Discurso durante a 250ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a reunião da Cúpula da América Latina e do Caribe e Mercosul, realizada na Costa do Sauípe (BA), com o fim de debater a integração e o desenvolvimento da região.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre a reunião da Cúpula da América Latina e do Caribe e Mercosul, realizada na Costa do Sauípe (BA), com o fim de debater a integração e o desenvolvimento da região.
Publicação
Publicação no DSF de 20/12/2008 - Página 53979
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, ESTADO DA BAHIA (BA), REUNIÃO, CHEFE DE ESTADO, AMERICA LATINA, AMERICA CENTRAL, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, CONSOLIDAÇÃO, CRIAÇÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, AMERICA, EXCLUSÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CANADA, INICIATIVA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, GOVERNO ESTRANGEIRO, MEXICO.
  • ELOGIO, PRESENÇA, REUNIÃO, ESTADO DA BAHIA (BA), CHEFE DE ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, PREVISÃO, ORADOR, PROCESSO, ENCERRAMENTO, BLOQUEIO, RECEBIMENTO, APOIO, PAIS, AMERICA LATINA, COBRANÇA, PROVIDENCIA, CANDIDATO ELEITO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), LANÇAMENTO, PROPOSTA, CRIAÇÃO, FORO, DEBATE, SOLUÇÃO, CONTROVERSIA, CONTINENTE.
  • ANALISE, POLITICA EXTERNA, BRASIL, IMPORTANCIA, DESTINAÇÃO, RECURSOS, COMBATE, FOME, AMERICA LATINA, AUSENCIA, POSIÇÃO, IMPERIALISMO, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMENTARIO, HISTORIA, CONFLITO, TERRITORIO, ILHA FALKLAND MALVINAS, DEFESA, UNIÃO, INTEGRAÇÃO, SUBDESENVOLVIMENTO.
  • ELOGIO, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, INICIO, INTEGRAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, COMENTARIO, HISTORIA, DIVERGENCIA, EXCESSO, PRESENÇA, FORÇAS ARMADAS, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PREVISÃO, GUERRA, SAUDAÇÃO, ORADOR, PROCESSO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ORGANISMO INTERNACIONAL, AMERICA LATINA, AMERICA CENTRAL, COMBATE, BLOQUEIO.
  • COMENTARIO, ATUALIDADE, CONFLITO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, EQUADOR, BOLIVIA, SUSPEIÇÃO, OCORRENCIA, MANIPULAÇÃO, EXTERIOR, COMBATE, INTEGRAÇÃO.
  • DEFESA, EXIGENCIA, INDEPENDENCIA, TOTAL, TERRITORIO, AMERICA LATINA, REQUISITOS, INTEGRAÇÃO, SEMELHANÇA, UNIÃO EUROPEIA.
  • ELOGIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESFORÇO, COMBATE, CRISE, ECONOMIA, INCENTIVO, CONSUMO, ANALISE, DIFERENÇA, ATUALIDADE, PREPARO, ECONOMIA NACIONAL, EXISTENCIA, UNIÃO EUROPEIA, ALTERAÇÃO, HEGEMONIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • REITERAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, ORADOR, FALTA, ETICA, GOVERNO FEDERAL, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, MEMBROS, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ANALISE, CRISE, PODERES CONSTITUCIONAIS, FALTA, INDEPENDENCIA, LEGISLATIVO, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), EXECUTIVO, INTERFERENCIA, JUDICIARIO, CONFLITO, CAMARA DOS DEPUTADOS, SENADO, AUSENCIA, PROMULGAÇÃO, EMENDA CONSTITUCIONAL, ALEGAÇÕES, DESMEMBRAMENTO, SUSPEIÇÃO, TENTATIVA, PREJUIZO, GARIBALDI ALVES FILHO, PRESIDENTE.
  • CUMPRIMENTO, FESTA NATALINA, SERVIDOR, SENADO, HOMENAGEM, COMPETENCIA, SAUDAÇÃO, SENADOR, PADRÃO, DIGNIDADE, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, CONFIANÇA, AUMENTO, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, MUNDO, DIRETRIZ, PAZ, SOLIDARIEDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, praticamente, estamos encerrando as nossas atividades deste ano, neste 19 de dezembro. Creio que tem muito a se falar sobre este ano. Não sei se se tem muito a comemorar; mas tem muito o que se falar sobre este ano. 

