Pronunciamento de Serys Slhessarenko em 08/12/2008
Discurso durante a 232ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem à primeira mulher Presidente da Academia Matogrossense de Letras, Dra. Nilza Queiroz. Leitura de manifesto aberto à nação brasileira, intitulado "Fome de Saber": a escola pública, os negros e indígenas, pedem passagem para a universidade pública".
- Autor
- Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
- Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
EDUCAÇÃO.:
- Homenagem à primeira mulher Presidente da Academia Matogrossense de Letras, Dra. Nilza Queiroz. Leitura de manifesto aberto à nação brasileira, intitulado "Fome de Saber": a escola pública, os negros e indígenas, pedem passagem para a universidade pública".
- Aparteantes
- Mão Santa.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/12/2008 - Página 50394
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, ESCRITOR, MULHER, PRESIDENTE, ACADEMIA DE LETRAS, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELOGIO, OBRA LITERARIA, COMENTARIO, HISTORIA, ENTIDADE.
- LEITURA, DOCUMENTO, DEFESA, APROVAÇÃO, SENADO, PROJETO DE LEI, GARANTIA, VAGA, UNIVERSIDADE, ESTUDANTE, ESCOLA PUBLICA, NEGRO, INDIO, TRAMITAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, ELOGIO, PROGRAMA, INCLUSÃO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, ENSINO SUPERIOR, SETOR PRIVADO, IMPORTANCIA, EXPANSÃO, PROJETO, ENSINO PUBLICO, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL.
- APOIO, PROJETO DE LEI, COTA, UNIVERSIDADE, REGISTRO, ESFORÇO, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO JUSTIÇA E CIDADANIA, DADOS, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), DEMONSTRAÇÃO, AUSENCIA, DIFICULDADE, ESTUDANTE, PARTICIPAÇÃO, PROJETO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes.
Senador Paulo Paim, Senador Mão Santa, gostaria de começar anunciando um fato que para nós, de Mato Grosso, é muito significativo, principalmente porque aconteceu durante os dezesseis dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres.
Quero homenagear a primeira mulher a presidir a Academia Mato-Grossense de Letras, Drª Nilza Queiroz.
Drª Nilza Queiroz é uma contadora que passou no vestibular quando tinha 50 anos, tornou-se escritora aos 65 e, aos 75 - está tudo publicado aqui, D. Nilza - assumiu a presidência da Academia Mato-Grossense de Letras, sendo a primeira mulher a assumir esse cargo.
A nossa Academia Mato-Grossense de Letras é uma instituição que tem quase 90 anos de existência e tem, como estou aqui dizendo, pela primeira vez, uma mulher a sua frente como presidente. Isso é um prestígio, é um avanço.
Queria aqui saudar e homenagear todos os acadêmicos da nossa Academia Mato-Grossense de Letras. Nilza é uma lutadora, já escreveu mais de 500 crônicas e um livro intitulado Crônicas da Cidade Verde. São crônicas de Cuiabá, que é chamada Cidade Verde, em que ela fala do cotidiano da cidade. Ela conseguiu, com muita luta, publicar esse livro. Quer dizer, é uma mulher lutadora, guerreira, batalhadora que fez um vestibular aos 50 anos, começou a publicar suas obras aos 65 anos e hoje chega à presidência da Academia Mato-Grossense de Letras. Com certeza, Nilza Queroz tem muitos méritos e é um exemplo a ser seguido, pela perseverança e persistência na conquista de seus objetivos, como mulher e como profissional.
Parabéns aos acadêmicos da Academia Mato-Grossense de Letras por terem visto os méritos de Drª Nilza Queiroz e a elegerem presidente. Especialmente o nosso abraço, o nosso carinho à D. Nilza Queiroz por todas as suas lutas. E ela assume mais uma, em que, com certeza, será vitoriosa.
Eu gostaria agora, Sr. Presidente, de ler um manifesto aberto à Nação brasileira pela aprovação do projeto de reserva de 50% das vagas para escola pública, respeitando a proporção de negros, indígenas e o critério de renda, conforme aprovado em 20 de novembro de 2008.
Esse manifesto, Sr. Presidente, intitula-se Fome de Saber: a escola pública, os negros e indígenas pedem passagem para a universidade pública.
