hora em que o mundo pode precisar dos Estados Unidos, mas o mundo não é só o mundo e os Estados Unidos. A Comunidade Européia é uma realidade. A decisão política mais espetacular do final do século passado talvez seja a Comunidade Européia. Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, países que passaram séculos se odiando, se matando, hoje têm uma moeda única, um Parlamento único. E vejam como estão enfrentando a crise. Imaginem se não é a Comunidade Européia. Imaginem essa crise que estamos atravessando sem o americano discutindo com a Inglaterra, com a França, com a Itália. Eles sentaram para discutir com a Comunidade Européia... China, Índia, Rússia e Brasil são outro fato, são países emergentes.

Mas eu espero, com toda sinceridade, do Presidente Obama algumas decisões, meu caro jornalista Luís Fernando Veríssimo, que marquem o início do seu governo. A primeira: o fim do bloqueio a Cuba. Essa é uma decisão dele, que não depende de ninguém.

Há quinze dias, a Assembléia Geral da ONU, tirando os Estados Unidos, Israel e uma ilha cujo nome não sei, por unanimidade, votou pelo fim do bloqueio.

Obama está tomando algumas decisões positivas. Primeira: ele deu ao Embaixador dos Estados Unidos na ONU o status de Ministro. É Ministro do Governo. Disse com toda clareza: “Nós queremos estar junto com a ONU. A ONU é que decide as grandes questões internacionais e nós queremos estar junto com ela”. Ao contrário do Bush, que foi uma humilhação. A ONU disse não à guerra do Iraque, e o Bush não “deu bola”. A ONU disse não ao bombardeio do Iraque, e o Bush não “deu bola”.

Agora vem o Bush pedir desculpa ao mundo. Ele errou: “Se há um ato, nos meus oito anos de governo, pelo qual eu gostaria de pedir desculpa, é pela guerra do Iraque, porque eu fui mal informado. As informações que eu tinha é que eles estavam fabricando armas contra a humanidade. Depois fui ver que não era verdade”. Mentira do Bush, porque a imprensa já explicou que, quando ele determinou o bombardeio ao Iraque, ele já sabia que não havia, por parte do Iraque, fabricação de armamentos químicos. Ela já sabia que não existia. Ele sabia, mas determinou o bombardeio.

Ah, o nosso querido Embaixador em Paris, o Embaixador Bustani! Um homem extraordinário, Presidente de uma organização da ONU encarregada do controle das armas nucleares, que teve uma atuação espetacular, que foi eleito e reeleito por unanimidade, que conseguiu aglomerar em torno dele todas as entidades e conseguiu que o Iraque aceitasse a intermediação dessa entidade para fazer a fiscalização...

Quando Bush e os americanos queriam porque queriam a guerra com o Iraque, programaram escandalosamente, em regime de recesso, uma reunião extraordinária do órgão, pagando passagem - dizem que pagando até mais -, para os membros se reunirem extraordinariamente e destituir o Bustani.

Destituíram Bustani, que tinha sido reeleito por unanimidade, porque o Bustani tinha conseguido que a organização dele pudesse fazer a fiscalização, com o que o Iraque havia concordado. Liberdade absoluta para fazer a fiscalização. Aí destituíram o Bustani. Não aceitaram a decisão do Conselho da ONU contra a intervenção. Veio a guerra, que eles pensavam que dominariam em meses, e está lá mais um fiasco do Governo americano.

Acho, Sr. Presidente, que o Congresso Nacional, que o Senado, que a Comissão de Relações Exteriores deve prestar mais uma homenagem ao Bustani, especialmente no momento em que aquele cruel Presidente, que determinou a humilhação ou a tentativa de humilhação, vem a público reconhecer que estava errado, que o Bustani estava certo quando queria fazer a fiscalização, sabendo que nada havia em termos de armas nucleares ou químicas.

Faço daqui o apelo ao Presidente do Senado e ao Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e do Senado: vamos convidar o Embaixador Bustani, vamos trazê-lo aqui para um esclarecimento, que ainda não foi feito por ele a nós, e vamos prestar nossa homenagem ao Embaixador Bustani.

Se Bush disse que foi mal-informado quando determinou a guerra, o que é mentira, porque a imprensa publicou que ele já sabia, eu acho, meu querido Presidente Obama, que encontrar uma fórmula no sentido de terminar com essa Guerra do Iraque é um grande favor à nação e ao povo americano.

Eu acho que a escolha da Hillary para Secretária de Estado das Relações Internacionais é importante, porque o Obama pode determinar o entendimento no Oriente Médio. Foi o marido dela, o Clinton, que promoveu o grande entendimento entre Israel e a Palestina, foi quem deu o Prêmio Nobel ao Presidente da Palestina e ao Primeiro-Ministro de Israel.

Quando Bush entrou e Clinton saiu, estava praticamente terminado, estava a caminho do fim o desentendimento e começava um grande entendimento nacional, que o Bush, quando entrou, fez questão de terminar. Ele fez questão de humilhar.

Dá para entender que não foi Israel que começou o conflito depois do grande entendimento de Clinton. Foi Bush, o americano, que instigou para que tudo acabasse e resultasse no que resultou.

Obama, candidato, esteve lá em Israel e na Palestina e a reunião que ele teve foi espetacular. Reuniu judeus, palestinos e representantes católicos, cristãos, maometanos, muçulmanos, e todos ali prestaram homenagem a ele.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª me permite participar?. V. Exª é hoje um cidadão do mundo. Senador Pedro Simon, eu li recentemente que houve, Presidente Renan, uma pesquisa dos jornalistas internacionais: se o mundo tivesse um presidente, quem seria o presidente do mundo? Ganhou Mandela e, em segundo lugar, Bill Clinton. Quer dizer, o Obama é a síntese dos dois: a raça negra e americana. E V. Exª, então, chegou a esta conclusão, de uma esperança de paz no mundo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E ela eu acho que está ali. E a escolha da Hillary teve isso. Ela está ali, e tenho certeza de que os judeus, os israelitas, os palestinos, o mundo inteiro estão nesta expectativa: cumprir uma decisão ocorrida lá no início, quando Oswaldo Aranha, o gaúcho brasileiro, Presidente da ONU, criou o Estado de Israel. Mas o que a gente não diz é que ele criou o Estado de Israel e criou o Estado palestino. Só que o Estado de Israel foi instituído, e o palestino até hoje não.