Acho que a reunião realizada lá na Bahia, na Costa do Sauípe - eu não a conheço, mas, parece-me, que é uma maravilha, uma beleza -, que, pela primeira vez reuniu todos os países da América Latina, sem os Estados Unidos, foi uma reunião muito importante.

Gol de placa para o Presidente Lula!

Olha, eu considero a Organização Pan-Americana, com sede em Washington, uma entidade sem nenhum significado. Quem manda nela são os Estados Unidos, quem decide são os Estados Unidos. Pois agora está-se consolidando a criação de uma Organização Latino-Americana, sem os Estados Unidos. Nota 10, para mim! Com todo o respeito, mas os Estados Unidos são um país tão intenso que são uma entidade à parte.

Aliás, a Imprensa refere-se “à Europa”, “à China”, “à Índia”, “à América do Sul” e “aos Estados Unidos”. Na declaração do Presidente Obama, ele disse que “os Estados Unidos precisam do mundo, e o mundo precisa dos Estados Unidos”. Eles colocam, não digo que com vaidade, mas é a realidade, que os Estados Unidos impõem a sua vontade ao mundo.

Belíssima reunião a realizada na Bahia!

Singela, não é o Presidente Fidel Castro, mas a pessoa de seu irmão, mais simples, mais humilde, mas que marcou posição. Acho que o Raul Castro está demonstrando a que veio. Acho que, a par da saúde de Fidel Castro, a sua saída do Governo e a entrega da Presidência ao irmão dele tem dado oportunidade a que se abram as portas para pôr fim a uma tragédia que, há cinqüenta anos, praticamente, inferniza a América: o bloqueio a Cuba. Todas as nações americanas receberam de braços abertos a presença de Raul Castro, e, por unanimidade, defenderam a presença de Cuba na Organização, e, por unanimidade, defenderam que temos de votar o fim do bloqueio econômico a Cuba.

Acho a decisão tomada na Bahia...Trinta e três países da Cúpula da América Latina e do Caribe, reunidos de forma inédita, cobraram ontem do Presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, uma mudança na política americana com relação à região. Para reforçar a posição de independência, os Chefes de Estado pediram o fim do embargo à Cuba, considerando isso um exercício de vingança, não sendo justificável, nem compreensível. Ainda mais: lançaram a idéia de um foro próprio de debates e soluções de controvérsias, a União Latino-americana e do Caribe. Uma espécie de Organização dos Estados Americanos, que até ontem os americanos lideravam, uma Organização dos Estados Americanos sem a América do Norte. A OEA do B reunirá países sem a participação dos Estados Unidos e do Canadá. A idéia foi apresentada pelo Presidente do México, Felipe Calderón, aliado dos Estados Unidos, que recebeu imediatamente o apoio de todos os presentes.

Eu acho que o Brasil ocupa um lugar muito importante nessa nova posição da AMérica Latina. Acho que não há como deixar de reconhecer o importante significado da política externa brasileira. Aqui tem havido algumas críticas, Sr. Presidente.

Ainda anteontem votamos - é verdade que é ridículo -, muito tempo depois de os alimentos já terem sido distribuídos, de as verbas já terem sido gastas, a autorização, a posteriori, de auxílio do Brasil a pobres da América Latina. Muitos Parlamentares estranham: “Mas o Brasil com tanta fome, com tanta miséria, toma uma posição como essa?!” Entendo. Claro que temos muita fome, que temos muita miséria, mas o gesto político de estender a mão a nossos irmãos com mais fome e com mais miséria da América Latina é importante.