Vitória é o nome da mulher de Fabiano em Vidas Secas, a narrativa literária da fome no Brasil, livro que faz 70 anos em 2008.
Falta do que comer, falta de achar palavras para dizer isto, é parte do drama da família retirante nordestina.
No Brasil, em dezembro de 2008, época de vestibulares viciados, há muita fome de saber, há fome de universidade pública e gratuita, muita fome.
A moça negra que concluiu o ensino médio em Cidade Tiradentes, periferia de São Paulo não acreditava que a USP era de graça: “Nunca vi propaganda da USP na televisão, ela existe mesmo?
Cerca de 4 milhões de pessoas, como Idalina, brasileiros e brasileiras, fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM-2008, com o estômago e o olho na universidade, a maioria da juventude brasileira sonha em entrar numa universidade, mais de 70%, conforme identificou pesquisa em caderno recente sobre juventude, no jornal Folha de S.Paulo, e pesquisa de campo coordenada por pesquisadores da Ação Educativa no ensino médio. Muitos homens e mulheres entre 30 e 60 sonham do mesmo jeito com isto. O mundo tá virado.
Em torno de dez milhões de pessoas estão matriculadas no ensino médio público brasileiro, significando por volta de 88% do total de matrículas. Repita-se: há fome de saber e de universidade pública, em milhões de famílias brasileiras.
Como a fome de Fabiano, do menino mais novo, a fome de saber tem pressa, quer comer já.
Há políticos sérios e responsáveis no Brasil.
Felizmente! Somos muitos, com certeza, Presidente. E aqui aqueles que lançam esse manifesto dizem, confirmam: Há políticos sérios e responsáveis no Brasil.
Na era do conhecimento, em tempo de crises econômicas, o País da Casa-Grande e Senzala, historicamente, com uma das piores distribuições de renda do planeta, não pode vacilar, não pode pestanejar. Mudanças começam a acontecer. Angústias e imprecisões não podem impedir que elas avancem. Até o índice de Gini começou a captar isso.
Como no livro Vidas Secas, grassa no ar do Brasil um grave problema com usos e significado das coisas e das palavras em setores da grande imprensa.
Como a família de Fabiano, estamos em combate pacífico para matar nossa fome de saber.
À maneira de Graciliano, dói ver imagens e faltar palavras na boca para traduzi-las. Por outro lado, assusta a jactância, a eloqüência e o vômito das palavras sofisticadas de alguns, semeando verdades autoritárias como arpões caçadores de baleias no mar populacional brasileiro. Baleia peixe, baleia cão faminto, baleia gente faminta de saber!
Na dor do parto do Brasil, há o sangue do africano escravizado, da africana escravizada Há sangue dos indígenas autóctones. Há o peso do poder de fogo, objetivo e subjetivo, do colonizador branco, barbudo, como diria Darcy Ribeiro.
Nossa tradição cristã, como nos ensina Florestan Fernandes, nos fez tementes a Deus e ao pecado. Por causa do pecado, nunca foi de bom-tom falar em público das coisas feias dos mais de 350 anos de escravidão. Por isto o racismo das rodinhas privadas e das restrições públicas sempre quis se esconder, impossível, porém, ser deixado embaixo do tapete pela razão.
Só o choque dos diferentes sistemas imunológicos dizimou milhares de indígenas.
Estranha a história do Brasil: a minoria subjugou as maiorias, os que vinham de África e os naturais da terra brasilis.
Como o tambor africano e a flecha indígena, repitamos, à moda de Gonçalves Dias, há políticos e políticas sérias no Brasil.
Por ora, fujamos como o diabo da cruz dos tapa-olhos que não querem nos deixar ver África no Brasil, nem povos indígenas no Brasil.
Vamos ver as coisas com olhos limpos. Afinal, até releitura da obra machadiana o Brasil teve em 2008. Fruto de pista deixada por estudiosa americana que leu e escreveu sobre Machado nos anos de 1960, anos de intensa lutas pelos direitos civis nos EUA, seja pelo direito do negro, seja pelo direito da mulher, que deu na Lei dos Direitos Civis Americanos e na figura histórica de Martin Luther King.