Eu não tenho nenhuma dúvida de que, Presidente Obama, estas são umas decisões que também não dependem da crise econômica ou coisa que o valha: suspender o bloqueio à Cuba, reanalisar a questão do Iraque.

         Coisa impressionante: o vice-presidente americano, hoje, é proprietário de uma das maiores empreiteiras do mundo inteiro, e é a empreiteira do vice-presidente que, sem concorrência e sem nada, está reconstruindo o Iraque. O americano bombardeia, e vai lá o vice-presidente, com sua empreiteira, para reconstruir. Já há gente analisando que este é um dos maiores escândalos da história americana: esse vice-presidente, com sua empreiteira, sem concorrência, sem absolutamente nada, estar lá fazendo a reconstrução. Um bombardeia, e o outro reconstrói.

         Isso o Presidente Obama pode fazer.

Cuba: fim do bloqueio.

Agora, semana que vem, vamos festejar 40 anos dos Direitos Humanos, 40 anos!

Eu me lembro de que, em 1978, eu eleito Senador, mas ainda não havia assumido, fizemos uma grande reunião em Brasília, uma entidade comunista, teórica, tendo como Presidente o Niemeyer. Foi um congresso espetacular em que se debateram, se discutiram as grandes questões brasileiras. Ali se prestou uma homenagem ao aniversário da Declaração dos Direitos Humanos.

Era época da ditadura ainda. Aquela reunião, cercada. Quem fala, quem não fala, pediram-me para conseguir que o Presidente da OAB, gaúcho extraordinário, fizesse uma palestra. Ele fez, aplaudido de pé. Lembro-me de que, quando ele terminou, o Niemeyer, que estava presidindo, leu um texto muito bonito e, quando terminou o texto, ele disse: “Isso eu falo como presidente da entidade e presidente do congresso. Mas, agora, eu, cidadão Niemeyer, quero dizer ‘que saudade eu tenho do Prestes não estar aqui! Como eu gostaria de que ele estivesse aqui’”! Aquilo foi um impacto. A gente ficou com medo de que invadissem a nossa reunião. Depois, o querido gaúcho, Presidente da OAB, disse: “Eu entendo. Eu entendo quem é o Niemeyer, e ele tem direito a falar isso”.

Quarenta anos vai fazer agora. Cá entre nós, que gesto espetacular do Presidente Obama, para marcar o seu governo, nos 40 anos da Declaração dos Direitos Humanos, fechar Guantánamo, terminar com aquela chaga que é uma das maiores vergonhas da humanidade! Uma penitenciária lá em Cuba, dos americanos, onde há tortura, há morte. Eles prendem e levam para lá. Não há nada, não há processo, não há denúncia, não há acusação, não há defesa, não há nada, e ali há tortura e há morte.

         Olhem, se o Presidente Obama - não sei se V. Exª concorda, meu Líder - determinasse fechar Guantánamo, o que o mundo inteiro está pedindo e que os Estados Unidos também, todos estão pedindo, seria um gesto, meu bravo Luís Fernando Veríssimo, com o qual ele mostraria que, apesar de haver gente do passado, ele está olhando o futuro.

Fim do bloqueio, fim de Guantánamo, marchar para terminar a Guerra do Iraque, que não é guerra, é um lado contra os outros, e buscar o diálogo final do entendimento no Oriente Médio: ora, Sr. Presidente, seria um grande início. Seria um grande início!

Eu fico pensando em todos os números que se falam para resolver os problemas mais crônicos, mais cruéis da humanidade. Resolveriam US$500 milhões, US$600 milhões. Acabaria com a fome no mundo. Mas na hora de dar, os países em desenvolvimento e os países desenvolvidos dão meia dúzia de pataca.

         Um trilhão e seiscentos bilhões de dólares o americano vai dar para resolver a crise do sistema financeiro, que chantageou. Entrou e, para um dólar que o banco tinha de investimento, alavancou mais US$60.

E onde é que estava o governo e onde é que estavam os economistas e onde é que estavam os intelectuais e onde é que estavam as pessoas, que não investigaram, que não denunciaram, que não chamaram a atenção para o fato de que isso estava crescendo, crescendo, crescendo e ia explodir?

E, para resolver esse problema, Sr. Presidente: US$1,6 trilhão. Uma quantia muito inferior a essa, se fosse usada para equacionar o problema da fome no mundo... Cá entre nós, uma quantia como essa, e se os americanos usassem para resolver o problema de 50 milhões de americanos que não têm seguro saúde, que não têm nada? Pior do que no Brasil! O Brasil tem um SUS com mil defeitos, mas tem um SUS que diz: é universal o direito à saúde e à assistência.

O americano, não. Quem tem seguro tem seguro. Quem não tem seguro que se dane!

Um trilhão e seiscentos bilhões de dólares para resolver o problema do estouro dos bancos, e ninguém sabe o que fazer com o problema da saúde nos Estados Unidos?!

Eu digo com profunda sinceridade: eu confio no Presidente americano. Uma outra atitude que ele pode fazer refere-se à Quarta Frota. Recriar a Quarta Frota? O Bush não tem autoridade; um homem que está largando o governo com prestígio zero... Na história dos Estados Unidos não há nenhum presidente que larga o governo com a credibilidade no chão. E esse homem resolve recriar a Quarta Frota? A troco de quê? Deixa isso para o próximo governo! É ridículo que um governo que sofreu uma derrota espetacular, em que o candidato do seu partido fazia questão de dizer que era contra ele, resolva recriar a Quarta Frota no final do seu governo.

