Discurso durante a 250ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações da participação de S.Exa. à décima quarta Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima e Protocolo de Kyoto - COP-14, realizada em Poznan, na Polônia.

Autor
Jefferson Praia (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: Jefferson Praia Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Considerações da participação de S.Exa. à décima quarta Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima e Protocolo de Kyoto - COP-14, realizada em Poznan, na Polônia.
Aparteantes
Adelmir Santana, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 20/12/2008 - Página 53954
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • INFORMAÇÃO, PRESENÇA, ORADOR, CONFERENCIA INTERNACIONAL, ALTERAÇÃO, CLIMA, INICIATIVA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), REALIZAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, POLONIA, COMENTARIO, RELATORIO, REUNIÃO, EMPENHO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, AFRICA DO SUL, MEXICO, CONTROLE, EMISSÃO, GAS CARBONICO, APRESENTAÇÃO, PROJETO, REDUÇÃO, POLUIÇÃO, DESMATAMENTO, GARANTIA, FUNDOS, FINANCIAMENTO, ATIVIDADE ECONOMICA, POPULAÇÃO, RESPEITO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGISTRO, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, DETALHAMENTO, PROPOSIÇÃO, RECURSOS.
  • SAUDAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, CONFERENCIA INTERNACIONAL, REGISTRO, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), APRESENTAÇÃO, PLANO NACIONAL, ALTERAÇÃO, CLIMA, COMPROMISSO, GOVERNO BRASILEIRO, REDUÇÃO, EMISSÃO, GAS CARBONICO, FUNDOS, REGIÃO AMAZONICA, ADMINISTRAÇÃO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), FINANCIAMENTO, RECURSOS, AMBITO NACIONAL, AMBITO INTERNACIONAL, COMBATE, DESMATAMENTO.
  • APREENSÃO, PROPOSTA, CURTO PRAZO, COMBATE, DESMATAMENTO, PROVOCAÇÃO, REDUÇÃO, EMPREGO, RENDA, POPULAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, AUMENTO, EMPENHO, CONGRESSISTA, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, CRIAÇÃO, LEGISLAÇÃO.
  • SAUDAÇÃO, ATUAÇÃO, BRASIL, PIONEIRO, SETOR, ALCOOL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), JAPÃO, GRÃ-BRETANHA, PORTUGAL, ALEMANHA, AMPLIAÇÃO, UTILIZAÇÃO, ENERGIA RENOVAVEL, REDUÇÃO, CUSTO DE PRODUÇÃO, AUMENTO, NUMERO, EMPREGO, DEFESA, ORADOR, OPORTUNIDADE, COMBATE, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, ESFORÇO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o único Senador brasileiro presente à COP-14 (Décima Quarta Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima e Protocolo de Kyoto), em Poznan, retorno da Polônia animado pela convicção de que testemunhei os momentos iniciais - ainda titubeantes e incertos, é claro, mas mesmo assim, promissores - de uma nova etapa da economia global.

No longo vôo de volta para casa, cheguei a imaginar, à maneira dos romances de ficção científica de H. G. Wells, como se sentiria um personagem da nossa era se, graças a uma máquina do tempo, fosse transportado aos meados do século XVII na Inglaterra. Naquele período, em meio aos sangrentos conflitos entre o parlamento e o absolutismo da dinastia Stuart, começava a se operar um lento amálgama entre nobreza e burguesia, graças ao qual os aristocratas passavam a interessar-se pelo lucro advindo das atividades mercantis e manufatureiras, em agudo contraste com os seus congêneres nobres de países como Espanha e Portugal, que desprezavam os negócios como indignos dos portadores de sangue-azul.

Pois bem, as inovações tecnológicas e financeiras, estimuladas por esse novo ambiente amistoso ao empreendedorismo, impulsionavam uma revolução agrícola e comercial, precondição da Revolução Industrial, que floresceria um século depois, por volta de 1750/1760, e que mudaria radicalmente as estruturas econômicas e políticas da humanidade.