Então, a questão não é mais se Capitu traiu Bentinho, disse famoso professor da academia brasileira, na abertura da Feira Literária de Paraty 2008, um dos maiores estudiosos da obra do mestre na periferia do capitalismo. Mas, se a menina pobre da periferia seria aceita na tradicional família escravocrata brasileira do século XIX, daí a ira, o poder brutal machista que Bentinho descarrega sobre Capitu visando destruí-la. Este outro olhar sobre o negro Machado de Assis, também festejado em 2008, pode nos ensinar coisas sobre as reações atuais aos movimentos dos machadinhos, das Capitus e de tantos outros.
Por isso, como Padre Vieira, repitamos para fazer ouvir os peixes do Brasil: há políticos sérios e responsáveis no Brasil.
Óbvio, há os de outro tipo também, desnecessário falar destes.
Em Brasília, na casa do povo, em 2004, os políticos sérios e responsáveis, fossem de que partidos fossem, aprovaram o sistema público de bolsas de estudos em universidades privadas, o ProUni e com isso criou-se jurisprudência, respeitou-se a escola pública, o homem negro, a mulher negra, o homem pobre, a mulher pobre. Nas vilas, quebradas, favelas, baixas periferias, espalhou-se a notícia como um raio.
Muita gente, mais de 384 mil até 2008, Senador Paim, muitos talentos puseram os pés na universidade privada, não apenas para fazer a massa e pôr cimento, como entoa a canção, mas desta vez para estudar. A maioria era a primeira geração de suas respectivas famílias que iam para a universidade. Mais de cem mil negros e negras e indígenas entraram na universidade. Os políticos sérios e responsáveis fizeram a boa semeadura do saber, para saciar a fome de saber dos povos brasileiros.
Não foi tudo bela viola. Havia quem duvidasse da habilidade intelectual dos pobres. Tossiam as exceções, jogando a culpa nas vítimas, para não mudarem as regras, acreditavam na exceção tipo Machado, não acreditavam na regra, não acreditavam no povo brasileiro.
O desempenho intelectual no Enem e dentro das universidades dos machadinhos e capitus do ProUni desmascarou os pecadores envergonhados das elites. Com mérito e oportunidade para mais gente, o Brasil se fez mais coeso socialmente um tantinho assim. Nenhuma guerra racial ocorreu.
O Setor, como se diz polidamente no Congresso, ganhou. Faculdades e universidades privadas ganharam. De forma que, mesmo com controvérsias, foi um jogo de soma positiva, pois os novíssimos movimentos sociais que lutavam por um sistema público de bolsas ganharam também.
Outros, de outra estirpe, também os há, como diriam Vieira e Gregório de Matos.
Em 2008, de tantas efemérides carregadas de simbologia de sentimento de soberania nacional, o Congresso Nacional agiu. Verbo é ação como dizem a Bíblia de Goethe.
A Comissão de Educação do Senado e da Câmara realizaram em 13 de maio de 2008 o Seminário “200 anos de ensino superior no Brasil, a escola pública pede passagem para a universidade pública! As pegadas das faculdades, dos cursos superiores deixadas no chão brasileiro desde a chegada de D. João VI, foram seguidas pelo Zé Esperança, pela Maria Esperança, sem universidade, acreditando que a sua hora de ir para a universidade pública chegaria.
A opção trilhada pelos novíssimos movimentos sociais em sua ação no Congresso Nacional em um tempo de Presidente da República sem universidade, que tanto sofreu na pele esse preconceito, foi de urbanidade, de pressão social legítima, de diálogo intenso, autonomia, diplomacia, ação cultural e caráter supra-partidário, nem que fosse muitas vezes aos trancos e barrancos. Tanto a esse modo que o Professor Paulo Delgado, Presidente da Comissão de Educação da Câmara ficou meio incrédulo, mas feliz, quando houve consenso em garantir o projeto de reserva de 50% das vagas, por turno e por curso, para a escola pública na universidade pública, respeitando a proporção de negros e indígenas, conforme o IBGE, região por região.
A relatoria era do Deputado Carlos Abicalil; a autoria era da Deputada Nice Lobão, de Partidos bem diferentes, mas coesos. A Comissão de Educação da Câmara aprovou o projeto por unanimidade, [sob a relatoria do Deputado Carlos Abicalil, do nosso Estado de Mato Grosso. O projeto foi aprovado, por unanimidade, na Comissão de Constituição e Justiça: política com “p” maiúsculo, políticos e políticas sérios.