O Presidente Obama, nem digo que ele suspenda, que ele encerre, que anule, mas que pare com ela. Vamos pensar, vamos analisar. E há tempo para a gente analisar isso. Por que a Quarta Frota? Temos uma triste lembrança dela.

O embaixador americano, na época do golpe que derrubou Jango - ele agora escreveu no seu livro -, a Quarta Frota estava aqui na margem do Brasil. Se o Jango tivesse resistido, e eles queriam que o Jango resistisse, a Quarta Frota entrava.

Aliás, Presidente, durante muito tempo, eu fui muito cobrado. Brizola defendendo guerrilha, luta armada, seqüestro; e eu, Pedro Simon, o homem do MDB no Rio Grande do Sul, contra. Eu sou contra guerrilha, sou contra guerra civil, sou contra luta armada; sou a favor de lutar democraticamente para restabelecer a democracia.

Os caras achavam que eu era doido, ridicularizavam a mim. Seis, sete Presidentes da República, um general substituindo outro, a Igreja fechada com o governo, a grande imprensa fechada com o governo, o empresariado fechado com o governo; a força americana fechada com os governos do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, o Cone Sul com uma ditadura única, comandada pelo americano, e o Pedro Simon vem com essa tese de que não quer guerrilha, de que não quer luta armada, de que quer luta democrática? Até quando vai acontecer? E eu respondia: vocês acham que o Brasil pode copiar o exemplo de Cuba? Em Cuba, era sair das montanhas e tomar conta de uma cidade, Havana, e quem ganhasse de Havana ganhava. E os revolucionários desceram, derrotaram e ganharam. O Brasil é um continente! O Brasil tem muita gente até hoje. E os mapas que andam lá pelos Estados Unidos, mostrando um Brasil onde a Amazônia é um continente à parte? É o que eles querem. É o que eles querem. Há muito tempo eles falam em Brasil do Norte e Brasil do Sul, como Coréia do Norte e Coréia do Sul, Vietnã do Norte, Vietnã do Sul.

Naquela hora, se o Jango resistisse, eles entravam aqui dentro, e até hoje nós estávamos discutindo o Brasil do Norte e o Brasil do Sul.

Essa é a Quarta Frota. Mas por que recriar a Quarta Frota? Hoje, para a América do Sul, os americanos têm a Segunda Frota, que é para a América toda, mas está lá em cima, no México. É para toda ela. E eles querem criar uma tropa naval só na fronteira nossa. Mas qual é o inimigo? Qual é o perigo? Para que isso? Tem gente que já fala que é por causa do pré-sal, que tem riquezas inestimáveis. E já se fala que o pré-sal, que é na área marítima, vai além das duzentas milhas, está ali pelas trezentas, pelas trezentas e cinqüenta milhas, tanto que o Governo já entrou na ONU com um estudo no sentido de que essas duzentas milhas podem se prorrogar até trezentas e cinqüenta. Mas a discussão está aí, no pré-sal. Por que a Quarta Frota?

O Presidente Obama, ele pode - repito - não digo praticar um gesto de suspender, encerrar, dizer que não vai ter, mas de parar para discutir melhor, dizer: não implante, não determine a implantação. Seria um grande gesto, Presidente. Seria um grande gesto.

Terminar com a penitenciária de Guantánamo, a maior chaga da humanidade nos dias que estamos vivendo; terminar com o bloqueio a Cuba, já que a ONU, por unanimidade, tirando Estados Unidos, Israel e uma ilha que não sei qual é, determinou “chega de bloqueio”; partir para o encerramento da guerra do Iraque; buscar um entendimento no Oriente Médio; e suspender a implantação, agora, da Quarta Frota. Essas são algumas medidas que o Presidente Obama pode começar.

Sou um homem espiritualizado, confio na força das idéias e vejo nesse Presidente Obama um homem com uma determinada predestinação. É impressionante! Negro; o nome dele é subversivo, entre aspas; o pai dele era muçulmano; e a sua vitória foi espetacular. Que lição de democracia os Estados Unidos deram!

Ah, se nós pudéssemos copiar as coisas boas! Eu já dizia, meu nobre amigo Renan, que me honra com a sua presença - somos três, mas, para mim, o Senado está todo representado no Senador Renan, em V. Exª, Senador Mão Santa, e no povo que está nos assistindo. Ah, repito, como seria positivo o Brasil copiar as coisas boas, como as primárias americanas. Se não houvesse primárias, não haveria Obama. A Srª Hillary Clinton tinha a unanimidade do Partido Democrata. A elite, a intelectualidade, o Partido Democrata estava fechado com ela. Ela era a candidata. O Obama se lançou para fazer nome. Vocês imaginem: ele tinha quatro anos de Senador. A vida pública dele resume-se a quatro anos de Senador. Quatro anos, mentira; foi eleito nem faz quatro anos ainda. Candidatou-se para fazer nome. Mas as primárias abriram o debate. Andando pelo País inteiro, apresentaram-se os candidatos, e o eleitorado escolheu. Aos poucos, a Hillary foi perdendo, e ele assumiu.

