Discurso durante a 234ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo em favor da interligação Brasil-Bolívia, através de San Mathias.

Autor
Jayme Campos (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA EXTERNA.:
  • Apelo em favor da interligação Brasil-Bolívia, através de San Mathias.
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2008 - Página 50707
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, LIGAÇÃO, RODOVIA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, BENEFICIO, ESCOAMENTO, MERCADORIA, REGIÃO CENTRO OESTE, ACESSO, PORTO, OCEANO PACIFICO.
  • ANALISE, POLITICA EXTERNA, PROBLEMA, RELACIONAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, EQUADOR, PARAGUAI, BOLIVIA, MANIPULAÇÃO, AUTORIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ALEGAÇÕES, IMPERIALISMO, GOVERNO BRASILEIRO, DEFESA, ORADOR, REVISÃO, LIDERANÇA, BRASIL, AMERICA LATINA, SUBSTITUIÇÃO, FAVORECIMENTO, PAIS SUBDESENVOLVIDO, OFERTA, PROJETO, DESENVOLVIMENTO, INCLUSÃO, ASFALTAMENTO, RODOVIA, IMPORTANCIA, INTEGRAÇÃO.
  • DETALHAMENTO, SITUAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, ACORDO, ESPECIFICAÇÃO, CONCLUSÃO, OBRAS, PONTE INTERNACIONAL, BENEFICIO, INTEGRAÇÃO, REGIÃO NORTE, AMERICA DO SUL, QUESTIONAMENTO, EXCLUSÃO, MUNICIPIO, CUIABA (MT), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ITINERARIO, RODOVIA, ACESSO, PORTO, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, REGISTRO, ENCONTRO, ORADOR, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), IMPORTANCIA, MOBILIZAÇÃO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, BANCADA, SENADOR, COMPROMISSO, LIGAÇÃO, OCEANO PACIFICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado. Os dez minutos serão suficientes, Sr. Presidente, para falarmos aqui de um assunto muito importante para o Mato Grosso, sobretudo para a Região Centro-Oeste do Brasil, na medida em que nós, mato-grossenses, sonhamos há algum tempo com essa interligação fundamental para o escoamento da nossa produção, que é a pavimentação asfáltica ligando Brasil-Bolívia, por intermédio de San Mathias, para atingirmos alguns portos importantes, sobretudo os portos do Chile.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a diplomacia é a arte de converter possibilidades em realidades, de reverter discórdias, de gerar entendimento e de criar consenso em meio ao caos. Mas, antes de tudo, deve ser o instrumento político das nações na busca incessante por alternativas que aproximem os povos, tornando-os mais afetivos e prósperos. O mundo tem que se preparar no sentido de compartilhar riquezas, e não mais dividir escassez.

A humanidade, representada por seus Estados nacionais, caminha inapelavelmente para os grandes acordos multilaterais. É o caso do Mercado Comum Europeu, no Velho Continente; e do Nafta, na América do Norte. O Brasil, ao contrário, coleciona pequenas rusgas com os parceiros tradicionais.

Mas, caro Senador Mão Santa, já não se pode desconhecer que o Brasil vive uma fase de instabilidade no relacionamento com seus vizinhos. A recente demanda com o Equador, que se nega a saldar uma dívida com o BNDES; o litígio com o Paraguai, em razão dos preços pagos ao sócio na compra da energia produzida pela hidrelétrica binacional de Itaipu; e a própria invasão de refinarias de gás de petróleo na Petrobras, na Bolívia, demonstram que nossa nação deixou de ser o eixo apaziguador dos conflitos sul-americanos e tornou-se, inexplicavelmente, no império a ser combatido.

Tudo isso se deve, obviamente, a uma retomada de prestígio do arcaico populismo do esquerda como força política nesses países. O Brasil, com o seu pragmatismo econômico e sua austeridade institucional, começa a ser visto como uma espécie de “primo rico” e explorador da fragilidade de seus vizinhos.

Na verdade, o Brasil precisa enxergar a sua liderança natural na América do Sul, não com uma equivocada indulgência às transgressões diplomáticas de suas nações amigas, como querem alguns consultores de política internacional alojados no Palácio do Planalto, mas, sim, com a oferta de um projeto de desenvolvimento integrado para a região.

Dizem alguns críticos do Governo que falta pulso dos funcionários do Itamaraty nas tratativas com seus interlocutores. Ouso dizer que faltam, na verdade, programas recíprocos de interesse nos campos econômico e social entre as nações do vasto continente sul-americano.

Agora mesmo, subo a esta tribuna, Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, para cobrar das autoridades internacionais uma atitude pró-ativa do País no sentido de desenvolver ações que resultem na retomada de investimentos para a conclusão do corredor rodoviário ligando Cuiabá ao Oceano Pacífico, via entroncamento de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.

         Tal percurso, que liga a capital mato-grossense ao porto de Arica, no Chile, dispõe de 2.100 quilômetros, sendo que 1.650 destes já se encontram pavimentados. Ou seja, um trecho único de 450 quilômetros entre os municípios de San Mathias, na fronteira com o Brasil, e Concepción, no interior da Bolívia, ainda não possui capa asfáltica. Se o destino for o porto de Ilo ou de Matarani, no sul do Peru, via a capital boliviana La Paz, a distância aumenta para 2.400 quilômetros.

         De qualquer forma, a interligação entre o Centro-Oeste brasileiro com Bolívia, Chile e Peru representaria o mais ambicioso programa de desenvolvimento para este imenso território que integraria nossos cerrados aos Andes e, posteriormente, aos principais centros consumidores do Oriente.