Centrada na máquina a vapor, a primeira etapa da Revolução Industrial daria lugar, na virada do século XIX e XX, a um segundo estágio, esse dominado pela eletricidade e pelo motor a explosão.

Hoje, Sr. Presidente, no consenso dos historiadores da ciência, vive o mundo em plena terceira etapa da revolução industrial, definida pela eletrônica e pelas tecnologias da informação, que unem a humanidade via satélite em tempo real, ao digitar de um número telefônico ou ao clicar de um mouse.

Repito que minha convicção, reforçada pelo que vi, ouvi e, sobretudo, aprendi participando do evento em Pozman, em companhia de milhares de representantes de mais de 180 países, é que o mundo está no limiar de uma nova era, definida pela consciência ambiental com base no binômio desenvolvimento-sustentabilidade, em cujo nascimento e evolução de novas tecnologias e fontes energéticas limpas desempenharão um papel cada vez mais crucial. E isso apesar de o cenário econômico-financeiro global imediato estar toldado de pessimismo proveniente da atual crise.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma rápida consulta aos antecedentes revela que a COP de 1997 adotou o famoso e controverso Protocolo de Kyoto, com metas teoricamente obrigatórias para os países ricos do mundo industrializado ou mesmo, como preferem alguns, pós-industrial de redução das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa, responsável pelo aquecimento global aos níveis de 1990.

Brasil e outros países ditos emergentes do mundo em desenvolvimento ficaram fora dessa obrigação. Nesse ponto, é preciso lembrar que o nosso País já é o quinto maior emissor mundial de gases, precedido pelos Estados Unidos, China, Indonésia e Rússia e seguido por Japão, Índia, Alemanha, Canadá e Grã-Bretanha, no rol dos dez grandes poluidores da atmosfera.

Tal isenção, como recorda o emérito cientista da USP e ex-Ministro José Goldemberg, em artigo para o jornal o Estado de S. Paulo, da última segunda-feira, “se revelou desastrada”, dando margem, por exemplo, a que “os Estados Unidos (responsáveis por 25% das emissões mundiais) se recusassem a aderir ao Protocolo, usando o argumento de que teriam de arcar com custos muito elevados para cumpri-lo, prejudicando com isso a competitividade americana no comércio internacional”.

Dez anos depois de Kyoto, em 2007, a COP-13 reuniu-se em Bali, Indonésia (quarto maior poluidor de ar do mundo) e os países membros da ONU esboçaram diretrizes destinadas a apoiar um novo e mais eficaz regime internacional contra o aquecimento global, consagrando a prioridade da preservação das florestas tropicais para o sucesso desse esforço, resumida na fórmula, hoje corrente, de que, para tanto, urge construir uma estrutura de incentivos socioeconômicos que permita à floresta em pé valer mais do que a floresta derrubada.

A próxima COP, a décima quinta, marcada para dezembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca, terá por isso a missão de transformar as discussões e negociações iniciadas em Bali e continuadas em Poznan, em um compromisso formal e, mais do que isso, factível, que saia do papel e transforme a realidade mundial para melhor, em benefício das próximas gerações do planeta, observando que, em 2012, expirará o Protocolo de Kyoto.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, seria impossível, nos limites de tempo e espaço deste pronunciamento, retratar a riqueza dos debates de que participei na Polônia. Por isso, passo a me concentrar em dois aspectos que considero fundamentais da reunião.

O primeiro deles diz respeito aos resultados sistematizados no relatório final da conferência, o qual reflete, segundo a imprensa internacional especializada, um novo e bem-vindo protagonismo de emergentes como Brasil, China, Índia, África do Sul e México. Numa atitude que considero madura e corajosa, essas nações abandonaram o velho discurso da responsabilidade histórica exclusiva dos países ricos pelo problema da poluição e, conseqüentemente, pela solução do mesmo.