O Brasil não tem posição de conquista, o Brasil não tem posição de vaidade, o Brasil não tem nem cheiro dos Estados Unidos. Olhando em roda, vemos que os Estados Unidos dobraram seu território, roubando metade das terras do México. Lá está a Califórnia o mais rico Estado americano, lá está o Estado do Novo México, roubados do México.

O Brasil não tem isso, o Brasil não tem vaidade de conquista. Nós achamos um terror que a América Latina seja praticamente um continente sem personalidade, sem autoridade. O Presidente americano, ao longo do tempo, diz com a maior tranqüilidade “É o nosso quintal”, “Nós temos que cuidar do nosso quintal”. Isso foi o que disse um presidente americano.

É verdade que teve a célebre política de Monroe: “A América para os americanos” dizia ele. E a gente entendia que “a América para os americanos” era para nós, mas não; é para os norte-americanos. Essa é a realidade. Quando houve a questão entre Argentina e Inglaterra nas Ilhas Malvinas... Eu acho isso, sinceramente, uma vergonha. Os últimos resquícios de colonialismo ainda existem aqui: as Ilhas Malvinas, ali, do lado da Argentina, por que são da Inglaterra? Sob que pretexto? Pois a Inglaterra não teve dúvida em mandar sua velha e ridícula - na época - Marinha para derrotar os argentinos nas Ilhas Malvinas. E apesar de os americanos dizerem “América para os americanos”, os Estados Unidos, com mão forte, deu cobertura e apoiou a Inglaterra contra a Argentina.

Eu acho, Sr. Presidente, que no mundo que aí está, neste atual milênio, neste atual século, a América Latina, com autoridade e unindo-se... Se o senhor olhar, Senador Mão Santa, a América Latina tem tudo: tem petróleo, tem minério, tem agricultura, tem pecuária, tem riqueza. Tudo o que se possa imaginar tem na América Latina. No entanto, tem fome, tem miséria, tem atraso.

Se nós estabelecermos o diálogo na América, se nós estabelecermos a conversação e o intercâmbio comercial, econômico, moral, ético e político na América Latina, nós vamos crescer e muito.

O Presidente Sarney merece um elogio à parte. Foi ele, quando era o Presidente da República, que iniciou o entendimento, depois de cem anos, entre a Argentina e o Brasil. Os americanos do norte instigaram, dizendo que uma luta entre o Brasil e a Argentina era inevitável. A guerra estava marcada no horizonte.

Eu sou do Rio Grande do Sul e lá, Sr. Presidente, na fronteira com a Argentina, a região que era mais próspera, mais rica do Rio Grande e para o Brasil foi proibida de crescer.

Do próprio Getúlio Vargas, gaúcho dali da região de São Borja, Presidente da República, veio a determinação de que na fronteira era proibido construir fábrica, era proibido ter indústria porque na fronteira com a Argentina, mais cedo, mais tarde teria uma guerra.

O trem no Brasil é bitola larga, o trem na Argentina é bitola larga, mas o trem no Rio Grande do Sul é bitola estreita, para na hora da guerra os trens da Argentina não invadirem o Brasil via Rio Grande do Sul. Parece piada, mas é verdade. Durante 60 anos metade do Exército brasileiro estava na fronteira do Brasil com a Argentina, metade.

Temos cidades como São Borja, Santiago... Santiago tem cinco quartéis federais, do Exército; Alegrete quatro; Livramento três; Urugaiana três; São Borja três. Metade do número das Forças Armadas do Exército brasileiro, durante 60 anos, ficaram na fronteira do Brasil com a Argentina. Por quê? Porque a guerra era inevitável.

