Discurso durante a 236ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre crise e realidade social brasileira, a partir de duas manchetes do jornal "O Globo", de hoje: "Pacote para o consumo reduz Imposto de Renda e isenta carro popular de pagar imposto" e "Metas para a educação não são atingidas".

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. EDUCAÇÃO.:
  • Reflexão sobre crise e realidade social brasileira, a partir de duas manchetes do jornal "O Globo", de hoje: "Pacote para o consumo reduz Imposto de Renda e isenta carro popular de pagar imposto" e "Metas para a educação não são atingidas".
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/2008 - Página 52208
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PAULO PAIM, SENADOR, PRESIDENTE, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS, CONTINUAÇÃO, BUSCA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.
  • SOLIDARIEDADE, FAMILIA, TORCEDOR, VITIMA, VIOLENCIA, POLICIA, FUTEBOL, DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, POSSIBILIDADE, MOTIVO, MORTE, CIDADÃO, AUSENCIA, EFICIENCIA, HOSPITAL, PROXIMIDADE, ESTADIO.
  • QUESTIONAMENTO, EXCESSO, DIVULGAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, REDUÇÃO, IMPOSTO DE RENDA, AMPLIAÇÃO, CONSUMO, ESPECIFICAÇÃO, AUTOMOVEL, INFERIORIDADE, DIFUSÃO, INFORMAÇÕES, SITUAÇÃO, EDUCAÇÃO, BRASIL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, REDUÇÃO, IMPOSTO DE RENDA, PROVIDENCIA, CURTO PRAZO, PERIODO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, LONGO PRAZO.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), POSSIBILIDADE, PARALISAÇÃO, TRANSITO, CAPITAL DE ESTADO, MOTIVO, EXCESSO, VEICULO AUTOMOTOR, DEMONSTRAÇÃO, DESNECESSIDADE, INCENTIVO, CONSUMO.
  • DEFESA, PRIORIDADE, MELHORIA, EDUCAÇÃO BASICA, COMBATE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, NECESSIDADE, GARANTIA, IGUALDADE, QUALIDADE, ENSINO.
  • COMENTARIO, REUNIÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPRESARIO, DEBATE, PROVIDENCIA, CURTO PRAZO, REDUÇÃO, EFEITO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, NECESSIDADE, DISCUSSÃO, SENADO, POLITICA, LONGO PRAZO, PREVENÇÃO, PROBLEMA, ECONOMIA NACIONAL.
  • CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RETIRADA, DISCIPLINA ESCOLAR, MOTIVO, OBRIGATORIEDADE, ADIÇÃO, SOCIOLOGIA, FILOSOFIA, CURRICULO.
  • IMPORTANCIA, DECISÃO, TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST), OBRIGATORIEDADE, PREFEITURA MUNICIPAL, PAGAMENTO, SALARIO MINIMO, PROFESSOR, REPUDIO, INICIATIVA, GOVERNO ESTADUAL, QUESTIONAMENTO, JUSTIÇA, CONSTITUCIONALIDADE, PISO SALARIAL, MAGISTERIO, APREENSÃO, REDUÇÃO, HORA AULA, AMPLIAÇÃO, PERIODO, TRABALHO, PREPARAÇÃO, AULA, ALEGAÇÕES, AUSENCIA, RECURSOS.
  • CRITICA, PRIORIDADE, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, ATENÇÃO, ECONOMIA, AUSENCIA, MELHORIA, EDUCAÇÃO, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, ENSINO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, V. Exª deu continuação ao trabalho, mas com um grande salto, e temos de reconhecer isso. Foi um grande salto não apenas em comparação com os trabalhos realizados na minha época, até porque fiquei naquela Comissão somente por um ano. Mas não foi só isso. A Comissão de Direitos Humanos, de fato, nesses dois anos em que V. Exª esteve lá, afirmou-se como fórum fundamental de debates sobre os problemas que afetam o Brasil do ponto de vista dos direitos das pessoas. Isso é inegável, e seu nome merecia uma foto maior do que a dos outros que estão ali.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Cristovam. É por isso que V. Exª é candidato a Presidente da República e ainda ao mais alto cargo na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por unanimidade, com a assinatura de todos os Senadores.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Não sei se não estão falando, na Presidência, de um candidato e, na Bancada, de outro candidato. O Brasil espera que, na caminhada que o Senador Cristovam está propondo, os dois façam uma primária, os dois candidatos a Presidente da República. E os dois têm grande chance. Com relação a V. Exª, vi no jornal que V. Exª, na primária do PT, pode ser o Obama brasileiro e, talvez, também seja o primeiro Presidente do século XXI, como diz V. Exª.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sr. Presidente...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Permita-me, Senador Pedro Simon, dizer que, com certeza, o PMDB, se tiver essa grandeza que todos nós esperamos que tenha, vai indicá-lo para ser candidato a Presidente da República. E, assim, haverá um grande debate entre a Ministra Dilma, o Senador Pedro Simon, o Senador Cristovam e, pelo que sei, o Governador de São Paulo, José Serra.