Essa mudança de enfoque, como celebrou o secretário-executivo do Painel do Clima da ONU, Ivo de Bôer, agora coloca os países emergentes em condições morais muito melhores para cobrar ações e contrapartidas efetivas do mundo rico.

Reflexo disso, o relatório final do evento consagrou inovações como a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e o chamado Fundo de Adaptação, destinado a financiar transição de populações inteiras para atividades econômicas sustentáveis.

É bem verdade que ainda se trata de idéias que carecem de detalhamento e da garantia de fontes para o seu financiamento. A REED precisa ser bem estudada para o devido ajuste de seus mecanismos à legislação ambiental, agrícola e indigenista do Brasil. Já o Fundo de Adaptação, por enquanto, não conta com a provisão de US$20 bilhões do Banco Mundial, conforme foi negociado em Poznan.

Sr. Presidente, o segundo e último aspecto que quero focalizar refere-se diretamente à participação do Brasil na COP-14.

Apesar das críticas das ONGs ambientais, o Plano Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), apresentado pelo Sr. Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, despertou vivo e, creio eu, merecido interesse dos participantes, quanto mais não fosse porque se trata do primeiro compromisso assumido pelo Governo brasileiro perante a comunidade internacional de reduzir nossas emissões de carbono. Ora, cabe aqui salientar que os cientistas estão de acordo em que 20% das emissões do planeta originam-se do desflorestamento, e que, no caso do Brasil, elas representam 75% desse subtotal mundial. Assim, está certíssimo o professor Goldemberg ao afirmar que, no quadro dos esforços internacionais para o combate ao aquecimento global, o grande desafio que cabe ao Brasil consiste em “reduzir o desmatamento da Amazônia”, mesmo porque quem mais sofrerá com ele, Sr. Presidente, “não são os estrangeiros, mas todos os brasileiros”, pois “a mudança de clima que vai provocar atingirá o nordeste e o sudeste do País”.

É com muito prazer que ouço o Senador Mozarildo.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Jefferson, não sei se o meu aparte seria neste momento ou mais a frente, porque não vi até agora V. Exª abordar - ou se foi abordado nesse encontro - a questão da emissão dos gases produzidos pela queima dos combustíveis fósseis, das grandes fábricas do mundo desenvolvido.

O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM) - Abordarei um pouco mais a frente.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Então, acho que estou entrando um pouco antes.

O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM) - V. Exª pode continuar. Por favor.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - O que entendo é que, na verdade, há uma distorção dessa questão feita pelos países ricos, que pagam inclusive... Evidentemente, não quero colocar em suspeição nenhum cientista, até porque, como médico, pertenço a uma categoria de pessoas que acredita na ciência, mas, por exemplo, é “vilanizar” a Amazônia dizer que esse é o problema que vai resolver a questão no mundo. Aqui mesmo, no Brasil, vamos medir a poluição que São Paulo e Rio de Janeiro provocam e a poluição que a Amazônia provoca. Sei que, na Amazônia, há um monitoramento muito forte quanto a essa questão, mas não vejo isso em São Paulo e no Rio de Janeiro. Vamos passar para o primeiro mundo, que é pior ainda. Se fôssemos contar a queima dos combustíveis fósseis de trens, ônibus, carros, aviões e fábricas, veríamos que a quantidade realmente é imensa. Também me admiro, Senador Jefferson Praia, é que aqui não se comenta nada sobre o Sol. O Sol está aumentando as suas explosões, aumentando a sua temperatura. Está aumentando a atividade vulcânica no mundo. Então, parece-me algo muito estigmatizado em cima da nossa Amazônia. E aí me preocupo, por quê? Porque nós temos 25 milhões de habitantes que moram lá. Há os homens lá, os ribeirinhos - muitos no seu Estado, menos no meu, mas há também os homens que habitam, por exemplo, os lavrados de Roraima. Como é que se pode simplesmente proibir, proibir, proibir, e não encontrar, como V. Exª colocou em uma parte ao seu pronunciamento, uma forma de fazer com que essas pessoas vivam melhor, tenham rendimento, possam sustentar melhor suas famílias, educar seus filhos? Então, o ser humano está invertido nessa questão. O meio ambiente assumiu uma proporção de importância muito maior do que a do ser humano. E essa questão do meio ambiente tem de ser muito bem estudada. Não podemos aceitar, como foi à época da Inquisição, certos estigmas de hereges, de bruxas, etc., e não estudarmos isso em maior profundidade. Eu, lógico, me preocupo, primeiro com a saúde do homem. Então, se a saúde do homem está sendo atingida, eu me preocupo muito, realmente, em saber se essa causa do desmatamento é a grande vilã.