Meio incrédulo, mas também contente, o professor Cristovam Buarque, em agosto de 2008, na Comissão de Educação do Senado Federal, como Presidente, homem que tem credenciais para liderar a Unesco num mundo que precisa de mais representação do Sul nesses órgãos internacionais, assistiu à emenda de um Senador goiano, no sentido de estender a reserva de vagas de, no mínimo, 50% para a escola pública na universidade pública, no ensino técnico e tecnológico no Brasil, por turno e por curso, respeitando a proporção de negros e indígenas no Brasil, projeto de uma Senadora catarinense, relatada por um senador gaúcho. Marconi Perillo, Paulo Paim, Ideli Salvatti e toda a Comissão de Educação do Senado Federal votaram em uníssono. A notícia, de pronto, espalhou-se pelo Brasil. A Comissão de Educação do Senado Federal aprova, em caráter suprapartidário, as esperanças dos Zés e Marias sem universidade. Alegria em milhares de lares brasileiros.
Como a pintura de guerra no rosto da índia Macuxi e a capoeira do Mestre Leopoldina, não custam reprisar: há políticos e políticas sérios neste País.
Em 2008, têm muitas datas que chamam atenção: 200 anos da educação superior, 60 anos da declaração universal dos direitos humanos, 120 anos da abolição inconclusa. O Brasil tem fome, fome de saber.
De fora uma notícia: um negro foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Aí juntou tudo. O bicho pegou. Na cozinha, tudo bem, mas, na sala de jantar... Mais o mundo do que os próprios Estados Unidos, numa proporção de quase sete para cada dez terráqueos saudaram a novidade. É o anuncio de um mundo pós-racista, o que, por si só, fez aparecer novos racismos, neo-racismos, como uma espécie de cordialismo vulgar.
Comentando em texto a eleição americana, o professor Luiz Felipe de Alencastro, da Sorbonne, estudioso da história do Brasil nas relações entre Luanda, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, clamou: o Brasil está atrasado em assumir políticas afirmativas. A demografia brasileira, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, denuncia os negros(as) como maioria se formando no Brasil. E lasca apoio ao projeto parado no nosso Congresso Brasileiro.
Que rompam os tambores! Haja festa!
No dia de Zumbi, a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou o projeto de reserva de 50% das vagas para a escola pública na universidade pública, por turno e por curso, respeitando a presença de negros, indígenas e uma “cunha” de renda.
Epa! Como?
Pois bem, na semana da consciência negra, no dia 18, os novíssimos movimentos sociais entregaram ao Sr. Presidente da Câmara, Deputado Arlindo Chinaglia, a assinatura de mais de 270 Parlamentares, de vários partidos, apoiando o projeto aprovado nas Comissões da Câmara e solicitando sua inclusão na pauta.
No dia 19 de novembro, na audiência pública da Comissão de Legislação Participativa, frente a frente, o ex-Ministro da Educação, Paulo Renato, e o Relator do projeto, Deputado Carlos Abicalil, MSU, a Educafro, a Coiab, a UNE, a UBES, a representante das Centrais Sindicais convergiram para um acordo, cederam para agregar ao projeto a cunha de renda proposta pelo ex-Ministro, desde que o ex-Ministro admitisse a importância da inclusão dos negros(as) e indígenas. Com participação fundamental do Deputado Reginaldo Lopes, Presidente da Comissão da Juventude da Câmara, o texto do acordo foi pego às seis da tarde daquele dia e entregue ao Presidente da Câmara, como emenda. O Ministro da Educação, Fernando Haddad e o colégio de Líderes convergiram, arestas foram aparadas em plenário e o projeto foi aprovado por consenso suprapartidário, por uma nova era do conhecimento no Brasil e por mais coesão social.