V. Exª tem a palavra.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sr. Presidente, quero, em primeiro lugar, como Senador do Distrito Federal, pedir desculpas à família desse jovem Nilton César de Jesus, que veio aqui assistir a um jogo de futebol e torcer pelo seu time e que voltou para sua cidade natal morto, dentro de um caixão. Quero pedir desculpas. Sou Senador do Distrito Federal, não tenho responsabilidade direta com o Governo desta cidade, em que fui Governador, mas me sinto na obrigação de pedir desculpas a essa família, de pedir desculpas aos torcedores do São Paulo, o seu time, de pedir desculpas ao Estado de São Paulo, de pedir desculpas, porque não se poderia deixar que acontecesse uma coisas dessas com um jovem de 26 anos que tem até o nome, Senador Pedro Simon, de César de Jesus, ao mesmo tempo representando a força e a grandeza daquele estádio e a humildade daquele hospital aonde ele foi.

Temos de pedir desculpas por que, se houvesse um hospital em condições de atendê-lo naquele local, ao lado do estádio, seria possível não ter acontecido esse desenlace. Além disso, a Polícia do Distrito Federal, que é, sim, a mais bem preparada do Brasil, senão uma das mais bem preparadas, não podia deixar que acontecesse um erro daquele - eu nem diria “uma maldade daquela”, porque aquele sargento jamais imaginava isso, e a gente viu a reação dele, de desespero, quando percebeu que o corpo do jovem estava no chão.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Eu vi toda a cena, que, de fato, é assustadora.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Fica aqui este meu pedido de desculpas, como Senador do Distrito Federal.

Mas, Sr. Presidente, venho falar sobre os assuntos desses últimos dias, que são a crise e a realidade social brasileira. A primeira página hoje de O Globo é um exemplo do que é o Brasil. Bem grande, na primeira página, está escrito: “Pacote para o consumo reduz Imposto de Renda e isenta carro popular de pagar imposto”. E, abaixo, diz: “Metas para a educação não são atingidas”. Onde é que está a ligação entre essas duas matérias que é preciso a gente analisar?

Primeiro, falo de pacote. É triste a gente voltar aos pacotes, isso é muito triste. “Pacote” é uma expressão dos anos 70 e 80 que significa medidas específicas, sem estratégias de longo prazo. Mais uma vez, a gente está caindo em pacotes, que, às vezes, são necessários. Mas é triste que a gente, mais uma vez, esteja caindo em pacotes.

Segundo, quero dizer que o pacote reproduz aquilo que a gente vê sempre: reduz o Imposto de Renda da parcela que paga Imposto de Renda, como eu, como nós aqui, que somos poucos diante da imensa maioria da população brasileira. Não reduzimos impostos que pesam sobre a comida, o sapato, a roupa, o aluguel. Não reduzimos impostos sobre aquilo que pesa diretamente sobre as camadas mais populares. Reduzimos impostos sobre aquilo que pesa sobre as camadas médias e altas. Aqui mesmo, diz-se: é um alívio às classes médias e altas.

E por que isso? Por maldade? Não, mas por questão de lógica, triste lógica da realidade da economia e da sociedade brasileira. É que a economia brasileira é toda organizada para servir ao topo da pirâmide social, não à base da pirâmide social. Quando os produtos caros entram em crise, é preciso aliviar as classes médias, para que elas comprem os bens de luxo. Falemos com sinceridade: um País com a pobreza brasileira, em que 40 milhões de pessoas vivem de Bolsa-Família, não se deve dar ao direito de chamar carro de produto popular! Não existe carro popular. Existe sapato popular, existe meia popular. Vou até chegar ao extremo de dizer que existe comida popular.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Carro popular custa R$25 mil.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - São R$25 mil! Ou seja, não existe carro popular. Existe carro das camadas menores do topo da pirâmide. No Brasil, a gente considera como todo o topo; o todo é o topo.

No Império - o Senador Geraldo Mesquita falou muito do Império -, quando se dizia “todo mundo estava lá”, ninguém considerava os escravos, ninguém considerava os pobres brancos. Todo mundo era a elite, era a aristocracia. Nós estamos ainda nessa situação no Brasil. Quando a gente diz “todos estavam lá”, isso quer dizer que nós, que fazemos parte do pequeno triângulo que representa aqueles 5% mais ricos da população, somos os “todos”. Este é um País onde quem ganha mais de R$1 mil por mês, que é um salário baixo, já faz parte dos 8% a 10% com as maiores rendas no Brasil.