O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Mozarildo Cavalcanti. V. Exª coloca uma preocupação que é de todos nós, que é essa questão do meio ambiente e da boa qualidade de vida do povo da Amazônia, que, na verdade, é o nosso desafio, faz parte de um dos desafios primordiais no Senado.

Continuo, Sr. Presidente, dizendo que o Plano Nacional de Mudanças Climáticas tem por objetivo reduzir o desmatamento em 70% até 2017, conforme o seguinte roteiro - Senador Mozarildo, é importante termos atenção nessa questão. O plano estabeleceu uma meta para a Amazônia de redução em até 70% do desmatamento até 2017. Agora, V. Exª colocou muito bem, temos que ver quais são os impactos dessas ações em relação à qualidade de vida das pessoas.

Este é um ponto que tenho destacado aqui, que é a preocupação com o curto prazo, com o que está acontecendo agora, porque, no momento em que se interrompe qualquer atividade que causa danos ambientais, também ao mesmo tempo deixa-se de gerar trabalho e renda para as pessoas da Amazônia. Esse é um campo em que temos de atuar mais vigilantes, buscando as soluções e também, é claro, percebendo a importância do meio ambiente, como V. Exª também percebe, e principalmente dos seres humanos.

Temos como roteiro a redução em 40% do desmatamento anual no período de 2006/2009 comparado a 1996/2005, com a meta de redução para 30% nas duas etapas subseqüentes (2010/2013 e 2014/2017). A expectativa é evitar, até essa última data, a emissão de 4,8 bilhões de toneladas de gás carbônico.

O Ministro Minc também familiarizou os participantes sobre o Fundo Amazônia, lançado pelo Presidente Lula em meados do corrente ano, administrado pelo BNDES e financiado com recursos nacionais e internacionais com a finalidade de enfrentar o desmatamento. Por ora, esse fundo conta com US$1 bilhão, e o Ministro do Meio Ambiente prevê que ele poderá captar o equivalente a R$2,3 bilhões por ano.

Claro que isso é bom, mas ainda insuficiente para custear a preservação amazônica, pois o próprio Governo calcula que as despesas são da ordem de R$9 bilhões anuais.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a magnitude desses investimentos e a complexidade da tarefa de harmonizar as perspectivas de longo, de médio e de curto prazos na assistência e na qualificação das populações envolvidas no salto rumo ao desenvolvimento sustentável e socialmente justo configuram um gigantesco desafio à imaginação criadora e ao espírito público de todos os setores responsáveis da vida brasileira, aí incluídos todos nós, integrantes deste Senado da República.

Precisamos aprofundar o debate acerca dessas alternativas e também formular legislação inovadora capaz de concretizá-las.

Afinal, como adiantei no início desta minha fala, as recompensas reservadas aos povos que lutam por um futuro mais verde são para lá de compensadoras - e muitas experiências bem-sucedidas, já em curso no Brasil e no mundo, assim o comprovam.