Mais espetacular, depois, é a eleição entre Obama e o candidato do Partido Republicado. A decisão não foi no dinheiro, não foi na fortuna, não foi na propaganda, não foi o chefe de propaganda, foram os quatro debates em que os dois... Cadeia de televisão, de costa a costa, o americano assistindo... Um fala e outro responde. Não tem pergunta, não tem coisa nenhuma! Um fala e outro responde ao vivo. Aí, a gente conhecia quem era o candidato. Foi ali que ele ganhou. O Vice-Presidente do Clinton era um herói, inclusive ganhou o prêmio Nobel da Paz, pelo trabalho espetacular que ele fez sobre o meio ambiente. Era candidato que já estava com a eleição ganha. Aí, foi para esse debate. Os assessores dele lhe disseram: “A eleição já está ganha. Tu só tem que fugir do debate para não perder voto. Fuja do debate.” Aí, ele foi para essa reunião - ele e o Bush. O Bush, quanto ao Iraque, dizia: “Eu vou assim, assim...” E o candidato democrata: “Pois é, pode ser; não sei; eu vou ver, eu não sei, eu não sei...” Perdeu a eleição, porque o povo não gostou. Se o cara não diz o que quer agora, como é que vou confiar nele? Perdeu a eleição. Como agora, Obama deu um show na televisão. No Brasil, não! A primeira eleição que Lula ganhou, não foi Lula quem ganhou! Na verdade, quem ganhou foi o homem de sua publicidade que criou “Lulinha Paz e Amor”; barbinha bem aparada, roupa moderna, os melhores alfaiates; mudou a linguagem... E a gente não votava no Lula, votava no cidadão que o homem da publicidade tinha criado. Assim é a eleição no Brasil. A publicidade é criada, quem fala está lendo. Vocês estão vendo o cidadão falando no programa de televisão, está falando ali, mas ele não está falando, ele está lendo o que tem ali. Ele está lendo no teleprompter que está na frente dele. Ele lê o que o homem da publicidade escreveu.

Que bom se nós pudéssemos copiar - venho defendendo essa tese!

Quando Tancredo ganhou a eleição para Presidente, nós nos preparávamos para o esquema dele, a gente disse: “Presidente Tancredo, vamos terminar com a sublegenda, não é?” A sublegenda foi inventada pela Arena, porque a Arena tinha crescido, crescido, crescido demais, tinha reunido vários partidos e um brigava com o outro, então, tinha muito líder. E eles não conseguiam se entender. Na hora de escolher o candidato, dava a maior confusão. Então, o Governo fez criou a sublegenda: Arena 1, Arena 2, Arena 3. Então, em vez de sair do Partido, o cara ia disputar. Somava os votos e quem fazia mais votos estava eleito. Aí nós dissemos para o Presidente Tancredo: “O senhor vai terminar com esse escândalo, não é, Presidente? Com a sublegenda o senhor vai terminar?” E ele respondeu: “Eu acho que nós temos que terminar, porque a ditadura desmoralizou a sublegenda.

Agora, se você for lá no Uruguai, verá sublegenda. Mas a sublegenda no Uruguai é a mais alta sofisticação da Democracia. O que é uma eleição no Brasil? Um partido vai lá, reúne, escolhe um, o outro escolhe outro e o povo tem que escolher entre um e outro que foram escolhidos pela cúpula do partido. Sublegenda não. Sublegenda, o grupo a, o grupo b, o grupo c, qualquer cidadão que acha que tem condições se candidata e o povo é que vai decidir. As primárias funcionam assim. Acho que no Brasil uma eleição que nem essa e que depois de cinco eleições o Lula não vai figurar na chapa e não tem nenhum partido com candidatura nata, seria muito positivo se fizéssemos as primárias.

Por exemplo, o MDB decide, e gostei muito quando o Senador Renan disse, o MDB não é a noiva não, a noiva é a avó daquele Senador que disse que o MDB é a noiva, o MDB é um grande Partido, Partido que tem maior número de vereadores, maior número de deputados estaduais, maior número de deputados federais, maior número de prefeitos, maior número de tudo e maior número de eleitorado, seis milhões de votos a mais do que o segundo lugar. Isso é um grande Partido. Não é partido para a imprensa publicar que estamos aí na base de quem dá mais, quem paga mais. Não! Concordo com o Senador Renan quando diz que a credibilidade, a governabilidade, hoje, neste País, passa pelo MDB, passa pelo MDB. Imagine se o MDB aqui no Congresso fosse oposição. Se o MDB neste Congresso fosse oposição, o impeachment já tinha acontecido. Naquele hora, quando o PFL estava estudando e os juristas entraram com o pedido de impeachment, eu fui lá na reunião deles e disse, ó, vocês estão enganados.

Pegaram os melhores juristas para chegar à conclusão de que o impeachment não é questão de jurista. Porque não precisa de jurista para fazer o impeachment. Bato o requerimento aqui e peço o impeachment. Precisa ter embasamento; precisa ter condições. Como é que eles vão agora, pura e simplesmente, pedir o impeachment do Lula. Baseado em quê? Eles concordaram e retiraram. Retiraram.

Se o MDB tivesse entrado na tese da impeachment, o impeachment teria passado, e o Lula não seria mais Presidente. E não sei aonde nós iríamos terminar. Sinceramente, não sei aonde nós iríamos terminar.

Então, o MDB é um Partido que tem essa credibilidade. Assim como foi o MDB que deu força para o impeachment do Collor. Foi o MDB que deu sustentabilidade para entrar o Itamar e o Itamar poder governar. Imagina se o MDB não tivesse dado apoio para o Itamar, o que o Itamar ia fazer?

Falando em Collor, sempre repito, se há uma pessoa que agiu com dignidade, com respeitabilidade, foi o Collor no episódio do impeachment. E hoje reconheço, tudo que nós encontramos em relação ao Collor, se formos olhar o que veio depois... O que aconteceu com o Collor deve ir para o Juizado de Pequenas Causas: comprado um automóvel, um cheque do PC Farias... Juizado de Pequenas Causas. Mas a verdade é que o MDB deu sustentabilidade.

Então, hoje, volto a repetir, não falo em candidatura própria do PMDB, porque, se eu falar isso, vai ter gente querendo usar esse argumento para fazer chantagem e pegar mais cargos. Para isso eu não aceito.

Tenho o maior respeito pelo Presidente Nacional do MDB. Se bem que eu acho que a Presidência Nacional do PMDB está cheia de paulistas. E o MDB não é um partido paulista, mas foi Dr. Ulysses, o Quércia, o atual... Mas que venha um presidente de outro Estado!