A saída que se está dando é necessária e imediatista. Não estou dizendo que não é necessária, mas é aquela saída de quem encontra um buraco que vai para o abismo e coloca areia para tapar o buraco, sem se preocupar que, depois de passar o buraco, tem de mudar o rumo e não ir para o abismo.

O que me entristece não é que essas medidas estejam sendo feitas, é que ninguém esteja pensando o que fazer depois delas, para que a gente não precise, mais uma vez, continuar com o vício de uma economia baseada nos produtos caros para populações de classes médias e altas em um País onde a maioria é pobre.

O Presidente Lula convidou, se não me engano, 35 empresários para discutir a crise. Foi um belo evento, um belo encontro. Mas esses 35 empresários necessariamente estão preocupados em como resolver sua crise amanhã, não em como construir o Brasil depois de amanhã. Não ouvi falar em o Presidente Lula convidar para conversar 25, 30, 35 pessoas para discutirem sobre para onde conduzir o Brasil depois que a crise passar. Ele chamou aqueles que cuidam da pá como instrumento para sair da crise. Ele não chamou aqueles que usam a bússola para definir um novo rumo para o Brasil.

Temos de fazer gestos como esses. Incentivar a venda de carro em um País onde há gente que não está comendo?! Temos de fazer isso. O que me entristece é que temos de fazer isso. Não posso vir aqui ser contra isso. Isso me entristece. Mas me entristece mais saber que a maior parte acha que isso basta para sair da crise.

Daqui a dois anos, cinco anos, dez anos, outra vez virá a crise, outra vez vamos precisar de medidas como essas de tapar buracos, porque não é a primeira vez que se faz redução de Imposto de Renda para vender mais carros e redução de impostos sobre o automóvel. Não é a primeira vez, não é a segunda vez, não é a terceira vez que isso é feito. E a gente não pensa em como fazer para nos livrarmos de uma economia baseada apenas nos 5% a 10% da população que posso chamar de mais ricos, embora nem dê para chamar de ricos alguns que estão abaixo desses 10%, porque compram carros graças a um endividamento de quase dez anos, endividamento esse que levou à crise que vivemos.

Outra vez, vamos incentivar crédito para sair de uma crise que decorre da falta de funcionamento eficiente dos bancos. Vejam que contradição: nós vamos incentivar crédito para um sistema financeiro que entrou em crise porque dava crédito demais, fazia as chamadas alavancagens, emprestando até 60 vezes o capital que eles tinham disponível para empréstimo.

Não podemos continuar sem refletir como sair de uma maneira permanente da crise e conduzir o País para um novo rumo. E esse novo rumo, eu volto a insistir, chamem de “uma nota só”, digam o que quiserem, está na parte de baixo da primeira página: a nossa incapacidade de cumprir as metas na educação.

Aqui em cima, grande, grande, grande a matéria; é a matéria do imediato. Aqui embaixo é a matéria do permanente, a gente está tratando de soluções. Aqui em cima, a gente está piorando em vez de melhorar, como deveríamos.

Esta é a grande tragédia que nós vivemos no Brasil: insistirmos na saída pela pá, em vez de buscar uma saída pela bússola; tapar buracos de um caminho errado, em vez de mudar de caminho. E esse caminho, que está, inclusive, no discurso feito há pouco pelo Senador Pedro Simon, dos direitos fundamentais, exige investimentos para a base da pirâmide, para a população mais pobre.

A saída dita keynesiana na economia é dinamizar a demanda, mas não necessariamente a demanda dos que estão lá em cima; pode ser a demanda dos que estão lá embaixo. O Bolsa-Família, inclusive, presta esse serviço, dinamizando um pouco a demanda daqueles que consomem bens fundamentais, mas em condições muito pequenas.

Veja que esse sacrifício fiscal que o Governo decidiu fazer ontem - por um pacote mais uma vez - vai custar aos cofres R$8 bilhões e meio. É claro, quem sabe um pouco de economia tem que ser sincero e dizer que esses R$8 bilhões e meio que o Governo deixa de arrecadar são uma necessidade para que as camadas que podem comprem automóveis, sobre os quais vão pagar um pouquinho de impostos. Se não se fizer esse sacrifício hoje, é capaz de amanhã a receita do Estado ser menor ainda, além de que haverá desemprego.