Graças, sobretudo, ao pioneirismo do País no setor de etanol, a média brasileira de utilização de energias renováveis é de 46%, contra apenas 13% no restante do mundo. No município gaúcho de Osório, 75 turbinas transformam a força dos ventos em energia elétrica a serviço de 650 mil consumidores naquele que já o maior parque eólico da América Latina. Em Belo Horizonte, mais de mil residências, hotéis e hospitais utilizam o calor que vem da luz do sol para aquecer suas caldeiras. Se a isso se acrescentar o potencial dos biocombustíveis contidos em espécies vegetais da Amazônia - o babaçu e o muru-muru entres outros - certamente alcançaremos e consolidaremos nossa vocação de potência energética verde número um do mundo.

Lá fora, outras iniciativas permitem antever os passos iniciais do que o ex-Vice-Presidente dos Estados Unidos e prêmio Nobel da Paz Al Gore, na sua concorrida conferência em Poznan, denominou de Green New Deal, ou seja, o pacto global verde do terceiro milênio. No seu país, muito embora o governo federal americano tenha recusado se comprometer com as metas de Kyoto, vários estados rejeitam o imobilismo, a exemplo da Califórnia, onde investimentos de US$1 bilhão pretendem fazer com que, dentro de uma década, mais da metade de sua frota de automóveis seja composta de veículos elétricos. Enquanto isso, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, já encomendou estudos que tornem possível suprir 10% das necessidades de consumo metropolitano com energia eólica. E o presidente eleito, Barack Obama, anuncia investimentos da ordem de US$150 bilhões para a criação de 5 milhões de empregos em energia verde.

A história se repete mundo afora. Há mais de 30 anos o PIB japonês cresce sem aumentar o consumo de eletricidade, graças a programas de eficiência energética e combate ao desperdício que mobilizam as empresas e o conjunto da cidadania. Em Londres, com a nova lei do clima, a prefeitura promete cortar 60% das emissões de carbono, nos próximos 17 anos, mediante o uso combinado de energias eólica e solar e também a incorporação de 10 mil carros elétricos à frota da capital britânica. Portugal e Alemanha apresentam parcelas cada vez mais amplas de suas matrizes energéticas sustentadas pelos ventos e pela luz solar. Na China, a sede da Suntech (maior fabricante mundial de painéis fotovoltaicos) planeja incorporar 100 mil novos megawatts de energia eólica até 2020, o equivalente a toda energia gerada pelo Brasil.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, essas e inúmeras outras experiências brasileiras e estrangeiras comprovam que, com o aumento da escala desses empreendimentos, diminuem os custos de geração de energia limpa e aumenta o número de empregos criados por essas atividades.

Tudo isso fortalece a minha certeza de que é na preservação do meio ambiente que se encontrarão as maiores e melhores oportunidades para que o mundo supere rapidamente a presente conjuntura de crise. E tenho certeza, também, de que esta Casa, por meio do esforço solidário de reflexão e formulação de seus membros, em sintonia com segmentos empreendedores e criativos da sociedade brasileira, estará apta a prestar uma significativa contribuição ao parto deste admirável mundo novo.

Sr. Presidente termino este pronunciamento dizendo que senti, nesse encontro internacional sobre as questões climáticas em Poznan, um clima de mudanças no contexto mundial. Senador Mozarildo, uma nova revolução caminha, que é a revolução da energia verde, é a revolução em que o meio ambiente será objeto das preocupações do mundo inteiro e, como falou muito bem o Senador Mozarildo Cavalcanti, nós temos que cobrar também dos países desenvolvidos a sua parcela de contribuição.

Neste caso, na minha avaliação, o Brasil deu um passo à frente quando foi a esse encontro em Poznan, na Polônia, e estabeleceu a sua tarefa de casa. Disse: “Olha, temos um plano climático, de mudanças climáticas, temos metas a serem cumpridas. Vamos fazer o nosso trabalho”. Os países desenvolvidos devem cumprir sua parte, principalmente os Estados Unidos, que são os maiores poluidores do planeta.

