Discurso durante a 235ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da candidatura de um político do Rio de Janeiro à Presidência da República.

Autor
Paulo Duque (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RJ)
Nome completo: Paulo Hermínio Duque Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Defesa da candidatura de um político do Rio de Janeiro à Presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2008 - Página 51331
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, POLITICA NACIONAL, EXPECTATIVA, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCOLHA, CANDIDATO, ORIGEM, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RECLAMAÇÃO, CONCENTRAÇÃO, CANDIDATURA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, indago de V. Exª: quanto tempo disporia hoje, neste final de tarde, daquele tempo que V. Exª costuma conceder? Aquele tempo...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pode falar.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, acho que hoje, nesta fase, nestes dias, nestes meses, nestes próximos anos, Presidente, não quero ser um adivinho, mas chegou a vez do Rio de Janeiro.

Queria que V. Exª, até na sua privilegiada inteligência, guardasse o que estou dizendo: hoje, chegou a vez do Rio de Janeiro.

Falou-se muito hoje em Mato Grosso, nos problemas daquele grande Estado da Federação. Conheci, nos bons tempos, um grande político desse Estado, o Deputado Generoso Ponce Filho, que foi Governador, que foi Deputado Federal e que foi Presidente do Instituto Nacional do Mate, lá no Rio de Janeiro, há muitos anos. Então, tenho uma certa identificação com esse Estado.

Imagino o sofrimento, a expectativa e, sobretudo, a preocupação quando houve a cisão ou a separação de uma parte desse território, criando o Mato Grosso do Sul.

No Rio, houve o contrário, meu caro Presidente. Houve a fusão de dois Estados.

V. Exª, que representa formalmente o Estado do Piauí, imagine o Piauí fazendo uma fusão com o Estado mais próximo, que seria o Mato Grosso.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Maranhão e Ceará.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Imagine, se há Maranhão, se há Mato Grosso, que poderia ser com outro qualquer. Imagine uma fusão entre o Piauí e o Maranhão. Tudo isso sem uma preparação, sem um acerto lógico. O Estado do Rio de Janeiro, a cidade do Rio de Janeiro, com a transferência da capital para Brasília, continuou sendo, sem dúvida, a Cidade Maravilhosa. Mas aqui, Brasília, ficou sendo também uma cidade maravilhosa, pelo que eu tenho visto, pelo que eu tenho conhecido. Eu, sem dúvida alguma, se tivesse que classificar uma “cidade maravilhosa dois”, eu citaria Brasília, porque “maravilhosa um” é o Rio de Janeiro.

Mas, se eu digo que está na vez do Rio de Janeiro, é porque chegou a vez de o Rio de Janeiro ter um Presidente da República eleito; não é escolhido pelas armas, pela revolução, pela força armada, pela sorte, não. Dentro do atual regime, chegou a vez do Rio.

Veja, V. Exª, proclamada a República, em 1889, começou uma nova fase, primeiro com Deodoro, não como chefe do Governo provisório, mas como Presidente eleito indiretamente, e o seu vice, Floriano. Mas o Governo dele, mesmo com Rui Barbosa, mesmo com Demétrio Ribeiro, mesmo com Benjamin Constant, durou apenas oito meses, dez meses, para ser mais preciso. No regime democrático, porque ele não agüentava ter um Congresso, ter de governar com um Congresso, com uma Câmara de Deputados, com um Senado. E aí ele renunciou. Foi a primeira renúncia. Sabemos que depois houve mais duas renúncias. Os documentos estão aqui. A primeira renúncia foi de Deodoro, que se recusou a passar o cargo para seu candidato natural, seu sucessor natural, que também era como ele, um antigo guerreiro da pugna contra o Paraguai, Floriano Peixoto. Floriano assumiu, e as pressões sobre ele também se fizeram. Mas Floriano era o “Marechal de Ferro”, não cedia às pressões dos seus companheiros militares. Governou, cumpriu seu mandato e passou por acaso o governo ao seu sucessor? Não. Recusou-se simplesmente a passar o governo a seu sucessor. Da mesma maneira que Deodoro não passou o governo para Floriano, Floriano também não passou o governo ao Presidente eleito. E aí, houve a primeira eleição direta. Não adianta nós criticarmos a legislação eleitoral da época: o voto não era secreto, as atas eleitorais eram desvirtuadas, as sessões não funcionavam. E assim foi toda a Primeira República.

Ele não passou o governo, não transferiu o governo ao seu sucessor, Prudente de Morais, São Paulo. Aí começou São Paulo. Só dava São Paulo, meu caro Presidente. São Paulo com Prudente de Morais; São Paulo com Campos Salles, que conseguiu restaurar as finanças do País; São Paulo com Rodrigues Alves, que foi um grande pacificador. São Paulo, São Paulo, São Paulo! Uma breve interrupção com Minas Gerais, com Affonso Penna, que morreu cedo; teve de passar o governo, que foi transferido ao seu sucessor, Nilo Peçanha, que ficou alguns meses só. Houve a sucessão e veio, pela primeira vez, o Rio Grande do Sul - na realidade, as Forças Armadas -, com Hermes da Fonseca.

Eu acho que estou cansando um pouco S. Exª o Presidente.