Como analisou o Professor Milton Santos, utilizando-se da categoria científica de Paradigma, de Kuhn, em seu livro Por uma Geografia Nova, Keynes, ao sustentar teoricamente a necessidade de o Estado intervir na economia, estava dando adeus ao paradigma liberal dominante até a crise mundial de 1929, ao que se assiste hoje nas televisões quando os governos, para debelarem a crise, enterraram o Neoliberalismo e intervieram na economia
Analisando friamente, sem sobressaltos ou ufanismos, o que aconteceu no Senado Federal, por unanimidade, na Comissão de Educação e o que aconteceu na Câmara , em caráter também suprapartidário no dia 20 de novembro de 2008, Dia de Zumbi, foi simples: mudança de paradigma para o acesso à universidade pública no Brasil. O clamor dos novíssimos movimentos sociais foi ouvido, o clamor da escola pública, do movimento negro, do movimento indígena, do movimento popular, das centrais sindicais foi ouvido pelos políticos.
E, deste modo, dá-se adeus ao velho paradigma dominante por séculos e seculorum que tanto favoreceu elites locais que ninguém duvida de que têm cota, com cor e dinheiro no bolso, e que dominam as principais carreiras universitárias brasileiras.
Como fica em pé o novo paradigma?
Primeiro, pela gama de experiências já existentes, desde a UERJ até a Federal de Sergipe, que já abandonaram o paradigma mofado. Por seus resultados sociais efetivos, por seus resultados intelectuais efetivos [Cumprimento-os, efetivamente].
Outros qualitativos o sustentam: a opção pela escola pública como patrimônio nacional, que merece ser incentivada na era do conhecimento, o que impacta nas necessidades de soberania nacional, domínio da ciência e da técnica em qualidade e quantidade pelo povo brasileiro para a garantia da soberania nacional e o pleno desenvolvimento do País. O reconhecimento da formação histórica do povo brasileiro, dos povos brasileiros, incorporando a diversidade social real para dentro da universidade, sem privilégios, com competição no âmbito da escola pública, recrutando talentos e valorizando e ampliando a coesão social no Brasil.
Como paradigma novo, é política pública de curto prazo, para gerar justiça e superar situações aberrantes historicamente. Mata a sede de saber do povo. Divide o bolo da educação pública superior, profissional e tecnológica com todos, pois o bolo já cresceu, tornando público o que hoje é mais meramente estatal, superando o dito de que “tem que esperar crescer para depois dividir o bolo da riqueza”. Ou seja, o pobre também tem direito ao ócio criativo, a especulação intelectual típica das elites somente no Brasil. Isso se coaduna com a densa mudança demográfica no País e com o aumento da expectativa de vida.
Outro efeito do novo paradigma é no combate à violência pela positividade do exemplo que gera, dados os alarmantes índices de homicídios entre jovens brasileiros por 100 mil habitantes, um dos maiores do mundo.
O novo paradigma está sujeito a avaliações permanentes por parte dos gestores do Estado, pois é política de Estado e não de Governo. Paradigma novo que é, abençoado por Deus e bonito por alegrar mais lares brasileiros, não é fatalista, fundamentalista, mera profissão de fé ou dogma.
É uma ação brasileira por justiça social, eqüidade, oportunidades iguais ou diferentes e enterro das intolerâncias.
Por obras e artes da legislação brasileira, o projeto viverá seu dezembro no Senado Federal antes da sanção presidencial.
Oxála a seriedade, o caráter suprapartidário, o consenso inteligente façam o novo paradigma brotar da decisão do Senado e ser semeado no solo brasileiro, onde seus filhos e filhas não fogem à luta.
Ainda nos falta achar palavras para expressar nossa alegria.
Convocamos todos e todas a estarmos juntos e atentos nestes dias.
É que, quanto às bruxas, elas não existem, mas... alcoviteiras, bocas-de-aluguel, penas de aluguel, tudo isso existe mesmo. Eles pendem para sustentar o velho paradigma, ancorados em interesses até “legítimos” das elites ou de parte delas, sejam eles comerciais ou não, covardes ou não, de “especialistas” ou não. Pela análise dos discursos dominantes, o alvo central é a palavra cota, o objetivo é botá-la na sala das casas dos brasileiros como um bode expiatório e demonizá-las para que as pessoas corram de medo etc. Fonte até de novas piadinhas racistas nas altas rodas da granfinagem. É uma tática desesperada e terrorista, à la Bush, para justificar uma guerra, enxergando bombas químicas onde há apenas gente simples com fome de saber e com talento para aprender.