Então, eu não estou dizendo que não tenha lógica. O que eu estou dizendo é que não deve ser essa a lógica que prevaleça na sociedade e na economia brasileiras para sempre, como parece.

Peço ao Presidente Lula, com a liderança, com o carisma que tem, que reúna seus empresários para dizer o que fazer amanhã, mas reúna um grupo de empresários, de políticos, de técnicos que digam o que fazer depois de amanhã, no próximo ano e até depois do mandato dele, que defina um rumo para este País.

Esse rumo não é a continuidade de um projeto civilizatório que é depredador da natureza, que é viciado no crédito - viciado no crédito como se fosse uma cocaína da economia. Viciado no crédito porque a indústria se baseia em produtos caros, e produtos caros não se vendem à vista, exigem crédito. E, por se exigir crédito, exigem-se bancos irresponsáveis para viabilizar uma indústria irresponsável, e irresponsável não só por causa do crédito.

Todos sabem que, dentro de mais cinco anos, a cidade de São Paulo vai parar de tanto automóvel. A Folha de S.Paulo, há alguns meses, chegou a dizer o dia e a hora em que vai entrar o último carro com espaço onde ficar. Está marcado o dia e a hora. A partir daquele dia, não haverá como um carro se locomover. Aí pode-se dizer que vai ter uma saída. A saída é fazer ruas debaixo das ruas de hoje, como já se faz em algumas cidades americanas. É aumentar a quantidade de viadutos. Isso custa dinheiro. E é esse dinheiro que vai para viabilizar uma economia insustentável no longo prazo, é o uso do dinheiro para manter essa economia insustentável que faz com que as metas para a educação fiquem para trás, porque aí não há dinheiro.

O Governador de São Paulo, o maior Estado do País, está eliminando algumas disciplinas, Senador Pedro Simon, porque vai ter que introduzir as disciplinas Filosofia e Sociologia, que foram aprovadas há pouco. Por que ele não pensou em aumentar o número de horas na escola? Por que, em vez de aumentar o número de horas na escola, ele reduz disciplinas? É tão óbvio, tão claro que um aluno que fica seis, oito horas na escola tem um desenvolvimento diferente de quem fica quatro, e nessas seis, oito horas pode ter Filosofia e Sociologia sem cortar Matemática, sem cortar Física, sem cortar História, sem cortar Geografia. Mas por que a lógica de tirar uma disciplina prevalece sobre a lógica de aumentar uma hora de aula? Porque educação não é vista como um vetor importante do processo civilizatório, do desenvolvimento econômico, da redução da desigualdade, da busca da paz no lugar da violência.

E aí a gente continua com o velho esquema de tapar os buracos em vez de mudar de rumo.

Não sei quanto tempo o Brasil vai agüentar escolhendo a pá, e não a bússola. Mas sei que está ficando para trás em relação aos outros países.

O movimento Todos pela Educação é um grande movimento surgido em São Paulo, graças a empresários, sobretudo. Deles, que são muito moderados, não vi um pronunciamento, por exemplo, sobre o piso salarial. Não vi um pronunciamento deles reclamando porque alguns Governadores pediram que o piso salarial fosse declarado inconstitucional - muito moderado, mesmo assim está denunciando: o Brasil está ficando para trás.

Aliás, Senador Pedro Simon, falando em inconstitucionalidade, ontem, o Tribunal Superior do Trabalho tomou uma decisão histórica. Sabe qual? Obrigar uma Prefeitura a pagar o salário mínimo a uma professora. Um salário mínimo! Foi preciso chegar na mais alta Corte da Justiça do Trabalho para garantir que uma professora receba o salário mínimo.

Quanto ao piso, está se pedindo a inconstitucionalidade. E dizem que não é no valor, é no número de horas que vão dar de aula. Qual é a diferença? Piso é um função do número de horas. Se você paga o piso aumentando o número de horas de trabalho, você reduziu o piso. E é isto que esses Governadores querem: impedir que prevaleça o artigo da lei do piso salarial que diz que professor tem a obrigação de reservar um terço das suas horas de trabalho para preparar suas aulas, conversar com os alunos, orientar os que não estão indo bem. Mas a gente não vê isso - não vê porque trabalha com a solução da pá, e não da bússola.

Disseram que vai gastar mais dinheiro. Custa muito mais a repetência do que pagar melhor o professor e conseguir, com isso, que os alunos aprendam e não sejam repetentes. Mas o Brasil prefere a pá do que a bússola, tanto que, em alguns lugares, eles simplesmente resolveram que todos passem, para que não haja repetência. Vejam que solução esdrúxula, estúpida, antipatriótica para o futuro do País! Já que as crianças não estudam, já que não aprendem, para acabar a repetência, todos passam. Isso é o que prevalece em alguns Estados e em muitas cidades do Brasil, a chamada promoção automática, a solução estúpida. Ninguém está tentando essa solução para a indústria automobilística: já que não tem quem compre automóvel, que ninguém compre. Ninguém diz isso na indústria automobilística. Agora, na educação, encontra-se esta solução: já que ninguém estuda, passemos todos.