Se estou, V. Exª há de me perdoar, mas a minha admiração por V. Exª é de tal ordem que eu não o interrompo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Nós estamos aprendendo. Agora, penso que houve um lapso. Hermes da Fonseca V. Exª olvidou.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Não; Hermes da Fonseca foi o primeiro gaúcho a assumir. Mas, na realidade, ele não representava bem o sucessor, não tinha uma corrente política. Ele foi pelas Forças Armadas - estou convencido disso. Ele era o Ministro da Guerra de Affonso Penna; não era o candidato de Affonso Penna...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não foi depois do Floriano. Foi aí que surgiu Rui Barbosa, e quiseram impor o Hermes da Fonseca. Então, Rui Barbosa percebeu que queriam apenas militares na República. Aí ele disse: “Estou fora!” Quiseram dar-lhe o Ministério da Fazenda, e ele respondeu: “Não troco a trouxa das minhas convicções pelo Ministério”. Seguiu-se, então, Prudente de Morais e, depois, aí sim, Hermes da Fonseca.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Mas ele foi candidato contra o Marechal Hermes e perdeu a eleição. Ele perdeu três eleições. Três! Ele sempre quis ser Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Mas ele ganhou no Piauí, em Teresina, para V. Exª ver a bravura e a inteligência do povo dali.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Está bem, pode ter vencido lá. Mas perdeu no Brasil.

Eu cultuo esse vulto que ali está, aquela estátua, tanto quanto V. Exª. Mas ele perdeu as eleições. Ele servia para tudo: para ser Ministro, para ser representante do Brasil em Haia, para ser o maior sábio brasileiro, o maior gênio... Tudo! Homem mais inteligente do País, mas não servia para ser Presidente.

 O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Paulo Duque, se hoje as eleições estão aí como estão com o Bolsa Família, imagine naquela época.

Foi por isso, justamente, que Getúlio Vagas, vendo que o Governo e a máquina tomaram a eleição, de Washington Luís para Júlio Prestes, denunciou a Velha República e tomou o poder. Getúlio, seu amigo!

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Nosso amigo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Foi contra a corrupção eleitoral, que ainda hoje persiste.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Getúlio, nosso amigo, nosso amigo. Sei que V. Exª é fã do Presidente Getúlio Vargas.

Mas eu afirmo que, agora, é a vez do Rio de Janeiro. Chegou a vez do Rio de Janeiro. Vai ser uma ordem natural das coisas. A Guanabara, a cidade do Rio de Janeiro nunca teve um Presidente da República eleito. Não é nascer no Rio de Janeiro, eu digo fazer política no Rio de Janeiro. Não há condição de não ser o Rio. Tem que ser a vez do Rio. Estou, historicamente, tentando demonstrar isso a V. Exª, veja bem.

Depois, começou aquela política que V. Exª conhece tão bem quanto eu, chamada - eu não gosto deste nome - “café com leite”: Minas, São Paulo, Minas, São Paulo. Veio Wenceslau Braz; Itajubá, que fez um governo tranqüilo, enfrentou a Primeira Guerra Mundial; depois, veio Delfim Moreira, de Minas, mas morreu muito cedo. O que aconteceu, então? Era preciso dar um substituto a ele. Não repetiram com Minas Gerais, mas repetiram com a Paraíba. E elegeram - veja como era diferente a eleição - uma pessoa que estava representando o País lá na Europa: Epitácio Pessoa, paraibano, que venceu a eleição sem estar no Brasil. E contra ele quem é que se apresentou?

Rui Barbosa, que perdeu.

Então, por isso que eu estou dizendo: vai ser a vez agora do Rio de Janeiro. Agora é a vez do Rio de Janeiro. Não tem jeito. Não tem jeito.

Muito bem. Depois do paraibano Epitácio Pessoa, o grande Presidente, que não hesitou em chamar para ser Ministro da Guerra um civil, não hesitou em chamar para ser Ministro da Marinha um civil. Na Guerra, Pandiá Calógenas; na Marinha, Raul Soares.

Veja bem V. Exª que tipo de personalidade não era Epitácio Pessoa. Quando ocorreu o 5 de julho de 22, os 18 do Forte, em que entrou aquele gaúcho. Vou dizer isso só em homenagem ao Paulo Paim, só em homenagem a ele. Quando eles, militares, caminhavam sozinhos ao encontro da morte, um civil perguntou: “Aonde é que vocês vão? O que vocês estão fazendo?” “Nós vamos depor o Governo”. E o civil, elegante, alto, esguio, chapéu: “Ah, mas me dá uma arma aí! Eu também vou com vocês. Olhem o gaúcho! Olhem o Otávio Corrêa!” Ruas e ruas em homenagem a ele. Um gaúcho fez isso. Mas Epitácio debelou a conspiração. Depois do Epitácio Pessoa, Arthur Bernardes, grande patriota, fez um governo duro, mas foi um grande patriota mineiro. Depois Washington Luís, que ganhou a eleição com o seu candidato, ganhou mas não levou. Impressionante isso. Ganhou mas não levou, Julio Prestes. É uma longa história essa. Mas eu repito; chegou a vez do Rio de Janeiro. Se V. Exª me disser, mas chegou a vez do Amazonas também que nunca fez um Presidente. Eu digo; chegou também a vez do Amazonas.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Do Piauí também.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Chegou a vez do Piauí, mas chegou a vez daqueles Estados que nunca tiveram condições de eleger um Presidente da República. E eu incluo o Piauí nesta bandeira, como eu acho que o Amazonas está nesta bandeira e o Pará também pode entrar nesta bandeira. Mas com muita segurança a posição da Cidade do Rio de Janeiro.

De maneira, Sr. Presidente, como eu sei que há ainda vários oradores inscritos, em homenagem a V. Exª também que está presidindo há mais de seis horas esta sessão, e em homenagem ao Piauí, eu vou encerrar essas breves considerações, breves, mas prometo a V. Exª que vou continuar e na minha continuação eu vou recomeçar com Epitácio Pessoa, e talvez V. Exª, ao final me dê razão.

Concluo dizendo que agora é a vez do Rio de Janeiro. É a nossa vez.

Muito obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2008 - Página 51331