Infelizmente, o Brasil Central vive de costas para os países andinos. A Amazônia já está viabilizando a tão sonhada ligação com o Peru, correndo pela BR-317, na chamada “Rodovia do Pacífico”, saindo de Rio Branco, no Acre, indo até Assis Brasil, na fronteira com o Peru, e se estendendo até os portos de Ilo, Matarani e San Juan, naquele país.

Essa gigantesca obra tem fabuloso aporte do Governo brasileiro, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com desembolso previsto de US$700 milhões, sendo que duas pontes que fazem a travessia entre os dois países já foram entregues, a segunda delas a um custo de R$250 milhões, divididos entre os países vizinhos.

Por outro lado, em dezembro do ano passado, os Presidentes do Brasil, Bolívia e Chile assinaram um protocolo de intenções, intitulado “Declaração de La Paz”, onde decidiram concluir a conexão via interoceânica, via Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Outro corredor, começando em Rio Branco, via Assis Brasil, que desembocará nos portos peruanos, também contam com aporte de capital do Governo brasileiro, como já vimos na construção de duas pontes binacionais.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é o caso de se perguntar, bravos Senadores Inácio e João Pedro: por que Mato Grosso está riscado desse mapa de desenvolvimento? Principalmente se a ligação mais pacífica e natural se daria de Cuiabá a Cáceres, em seguida até San Mathias, de lá para Santa Cruz de La Sierra e depois para Arica?

Ora, não fosse pela posição privilegiada de Cuiabá, como Centro Geodésico da América do Sul, que possui percursos eqüidistantes para todos os pontos do continente, nosso Estado também representa na atualidade o maior produtor de proteína animal do Brasil e o segundo maior produtor de grãos do País.

Por que, então, nossas riquezas deveriam passear centenas de quilômetros a mais até chegar aos portos com acesso ao mercado oriental? Para depreciá-las ou para trazer lucros imorais para um sistema de transporte falido e ultrapassado?

De qualquer forma, Srªs e Srs. Senadores, Mato Grosso vai lutar para romper barreiras e implantar sua conexão com o Oceano Pacífico, o que muito beneficiaria também os Estados de Goiás, do Tocantins e o Distrito Federal.

Uma política externa profícua e inteligente sempre cria novos caminhos e busca atalhos para a unificação internacional; e não, como se vê, obstrui as rotas naturais do nosso desenvolvimento. Os cerrados podem se prolongar até as estepes andinas e ao Pacífico, levando para lá sua produção e trazendo de lá cultura, arte e manufaturados. O Brasil central pode avistar os Andes não com a sensação do improvável, mas sim com a alegria de vizinhos que têm muito a contribuir entre si.

Na semana, mantive um encontro com o presidente do BNDES, Dr. Luciano Coutinho, e o fiz enxergar que a saída para o Pacífico por Cuiabá-Cáceres-San Mathias-Santa Cruz e Arica é o traçado ideal para o escoamento de nossa produção. Fiz dele um aliado nesta causa da interligação de Cuiabá com o Oceano Pacífico.

É o momento de lembrarmos de personagens que tomaram esse projeto como um desafio a ser vencido: falo aqui do saudoso e querido ex-Governador Deputado Dante de Oliveira; de Márcio Lacerda, que foi Senador; do Senador Carlos Bezerra; de Alfredo da Motta Menezes; de Serafim Carvalho, entre tantos. Homens que lutaram e lutam por esse ideal.

Nesse sentido, proponho ao Presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, Deputado Sérgio Ricardo, a criação de um Centro de Estudos Permanente, no âmbito daquela Casa de Leis, para criar um arcabouço técnico e jurídico dando forma política ao movimento que busca a efetiva integração entre nosso Estado e os países do Pacto Andino.

Sr. Presidente Mão Santa, quero dizer aos companheiros que, com o inestimável apoio dos Senadores Gilberto e Serys Slhessarenko, trabalharei diuturnamente para viabilizar meios para que essa obra se torne uma realidade, seja por meio de financiamentos públicos, seja até mesmo em parcerias da iniciativa privada. O nosso gabinete vai se converter, doravante, numa trincheira de luta pela interligação de Mato Grosso ao Oceano Pacífico. Falta pouco, em termos de distância, mas ainda falta muito em conscientização e em espírito público de nossos dirigentes.

Dessa forma, Sr. Presidente, quero dizer que é fundamental esta obra para o nosso Estado, sobretudo neste momento de crise em que lamentavelmente o agronegócio brasileiro não vai muito bem, especialmente no Mato Grosso. Se não tivermos uma melhor logística, um melhor escoamento da nossa produção, com certeza, teremos dias difíceis para o agronegócio mato-grossense.

Portanto, esse é o apelo que faço ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já tem, com certeza, consciência do que representa essa importante rodovia para o nosso Estado. Esse convênio já foi assinado em 2001 entre o Governo boliviano, por meio do Presidente Hugo Banzer, e o Presidente FHC, e, seja quem for o próximo Presidente da República, deve se tornar prioridade a interligação Brasil -- Bolívia, via San Mathias, para que possamos atingir portos muito importantes para o Mato Grosso, sobretudo o Porto de Arica, no Chile.

No mais, Sr. Presidente, quero concluir, dizendo que Mato Grosso precisa receber, com certeza, os maiores investimentos para melhorarmos a rentabilidade, viabilizarmos a agricultura e, sobretudo, as nossas potencialidades, se Deus quiser, ainda nos próximos quatro anos.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2008 - Página 50707