E vai-e-vem, termina um paulista também na Presidência da Câmara dos Deputados. Foi o Dr. Ulysses; foi o do PT paulista; foi o do PCdoB, também paulista; foi o do PT de novo, também paulista; e agora o do PMDB, também paulista. Mas é o candidato natural o Presidente do PMDB, do maior Partido. E é o maior Partido que tem direito à Presidência. O PT já o apóia, o Lula já o apóia; é o candidato natural!

Eu acho que ele deveria se licenciar porque aí a Íris, assumindo a presidência, teria mais condições de dizer aquilo que é natural. Ele é o candidato natural à presidência. Não precisa dar a entender que vai ser caridade; não precisa dar a entender que vai ser uma negociação de favores, de vantagem. Ele é o candidato natural. E que bom se o Lula entendesse isso.

O PSDB já entrou no Supremo com um pedido para saber se ele pode fazer primária. Para mim não precisava entrar. Pode. O MDB já fez. Na última eleição, nós fizemos a primária entre o Garotinho e o Rigotto. Saiu a primária. É verdade que depois não saiu convenção, mas a primária saiu. Sem problema nenhum. Andaram pelo Brasil inteiro.

         Agora, o que se defende é um pouco diferente. Não tem candidato natural à Presidência. O Lula está indicando a Ministra Dilma. E eu sou fã da Dilma. Eu divido o Governo do Lula entre antes e depois da Dilma. Um é o Governo do Lula com o José Dirceu na Casa Civil, que quase terminou em impeachment; o outro é o Governo do Lula com a Dilma. Eu não sei o que tem, mas pode acontecer o que houver de errado no Governo Lula, mas eu não vejo nenhuma corrupção que saia da Casa Civil. Eu não vejo. Antes, era tudo na Casa Civil. O negócio do mensalão - a gente já vê que as pessoas que estavam articulando o mensalão o faziam num gabinete dentro da Casa Civil, em uma sala ao lado da sala do Ministro. Agora, não. Eu não conheço nada. Acho um grande nome.

         Mas, por que, em vez de o Lula se impor ao desgaste de botar a ferro e fogo uma candidatura, a gente não faz? O MDB decide: vai com o PT, em aliança, ou vai com o PSDB. Vamos decidir. Vamos com o PT? Muito bem. Vamos fazer uma primária: o PT vem com a Dilma; então, vem com a Dilma. O PDT tem o Cristovam. É candidato do PDT. O Cristovam vem com o PDT. O PSB já tem o Ciro Gomes; vem com o Ciro Gomes. O Partido Verde já tem o que foi candidato a Prefeito no Rio de Janeiro, uma bela candidatura. Vem com ele. O MDB pode ir com um candidato. Pode ir. Cá entre nós, dizer que não há ninguém é piada. E vamos disputar a primária. Vamos estudar a fórmula de chegar a um entendimento. Como é que vai ser? Para o MDB, seria ótimo se todos os filiados pudessem votar. Os outros podem não querer, porque o MDB é o que tem mais filiado. O partido que tem mais filiados é o MDB. Mas podem escolher uma outra fórmula. Vamos fazer uma grande pesquisa, com grande responsabilidade, com a elite, a fórmula que quiser. Quem ganhar, ganhou. Fazendo essa prévia - vou falar do Lula e da Dilma -, será muito mais fácil a Dilma ser Presidente da República, porque ali ela poderá se impor, mostrar o que ela é, em vez de ir direto para Presidente da República como candidata - ela e o Serra, por exemplo -, sem que ela tenha credibilidade. Ela só aparece como candidata do Lula e não como candidata da sociedade. Seria uma grande solução. O Brasil iria mudar. Nós podermos percorrer o Brasil num grande debate... Se nos Estados Unidos, que são os Estados Unidos, houve uma revolução nos debates, primeiro entre o Obama e a Hillary e depois entre o Obama e o candidato republicano. Lá, que já é tradicional, mudou. Eleitores que nunca votaram - nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório -, jovens, pessoas que nunca deram bola, aos milhares, pela primeira vez, tiraram o título e foram votar. Se nos Estados Unidos, onde esse comportamento já é tradicional, aconteceu isso, imaginem no Brasil. Imaginem no Brasil, duas, três frentes...

Estão dizendo que os partidos de esquerda - hoje a gente não sabe o que é esquerda e o que é direita - também estariam querendo fazer uma candidatura deles. Pode ser. Por que não? Pode ser. E vamos para um grande debate. É muito melhor do que conchavo. Do que o seu Lula trocar: “Não, o PMDB me apóia e eu dou seis ministérios”. Aí vem o Serra, o PSDB: “Não, mas me apóia que eu dou sete”. É ridículo! Não fica bem para ninguém.

Eu não falo em candidatura própria do PMDB para não usarem minhas palavras. Olha, o Simon já está falando em candidatura própria. Tem gente que quer. E aí aumenta a negociação. Então, me dá mais tanto. Não. Não usem meu nome para isso.

Agora, esse projeto... V. Exª, que tem diálogo com o Presidente Lula, Senador Renan, poderia conversar com ele sobre isso. Eu não sei ainda o pensamento dele. Eu sei o pensamento de muita gente que se mostra com muita simpatia. Mas seria uma grande fórmula de iniciarmos. E para nós, do MDB, seria realmente extraordinário.

Assisti ao discurso do Senador Renan e o felicito, porque acho que é por aí mesmo. É por aí. O MDB é o partido que representa, hoje, governabilidade. Mas nós temos de ter personalidade.

O MDB, na eleição anterior, fez o maior número de Deputados Estaduais, o maior número de Deputados Federais, o maior número de Senadores e o maior número de Governadores. E não fez nada. Não se reuniu, não conversou. Nada! Ficou tudo igual.