Lá na Argentina, o rio que divide a zona de Corrientes, a zona norte da Argentina, está isolado da Argentina. E os governadores faziam uma luta tremenda para fazer uma ponte, uma estrada que ligasse a Buenos Aires. O Governo Federal não deixava. Por que não deixava? Porque, se houvesse uma guerra com o Brasil, aquela ponte serviria para as tropas brasileiras entrarem em direção a Buenos Aires. Fizemos uma reunião com os Governadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e Paraná e os seis governadores das Províncias norte da Argentina. Ao atravessar o rio, há um túnel, Sr. Presidente, embaixo do rio, um túnel estreito, de uma via só. Olhei e fiquei com vergonha de perguntar por que um túnel de uma via só, que tem que colocar bandeirinha até esperar que o outro venha, se seria muito mais barato fazer uma ponte em cima do rio? Tive coragem e perguntei por quê, e o Governador respondeu. “É que aqui, na Argentina, a margem do rio é propriedade da República, da União, e a União não deixava construir a ponte”. Mas o fundo do rio é propriedade do Estado, da Província. Então, o que os Governadores fizeram? Fizeram o túnel no fundo do rio por causa da guerra.

O Presidente Sarney e o Presidente Alfonsín iniciaram entendimento. Quando nos reunimos - e eu era Ministro indicado por Tancredo, que morreu e ficou o Sarney - para discutir o que faria a Nova República em termos de Itamaraty, a tese foi a América Latina. Falou-se que não adiantaria chamar a América Latina e conversar com a América Latina enquanto não se discutisse Brasil e Argentina. E aí começou o diálogo que terminou com a integração Brasil-Argentina. Veio o Mercosul e, agora, culmina com essa reunião extraordinária realizada na Bahia entre todos os Governos da América Latina e do Caribe. Que bom, Sr. Presidente, o que está acontecendo!

Eu vejo com estranheza alguns fatos. O Paraguai quer uma composição de radicalidade, e há a questão do Brasil e Paraguai em Itaipu. O Equador, que recebeu verbas do BNDES, a pretexto de que a Odebrecht não estaria fazendo o trabalho como deveria, diz que não vai pagar a dívida. A Bolívia quer lembrar fatos do século retrasado com relação ao território do Acre, fruto de negociações e não de luta. Mas creio que isso deve fazer parte até de uma instigação que vem de fora, no sentido de criar essa animosidade para evitar essa união. Que bom que Argentina e Brasil não estão indo nessas ondas. Pelo contrário, estão dando as mãos em torno dessa integração da América Latina. E a primeira exigência é excepcionalmente correta: fim do bloqueio a Cuba. Cinqüenta anos! A ONU toda, todas as nações, com exceção da Argentina - coitado de Israel, que não tem outra posição - e uma ilha não sei de onde, que também votou, três. Os outros todos votaram pelo fim do bloqueio a Cuba.

Mas há questões que vamos ter de analisar, Sr. Presidente, como a de ainda existirem colônias na América Latina.

No segundo milênio, as Ilhas Malvinas, propriedade da Inglaterra a troco de quê? Eu acho que exigir a independência de todos os territórios da América Latina é algo absolutamente positivo e necessário. No momento em que nos unirmos, como esse exemplo que é a Europa, que se transformou no grande fenômeno do final do segundo milênio... Mil anos de guerra, de luta, de traumatismo, entre Inglaterra, Alemanha, França, Itália, que se destroçaram. Guerras de cem anos, como a da Inglaterra e a da França. Hoje está aí uma confederação de nações.

O Parlamento Europeu é muito mais importante que a Assembléia Nacional Francesa ou a Câmara dos Comuns da Inglaterra. O euro é a matéria mais importante, tanto que não se fala mais nem em marco, nem em franco, nem na libra esterlina da Inglaterra.

O cidadão pega uma certidão de nascimento na Alemanha e vai trabalhar em qualquer país da Europa. Ele anda pela Europa inteira sem absolutamente nada, nenhum documento. Faz Faculdade de Medicina na Itália e vai trabalhar na França, sem nenhum documento, sem nenhum exame. Isso é lá; e amanhã será aqui.