Senador Mozarildo, é com muito prazer que ouço V.Ex.ª

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Desculpe-me por voltar a pedir aparte a V. Exª, mas é que, realmente, o pronunciamento de V. Exª é excelente. V. Exª faz uma análise da conjuntura mundial no que diz respeito a esse tema, algo com que também tenho me preocupado. A minha cabeça funciona sempre como na Medicina: tudo é uma questão de procedimento e de dosagem. Então, entendo que não se pode, como vêm fazendo de maneira hipócrita os países ricos, querer que nós, os países pobres ou em desenvolvimento, cumpramos a nossa tarefa sem que eles cumpram a deles. Quer dizer, eles, além do que já fizeram em termos de desmatamento, de absurdas agressões à natureza, falam em metas muito tímidas, como V. Exª colocou, metas a serem alcançadas ao longo de décadas. Pensem no que pode acontecer se, amanhã, muda o governo de um desses países, principalmente na Europa: muda também o comportamento, ainda que haja um contrato assinado. Então, realmente, o Brasil está na vanguarda, está até se excedendo, porque, repito, proibir atividades na Amazônia, por exemplo, sem levar em conta o ser humano e a sobrevivência das famílias é criminalizar a Amazônia e condenar o homem da Amazônia a viver num atraso cada vez pior. Mas concordo que esse debate que V. Exª levanta precisa ser aprofundado. Esta Casa, o Senado, tem condições de fazer um aprofundamento - tem, inclusive, uma Comissão para tratar desse assunto -, mas levando em conta todos os aspectos do aquecimento global e não apenas a questão do desmatamento. Todos os aspectos devem ser levados em conta, inclusive, repito, os fenômenos naturais, como é o caso do aquecimento do sol, como é o caso da atividade vulcânica e outras alterações. Daqui a pouco, pelo viés ideológico, são capazes de dizer que a deglaciação que se deu no início da nossa vida na Terra foi decorrência da atividade humana. Havia ser humano? Não havia. Então, é isto o que quero: ver, cientificamente, essa coisa colocada para que possamos nos engajar de maneira consciente e com a dosagem certa.

O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM) - Muito obrigado, Senador.

Eu já o ouvirei, Senador Adelmir Santana, com muito prazer. Gostaria apenas de aproveitar o contexto em que o Senador Mozarildo faz as suas observações para fazer uma colocação.

Nós temos percebido a preocupação do Ministro Minc e do Governo em relação à questão ambiental, preocupação que nós também temos. Agora, na minha avaliação, mesmo levando em conta o Plano Amazônia Sustentável do Ministro Mangabeira, mesmo percebendo o interesse do Ministro Minc em resolver também as grandes questões, precisamos ter, no Governo, a preocupação que tem, por exemplo, o Senador Mozarildo Cavalcanti, a preocupação que eu tenho e que nós temos aqui no Senado quanto aos seres humanos da Amazônia.

Por exemplo, agora é que vieram descobrir a questão fundiária na Amazônia, que precisaríamos de centenas de anos para resolvê-la, Senador Adelmir Santana.

Quer dizer, passou esse período todinho, e agora que vieram perceber isso? Agora que vieram perceber o gravíssimo problema que talvez seja o número um para as questões da nossa população lá?

Então, vejo que há, sim, a falta de uma agenda no sentido de encontrar as soluções dos problemas na Amazônia. Há muita cobrança realmente. Há muitas coisas que precisam ser corrigidas, mas não devemos esquecer - aí concordo plenamente com V. Exª - os seres humanos que estão lá. Quero aquela região verde. Vou lutar para que ela seja verde. Quero que o Brasil também contribua, assim como as outras regiões brasileiras. Que nós deixemos de poluir os rios. Que nós possamos diminuir as emissões de gases. Quero que o mundo desenvolvido também dê a sua contribuição.