Agora, o PMDB fez o maior número de Prefeitos, o maior número de Vereadores, e teve seis milhões de votos a mais do que o PT; uma coisa fantástica! E também nós vamos nos reunir; não estamos fazendo nada, porque o Presidente do partido só tem um objetivo: ser presidente da Câmara dos Deputados, o que é legítimo. Mas por que não se licencia e entrega a coisa? O PMDB tem de se reunir.

Agora, na quarta-feira, fizemos uma reunião muito bonita. Estavam os Senadores, Deputados, os nossos Prefeitos e Ministro. Bonita reunião, mas ninguém falou nada. Eu pensei que alguém ia falar, ia conversar, ia expor alguma coisa.

O Governador Luiz Henrique, coitadinho, com uma cara dramática, disse: “Mas eu vim aqui porque me disseram que era urgente, que eu tinha de vir. Tu sabes para o que é?” Eu disse: “Não, não sei”. Aí ele disse: “Eu vou embora”. Ficou meia hora e, quando viu que não ia ter nada, voltou para Santa Catarina.

Vamos fazer uma reunião nesse sentido. Vamos marcar uma reunião. Agora, reparem os senhores: não sai a reunião porque o Presidente do partido só pensa na Presidência da Câmara. Não sai a reunião, porque... Não pode! Não pode, Presidente! Nós temos todas as condições de ser um partido. É verdade que, desde as mortes do Dr. Ulysses e do Dr. Tancredo, o MDB perdeu o comando nacional. Isso tem um lado positivo: todos os Estados têm grande força, têm grandes lideranças - V. Exª, no Piauí; o Senador Renan, no Brasil, mas, de modo especial, em Alagoas; o Requião no Paraná; o Governador do Rio de Janeiro. Em todos os Estados, nós temos grandes lideranças, mas falta uma coordenação nacional.

Convém reparar que a coordenação nacional que falta não é fruto da guerra interna, porque a imprensa dá a entender que é uma briga de Estado com Estado, de liderança estadual com liderança estadual. Não é verdade. É mentira.

Nós não temos briga. Por exemplo, nós não temos o Requião querendo ser candidato a Presidente da República... Briga tem o Governador de São Paulo com o Governador de Minas Gerais. Isso é briga. É um negócio que vai... Briga tem o Governador de São Paulo, que arriscou perder tudo, mas apoiou um candidato do PFL contra um candidato do seu próprio partido e o derrotou. Isso é briga. Mas o MDB não tem isso. Qual é a disputa que nós temos? Nada.

Lá na Câmara, o candidato é o Presidente. É o candidato natural. Só ele não sabe disso. Só o Sr. Presidente Nacional do PMDB não sabe que ele é o candidato natural. Ele não precisa mendigar. Ele tem que manter a sua dignidade, o posto. E não há ninguém mais bem preparado do que ele. Se perguntarem - e tragam aí os 500 Deputados - sobre cultura, capacidade, experiência e seriedade, não há ninguém como ele. É o candidato mais competente, de melhor biografia. O partido dele é o maior partido. O Presidente da República está com ele. Para que ele está sofrendo nos estertores da morte, metendo-se na eleição do Senado e não sei mais o quê?! Para que isso? E o que é mais grave. Claro que a Presidência da Câmara é importante. Não como eu ouço dizer, que a Presidência da Câmara é mais importante que a Presidência do Senado. Não sei. Eu acho que a Presidência da Câmara é importante, mas, na Câmara, são 500 Parlamentares, onde... Aqui é diferente.

O Presidente do Senado, modéstia à parte, na hora, tem um poder específico que não dá para se tirar. Reparem o Garibaldi. A posição que ele assumiu de devolver a medida provisória foi da maior importância. Mas o Presidente do Partido está envolvido na candidatura dele e esquece o resto. Acho que temos de fazer. A eleição ainda levará dois meses, até 31 de janeiro. Se até o dia 31 de janeiro o Presidente do Partido só pensar nisso, vamos perder muito tempo nesse sentido. Em primeiro lugar, se ele não estivesse fazendo nada, se ele estivesse viajando, ele estaria melhor, porque aqui só está fazendo coisa errada. O Partido tinha de fazer isso, Sr. Presidente.

Por isso, Senador Renan, falei na reunião da Bancada que o setor que mais tem condições de fazer isso é a Bancada do Senado, porque são poucos, são 20. Na Bancada na Câmara, são 100; é mais complicado. Ali já existem interesses regionais, aquela questão toda, que nós não temos. Por exemplo, na Câmara, o Presidente do Partido é candidato a Presidente da Câmara; o 1º Secretário da Câmara, ilustre Deputado do Paraná, está tentando ser candidato; a Deputada Camata também está pensando em ser candidata. Então, há uma série de coisas. No Senado, nem isso. A Bancada do Senado está lá. O Sarney diz que não quer, que não quer, e as pessoas insistem no fato de que ele deve ser. Não há problema algum na Bancada do Senado. Não há questão alguma.

O que se pode dizer é que a questão é falta de vaidade, de gente interessada. Não há nenhum problema nesse sentido. Por isso, eu acho que a Bancada do Senado tem condições de fazer isso. Na próxima reunião, vamos tentar fazer isto, vamos tentar assumir o comando e marcar uma reunião agora, no recesso.

Eu me lembro de que, como agora, nesta hora que estamos vivendo, agora, estávamos nos aproximando do recesso, quando se votou, no Congresso, a extinção da Arena e do MDB. Eu me lembro de que o Senador Sarney foi para a tribuna defender a extinção da Arena, e eu fui falar em nome do MDB, 1º Vice-Presidente, contra. Eu me lembro da frase que disse ao líder, nunca me esqueço: “Até nas flores se nota a diferença de sorte. Umas significam a glória, outras significam a morte. V. Exª vem a esta tribuna defender a extinção do seu partido, o maior partido do Ocidente. E venho eu a esta tribuna defender a permanência do meu partido”.