Acho que não podíamos encerrar este ano de maneira mais positiva, Sr. Presidente.

Eu quero dizer mais. Felicito o Presidente Lula pelo esforço que ele está fazendo para nós enfrentarmos a crise que o mundo inteiro está vivendo. Eu acho que ele está tendo coragem e está fazendo um esforço que merece respeito.

É conhecida a minha posição pessoal de antipatia ao Presidente do Banco Central. Eu até hoje não entendi que o cidadão era o único presidente estrangeiro de um grande banco americano, o Banco de Boston; ele, brasileiro, era o presidente. E saiu do Banco de Boston para se eleger Deputado Federal pelo PSDB. E se elegeu Deputado Federal. Até hoje nós não conseguimos a cópia do acordo feito entre ele e o Banco de Boston, para ele fazer aposentadoria, que, se não me engano, é algo entre 200 e 250 mil dólares por mês. Segundo informações que a gente tem desse entendimento que ele fez para a sua aposentadoria pelo Banco de Boston, ganhando cerca de 250 mil dólares por mês, é que há um artigo que diz que, para ele receber essa aposentadoria, se ele for trabalhar em algum lugar, só com a concordância do Banco de Boston. Claro que, quando se fez isso, a argumentação era de que ele não ia terminar aproveitando toda a tradição e a capacidade dele para trabalhar num banco concorrente e continuar ganhando aposentadoria do Banco de Boston. Mas a verdade é que ele veio trabalhar no Banco Central. E está trabalhando no Banco Central com a concordância do Banco de Boston. Não há jeito de a imprensa nem de ninguém conseguir cópia desse documento. Eleito pelo PSDB, termina Presidente do Banco Central, indicado pelo PT. E tem tanta força que o único presidente de banco central no mundo que tem o status de Ministro de Estado é o do Banco Central do Brasil. Não morro de amores por ele. Dois processos no Supremo, onde o Procurador-Geral da República reconheceu que arquivaram o processo de denúncia do Procurador-Geral, mas arquivaram porque o Supremo não aceitou a solicitação do Procurador-Geral de abrir as contas do Presidente do Banco Central para apurar. Então, o Procurador disse: “Não podendo abrir as contas, não pude verificar. Então que se arquive”.

Mas sou obrigado a reconhecer que o Brasil está tendo uma posição corajosa. Queira Deus que acerte. Eu vejo as declarações do Lula. Têm tanta impetuosidade que parece que ele é um grande economista. Não sei. Mas eu rezo para que ele esteja certo. Queira Deus que ele esteja certo! Aí eu concordo com ele: muito pessimismo em muita gente que parece estar torcendo para que a coisa dê errada. Acho que não é essa a posição. Tomara que dê certo! Tomara que dê certo!

O Brasil, geralmente, tem características especiais nesse contingente. Primeiro, é para notar a diferença entre essa crise e as anteriores no mundo. No Governo Fernando Henrique, a crise no México atingiu o mundo inteiro, inclusive o Brasil; a crise na Rússia atingiu o mundo inteiro, inclusive o Brasil; a crise na Argentina atingiu o mundo inteiro, inclusive o Brasil. Esta, que é dez vezes maior do que as outras, ainda não. Qual é a diferença entre agora e antes?

É que agora o contingente internacional tem um fato novo. Não é mais... Durante 40 anos de Guerra Fria, nós tivemos americano versus russo. O russo no fundo era uma mentira, mas, como tinha o potencial atômico, parecia que era uma potência. E o mundo girava entre Rússia e Estados Unidos. O auge foi em Cuba, quando os russos botaram os foguetes e Kennedy obrigou-os a retirar, e eles os retiraram. Com a queda da Rússia e o fim da Guerra Fria, houve a hegemonia do americano. O americano passou a ser dono absoluto, sem contestação. E essas crises aconteceram com o americano dono absoluto.