Agora, nós precisamos, na nossa agenda, na nossa tarefa de casa, saber o que fazer e buscar as soluções, porque, Senador Adelmir Santana, parece que só quando surge o problema passam a agir. Dessa forma, nós não teremos a Amazônia que queremos tão cedo.

É com muito prazer que o ouço, Senador Adelmir Santana.

O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senador Jefferson Praia, faço este aparte apenas para dizer da minha satisfação em ouvi-lo. Sempre o ouço com muita atenção, porque as matérias que V. Exª traz aqui sobre a sua região são uma aula sobre as questões amazônicas.

O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM) - Obrigado, Senador.

O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Tenho visto a sua linha sempre em defesa da região não apenas de V. Exª, mas de todos os Senadores que compõem a Bancada daqueles Estados, e V. Exª nos tem dado aqui uma dimensão de como as questões amazônicas merecem a atenção de todo o Estado brasileiro. Quero parabenizar V. Exª pela explanação que faz notadamente da sua participação nessa conferência internacional, mostrando ainda certo descaso que o País tem com relação aos habitantes da Amazônia. Fala-se muito em suas riquezas, na sua capacidade extrativista, nos seus recursos minerais, na cobiça internacional. Mas pouco se cuida do homem da Amazônia, que tem sido aqui a luta de V. Exª, do Senador Mozarildo, do Senador Mesquita, enfim, de todos os Senadores que compõem a Bancada daqueles Estados. Associo-me às palavras de V. Exª, parabenizando-o pela explanação que faz dessa conferência internacional. Parabenizo V. Exª.

O SR. JEFFERSON PRAIA (PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Adelmir Santana.

Presidente Mão Santa, quero finalizar, desejando a todos os Senadores e Senadoras Feliz Natal e próspero Ano-Novo como também a todos os funcionários desta Casa. Cheguei aqui num momento difícil. Senador Mão Santa, V. Exª fez as observações em relação à minha participação, e eu agradeço. Mas sempre gosto de ressaltar que perdemos um grande político. Como fez falta o Senador Jefferson Péres aqui nestes seis meses! Como faz falta o Senador Jefferson Peres!

Foi meu professor, continuo como aluno dele, empenhando-me ao máximo para fazer o melhor pela nossa região, pelo nosso Estado.

E quero desejar, portanto, a todos... Vi, no Senado - é a impressão que tenho -, profissionais competentes, nas mais diversas áreas. Sobre o pessoal da Taquigrafia, a equipe que dá suporte à Mesa, os jornalistas, os fotógrafos, a equipe de segurança, os funcionários do cafezinho, os garçons, enfim, sobre todos os que trabalham nesta Casa não tenho nenhuma observação negativa. Vi excelentes profissionais.

Acredito que temos muito a contribuir com o Brasil, percebo a importância desta Casa dentro do contexto nacional. E o desafio para 2009, Sr. Presidente, é continuar nesta luta, na luta por uma sociedade melhor, na luta por uma sociedade que possa fazer com que os mais pobres tenham melhor qualidade de vida, tenham direito ao trabalho, ao emprego, à renda, possam cuidar das suas famílias como nós gostaríamos que todos cuidassem.

Percebo um empenho muito grande dos Senadores aqui. Adelmir Santana, por exemplo, muito focado na questão das micro e pequenas empresas; Senador Mozarildo Cavalcanti, nas questões amazônicas.

Portanto, temos tido um trabalho aqui muito grande e esses seis meses, para mim, foram proveitosos. Agradeço a acolhida, vamos trabalhar muito pelo nosso País. O Senador Mão Santa, com a sua experiência e dedicação, chegou, hoje, aqui para termos oportunidade de fazer estes pronunciamentos.

Portanto, um Feliz Natal e Ano-Novo para todos, para o nosso País, para a nossa região, e que possamos, em 2009, ter um País cada vez melhor.

Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/12/2008 - Página 53954