Discurso durante a 235ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da posse de Luiz Paulo Horta na Academia Brasileira de Letras, no último dia 28 de novembro passado.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro da posse de Luiz Paulo Horta na Academia Brasileira de Letras, no último dia 28 de novembro passado.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2008 - Página 51338
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, POSSE, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), JORNALISTA, ESCRITOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESPECIALISTA, MUSICA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, DISCURSO, MEMBROS, SOLIDARIEDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, Srs Senadores, quero aqui, de modo especial, salientar a presença do Senador Paulo Paim, da representação do Rio Grande do Sul, senhoras e senhores.

Desejo, Sr. Presidente, registrar evento de grande significação ocorrido no dia 28 de novembro passado. Refiro-me à posse do acadêmico Luiz Paulo Horta na Academia Brasileira de Letras. Ele passou a ocupar a cadeira que tem como patrono José de Alencar, advogado, jornalista político, orador, romancista, teatrólogo, nascido em Mecejana, no Ceará, cujo primeiro ocupante foi Joaquim Maria Machado de Assis.

É uma cadeira que, portanto, se caracteriza por figuras eminentes da vida cultural do País. Como disse, o primeiro ocupante foi Joaquim Maria Machado de Assis, jornalista, contista, cronista, romancista, poeta, teatrólogo, nascido no Rio de Janeiro e, após sua morte, seguiu-lhe na cadeira Lafayette Rodrigues Pereira, Ministro do Supremo Tribunal Federal, jurista, político, nascido em Queluz, Minas Gerais, e falecido no Rio de Janeiro, em 1917. Além de político e jurista, era também um filósofo que contribuiu para o enriquecimento cultural do País.

Com a morte desse ilustre jurista, a cadeira passou a ser ocupada por Alfredo Pujol, advogado e político, nascido, no Rio de Janeiro, mas falecido, em São Paulo, sendo, portanto, o terceiro ocupante da cadeira. Com a morte de Alfredo Pujol, o quarto a ocupar a cadeira 23.foi Octavio Mangabeira.

Falar em Octavio Mangabeira é falar não somente no engenheiro civil, no jornalista, no professor, no político, no diplomata, no orador e no ensaísta, mas também em alguém que foi extremamente coerente em toda a sua vida e teve uma notável atuação política em momentos difíceis do País, quando as nossas instituições ainda eram frágeis e muito dependiam, conseqüentemente, de homens públicos competentes e talentosos como Octavio Mangabeira, de família ilustre baiana.

O quinto ocupante dessa cadeira foi Jorge Amado. Aliás, a cadeira 23 foi, por muitos anos, ocupada pelos baianos Octavio Mangabeira e Jorge Amado, sucedidos por Zélia Gatai, esposa de Jorge Amado, É fato inédito na vida da Academia a mulher ocupar a cadeira deixada pelo marido. Ambos, intelectuais e competentes, honraram - e muito - a vida cultural do nosso País.

O sétimo ocupante - é dele que vou tratar - é o jornalista e grande especialista em música popular e erudita Luiz Paulo Horta, cuja posse, como disse, ocorreu a 28 de novembro passado, um homem de expressiva formação religiosa. Houve quem dissesse que, além das qualidades de escritor e de jornalista, ele é um teólogo no sentido pleno do termo.

Sr. Presidente, uma das características na Academia Brasileira de Letras é que o empossado faça uma análise daqueles que o precederam na cadeira. Luiz Paulo Horta demonstrou, no seu discurso de posse, grande conhecimento de Machado de Assis, seguramente o maior escritor brasileiro, que, sempre atento a tudo o que era humano, produziu em todas as áreas e em todos os gêneros literários.

Machado era o que poderíamos chamar de polígrafo. Foi com talento romancista, poeta, jornalista, novelista, foi folhetinista, crítico teatral, trabalhou em dramaturgia também. Não é por outra razão que o nome de Machado de Assis se confunde com o nome da Academia Brasileira de Letras.

Machado, disse com propriedade a Luiz Paulo Horta, pertence a uma família caracterizada por ser um ente reflexivo. Pode ser posto na linha dos grandes pensadores, como Cervantes, ou George Eliott, acrescentando: 

“Eu quase diria que ele é o nosso sábio nacional, assim como foi Montaigne para os franceses, Göethe para os alemães, Emerson para os norte-americanos.