Agora, o mais grave, do ponto de vista da ética, é que isso não é feito para os filhos das classes médias e altas, que são obrigados a estudar. É como se a educação fosse um privilégio apenas de uma minoria e como se o País sobrevivesse dando educação apenas a uma minoria. Não sobrevive - como República, pelo menos. Aqueles que não estudam viram escravos. Escravos, Senador Paim, não mais necessariamente negros, embora a maioria daqueles que não conseguem ter uma boa escola sejam negros. Escravos não porque são vendidos. Escravos porque são desprezados, que é uma forma talvez até mais grave do que foi a escravidão, onde os escravos eram obrigados a comer bem para ter valor no mercado. Hoje, nem com isso a gente se preocupa em relação àqueles que são excluídos. 

Essa é a página do jornal O Globo que reflete a realidade brasileira: tudo o que for preciso a gente faz para a economia; tudo o que é necessário a gente não faz para a Educação. Até acho que essa saída para reduzir os impostos em 8 ,5 bilhões, para dar mais dinheiro para nós, classe média alta, comprarmos automóveis e outros bens, até acho que é uma saída necessária para amanhã, mas é uma saída suicida a médio e a longo prazo.

O Presidente da República tem obrigação de pensar o hoje, mas tem obrigação de pensar o depois de amanhã, o próximo ano, a nova década que vai surgir, ainda mais quando é um governo com características e com promessas transformadoras, ou seja, de usar a bússola para mudar de rumo. E não está usando. Ele está, competentemente - e vejam que estou afirmando isto -, usando a pá, mas com todos os riscos de colocar a areia no buraco em frente, e a gente continuar afundando; ou até atravessar o buraco nessa areia pouco sólida, e, do outro lado, continuarmos afundando.

Venho aqui, Presidente desta Mesa, Senador Paim, dizer da minha frustração ao ver um País se negando a decidir para onde vai, até porque, quando eu era jovem, os debates eram entre capitalismo e socialismo, entre estatizar ou privatizar, entre abrir ou fechar as fronteiras. Eram debates ideológicos. Hoje, o debate é entre cotas e bolsas, como se as cotas fossem desnecessárias, depois de 120 anos de exclusão dos negros da elite brasileira. Nem uns pingos de novos jovens negros dentro da universidade os que são contra as cotas desejam. Ao mesmo tempo, é triste saber que os que defendem as cotas acham que, se houver cotas, o Brasil está no paraíso. As cotas vão beneficiar os pequenos pingos de jovens negros que entrarão na universidade, e por isso eu as defendo.

Mas não vão resolver os problemas daqueles que estão na base, que são os 16 milhões de analfabetos, são os 60 que abandonam a escola a cada minuto neste País. As cotas, mais uma vez, são a solução do pessoal que está embaixo do topo, e não do pessoal que está embaixo da pirâmide. As bolsas também. Tem gente que é capaz, neste País, de ser contra o Bolsa-Família! Ninguém pode ser contra o Bolsa-Família, quando as famílias estão na miséria. Mas ninguém tem direito de comemorar o Bolsa-Família. Este País tem que comemorar, um dia, quando pagar à última família que precisar de bolsa e disser: A partir de agora, ninguém mais precisa delas.

Mas um país sem cotas e um país sem bolsas exige revolução, exige uma bússola. Não se pode abolir cotas e bolsas só com pá; com pá, a gente tapa buraco. A gente cria bolsa, a gente cria cota. É um jeitinho que a gente está dando na miséria de milhões e na falta de negros na nossa elite; um jeitinho, jeitinho necessário, volto a insistir, mas jeitinho. Não é a solução. Mas ninguém quer a verdadeira solução, que é a garantia de escola boa, de alta qualidade, igualitária, da primeira à última série do segundo grau.

Tenho conversado muito, inclusive esta semana, com Frei Davi, nosso querido amigo, líder das cotas, e ele entende. Eu lhe disse: “Frei Davi, sou defensor das cotas, mas eu queria ver o senhor lutando pela erradicação do analfabetismo de brancos e negros; lutando para que a escola fosse igual, em horário integral, não importando a cidade, não importando a raça, não importando a renda da família, desde os primeiros anos até os últimos”. E aí podermos dizer: agora já não se precisa mais de cotas; e aí dizer: agora já não se precisa mais de bolsas. Mas há resistência em se trabalhar com a bússola e preferência para se trabalhar com a pá. Há preferência para o jeitinho - e o Brasil se orgulha do jeitinho - de tapar buraco, e não com o radicalismo de mudar de rumo.