Na verdade, na verdade, naquela época, quando extinguimos os partidos, eram 10, 4, 5, 6, agora, de dezembro. E aí estava o Brizola querendo criar o partido dele, estava uma confusão e nós íamos entrar em recesso. Íamos entrar em recesso, e o que ia acontecer? Partido extinto. O Dr. Ulysses - a sede do MDB era no andar de baixo e não onde está hoje - estava naquela mesa, enorme, de reunião, de cabeça baixa, ali, já estava começando a depressão dele.

Para ele era o fim, não tinha mais o que fazer. O Teotônio - eu era 1º Vice-Presidente - vem ao meu gabinete: “Nós temos que fazer alguma coisa, nós não podemos ir para casa agora, porque quando nós voltarmos, em março, não sobra nada”.

Aí decidimos - vejam que coisa fantástica, não tinha nada - lançar o sucedâneo. Não tinha nome, não tinha nada: sucedâneo. E o que nós fizemos foi marcar uma reunião para fim de janeiro, início de fevereiro, para nos reunirmos e vermos o que fazer. E o apelo - isso é que era importante - era que ninguém do MDB tomasse posição antes dessa reunião. O PDT, o Partido Trabalhista, o PT estavam correndo feito doidos para pegar a nossa gente. E a nossa gente estava no ar, dispersa, sem saber o que fazer. E aí nós lançamos. Foi no meu gabinete. Teotônio e eu decidimos lançar o sucedâneo.

Convocamos toda a imprensa para o Salão Azul - ou era Verde? - da Câmara dos Deputados. Aí, quando fomos lá, eu disse: “Vamos buscar Ulysses, Teotônio”. E o Teotônio... Havia uma implicância entre os dois. O Dr. Ulysses tinha implicância com todo mundo que podia ser candidato a Presidente da República junto com ele: com Brizola, com Tancredo, com Montoro, com Covas, com Arraes, com o Teotônio!

Aí o Teotônio disse: “Simon, deixa o velho lá, ele não quer mais nada, lança tu! Lança tu!” Eu digo: “Não, Teotônio!” E ele: “Ele não vai vir!”. Eu disse: “Bom, se ele não vier, é outra coisa. Agora vamos lá convidar ele para vir”. Fomos lá. Ele olhou assim e veio. Mas o Ulysses se reanimava quando via o povo. Quando ele viu aquele salão lotado de gente, de repente, virou outro Ulysses, rejuvenesceu quarenta anos e lançou o sucedâneo. E aquilo nos salvou. Aquilo nos salvou!

Viemos aqui em janeiro, decidimos fundar o partido, demos o nome de PMDB e fundamos o maior Partido que existe. Eu não sei o que, Renan, mas acho que a Bancada podia tentar fazer isso. Vamos marcar uma reunião para janeiro ou fevereiro, convidar todo mundo para vir aqui e vamos conversar. Vamos conversar, vamos sentar, vamos debater. Acho que seria uma grande coisa.

O eleitorado tem o direito de esperar isso de nós, porque as pessoas dizem: “Poxa, vocês tiveram uma vitória espetacular e não dizem nada, ninguém fala nada, ninguém fala nada”. E, volto a repetir, eu não estou falando em candidatura própria, para não usar nem aí o negócio e nem quero essa reunião de janeiro para candidatura própria. Não sou contra, nem a favor, mas não é essa a discussão, mas para decidir os destinos do Partido.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, regimentalmente V. Exª terminaria, mas vamos prorrogar.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Estou terminando, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pelo contrário. A maior emoção que tivemos nos últimos dias no Brasil foram os cento e vinte minutos do Rio Grande do Sul: o Internacional e o time da Argentina.

V. Exª está tendo menos minutos, mas de uma grandeza muito maior pela política internacional e a nacional. Então vamos prorrogar por mais trinta minutos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

Mas acho que seria uma decisão muito bonita. Olha, Renan, me machuca quando vejo na imprensa PT e PSDB e olha para nós como... Por isso, quando aquele Senador falou que nós somos a noiva, por amor de Deus, vamos nos respeitar, vamos nos respeitar. O MDB é um grande Partido, tem história, tem biografia.

Na história do Brasil, que os partidos não valem dois mil réis, desde o Império até hoje, só tem um Partido com história marcada na história do Brasil, que é o MDB. Não se deve nada a partido político. A República não se deve a partido político, leis sociais não se deve a partido político, não se deve nada no Brasil a partido político. Nada nasceu de partido político. Leis sociais, Getúlio Vargas ditador, baixou a caneta e, de cima para baixo, fez todas as gestões sociais. Leis sociais que, nos Estados Unidos, foram obtidas depois de guerra, morte. O dia 1º Maio é o Dia do Trabalhador, porque, em Chicago, eles levantaram e morreram, tombando pela defesa dos direitos sociais. No Brasil, o Getúlio deu de presente. Por isso que até hoje os trabalhadores não valorizam isso.

         Por isso, o MDB é um Partido que está na história, porque, quando tu estudares, a hora mais dura do Brasil foi a ditadura. Não foi uma ditadura como a do Getúlio. No mundo inteiro, era integralismo, era fascismo, era comunismo, era nazismo. No mundo inteiro, uma interrogação ali, tanto que terminou lá e caiu aqui. Era natural, não houve nada. Houve a democracia lá e houve aqui. Mas essa outra não; essa outra foi dramática. Quem foi? O MDB. O MDB teve a competência, a capacidade, a sagacidade de conduzir o povo e junto com o povo ir adiante. Esse é o MDB. Ninguém pode nos dar lição, nem o Lula, nem o PT. Ninguém pode nos dar lição.

Vamos reunir, vamos discutir. Eu volto a repetir: não se diga... A imprensa está insistindo que o MDB é uma coligação de “liderotes” estaduais, não tem nenhum líder nacional, mas tem todos os liderzinhos estaduais, e, por isso, não vai adiante. Não é verdade. Não é verdade. O MDB não vai adiante, porque o seu comando não faz a coordenação dessas lideranças estaduais em termos de uma proposta nacional. Isso é importante, Presidente. Isso nós podemos fazer.