O americano continua por cima? Continua. Com a força total? Com a força total. Mas há alguns fatos novos. O primeiro é o Mercado Comum Europeu, é a unidade européia. Antes, quando havia essas crises, era a Alemanha de um lado, a França do outro, a Itália do outro, a Inglaterra do outro, tentando sobreviver, brigando entre si. Agora não. Agora eles se reuniram, e o Mercado Comum Europeu e a organização européia se apresentam como um todo e têm um capital praticamente igual ao dos Estados Unidos. Agora quando se vai negociar, não é com a Alemanha, nem com a Itália, nem com ninguém; é com a unidade européia. Então, ela está resistindo à crise. A China é um fato novo: 15 anos crescendo a 10% ao ano, com uma população de 1 bilhão e 400 milhões! É um fato real. Estão aí as grandes e tradicionais indústrias automobilísticas: Chrysler, Ford, Chevrolet e a GM praticamente implodindo nos Estados Unidos. E toda essa crise não atingiu a China. A Índia está crescendo 6%, 7% ao ano. O Brasil é visto como uma grande potência para o final deste século.

           Então, nessa nova realidade, não há mais a ditadura absoluta da economia americana. E esse é um fato importante. E é aí que o Lula está jogando e a economia brasileira está jogando. E repito, nós temos que rezar para que dê certo. Seria o momento... Eu não consigo entender, embora haja uma lógica: “Gastem, gastem, gastem!” É o Lula pedindo a todo mundo. E o argumento é que gastando, se consome; consumindo, se produz; produzindo, tem trabalho; tendo trabalho, não tem demissão; e, não tendo demissão, não tem a diminuição da economia.

           Mas mesmo assim, “Gastem, gastem, gastem!”, soa meio estranho, se é este realmente o caminho pelo qual nós devemos ir. Mas com toda a sinceridade, ele tem coragem de apontar.

           Ah, se o Presidente Lula tivesse um pouco de austeridade no seu Governo... Ah, se o Presidente Lula tivesse um pouco de autenticidade no seu Governo...

           Eu já disse daqui e vou repetir pela terceira vez: eu sofri, chorei, quando vi, num momento importante, o Lula, em vez de seguir o caminho da firmeza, se deixar levar... Aquele caso Waldomiro marcou o início da derrocada ética do seu Governo.

        Eu penso: se ali... Não é que eu não tenha ido falar com ele. Eu fui falar com ele. Eu tinha sido convidado para ser ministro e disse que não aceitava. Agradeci emocionado a honra - na minha casa, jantando na minha casa -, mas disse que poderia ajudá-lo muito mais aqui no Congresso, com tinha sido no Governo Itamar. Fui Ministro de Tancredo, mas o Tancredo preferia que eu fosse Líder dele aqui. E ele dizia... “Não. Ministro da Agricultura”. E Tancredo disse: “Mas para Ministro da Agricultura, nesses partidos que me apóiam, eu tenho 30, 40. Para Líder do meu Governo, eu tenho o Pedro Simon e gostaria que fosse o Pedro Simon”.

         Terminou não sendo, mas deu certo no Itamar, modéstia à parte, quando também não aceitei ser Ministro em hipótese nenhuma. E qual foi o argumento? Meu? “Não. Eu fui o Líder; eu coordenei toda... Foi no meu gabinete que coordenamos toda a Comissão do Impeachment, toda e eu não quero que se diga na História que eu coordenei a Comissão do Impeachment e terminei sendo Ministro do Governo que derrubou o Presidente da República, que nem aconteceu no Governo do Dr. Getúlio Vargas, em que a UDN e aqueles que o derrubaram e que levaram o Dr. Getúlio Vargas ao suicídio - Brigadeiro Eduardo Gomes, Baleeiro e companhia - terminaram sendo Ministros do Café Filho.