Hoje, a primeira página do jornal mostra isso. É a nítida preferência do País pelo pacote pró-consumo, que reduz IR (Imposto de Renda) e isenta carro popular de impostos. E, na mesma página, mas em letra bem pequenininha, diz que as metas para a educação não são atingidas.

Temos que mudar isso, Sr. Presidente. E é tentando mudar isso que a gente vem pra esta Casa, é tentando mudar isso que a gente tem que correr o risco de ser visto como uma nota só: a nota da revolução, a nota da bússola e, para mim, pela educação. Mas que tragam outra bússola, que tragam outra revolução para que a gente possa discutir aqui.

Antes de terminar, Sr. Presidente, quero ouvir o aparte do Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - È só para dizer da admiração que tenho pela garra de V. Exª. É realmente impressionante! V. Exª, nesses anos, se dedicou à causa da educação e vem fazendo um alerta à Nação todo dia, toda hora. Não tenho nenhuma dúvida de que V. Exª está abrindo uma perspectiva nova no debate sobre a educação. Não tenho nenhuma dúvida de que, assistindo pela TV Senado, os vereadores, os professores, os professores universitários, aos seus pronunciamentos, V. Exª, na insistência e na profundidade do conteúdo, chama-nos a atenção para aquilo que, na verdade, na verdade, é só V. Exª. O máximo que a gente consegue é botar uma emenda a mais para uma escola aqui, para um colégio ali, mas a profundidade do conteúdo, a significação que V. Exª dá ao que é a causa da educação, a mostrar que ela está na frente de tudo o mais que se possa imaginar... Ela só fica atrás do pão. Primeiro, tem que dar comida, mas, tendo pão, a segunda coisa é dar educação. V. Exª tem um mérito muito grande. V. Exª está sendo um condutor que está dando um rumo diferente ao Congresso Nacional. E não tenho nenhuma dúvida de que a classe política brasileira, a classe intelectual brasileira vai refletir a respeito. Assistir ao seu pronunciamento como estou assistindo agora, aqui, na frente, no primeiro banco do plenário do Senado, é muito, muito, muito confortador. Mas eu lhe digo: prefiro assistir em casa. Quando vejo, de noite, parece que V. Exª está dando uma aula. V. Exª está mais para conferencista do que para debatedor político. Na aula, as coisas vêm naturalmente. V. Exª fala e o cérebro da gente observa: mas como é que eu não tinha pensado nisso? É isso mesmo. Essas coisas estão acontecendo. Então, V. Exª acorda um sentimento. Não tenho nenhuma dúvida, Senador: V. Exª vai ser o grande responsável pelas grandes transformações que vamos ter nos próximos anos na educação brasileira. Ninguém pode assistir friamente, sem mexer com nossos sentimentos, à repetição dos pronunciamentos de V. Exª. Se V. Exª fizesse um e, daqui a três meses, outro, talvez, não; mas V. Exª é constante, é permanente, é um discurso atrás do outro. Quer dizer, V. Exª está fazendo uma lavagem cerebral na gente, e, aos poucos, V. Exª verá que tem uma legião de pessoas que pensam e que refletem igual a V. Exª. V. Exª está plantando carvalho, não está plantando tomate para colher amanhã. V. Exª está, com uma profundidade muito grande, fazendo com que esta geração que está aí se comprometa com essa obrigação e com essa responsabilidade. Que bom seria se o Presidente Lula tivesse condições de ouvir com tranqüilidade o seu pronunciamento! Que bom seria se ele, em casa, assistisse à televisão e assistisse ao início, ao meio e ao fim do seu pronunciamento! Não acredito que esteja acontecendo isso. Sinceramente, acho que ele está num ritmo de rapidez de apresentação de detalhes, de números, de proposituras, que ele acha que, criando mais universidades, bolando novas teses nesse sentido, está resolvendo a questão. Mas não tenho nenhuma dúvida, V. Exª pode ficar absolutamente convencido de que, a cada dia, V. Exª está plantando, e plantando sementes profundas no sentimento de milhões de brasileiros. V. Exª haverá de ser o grande responsável, porque V. Exª está fazendo uma conscientização nacional. V. Exª está cobrando de cada um de nós. Eu, por exemplo, me sinto culpado por não estar atrás de V. Exª, fazendo o que V. Exª está fazendo. Acho que essa é a boa semente. Essa caminhada de V. Exª vale a pena, porque o resultado é absolutamente certo e absolutamente positivo. Nós já sabemos que, sim, pão, comida, alimentação, mas sem educação, sem cultura, sem isso nós não saímos do lugar. V. Exª sabe disso. V. Exª fala com profundidade porque sabe que a grande bandeira é essa de V. Exª, mas os Pedro Simon da vida, que não têm a profundidade de V. Exª, os vereadores, os deputados, os professores e os alunos, pouco a pouco, cada vez que V. Exª aparece na televisão, param e assistem. Muitas, muitas pessoas têm-me dito isto: “Mas que tal é aquele professor? Que tal é, na verdade, o que ele fala, porque é tão bonito ouvir!”. Eu digo: “Não, é bonito ouvir, mas é mais bonito levar adiante, porque ele está fazendo uma pregação que todos nós vamos seguir”. Agradeço a V. Exª pela aula que recebo e que venho recebendo. Hoje à noite, vou repeti-la. Vou chegar em casa e vou ouvir de novo a aula de V. Exª, para me aprofundar mais e, aí, me compenetrar mais, porque é o que eu tenho feito: vejo aqui e vejo em casa, e vale a pena. Muito obrigado pela aula que recebi neste momento.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Pedro, sou eu que agradeço. Já que o senhor teve a gentileza de fazer esse pronunciamento, esse aparte público, eu quero dizer, aqui, a todos que estão assistindo, que, quando o senhor terminou de falar, eu pedi que o senhor me desse o seu discurso, assinado pelo senhor, não só porque eu quero reler o discurso que o senhor fez há pouco como eu quero guardá-lo. Guardá-lo, para dizer: “A este aqui eu assisti; e ele o assinou e deu para mim”.