Em termos políticos, não custa lembrar, com a devida vênia, ao Congresso Nacional e ao Governo brasileiro que o Estado não pode legislar apenas para um setor e deixar rolar solto o privilégio no setor público de ensino superior, técnico e tecnológico. Não pode o trabalhador ou a família trabalhadora brasileira ter como única alternativa de oportunidade de acesso o ensino superior privado.
Nesse sentido, o novo paradigma tem uma dimensão de Programa Universidade para Todos e para Todas, uma espécie do que podemos chamar ProUni das Públicas.
Nossos Senadores e Senadoras,...
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora Serys.
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não.
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora Serys, V. Exª é muito dedicada ao assunto. É professora. Está com mérito aqui. Aliás, uma das vitórias... Venceu um mito da política democrática. Mas é muito sério. Estudando, em 1990, Papaléo, das dez melhores universidades que havia no Brasil, sete eram públicas e três, privadas. Agora, inverteu-se. Em 1999, 2000, só havia três públicas. A do Piauí era a Uespi. Está arrasada. Hoje, das dez, só tem duas públicas, oito universidades privadas são as melhores. E vamos para a prática. Um quadro vale por dez. Está aí o Papaléo Paes. Professora Serys, eu vi. Está certo, não vou falar da minha família, até poderia, Paim, pois meu avô era industrial. Mas eu vi muitas pessoas humildes fazerem Medicina, e o pós-graduado em estruturas públicas. Eu fiz no Hospital Servidor do Estado. Agora, Senadora Serys, há escolas privadas de Medicina - não vou citar nomes, porque sou até amigo - de R$4 mil por mês. Atentai bem! Não é só o pagamento. Ele vai ter de comer, vestir-se, transformar-se, os livros são caros. Não estou culpando ninguém, não. Estou dando o quadro e mostrando como está. Está complicando. Sei que houve intenção boa do Presidente da República, que é generoso. Mas é insuficiente. Esses não têm direito a ProUni, porque são R$4 mil. Nos Estados Unidos, o salário era grande. Então, eles conseguem trabalhar - o estudante universitário. O garçom lá recebe 20%. Até de garçons vi muitos estudantes. Ele ganha o suficiente para pagar. Aqui, o salário mínimo melhorou, mas, apesar do progresso, da luta do Paim, do Presidente da República e nossa, não é suficiente para pagar uma faculdade. Está ouvindo, Serys? E o que tem de inadimplência por aí está uma loucura! O ProUni foi uma taxa. Vamos melhorar. Creio que deveria V. Exª, que pertence ao Partido do Governo - se me convidasse, eu até iria -, ver o modelo do Chile. No Chile, o sujeito entra. Falei com um motorista, eu estava no táxi. A minha filha estudava medicina. Ele disse que seu filho era. Eles vão ao banco e fazem um contrato. Esses bancos não arrumam dinheiro para tudo? Se arrumam para um carro ou para uma casa em dez anos, por que não arrumam para uma formatura? Eles fazem um contrato e se formam. Então, penso que a gente tem de ver o modelo do Chile, em que o Governo empresta ao estudante e depois ele reembolsa a vida toda.
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Sr. Senador.
Tenho duas páginas só e gostaria de dizer que é o apelo das entidades - vou já ler os nomes de uma por uma aqui - a nós, Senadores, a nós, Senadoras, com a convicção que eles têm de que, como já foi aprovada a lei de cotas, tanto na Câmara quanto aqui no Senado, em comissões, e como sou relatora na CCJ, tudo isso será aprovado, por unanimidade, como foi na Câmara, aqui no Senado também.
E eles dizem ainda:
Que nossos Senadores e Senadoras não nos decepcionam no Senado Federal. A escola pública agradece, o povo negro agradece, o povo indígena agradece.
Quanto às coisas humanas que as palavras não esgotam, leiamos Graciliano Ramos e fujamos de bate-bocas à toa, porque temos fome, temos pressa, isso é real e urgente. A fome de saber saciada matará outras fomes neste País, porque o filho da periferia não vai ter medo de ser médico e atuar no sistema de saúde na periferia, por exemplo. E isso deixa o rastro sadio do exemplo para as gerações futuras.