Mas também se pode buscar compensação em antigas sabedorias disse mais adiante Luiz Paulo Horta. Machado foi um leitor assíduo do Eclesiastes, que ocupa na Biblia um lugar chamada a literatura sapiensal. Pode parecer um livro muito escuro mais eu recordo os primeiros versículos tão famosos:

‘Vaidade, vaidade - diz Eclesiastes - tudo é vaidade. Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?’ [...]

O que essa sabedoria ensina não é o desgosto, é o desprendimento. Nisto se poderia aproximar o Eclesiastes da filosofia budista tantas vezes confundida, erroneamente, com a visão negativa da vida.

Todos os sábios do mundo souberam que o desprendimento é o que dá verdadeiro sabor à vida, afrouxando as garras do desejo .[...]

Escrever é um ato de amor. Um verdadeiro cético não nos legaria a obra que é hoje o cânone fundamental da literatura brasileira E se há o Machado melancólico do Dom Casmurro e do Quincas Borba, há o Machado dos contos, o Machado inesgotável das crônicas, e o Machado final de Memorial de Ayres, que leio como se fosse uma música”.

Sr. Presidente, no discurso, Luiz Paulo Horta revelou seu grande talento. Foi recebido na Academia pelo acadêmico Tarcísio Padilha, filho de Raimundo Padilha, ex-Governador do Rio de Janeiro, que, como Luiz Paulo Horta, um escritor, teólogo, pensador e, sobretudo, um filósofo. O acadêmico Tarcísio Padilha lembrou o talento musical de Luiz Paulo Horta:

Vossa obra musical é consistente e se desdobra em muitos livros, sem falar em crônicas que os afixionados acompanham com desusado interesse, dada a extraordinária sensibilidade que revelais e o conhecimento penetrante do tecido musical.

Vossa opção - continua citando o Tarcísio Padilha - vosso opção radical pela música tem um sabor platônico: ginástica para o corpo, música para o espírito.

É uma visão de quem absorveu plenamente a tese basilar do primado do espírito. Assim é que Platão fala da música comoamor da beleza”. E infere daí que “aquele que tem alma musical poderá amar todos os homens”. Esta é a essência do modo de ser: buscar a harmonia entre os homens mercê da prévia harmonia dos espíritos que a música possibilita.

Tarcísio Padilha chama a atenção para o fato de o Luiz Paulo Horta jamais haver olvidado a música brasileira e, nela, sempre destacando o vulto sem rival de Villa Lobos:

Villa Lobos está para a música brasileira como Bach para a música alemã, tudo parece começar por ele”.

Sr. Presidente, feitas essas considerações, e tendo em vista o alongado da hora, solicitaria a V. Exª que fossem publicados, juntamente com as palavras que acabo de proferir, os discursos de Luiz Paulo Horta, ao assumir a Cadeira 23 na Academia Brasileira de Letras, e do acadêmico que o recebeu, Professor Tarcísio Padilha. São dois discursos que merecem uma reflexão, tanto pela profundidade com que trataram os temas, como pela forma como expuseram suas idéias a respeito daqueles que ocuparam a Cadeira 23, que, agora, passa a ter como titular o jornalista, filósofo e teólogo Luiz Paulo Horta.

Agradeço a V. Exª o tempo que me propiciou para trazer ao conhecimento desta Casa evento cultural que reputo de grande significação e que, portanto, merece a atenção do Senado Federal como Casa da Federação.

Encerrarei, lembrando que Machado de Assis, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras - ele que foi o primeiro Presidente -, disse que era fundamental para o País compatibilizar a federação política com a unidade literária. Com isso, ele queria dizer que era fundamental, para que se vertebrasse uma verdadeira federação, que houvesse, ao lado disso, a necessidade de destacar a unidade literária como forma de alevantar culturalmente o nosso País.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MARCO MACIEL EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e o § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

Discurso do Sr. Luiz Paulo Horta;

discurso do Sr. Tarcísio Padilha.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2008 - Página 51338