Agora, eu estou ansioso para falar de outros assuntos aqui que não sejam educação, até porque eu sou um economista. Eu sou professor de Economia, eu estudei todo isso de crise, eu ensinei aos meus alunos! Só que, no meu processo, eu aprendi que estávamos esquecendo os principais fatores da economia, que a gente aprende sempre, que são a terra, o homem e o capital. Mas o homem, como trabalhador manual, acabou! Daqui para a frente não vai mais ter trabalhador manual. O operário que usa a mão vai ser substituído pelo operador, que usa o dedo; e a diferença entre o operário que usa a mão hábil e o operador que usa o dedo ágil é o conhecimento que o operador tem. Vai acabar. Os países não serão mais ricos porque têm terra fértil, mas, sim, porque têm uma ciência tão competente que faz fértil até a terra que não é fértil.

Hoje, a gente sabe que o Brasil - e, nesta semana, eu tive uma verdadeira aula com uma pessoa da área de ciência e tecnologia, o Professor Ronaldo Mota - tem infra-estrutura para produzir ciência. Sabem o que falta? E ele disse isso com clareza: falta uma base de jovens grande para que a gente possa selecionar os grandes cientistas. O Brasil está pronto para ter os grandes cientistas, mas eles estão morrendo analfabetos, eles estão morrendo antes de aprenderem as quatro operações, eles estão morrendo antes de terminarem o segundo grau, antes de entrarem na universidade. Então, o potencial do cérebro deles é jogado fora. Se nós deixássemos que apenas um terço dos nossos jovens jogasse futebol, não teríamos craques como nós temos. Há craques porque a bola é redonda para todos, todos começam a jogar aos quatro anos, e os que chegam lá em cima são os melhores. No Brasil, os que chegam lá em cima são os melhores daquele pedacinho da pirâmide que pôde estudar.

Então, eu estou ansioso para falar de outra coisa, mas aprendi que é a educação o fator principal, daqui para a frente, na economia. Por isso, vou continuar, tentando fazer o que o senhor chamou de lavagem cerebral, mas com uma percepção: eu temo que, em vez de lavagem cerebral, terminem dando uma descarga nos meus discursos, de tão chatos que podem ficar. Mas eu prefiro sair daqui, um dia, dizendo que saiu um chato, do que dizendo que saiu um omisso, ou que saiu um que se adaptou.

Eu vi, aqui, quando estávamos discutindo o problema da meia-entrada, que a Presidente da Une tem tatuado no braço: “Não vou me adaptar”. Eu até comentei, mas, depois, descobri que é o verso de uma música, de um rock, e eu não sabia. “Não vou me adaptar.” Eu disse para ela: “Se a minha geração toda tivesse escrito ‘não vou me adaptar’, o Brasil estaria muito melhor, porque a maior parte daqueles que chegaram à minha idade se adaptaram.

Eu não vou me adaptar. Eu vou continuar dizendo essas coisas e fico feliz de ter uma figura como Pedro Simon dizendo o que disse.