         Mas eu disse a ele: “Lá, no Congresso, eu terei muita honra em assumir a Liderança e a coordenação”. Mas, quando houve o caso Waldomiro, a televisão publicando o cidadão pegando o dinheiro, botando no bolso e discutindo qual era a comissão...? Entrei Palácio adentro para falar com o Lula, mas na certeza de que ele iria demitir na hora. Não demitiu. Não demitiu! Aí, tivemos que pedir a CPI, e ele não deixou criar a CPI. E o Presidente, o Líder do PMDB e o Líder do PT na época não deixaram criar a CPI. Tivemos que entrar no Supremo. Eu amarguei muito triste aquilo, porque aí foi a derrocada do ponto de vista ético e moral.

Fico pensando hoje, Sr. Presidente, se o Lula tivesse adotado uma posição firme. Deus me perdoe, mas eu não sei... Há coisas que acontecem e Deus sabe por que acontecem. Se o Lula tivesse assumido o comando moral, ético, se o seu Governo fosse como era o PT antes do seu Governo, o seu padrão de seriedade, hoje o Lula seria um deus aqui no Brasil. Se com tudo isso ele tem 80% de popularidade, imagine se ele não tivesse a corrupção e a imoralidade dentro do seu Governo.

Mas eu acho que agora, nessa hora em que estamos vivendo, ele podia, ele tinha condições de dar uma linha e um norte ao seu Governo.

Além da fala bonita, da fala popular, de ser simpático, de dizer o que o povo gosta de ouvir - e o povo gosta de ouvir -, ele deveria ter um comportamento, na ética e na seriedade, que fosse realmente muito importante.

Mas, na reunião da Bahia, nota dez para o Lula! Essa integração na hora em que estamos vivendo, nota dez para o Lula! Acho que temos, volto a dizer, de rezar para que dê certo.

Terminamos este ano. Essa crise com a Câmara, realmente, na minha opinião, Senador Marco Maciel, levou para o ápice a anarquia do relacionamento que existe entre os Poderes do Brasil. Era só o que faltava! O Executivo entra na vida do Congresso Nacional e nós passamos a vida inteira aqui discutindo com o Executivo sobre as medidas provisórias. O resto é piada, é de mentirinha.

O Judiciário há por bem fazer aquilo que diz que nós não fazemos. E nós não temos autoridade para fazer nada porque, na verdade, não fazemos. Ontem, praticamente com a imposição da Justiça, o Presidente resolveu cassar o mandato do Deputado acusado de infidelidade partidária. Mas o Judiciário está intervindo e nós não temos autoridade, porque ele intervém naquilo que não fizemos. Então, há um vazio e ele entra.

Agora foi a Câmara, onde estão engavetadas dezenas de medidas, as mais importantes, votadas aqui. Agora o Sr. Chinaglia aparece de herói.

Eu assinei e queria votar a emenda do Mercadante. Na verdade, era importante, era interessante. O Senado agiu de alma limpa ao votar essa matéria. Como o Senado queria que a matéria fosse votada a tempo, antes de encerrar a sessão legislativa, tirou o artigo da parte financeira para constituir uma emenda à parte. Mercadante e um grupo de que eu fazia parte apresentamos aqui uma emenda para votar ou, pelo menos, para votar e fazer com que a Câmara se reunisse e, assim como a Câmara nos manda e votamos toda a matéria num dia, que ela também votasse toda a matéria. Não saiu e a Mesa da Câmara resolveu não assinar. E o que me importa é o Presidente Chinaglia dar uma declaração para Porto Alegre, na Rádio Gaúcha, com a maior “cara de pau”: “Nós votamos uma emenda constitucional e o Senado só votou uma parte, não votou a outra. Então nós não vamos promulgar”. Esquecem-se o Sr. Chinaglia e a Mesa da Câmara que isso cansou de acontecer lá e aqui. Isso é uma rotina! Vem uma matéria para cá e nós podemos votar a favor e haver a promulgação, podemos votar contra e a matéria ser arquivada, podemos emendar e a matéria voltar para a Câmara ou voltar da Câmara para o Senado ou podemos fazer o que foi feito aqui: aprovar uma parte e tirar uma parte para constituir uma emenda à parte.

