Discurso durante a 234ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios ao trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SANITARIA. SAUDE.:
  • Elogios ao trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2008 - Página 51200
Assunto
Outros > POLITICA SANITARIA. SAUDE.
Indexação
  • ELOGIO, TRABALHO, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), CONTRIBUIÇÃO, PLANEJAMENTO, POLITICA, SETOR PUBLICO, DIVULGAÇÃO, ESTUDO, SUPERIORIDADE, NUMERO, POPULAÇÃO, PRECARIEDADE, HABITAÇÃO, SANEAMENTO BASICO, GRAVIDADE, DESIGUALDADE SOCIAL, SETOR.
  • COMENTARIO, PESQUISA, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), AUMENTO, EXPECTATIVA, VIDA, BRASIL, PERDA, QUALIDADE DE VIDA, ANALISE, DADOS, APREENSÃO, SITUAÇÃO, VELHICE, DOENÇA, COBRANÇA, ORADOR, REVISÃO, POLITICA, PRIORIDADE, AMPLIAÇÃO, ACESSO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, há mais de quatro décadas, o IPEA -- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -- realiza um trabalho fundamental para o Estado brasileiro. Atendendo a sucessivos Governos, o Instituto oferece regularmente estudos e análises sobre nossa realidade sócio-econômica, a partir de dados e informações coletados e observados com rigor científico, o que os torna precisos e confiáveis. É exatamente esse material, que se vem produzindo durante toda uma longa e bem-sucedida experiência, que baliza e orienta ações de planejamento e de formulação de políticas públicas para o País. Com quadros técnicos altamente qualificados, entre os quais despontam nomes importantes do pensamento social brasileiro, o IPEA tem oferecido inequívocas contribuições para o desenvolvimento nacional.

Entre o final de setembro e meados de outubro, o IPEA divulgou os resultados de dois trabalhos que despertaram vivamente minha atenção, na medida em que ambos colocam em evidência a ainda precária qualidade de vida de nossos cidadãos, a despeito dos inúmeros esforços observados pelo Poder Executivo nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal. Sobre ambos os estudos vou discorrer aqui, nos limites de um pronunciamento parlamentar, a fim de dar visibilidade a questões muitas vezes básicas, mas que ainda permanecem fustigando nossas populações.

É surpreendente, por exemplo, descobrir que mais de 54 milhões de pessoas no País vivem em moradias inadequadas, o que representava, no ano passado, 34,5% da população urbana brasileira. Esse dado foi divulgado pelo IPEA, no mês passado, a partir de números coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD, e revela a elevada precariedade de uma condição elementar para uma existência digna: habitação e saneamento básico apropriados.

É certo que, nos últimos 15 anos, houve um avanço importante, pois, em 1992, nada menos do que 49,3% da população urbana padecia com impróprias condições de moradia. Ao mesmo tempo, o estudo anunciado pelo Instituto revela uma quase cristalização das desigualdades regionais, porquanto as regiões Sul e Sudeste detêm indicadores que superam por larga margem os números do Centro-Oeste, Nordeste e Norte, esta última região abrigando lares com as piores condições de habitação.

Mesmo assim, informa o IPEA, o Brasil conseguiu alcançar, ainda em 2007, a Meta do Milênio no quesito acesso à água potável em áreas urbanas, antecipando-se assim em 8 anos, de vez que a previsão original para atingir esse objetivo era 2015. Conforme foi anunciado, a água canalizada de rede geral no interior do domicílio alcança 91,3% dos moradores das cidades. Já no que se refere ao acesso à rede coletora de esgotos, os números divulgados mostram um aumento de 3 pontos percentuais em apenas um ano, entre 2006 e 2007. Foi a maior expansão nos últimos 15 anos, passando de 54,4% para 57,4%.

Pareceu-me importante destacar previamente esses números relativos à habitação e saneamento básico, porque eles por certo exercem grande influência no que evidencia outro trabalho do IPEA, feito público ainda no mês de setembro, sobre a expectativa e a qualidade de vida dos brasileiros.

A pesquisa, conduzida por Maria Piñon Dias e Milko Matijascic, ocupou a capa do caderno de Economia do jornal O Globo, recebendo o título Vivendo mais e mal. Na verdade, os números que emergem do estudo são inquietantes: o homem brasileiro passa, em média, 11,1 anos de sua vida com a saúde comprometida, enquanto as mulheres sofrem com problemas dessa natureza, também na média, por 13,5 anos. Ora, como entre 1980 e 2006 a expectativa de vida no Brasil passou de 62,5 para 72,3 anos, é como se todo esse ganho fosse depois integralmente sonegado por moléstias que comprometem a vida produtiva e o lazer, além de representar pressões consideráveis sobre os gastos previdenciários e de assistência médica.

O que também se torna motivo de preocupação é que os problemas afetam as novas gerações. Analisando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Milko Matisjascic, concluiu que, em média, mais de um terço dos homens e mais de um quinto das mulheres nascidos entre 2000 e 2005 não vão comemorar o aniversário de 65 anos. Esse prognóstico discrepa visivelmente da realidade experimentada por inúmeros outros países.

Enquanto a probabilidade de não atingir os 65 anos no Brasil é de 35,8% para homens e 21,5% para mulheres, a China, por exemplo, guarda números mais discretos: 26,2% e 19,1%, respectivamente. Isso sem mencionar a Espanha, com índices bem mais animadores, a Finlândia, os Estados Unidos, a vizinha Argentina e o México. Dentre os países pesquisados, o Brasil só está em uma situação melhor do que Rússia, África do Sul e Índia.

Mas é realmente difícil conquistar uma melhor qualidade de vida para a população, quando se sabe que infecções e doenças parasitárias ainda respondem por 7% dos óbitos no Brasil. A violência, por seu turno, é responsável por 4,7% das mortes, enquanto acidentes e condições perinatais respondem por 5,8% dos óbitos, cada um. E, no caso, não são consideradas a sobrevida e as múltiplas seqüelas geradas por esses três tipos de eventos, que incapacitam a cada ano um número considerável de pessoas, impondo-lhes sérias restrições a uma vida produtiva e de qualidade.

Como destaca ainda a matéria de O Globo, contar com uma população que envelhece sem saúde e, portanto, que tem seu período produtivo reduzido, “pode levar o Brasil a desperdiçar um momento único em sua história”.

         Assim, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, vimos que apesar de todos os esforços dos poderes públicos e dos observáveis avanços sociais dos últimos anos, o Brasil ainda conta com muitas precariedades e deficiências estruturais. Urge que encaminhemos esses problemas para soluções rápidas e viáveis, que modifiquem o quadro que atualmente se vem desenhando. Nenhuma nação pode aquiescer com o paradoxo de ver sua população alongar a expectativa de vida - o que é altamente positivo, e, ao mesmo tempo, ter degradada a qualidade desses anos adicionais.

Penso que alimentado por este e por outros tipos semelhantes de pesquisas e estudos, o Governo Federal deve revisar suas políticas, estabelecer novas prioridades, fixar metas e tratar de cumpri-las. Finalmente, recordes de arrecadação de tributos não devem ser um fim em si mesmo. Eles só fazem sentido quando traduzidos em mais benefícios efetivamente estendidos a toda a sociedade brasileira, em especial aos seus segmentos mais vulneráveis.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2008 - Página 51200