Para concluir, eu quero dizer o seguinte: veja, Senador, as contradições dessa lógica que rege a política e a economia brasileiras. Eu conversei, um dia desses, com um governador, e ele disse: “Não tenho dinheiro mais para gastar em educação, por causa da crise”. Aí, eu disse: “Mas você está fazendo uma política de redução de impostos!”. Ele disse: “Eu estou fazendo a política de redução de impostos por causa da crise”.

Vejam que contradição: por causa da crise, não se pode pagar bem aos professores; por causa da crise, podem-se reduzir gastos para que se vendam mais automóveis. O pior é que, do ponto de vista deste instante, ele tem razão. Do ponto de vista do longo prazo, ele está completamente equivocado.

Daí, eu concluo, fazendo um apelo ao Presidente: da mesma maneira que ouviu esse grupo de empresários que têm necessidade de enfrentar o curto prazo, que ele traga outras pessoas que queiram enfrentar o longo prazo.

Faça uma reunião, Presidente Lula...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Desculpe-me, desculpe-me.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Por amor de Deus...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Com o maior prazer.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Por amor de Deus, já foram quantas reuniões? Quantas reuniões o Presidente Lula fez com empresários, com pessoas? Por que não faz uma vez com a gente? Por que ele não reúne... Não entendo! Eu gostaria de, junto com V. Exª...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Claro!

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ...com alguém, ter uma oportunidade dessas, de dizer alguma coisa. Eu gostaria de falar sobre educação, ir com V. Exª, para ouvir a resposta que ele poderia dar a uma questão como essa. É tão bacana! Eu acho bonito o Presidente Lula se reunir com a classe dos trabalhadores, acho bonito ele se reunir com os empresários, mas por que ele não se reúne com a gente uma vez?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito boa a pergunta!

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Olha, valeria a pena.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Até para cobrar de nós propostas, até para cobrar de nós soluções, até para exigir de nós liderança neste País. Nós somos os líderes deste País. Os empresários também, mas com outra preocupação, que é imediata. Empresário que se preocupar muito com o longo prazo quebrará no presente. Nossa profissão deveria ser pensar a longo prazo.

Digo aqui, reafirmando a sua sugestão: que o Presidente nos convide. Vamos conversar! A gente não está indo atrás do cafezinho dele, que não é melhor do que o cafezinho que fazem aqui o Zezinho e os outros que nos atendem; a gente não está querendo jantar nem almoço, até porque em jantar e almoço ninguém conversa a sério; a gente está querendo que ele dedique uns minutos para ouvir o que a gente tem para falar como portadores de bússola e não apenas portadores de pá, mesmo respeitando a necessidade da pá e apoiando-o nas medidas corretas da pá.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Volta e meia a gente vê, no jornal. o Presidente convocando e se reunindo. Então, ele chama lá o Presidente do PMDB, o Líder do PMDB na Câmara, o Líder do PMDB no Senado, alguns que nós sabemos que são os chefes e, aí, escuta quais são os cargos de fulano de tal, o Ministro tal, não sei o quê e não sei qual. Daqui a pouco, é com outra bancada; daqui a pouco, é com outra bancada, para discutir os cargos e as vantagens. Agora, discutir com a gente para ouvir a sociedade, ver os problemas, o debate... A gente reza para que o Governo dele dê certo, como nessa questão de V. Exª e em tantas outras contingências, mas quanto a isso nós não temos chance.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não temos, e não temos, por exemplo, na primeira página do jornal O Globo. Eu quero ver se ele vai fazer uma reunião para discutir por que não está cumprindo as metas educacionais, se ele vai convidar pessoas de fora do próprio Ministério, junto com o Ministro, para discutir por que a gente não está. Ele se reuniu para a crise do imediato da economia, mas para a crise de construção de uma nação, a crise de construção de uma sociedade que venha a eliminar a necessidade de cotas e bolsas, eu não o estou vendo fazer.

O Senador Pedro Simon, com toda sua experiência, ofereceu-se para ir lá. Eu me ofereço, contente, para ir lá na hora em que for para conversar sobre isso.

Fica aqui, portanto, encerrando a minha fala, este apelo e esta sugestão ao Presidente da República: que ele convide alguns para conversar sobre o pós-crise, porque o Governo do Lula vai ter um pós-Lula e ele tem de deixar sementes nesse sentido.

Era isso que eu tinha para dizer, Sr. Presidente, agradecendo a sua paciência.

Agradeço muito os seus cumprimentos, Senador Pedro Simon, e ainda mais o discurso anterior que o senhor fez.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2008 - Página 52208