Cremos no humanismo. Na vitória de nossa luta árdua. No gesto de Francisco de Assis, que deu suas vestes aos que não as tinham, para que todas e todos se vestissem bem.
No gesto de Zumbi, que não aceitou calado a escravidão.
No gesto dos pataxós, que participaram da construção da Constituinte para escrever na Constituição que os indígenas têm direito às suas terras.
Na luta dos excedentes que ficavam de fora das universidades nos anos sessenta e lutaram pelos seus direitos. Que as exceções virem regra no Brasil. Viva o novo paradigma.
Axé, Brasil! A luta continua!
Ah... se lhe disserem que o Brasil deve cuidar da educação básica, diga que sim, que estamos juntos para qualificá-la melhor e com mais investimentos.
E isso a gente sabe que está acontecendo no Governo do Presidente Lula, é claro e evidente, sob o comando do nosso Ministro Fernando Haddad.
Se lhe disserem para esperar melhorar a qualidade, diga que nóis é burro, mas nóis não é besta, ou como Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos. A fome de saber tem pressa.
Viva o Brasil! Viva a luta soberana do povo brasileiro por seus direitos!
A escola pública e sua diversidade pedem passagem para a universidade pública no Brasil!
Muito obrigada!
MSU - Movimento dos Sem Universidade
Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Educafro - Educação para Afrodescendentes
Coiab - Coordenação Indígena da Amazônia Brasileira
Cimi - Conselho Indígena Missionário
CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
Conem - Coordenação Nacional das Entidades Negras
CMS - Coordenação dos Movimentos Sociais
CMP - Coordenação dos Movimentos Populares
CUT - Central Única dos Trabalhadores
CGTB - Central Geral dos Trabalhadores do Brasil
CTB - Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
Força Sindical
UGT - União Geral dos Trabalhadores
NCST - Nova Central Sindical dos Trabalhadores
UNE - União Nacional dos Estudantes
UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
São esses que assinam este documento.
Quero aqui, Sr. Presidente Papaléo Paes, que nos concedeu este tempo, agradecer; Senador Botelho, que está aqui na Mesa; Senador Mão Santa, que fez um aparte importante, que, com certeza, daria uma ótima discussão, até em relação à questão do ProUni, pois, como V. Exª sabe e colocou, a universidade tem que ser pública, do meu ponto de vista, mas as privadas têm o seu espaço e o seu direito de ser, e o ProUni ajuda aqueles que não conseguem chegar à pública ainda; o nosso Senador Paim, que não teria como descrever agora, porque gostaria de fazer a biografia dele aqui, porque falar do negro, falar de educação, falar do trabalhador é citar Paim. Eu citei vários aqui, a Senadora Ideli, o Senador Marconi Perillo. Bom, foram vários os Senadores que mencionei.
Mas gostaria de deixar dito que o Frei Davi me deixou um documento, que não vou poder ler porque não dá tempo. Em uma escala de zero a cinco, os já cotistas na UnB, alcançarem média de coeficiente de rendimento 3,9 contra 2,3 dos não-cotistas, gente. Ou seja, quanto aos cotistas, que muitos estão dizendo que vão baixar a qualidade da universidade, não, não vão baixar. Eles estão aqui com mais de um ponto superior aos não-cotistas. Portanto, cotistas e não-cotistas estudem, vão à luta, se preparem antes de chegar na universidade e muito mais depois, quando estiverem lá.
Quero aqui também dizer que o Senador Marco Maciel me repassou a lei de cotas, como a gente está chamando. Portanto, sou a Relatora na CCJ e aqui agradeço realmente ao Senador Marco Maciel que, a pedido de entidades, realmente nos designou; agradeço ainda a vários Senadores que aqui buscaram essa oportunidade para a nossa pessoa; agradeço em especial ao Presidente da CCJ, Senador Marco Maciel. Tenho certeza de que todos os Senadores e Senadoras da CCJ estaremos unidos juntos discutindo a lei de cotas, a lei de cotas por renda, a lei de cotas para negros, a lei de cotas para indígenas, que já existem, mas que juntas vão fazer a grande diferença no ensino superior deste País e principalmente nas camadas mais despossuídas e que precisam ter esse espaço na nossa universidade brasileira.
Muito obrigada, Sr. Presidente.
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