Eu vejo no Governo do Lula coisas altamente positivas. Eu sou fã do Patrus Ananias. Acho que o trabalho que ele vem fazendo é algo profundo. Eram 18 milhões de brasileiros, Presidente, que passavam fome. Eu tenho falado com essa gente, que diz: “Senador, é a primeira vez que eu sou gente. É a primeira vez, na minha casa, que a gente come todos os dias”.

Isso resulta de um grande projeto. É uma grande coisa que foi feita. Quanto a isso, eu não tenho dúvida nenhuma, mas não quer dizer que o Governo Lula seja perfeito.

Há muita coisa equivocada. Equivocada por quê? Porque as coisas são feitas diretamente. O MDB não tem um diálogo de partido com o Lula. É o Ministro Fulano, é o Ministro Sicrano, é o Deputado Fulano, é o Senador Beltrano... Coisas diretas... O Lula faz isso porque diz que dividir é bom para governar, mas não se dá conta de que seria muito melhor se ele dialogasse com os partidos, com força e com autoridade, para não ficar escravo desse ou daquele lá. Muitas vezes, ele tem que receber, aceitar, nomear pessoas que ele sabe, e a gente também sabe, que a biografia não é muito boa.

Vamos ver na reunião que vamos ter na semana que vem se conseguimos que o meu Partido monte a Bancada, porque tem que ser a Bancada. A Executiva é muito heterogênea. E, hoje, está lá o Presidente pensando apenas na candidatura dele a Presidente da Câmara; não está pensando em mais nada do que isso. Na Bancada Federal são cento e tantos Parlamentares. Aqui, nós somos 20 e temos condições de iniciar, não que queiramos fazer o comando, não queremos, pelo amor de Deus, nem me passa pela cabeça. Quero a iniciativa de colocar a coisa que lá, adiante, a Executiva... Não estou dizendo que nós, da Bancada, queremos assumir o comando, queremos assumir uma posição, pelo amor de Deus; estou dizendo que vamos assumir a iniciativa de começar, de levar adiante o processo, depois vem o Comando Nacional e vai adiante, e vem a Bancada Federal e vêm os Governadores, vão todos participar desse processo.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª, ao Senador Renan e aos telespectadores. Essa reflexão me parece importante.

Primeiro, o Obama. Eu não alimento a desilusão de que ele começou errado, porque trouxe grandes nomes, mas alimento a expectativa das primeiras atitudes do Governo dele.

Segundo, com relação a nós. Se o Lula aceitasse a hipótese de sentar para discutir, para debater, ele se transformaria num grande estadista, porque seria ele o Presidente, em vez de fazer um processo chocho, onde o trabalho dele vai ser querer impor ao seu Partido uma candidatura, isso para não falar naqueles que - eu não acredito nisso - ainda desconfiam de que lá, no fundo, ele quer a reeleição dele. Acho que não. Acho que o Lula está tendo a grandeza... Acho que se o Lula partisse para a reeleição seria capaz até de ganhar, mas seria muito triste. O Lula não duraria os doze anos, ninguém ficaria impune doze anos. Seria dramático. Fazendo uma sucessão democrática, ele pode até voltar depois de quatro anos e vai ser um grande estadista. Mas, se nessa condução, em vez de ele levar tudo para botar goela abaixo do PT uma candidatura e goela abaixo dos partidos que estão com ele uma candidatura, ele fizer essa abertura - sou muito sincero - acho que o candidato dele... Hoje, a Dilma ganharia essa primária. E não tenho por que achar que ela não seria. Mas seria democrático, seria aberto. Seria uma chance de uma grande discussão. Mudaria a história do Brasil, e Lula ganharia com isso. Eu não tenho acesso... Eu falava muito com Lula antes de ele assumir. Lembro-me de quando ele esteve em um jantar em minha casa e me convidou para ser Ministro do Governo dele. E eu disse a ele que não o ajudaria como Ministro, que eu o ajudaria muito mais aqui no Senado. Aí, se falou na possibilidade de eu ser Líder. Depois aconteceu aquele episódio, e a televisão mostrou o cidadão pegando o dinheiro e pondo-o no bolso. Saí daqui e fui lá falar com o Lula. Entrei no gabinete dele e disse-lhe: demite para marcar teu governo. Se apareceu na televisão o cara pegando o dinheiro e contando como era a propina!... Mas ele não demitiu... E, aí, marcou o governo dele, pelos problemas que aconteceram. Se Lula aceitar uma tese que nem essa - claro que ele vai aprimorar, pois é uma tese inicial do que pode acontecer -, eu acho que ele fará um grande papel e um grande caminho.

Quanto a nós, meu bravo Senador, se você, com a liderança que tem, nos ajudar para que, ao contrário do que as pessoas estão pensando, a reunião seja tranqüila, equilibrada... Eu disse, pessoalmente, a V. Exª que nós podemos chegar a um entendimento em que todos estejamos juntos e, assim, nós podemos começar a traçar um rumo muito importante para o nosso País e o nosso Partido.

Eu agradeço a V. Exª, eu agradeço ao ilustre Senador Renan e agradeço aos senhores telespectadores que devem estar me assistindo. Sei que amanhã receberei um número muito grande, como sempre recebo, de telecomunicações analisando, interpretando. Isso é tão emocionante, porque eles consideram... Como não sou um Líder de idéias feitas, não sou um Teotônio, eles me dão muita sugestão e me criticam. Eu aprendo muito com essas mensagens que eu recebo e que, de um modo especial, me dão otimismo, porque eu sinto que estou reproduzindo aqui o pensamento das bases do nosso País.

Muito obrigado a V. Exª, Sr. Presidente. De coração, muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2008 - Página 50055