Isso cansou de acontecer! Isso cansou de acontecer, principalmente na Câmara! E ele fala de uma maneira, fala de uma maneira que dá a entender que nós fizemos um escândalo.

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como o Garibaldi se lançou candidato a Presidente do Senado, à reeleição, então fizeram isso. E como o Garibaldi, com o negócio de devolver a medida provisória, estava com um prestígio muito alto, ele fez isso para desgastar o Garibaldi. Olhem, ele pode até desgastar o Garibaldi, mas não pode desgastar o Senado como desgastou. Não desgastou o Senado, desgastou o Congresso Nacional. Isso foi muito grave!

A imprensa está noticiando, e sou levado a crer que é por aí, que o negócio foi para atingir a pessoa do Garibaldi. Falar que nem ele falou na Rádio Gaúcha... O que ele diz na Rádio Gaúcha? Nós votamos a emenda dos vereadores, que aumenta o número...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Senado aprovou o aumento do número de vereadores e cortou o aumento de gasto. Então, não votamos isso. “Este Senado é uma barbaridade! Olha o que Senado fez? Não aumentou o número de...” Não é verdade! Tanto não é verdade que, quando destacamos a emenda que foi do Mercadante, que apresentamos, houve o compromisso de toda a Casa para ser votado em fevereiro, e até fevereiro não vai ter nenhuma Câmara que vai votar qualquer emenda, porque as Câmara estarão todas de recesso. E, quando as Câmaras voltarem a se reunir, estamos aprovando a emenda dizendo que não pode mexer. Isso é pena, Sr. Presidente!

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...uma nova proposta de medida provisória, mais ridícula do que a que está aí, Sr. Presidente. É mais ridícula do que a que está aí! E assim terminamos este ano, em que tivemos mais sessões com pauta trancada pelas medidas provisórias do que com pauta destrancada, em que não votamos praticamente nenhum projeto de iniciativa de Deputado ou de Senador, pois o que votamos foram medidas provisórias, e o Senador Garibaldi teve a coragem de devolver uma, aquilo que nós, não o Presidente do Senado, não os Líderes, mas o que nós deveríamos ter feito desde o início.

         É inconstitucional? Não merece urgência? Ela veio de matéria que não podia ser editada? Não votamos. Isso é o que devíamos fazer. Não fizemos e temos aqui um poder que é, por assim dizer, um Poder subsidiário do Poder Executivo.

Encerro, Sr. Presidente, mandando um abraço fraterno aos funcionários desta Casa. Não há dúvida do padrão de seriedade, de alta profissionalização nesse serviço. Eu levo meu abraço muito fraterno aos meus companheiros daqui do Senado, a V. Exª e a todos os companheiros desta Casa, porque conseguimos manter o padrão de dignidade e de confiabilidade e rogo a Deus que este Natal e o próximo ano nos...

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... com mais possibilidades de avançarmos.

Eu confio, Sr. Presidente, confio que estamos a caminho de um mundo melhor. Confio que nós estamos numa conscientização da sociedade em todos os cantos do mundo. Confio que nós haveremos de marchar rumo a uma sociedade de paz e de amor, onde não como aconteça como agora, quando os Estados Unidos votam US$1,6 trilhão para resolver uma crise do sistema financeiro. Metade disso resolveria o problema da fome de um bilhão de habitantes no mundo.

Mas vamos chegar lá, Sr. Presidente. Se Deus quiser, vamos chegar lá: mais paz, mais amor e mais justiça.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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